Universo - Criação e Vida - Parte II - A Metafísica - Cosmologia Metafísica (ou Espiritual) - O Renascimento do Universo





Universo - Criação e Vida - Parte II - A Metafísica



Cosmologia Metafísica (ou Espiritual)

Janine Milward 

O Renascimento do Universo



Dentre as várias lendas que remontam ao dilúvio, existe uma que narra a estória de um homem e uma mulher que deram início ao universo, como o conhecemos.

O dilúvio havia arrasado tudo, no céu e na terra. Não restara nada, a não ser o barro que surgia enquanto as águas iam escorrendo e desaparecendo, baixando, buscando os vales.

O homem e a mulher salvaram-se porque se refugiaram no cume da mais alta montanha. Eles eram tudo o que restou do Yang e do Yin, do Tai Chi, da multiplicidade de existências do universo anterior.

E todo aquele Vazio de existências era o Uno, o princípio inicial de tudo o que haveria de ser re-criado a partir de então.

O que poderia criar o universo manifestado?

A inspiração soprada pelo Absoluto do universo não-manifestado.

"O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência" (1)


Do alto da montanha, o homem, que chamaremos de Criativo, e a mulher, que chamaremos de Receptivo, sentaram-se para primeiramente contemplarem o vir-a-ser, o início de um novo processo de criação

Podemos dizer, sim, que esta estória se passa no Planeta Terra, nossa terra.


K’un, O Receptivo, o Abranger, O Vazio, A Não-Luz, tomou do barro, moldando com suas mãos ágeis as estrelas que foram colocadas no céu, uma a uma, tantas que nem deu para contar.................................................................................................................................................................................menos uma, que deixou na Terra, a seu lado.

Ch’ien, O Criativo, A Luz, permanecia sentado em seu silêncio interior, em profunda meditação, criando assim a constância da luz que permite a criação existir.


Dessa maneira, a cada estrela que aparecia no céu, Ch’ien, O Criativo, criava nela A Luz que a fazia novamente resplandecer; e logo logo, toda a imensidão do universo brilhava com o pisca-pisca das estrelas...


K’un, A Terra, tornou-se a Abrangência do próprio Vazio - o Yin Supremo.

Ch’ien, O Céu, tornou-se o Criativo da Luz que preenche esse Vazio - o Yang Supremo..

Através do Vazio, encontra-se A Luz


Do barro que sobrou, K’un, A Terra, começou a fazer seus próprios filhos... E usou um pouquinho do barro daquela estrela que havia ficado na terra, que não fôra para o céu, para fazer o coração dos seres e de toda a natureza.

K’un, A Terra, quis dar a seus filhos o sentimento de poderem olhar para as estrelas e o resto da natureza do universo como se fizessem parte desse todo.... e fazem, de coração e mente.

Assim, em nosso coração, bate aquele minúsculo pedaço de barro – que é a nossa parte nas estrelas e no universo.

"O que quero que me distinga dos demais
é valorizar o alimentar-se da Mãe." (2)

Assim, surgiram o Céu e a Terra e toda a criação....Do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior, Wu Chi, surge o Mundo da Manifestação ou Céu Posterior, Tai Chi.

"Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe das dez mil coisas" (3)


K’un, A Terra, identificava-se com a multiplicidade, a amplidão, o Espaço, o Vazio do Espaço. Ch’ien, O Céu, identificava-se com a unidade, a continuidade, o Tempo.

"O Céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros"(4)


Da Não-Luz e da Luz – dessa cópula do universo em seus primórdios – o Yin foi se mesclando ao Yang, o Yang foi se mesclando ao Yin....

A Luz constante de Ch’ien, O Céu, O Criativo, e a criação duradoura de K’un, A Terra, O Receptivo, surgem do Tao.

Tao é o Caminho.

"O Caminho gera o Um
O Um gera o dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres.
Os dez mil seres se cobrem com o obscuro e abraçam o claro.
E se harmonizam através do esplêndido sopro." (5)


O Tao gera o Um, o Princípio Primordial, O Sopro do Tao, a energia do Absoluto.

O Um – advindo do Absoluto – gera o Dois, o Tai Chi: O Yang, o claro, e o Yin, o obscuro.

O Dois gera o Três: O Céu, A Terra e toda a natureza sintetizada no Homem.

O Céu revela o Princípio Primordial, a Terra revela o Tesouro do Espírito, A Sagrada Leitura; o Homem revela o Mestre, aquele que retorna ao Princípio Primordial através do Tesouro do Espírito.

O Princípio Primordial é o Tao: A Virtude, Te, é o Tesouro do Espírito. Assim, o Homem, o Mestre, é aquele que busca o Tao através de sua ação, a virtude, Te.

Dessa maneira, o Três gera os dez mil seres, o universo.

"Os dez mil seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
E justamente por realizar sem apego
Não passam".6)

Porque "não passam", porque perduram, os dez mil seres, dentro do universo do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior, fazem significar ou imajar, a totalidade do universo através das linhas contínuas ou vazadas: é a Mutação, I.


A constância de Ch’ien, O Céu, o Yang absoluto, é simbolizada pela linha contínua:

________

A duração de K’un, A Terra, o Yin absoluto, é simbolizada pela linha vazada

___ ___

A constância de Ch’ien, O Céu, revela a unidade, O Uno. A duração de K’un, A Terra, revela a multiplicidade, a partir da dualidade do Yin e do Yang.


Sendo o Céu, o Tao, o Princípio Primordial: sendo a Terra, o Te, o Tesouro do Espírito; sendo o Homem o Mestre que realiza em si mesmo o Tao e o Te....dentro de Ch’ien, O Pai, O Céu, A Luz, o Criativo, O Sublime Yang da Luz Suprema, encontraremos:

________ uma linha contínua para o Céu (contendo a revelação do Princípio Primordial, O Tao, em sua manifestação Yang)

________ uma linha contínua para o Homem (contendo a revelação do Mestre em sua

manifestação Yang)

________ uma linha contínua para a Terra (contendo a revelação do Tesouro do Espírito, O Conhecimento, O Te, A Virtude, em sua manifestação Yang)


Assim, surge o Trigrama Primordial do Céu, Ch’ien, O Criativo, o Sublime Yang da Luz Suprema:

A linha do Céu ________

A linha do Homem ________

A linha da Terra ________


Em K’un, A Mãe, A Terra, O Receptivo, O Vazio, O Abranger, O Devocional, O Sublime Yin da Não-Luz Suprema, encontraremos:

____ ____ uma linha para o Céu (contendo a revelação do Princípio Primordial, O Tao, em sua manifestação Yin)

____ ____ uma linha para o Homem (contendo a revelação do Mestre em sua

manifestação Yin).

____ ____ uma linha para a Terra (contendo a revelação do Tesouro do Espírito,

O Te, A Virtude, em sua manifestação Yin)


Surge, então, o Trigrama Primordial da Terra, K’un, O Receptivo, O Sublime Yin da Não-Luz Suprema:

A linha do Céu ____ ____

A linha do Homem ____ ____

A linha da Terra ____ ____


Nos Trigramas Primordiais imajados do Tao e do Te, o céu está acima e a terra está abaixo. O céu é constante e a terra é duradoura.

O homem, por se encontrar na transição entre o céu e a terra, faz a ligação entre a constância e a infinitude do céu com a duração e a finitude da terra.

Esta ligação ou re-ligare, é a busca do homem pelo Tao. O encontro com o Tao é realizado através da virtude, o e libertá-lo da Roda da Vida Te.

Quando o Homem Sagrado consegue realizar em si mesmo o Tao e o Te, O Caminho e a Virtude, ele se torna constante e infinito...É a Imortalidade: "Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer".

"Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que provoca o infortúnio.
Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.
Assim, mesmo perdendo o corpo, não irá perecer". (7)

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Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Virtude - Lao Tsé
Capítulo 40
Capítulo 20
Capítulo 1
Capítulo 7
Capítulo 42
Capítulo 2
Capítulo 16
Tradução de Wu Jyh Cherng - Editora Ursa Maior


Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Foto: Sítio das Estrelas, janine milward


O texto acima é de autoria de Janine Milward  e extraído de seu livro O Caminhante Caminhando seu Caminho - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

 A tradução dos poemas do Tao Te Ching são de Wu Jyh Cherng em seu livro Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, Editora Mauad, SP, Brasil). 

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