A Virtude do Orifício é a Consciência do Vazio: a Consciência Pura do Vazio é a Virtude da Abrangência.



TAO TE CHING, O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 21
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 22 de novembro de 1994

Capítulo 21

A abrangência da Virtude do Orifício é seguir apenas o Caminho
O Caminho enquanto existência é indistinguível e indescritível
Dentro do indistinguível e indescritível há uma existência
Dentro do indistinguível e indescritível há uma imagem
E dentro dessa profunda obscuridade há uma essência
Essa essência é absolutamente autêntica
E dentro dela há uma prova.

Desde a antiguidade até hoje o seu nome nunca foi esquecido
E pode observar a beleza e a bondade de tudo

Como posso saber a causa da beleza e da bondade de tudo?
É através da prova.

A experiência do Tao não é uma experiência de Vazio radical mas sim uma experiência do Vazio que abrange dentro de si, que guarda dentro de si uma força invisível chamada Essência. É a autentica essência que traz a Prova. A prova é aquela que faz com eu compreendamos, com que sintamos uma experiência mística.

É sobre isso o que se fala neste Capítulo.

O que é Virtude do Orifício?

Mestre Maa diz: A Virtude do Orifício é a Consciência do Vazio: a Consciência Pura do Vazio é a Virtude da Abrangência.

É uma consciência que não tem forma, é límpida, absolutamente transparente, não pode ser desvirtuada. É uma consciência da extrema quietude onde já não há mais pensamento, onde já não há mais sentimento, nem emoção, simplesmente há uma consciência. essa consciência pura e genuína é uma lucidez, é pura luz do espírito.

Neste estado de Abrangência da Virtude do Orifício, pode-se abraçar, conectar todas as coisas. A quietude é tão grande que pode ab ranger todas as coisas.

Por isso, é unida ao próprio Tao, ao Absoluto, ao Caminho da Infinitude do Absoluto.

Assim, Ele diz:

A abrangência da Virtude do Orifício é seguir apenas o Caminho

O praticante do Tao segue (inaudível) , depois segue o Caminho, depois se integra ao Caminho e finalmente torna-se o próprio Caminho.

Esse Caminho não é o caminho da forma, é o Caminho da não-forma , é o Caminho do Vazio que segue indefinidamente.

Por isso, o Orifício.

O Caminho enquanto existência é indistinguível e indescritível

Este Caminho não pode ser definido.

Mestre Maa diz: Devemos fluir de acordo com o Tao até nos tornarmos o próprio Tao como a Virtude.

Quando uma pessoa se une ao Tao e se torna o próprio Tao, tudo o que existe nesta pessoa se torna, conseqüentemente, a Virtude.

O Caminho é a Virtude, um é complemento do outro.

O Caminho é o Absoluto e a Virtude é a manifestação do Absoluto.

Se uma pessoa consegue se unir com o próprio Caminho, com o Tao, tudo o que existe nela se torna materialmente a manifestação do Tao. Então, naturalmente, essa pessoa é a própria Virtude.

A melhor maneira de viver virtuosamente NÃO é encontrar a Virtude do Tao e vivê-la. A melhor maneira de viver virtuosamente é tentar encontrar o próprio Tao e se tornar o Tao. Então, naturalmente, se terá a Virtude sem querer possuir a Virtude.

A melhor maneira de viver a Virtude NÃO é tentar descobrir o que é a Virtude como manifestação do Tao para tentar vivê-la.

É tentar encontrar o Tao e vivê-lo, nos tornando o próprio Tao, nos integrando com o Tao. Dessa maneira, tudo o que existe em nós será Virtude. São as Virtudes.

Não buscando a Virtude, encontramos a Virtude.

Esse é o famoso conceito do Wu Wei, mal traduzido como Não-Ação. Seria mais corretamente traduzido como Ação do Não. Ação-Não. Ação da Não-Ação. Ou ação não intencional, ação não premeditada, etc.

E, dentro desse estado, principalmente na pratica da experiência mística, quem consegue encontrar o Tao, se integrar com o Tao, perde a forma. Quem perde a forma, entra no caos primordial. Dentro desse caos primordial existe algo que não pode ser detectado, mas que é uma existência maravilhosa. Essa existência tem o poder de criar todas as coisas, todas as formas. Também tem o poder de diluir todas as coisas, todas as formas. Também tem o poder de diluir todas as coisas, todas as formas e fazer com que todas as coisas e formas retornem a ser o caos primordial.

Dentro desse estado de caos primordial, encontra-se uma força. Essa força, quando se manifesta, pode criar pessoas, animais, pensamentos, inteligência. Igualmente, não apenas pode criar como pode dissolver. Pode pegar todas as formas, imagens, pensamentos e idéias e transformá-los todos de volta para o caos.

O segredo da Alquimia Taoísta é abrir a porta para que esse Sopro do Céu Anterior entre dentro de nós. E provoque uma nova criação como também possa dissolver os vícios, apegos, loucuras, complexos instalados dentro de nós.

É por um lado como o fermento que faz o pão crescer .... e por outro lado, o ácido que dissolve o pão.

É algo que tem o poder da criação e de dissolução ao mesmo tempo. se a criação é a vida e a dissolução é a morte, é algo que pode proporcionar simultaneamente, a criação da vida e a dissolução da vida.

Esse algo poderoso que pode ser encontrado e experimentado nos caos primordial (na prática da meditação é o Estado de Fixação), é exatamente o que na Alquimia chamamos de Sopro do Céu Anterior.

O Sopro do Céu Anterior é chamado de Autêntico Sopro.

Por que Autêntico?
Porque tudo o que é falso, é temporário, é impermanente.

Uma energia que existe hoje e não existe mais amanhã, não é autêntica porque não é permanente.

O Autêntico Sopro é permanente porque pode criar todas as coisas como pode dissolver todas as coisas e nada pode dissolvê-lo.

Dessa forma, corresponde, simbolicamente, ao OURO, na Alquimia.

O ouro é um metal que pode ser derretido, pode ser transformado em jóia, mas que, no entanto, sua qualidade é sempre a mesma.

Também assim é o Sopro do Céu Anterior - apesar de estar no fundo do homem, no fundo do universo, invisível ou visível, escondido ou através de alguma forma que se pode ver. É uma imperecível matéria-prima a ser trabalhada pela Alquimia Espiritual.

Como alcançar o ouro através a alquimia espiritual?
Através da meditação.

É na meditação, na extrema quietude, que se sente que se está escorregando, escorregando......
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Quando se chega a uma profundidade, percebe-se que a consciência está num estado de caos primordial, onde não há forma, não há linguagem, não há imagem, o que existe é uma absoluta quietude. E dentro desse estado, sentimos que somos algo que não pode ser definido, que está unido ao todo e que não está unido a nada. Nesse estado, existe uma força efervescente, algo pulsante dentro de nós, mesmo que não mais tenhamos a forma física.

Nessa hora, o que existe, é o que chamamos Essência.

Por isso, Ele diz:
Dentro do indistinguível e indescritível há uma existência
Dentro do indistinguível e indescritível há uma imagem
E dentro dessa profunda obscuridade há uma essência
Essa essência é absolutamente autêntica

É algo tão verdadeiro que somente a própria pessoa sabe que existe.

E dentro dela há uma prova.

Essa Essência Primordial - o Sopro do Céu Anterior - só pode ser encontrada dentro do caos primordial.

Uma vez a consciência não entre em caos primordial, não pode encontrar a Essência. Uma vez a consciência consiga encontrar o caos primordial, a Essência aparece.

Quando aparece, sabe-se.

Como saber que a Consciência está em estado de quietude, onde não mais se pensa, não mais se distingue, não mais se analisa?

O Sopro do Céu Anterior só pode ser identificado pela Consciência do Céu Anterior.

Ou seja, somente o Espírito Puro pode identificar o Sopro do Céu Anterior.

Quando o nosso espírito comum entra em adormecimento, o Sopro aparece. A consciência em adormecimento não tem a capacidade de detectá-lo. Nessa hora, a Consciência verdadeira surge, aparece e identifica.

Temos uma consciência racional, egóica. Através de um profundo estado de desligamento, a consciência do ego começa a desaparecer. Quando a consciência finalmente entra em quietude, o Sopro começa a aparecer. Esta consciência comum - que já está quieta - começa a sentir algo. Só que essa consciência não tem condições de detectar mais nada. Por isso, não consegue descrever mais nada.

O Sopro do Céu Anterior tem o poder de chamar aquilo que é o único que O conhece.

Quando o Sopro Primordial aparece, ele faz com que sobressaia uma Consciência que estava até então adormecida.

A entrada do Sopro do Céu Anterior é responsável para a ressurreição da Consciência Pura que é o Espírito Puro que encarnou em nós desde o princípio da fecundação e que, desde que o ego entrou, esse espírito foi nocauteado.

Quando da entrada do Sopro do Céu Anterior, o Espírito ‘acorda’ e reconhece o Sopro Primordial e imediatamente se une a ele. Esse Espírito Primordial ressuscita e é alimentado por esse Sopro do Céu Anterior, engrandece e não fica fraco como antes.

Dessa maneira, é possível se saber e reconhecer e adquirir essa Prova do Sopro Primordial.

O que acontece na nossa prática?

Usamos uma profunda meditação para que nosso ego chegue a um ponto de absoluto nocaute.

No absoluto nocaute do ego, o Sopro do Céu Anterior aparece. O Sopro aparece e chama o Espírito Primordial que havia sido ‘esquecido’ e que se levanta e se une ao Sopro.

A cada meditação que fazemos e entramos na profunda Fixação, ressuscitamos nosso Espírito Primordial e a cada vez que este se manifesta, vai se fortificando e o ego vai enfraquecendo. Depois de um longo tempo de prática, o Espírito Primordial fica mais forte e o ego, mais fraco.

Assim, cada vez mais nos aproximamos da Iluminação, com uma lucidez cada vez maior e as loucuras e os complexos vão ficando menores.

Essa é a utilização do Sopro Primordial para ‘pescar’ o Espírito e ser reconhecido por ele - não através do racional mas através da Pura Consciência.

Assim é o processo que deve acontecer.

Por isso, Ele diz:
E dentro dela há uma prova

Só podemos descobrir essa prova reconhecendo o Sopro do Céu Anterior através do Espírito do Céu Anterior.

Temos que aprender a meditar.

Num primeiro estágio, temos que saber ultrapassar os formigamentos nas pernas, nos músculos, indisposições.

Num segundo estágio, já conseguimos meditar porém de forma ainda oscilante. Nesse nível, porém, já se superou o problema da disciplina. No entanto, ainda não atingimos o estado de Fixação.

Num terceiro estágio, já entramos em quietude após alguns minutos, sem problemas de disciplina ou de oscilação. Já entramos em Fixação e nos permitimos unirmo-nos ao Sopro do Céu Anterior com o Espírito do Céu Anterior.

Mestre Maa nos diz que a cada segundo de meditação, haverá o efeito de um segundo. Para cada hora, o resultado de uma hora. Quanto maior a medida, maior o resultado.

O Sopro do Céu Anterior tem o poder da criação, criando novas células no corpo, criando novos pensamentos, novas emoções. Também tem a capacidade de dissolução, eliminando doenças físicas, doenças energéticas e doenças psíquicas.

O maior orgulho da Escola Oeste - que é a Escola do Mestre Maa -, é que enfatizamos a experiência mística.

Temos que beber o néctar da fonte. Se não, passaremos a vida inteira raciocinando, racionalizando intelectualmente.

Se não bebermos o néctar do fundo do Absoluto, nunca saberemos como ele é. A prática da meditação é fundamental.

Na prática da Alquimia Taoísta, temos três pontos:

1. Construção da Base - com a base construída, estaremos prontos para entrar no estágio de ir buscar a Prova, o néctar da fonte.

2. A Prova - já se provou o néctar da fonte e o possuímos, mas podemos ainda perdê-lo.

3. Reprocessamento - aquilo que foi conquistado não pode ser perdido.

A partir daí, se chega a um ponto que Mestre Maa chama de Ponto sem Retorno.

Mesmo que não queiramos ser Imortais ou Iluminados, não podemos mais deter o processo de evolução.

Não haverá então mais transmigração - mesmo que ainda não se tenha atingido a Iluminação ou Imortalidade ou se tenha ascensionado para os reinos celestiais. A pessoa estará num ponto onde a força do destino não poderá mais subjugá-la e lançá-la em nova encarnação.

Por que?

Porque o Espírito estará protegido pelo Sopro do Céu Anterior - que não é mais matéria do Céu Posterior.

O poder de sucção só pode sugar aquilo que pertence ao Céu Posterior, ou seja, ainda subjugado pela energia da forma.

Com o Sopro do Céu Anterior, a pessoa - mesmo que ainda não esteja totalmente Iluminada - pode continuar trabalhando em dimensões intermediárias (entre o mundo dos homens e os reinos celestiais), em lugares que chamamos de Abrigos Celestiais, até evoluir.

Mestre Maa diz: Mesmo que a pessoa não ascensione para os reinos celestiais, deverá tentar chegar ao Ponto sem Retorno. Esse Ponto pode ainda estar no Planeta Terra, em algum Abrigo Celestial onde o Sopro do Céu Anterior é intensamente concentrado e protetor.

Dessa maneira, a prática da meditação é fundamental.

E Lao Tse continua:

Desde a antiguidade até hoje o seu nome nunca foi esquecido

O Grande Tao, o Absoluto, transcende o passado, o presente, o futuro. Transcende os limites e as fronteiras da identidade e da personalidade. Por isso, não pode ser esquecido - porque sempre esteve presente.

Grande como a galáxia, pequeno como um grão de areia. O Grande Caminho chamado de Tao está em toda a parte.

Essa compreensão é fundamental. Qualquer pessoa pode vivenciar o Tao em qualquer momento, em qualquer lugar. Basta conseguir sintonizar esse Vazio, esse Autêntico Vazio do Absoluto. Que não é um vácuo. Que é um estado de Caos Primordial. Que contém uma Prova.

Conseguindo encontrá-lO, pode-se entrar nEle, porque Ele transcende os limites do espaço, tempo, forma e não-forma.

Por isso, nunca pode ser esquecido.

E pode observar a beleza e a bondade de tudo

Para o Tao, tudo o que existe é belo e bom. Tudo está em perfeita ordem. Nós - quando não sintonizamos o Tao - achamos que as coisas estão em desequilíbrio. Então, viemos no desequilíbrio ao invés de vivermos na harmonia.

Mestre Maa diz: Porque o Homem Sagrado se une ao Tao, ele é capaz de contemplar todas as coisas com igualdade e se transformar igualmente junto com todas as coisas. Ele contempla todas as coisas com o mesmo espírito. Ele está integrado com todas as coisas.

E Lao Tse pergunta:

Como posso saber a causa da beleza e da bondade de tudo?
E responde:
É através da prova.

Ou seja, como Ele pode saber de tudo isso que está dizendo? Pode saber porque Ele viveu esse Absoluto, Ele tem a Prova.

...............

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 21
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 22 de novembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Espírito e Alma Consciência e Sopro Vital



Espírito e Alma
Consciência e Sopro Vital

Janine Milward

O Espírito é ligado à imortalidade, à constância, ao Tao da Criação, enquanto a Alma é ligada à impermanência, à duração, à Criação sob o Tao. 

A Alma, através todo seu processo de Caminhante ao longo do Caminho realizado pelo Universo (ou pelo Pluriverso), acolhe em seu bojo o Espírito.

A Alma traduz-se através a duração. A duração acontece a cada vida, a cada encarnação que possui seu começo, seu meio e seu fim, ou seja, todo um ciclo de mutações realizado a partir do estado sutil, do estado denso (da matéria em sua plenitude englobando os princípios mutativo e estático) e de seu retorno ao estado sutil.

O Espírito manifesta-se através do princípio sutil... enquanto a Alma manifesta-se tanto através o princípio sutil quanto através o princípio denso, ou seja, tanto a Alma existe dentro da encarnação assim como a conhecemos como também existe além da matéria, antes e depois da matéria.... porque a Alma sempre acolhe em seu bojo o Espírito - e o Espírito manifesta-se através do princípio sutil e da constância da Vida e, para submeter-se à matéria, ao estado denso, precisa ser acolhido, digamos assim, pela Alma, através sua duração de vida.

O estado sutil é vivenciado no Portal entre os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação...., enquanto que o estado de transmutação do sutil para o estado denso, da matéria, e seu retorno ao estado sutil, é vivenciado já dentro do Mundo da Manifestação.

O Espírito é aquilo que podemos nomear como mais próximo ao Tao da Criação - que podemos pensar que existe (porque pode ser nomeado) no Portal entre os dois Mundos, o da Não-Manifestação e da Manifestação. O Tao da Criação - como o próprio nome diz - é inspirado pelo Tao, pelo Caminho, para realizar a Criação.... no Mundo da Manifestação. No entanto, toda esta inspiração advém do Tao e do Mundo da Não-Manifestação.

O Espírito pode ser compreendido, a meu ver, como a tradução mais simples e direta (e ao mesmo tempo profunda) do Tao da Criação advindo do Tao do Mundo da Não-Manifestação - porque sobre o Tao não se tem linguagem para falar e o Espírito pode ser compreendido como o diplomata, digamos assim, que age o Tao no Mundo da Manifestação... porém sempre conservando todos os conceitos que expressam, minimamente e maximamente, o Tao e o Mundo da Não-Manifestação, ou seja, constância, eternidade, imutabilidade, interioridade absoluta, o Grande Caminho, o Vazio, a Verdade.

A Alma, por seu lado, pode ser compreendida como uma tradução direta e simples (e ao mesmo tempo profunda) do Espírito e realiza esta tradução dentro do Mundo da Manifestação, dentro da Criação propriamente dita - porém sempre conservando todos os preceitos expressos pelo Espírito... Apenas que a Alma, por atuar dentro do Mundo da Manifestação, existe através da duração, trazendo a Criação do princípio sutil à matéria densa e seu retorno ao princípio sutil (ou seja, a vida, assim como a conhecemos) - sempre inteiramente inspirada e conduzida pela constância da Vida advinda do Espírito que, por sua vez, é advindo do Tao da Criação que, por sua vez, é advindo do Tao, o Caminho, já no Mundo da Não-Manifestação.

Podemos, então, concluir que Espírito e Alma todo o tempo e espaço entrelaçam-se, ou seja, existem Espírito e Alma em tudo aquilo que existe enquanto Criação sob o Tao, existem constância e duração também entrelaçadas em todos os seres, inanimados e animados (anima é um termo que se traduz como Alma). Existem Espírito e Alma nas estrelas, nos planetas, no vácuo, na matéria e na anti-matéria, nas diferentes dimensões dos universos, da vida, nas montanhas, nas pedras, nas árvores, nos animais, nos humanos.... no céu e na terra existem Espírito e Alma entrelaçados, existem constância e duração, existem os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward

Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO – http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

... O luar é a luz do sol que está dormindo...



Verso avulso

... O luar é a luz do sol que está dormindo...

- Mario Quintana, in: Da Preguiça como Método de Trabalho, 1987.

Foto realizada por Lolita Puente Garcia, numa madrugada de fevereiro, na varanda de sua casa.

As Violetas de minha Mãe



Olá! 

Algumas palavras sobre as violetas verdadeiras e de cor violeta (não são as violetas chamadas africanas):

Minha mãe sempre cultivou violetas verdadeiras em nosso belo jardim em minha casa natal, em Nova Friburgo.

Quando todos (cinco irmãos) deixamos nossa casa para o passado conservá-la em nossas lembranças - com mamãe e papai já no céu, felizes e contentes -, eu trouxe um bom punhado das violetas comigo...., além de outras mudinhas (glicínia, tangerineira, rosa singela, espada-de-são-jorge, etc) e as plantei em meu Sítio, em carrinhos já não mais usados e que servem de jardineiras encantadoras.

As violetas são flores tímidas, quase sempre escondidas, e gostam de Sol, sim, porém pouco sol e bastante sombra e frescura de tempo.

Ao buscarmos por estas florzinhas maravilhosas, vamos abrindo caminho através as folhas redondinhas e então um doce perfume chega até nosso coração: é o passado das lembranças queridas misturado ao presente das violetas que permanecem, quase como reencarnadas! Assim é a vida, penso.

O perfume que fica é assim também como o perfume que fica em nós mesmos/as e que é levado conosco, em nossa mente e em nosso coração, para nossas vidas vindouras e sucessivas: é a essência que permanece, tudo mais se vai, apenas a essência de nossa Alma permanece.

Somente levamos conosco a essência - assim é a Alma. Quando novamente retornamos à matéria, a Alma parece buscar sua espécie de flor de onde extraiu seu perfume, sua essência: nascemos, uma vez mais.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward


Algumas palavras sobre a ESSÊNCIA - por Wu Jyh Cherng, em sua interpretação do Capítulo 21 do Tao Te Ching, de Lao Tse - (transcrição da Aula por Janine)

Lao Tse nos explica, em seu Capítulo 21:

A abrangência da Virtude do Orifício é seguir apenas o Caminho
O Caminho enquanto existência é indistinguível e indescritível
Dentro do indistinguível e indescritível há uma existência 
Dentro do indistinguível e indescritível há uma imagem
E dentro dessa profunda obscuridade há uma essência
Essa essência é absolutamente autêntica
E dentro dela há uma prova.

Desde a antiguidade até hoje o seu nome nunca foi esquecido
E pode observar a beleza e a bondade de tudo

Como posso saber a causa da beleza e da bondade de tudo?
É através da prova.

Em sua tradução deste Capítulo, Wu Jyh Cherng nos diz que “Virtude do Orifício” significa a virtude do Vazio, da Não-Ação. CHIN: Essência do Universo Manifestado. HSIN: Prova; algo real e fiel à natureza do Caminho.

Wu Jyh Cherng, em sua aula de interpretação do Capítulo 21 (realizada em 22 de novembro de 1994 e transcrita pela autora), nos explica melhor sobre a Essência:

“Quando se chega a uma profundidade, percebe-se que a consciência está num estado de caos primordial, onde não há forma, não há linguagem, não há imagem, o que existe é uma absoluta quietude. E dentro desse estado, sentimos que somos algo que não pode ser definido, que está unido ao todo e que não está unido a nada. Nesse estado, existe uma força efervescente, algo pulsante dentro de nós, mesmo que não mais tenhamos a forma física.

Nessa hora, o que existe, é o que chamamos Essência. 
...............................................................

É algo tão verdadeiro que somente a própria pessoa sabe que existe.”

Com um abraço estrelado, Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br

ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com

seja a luz em você mesmo

Quando Buda estava em seu leito de morte, ele percebeu que um discípulo jovem, Anan, estava chorando... e perguntou: Por que você está chorando, Anan?

- Porque a luz do mundo está prestes a se extinguir e nós ficaremos na escuridão. - respondeu Anan.

Buda juntou toda sua energia restante e falou aquelas que seriam suas últimas palavras na Terra: Anan, Anna, seja a luz em você mesmo.
When Buddha was on his death bed he noticed his young disciple Anan was weeping. 'Why are you weeping, Anan?' he asked.

'Because the light of the world is about to be extinguished and we will be in darkness.'

The Buddha summoned up all his remaining energy and spoke what were to be his final words on earth: 'Anan, Anan, be a light unto yourself.'

~The Pali Canon~

Mente, Intelecto e Consciência

Mente, Intelecto e Consciência

Janine Milward

Quando estamos sob as limitações, em nossa mente, somos parte do coletivo – Jiiva - ainda vivendo na escuridão da ignorância. Somos então dominados pelo medo e pelas questões terrestres apenas.

Quando ultrapassamos as limitações em nossa mente e alcançamos a liberação da mesma, em Mente, alcançamos o Uno, Shiva, e com ele nos fusionamos.

Dessa forma, é importante que saibamos que, sendo seres que usam sua mente, aprendemos que antes de mais nada, também é a mente a causa das limitações bem como a causa da Liberação.

Existem então formas que poderemos nos impor para ultrapassar a ignorância de nossa mente – essa é a meta de realização de nossa vida.

É a mente que realiza a ação. E portanto é a mente que desfruta das vicissitudes e das virtudes dessas ações.

Quaisquer ações que pratiquemos, são gravadas suas impressões em nossa mente. São reações em potencial. Karmas e Samskaras.

Quando a mente se deforma – a partir da prática de ações negativas e da colheita das reações semelhantes -, ela tem intrinsecamente a tendência a retornar à sua forma original, ou seja, mente pura, cristalina, infinita e iluminada.

Dessa forma, podemos entender também que Samskara é a tendência da mente a retornar à sua forma original, ou seja, à Fonte Primordial, o Tao da Criação.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO – http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

Karma e Samskara - Ação e sua Reação imediata ou em potencial

Karma e Samskara
Ação e sua Reação imediata ou em potencial

Janine Milward

De uma maneira geral, estamos sempre ouvindo – ou mesmo falando – sobre tal evento ou situação ou pessoa que representam aquilo que (erroneamente) entendemos como nosso Karma..., na expectativa de que, com isso, estamos nos referindo ao peso, ao obstáculo, à situação desagradável ou penosa que temos que enfrentar em nossas vidas...

No entanto, não necessariamente Karma quer significar peso, obstáculo, situação desagradável ou penosa.... Não. A verdade é que Karma significa ação. Nossas ações de vida, todas, são denominadas de nossos Karmas.

E certamente, compreendemos que toda ação traz uma reação – seja ela uma reação mais imediata (ou podendo acontecer ainda dentro da mesma vida quando a ação, Karma, tenha sido praticada); ou seja ela em seu sentido de reação em potencial (podendo acontecer ainda na mesma vida bem como sendo a reação de ações praticadas em outras vidas anteriores).

Ação é Karma. O resultado de nossas ações se chama Samskara.

A Criação é a manifestação, o espelho da Mente Cósmica que por sua vez traduz a Suprema Consciência.

Assim, toda a Criação é também mente. No entanto, aparentemente, somos nós, os seres humanos, os detentores da possibilidade de, primeiramente, expandir infinitamente e iluminadamente esta mente, transmutando-a em consciência e, em seguida, em Consciência iluminada e infinita, fusionada à Suprema Consciência.

Com um abraço estrelado,
Janine Milward

Texto extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO - http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com.br/

Ação, Conhecimento e Devoção Karma, Jinana e Bhakti

Ação, Conhecimento e Devoção
Karma, Jinana e Bhakti

Janine Milward

Nos é dito pelos Mestres que alcançaram o Portal entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação, que existem três etapas para que nos seja possível nos colocarmos em nosso Caminho da Iluminação, ou seja, a infinitude e iluminação eterna de nossa consciência, de nossa mente: nossa Ação totalmente despida de reações em potencial negativas; O conhecimento verdadeiro; e finalmente, nossa Devoção à Suprema Consciência.

A Ação, Karma, é a prática do homem a se tornar Homem Sagrado.
O Conhecimento, Jinana, pertence à Terra.
E a Devoção, Bakhti, pertence ao Céu.

Obviamente, o Conhecimento da Terra é advindo do Céu e realizado pelo homem. A Devoção do homem é advinda do Céu e praticada na Terra através da Ação do Homem Sagrado.

Sendo assim, existe a integração do Homem entre a Terra e o Céu, é o religare.

E essa integração novamente nos revela a Estrela de Seis Pontas, a Triangulação realizada duplamente através a Ação, o Conhecimento e a Devoção divinas e humanas, celestes e terrestres..., sempre fusionando esses três conceitos através a constância e a duração existentes nos Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação.

A Ação – Karma – sempre pressupõe uma reação em potencial – Samskara. No momento em que realmente estivermos em nosso Caminho da Iluminação, nos propomos viver e agir sempre de forma que nossa mente atue dentro do bom discernimento – Viveka -, deixando os julgamentos errôneos ou preconceituosos de lado.

Dessa forma, não criaremos reações negativas em relação às nossas ações e nos tornaremos aquilo que poderemos chamar de Semente Queimada, Dagdhabiija, ou seja, a semente que não mais nasce dentro desse estágio de mundo mental em que nos encontramos agora e que nos leva a vida, morte, vida, morte, vida, morte, numa roda quase que infinita – a Samsara - e quase que sem sentido.....

O verdadeiro Conhecimento advém do Mundo da Não-Manifestação e, mesmo que traduzindo a verdade da Mente Cósmica, essa tradução já é uma realização dentro do Mundo da Manifestação, ou seja, tornou-se uma manifestação de Prakrti, o Princípio Operativo, tecendo a Criação. O verdadeiro Conhecimento é aquele estruturado na constância, na infinitude, e não na duração, na efemeridade....

Assim, existe também um momento em que até do conhecimento abrimos mão, nos desapegamos: é o desapego final... para o encontro com a Mente Pura e Cósmica.

A Devoção atua como o combustível para o desenvolvimento dessas duas questões anteriores, ação e reação em potencial e conhecimento. A Devoção é a pureza da mente que nos instiga a nos movermos em direção à Consciência Suprema. É o mapa do caminho de volta ao lar, por assim dizer. É a ferramenta mais precisa e certeira para que possamos transpor o portal entre o Mundo da Manifestação (deixando, assim, os Princípios Operativos e Criativos, Prakrti e Maya para trás) e o Mundo da Não-Manifestação (nos fusionando com a Mente Suprema).

A Devoção é a mente em seu momento de maior refinamento, de maior sutileza, dentro do Mundo da Manifestação. Podemos pensar que seja o momento de conclusão do Ciclo da Vida, do Ciclo de Brahma, quando as duas primeiras etapas iniciais - do sutil ao denso - já tenham sido bem-sucedidas e existe a compreensão de que somente resta a Devoção e seu desejo de Retorno à Fonte Primordial, seu fusionamento com a Suprema Consciência.

Podemos realmente dizer o que é a Devoção? Penso que não. Creio que a Devoção é algo interiorizado, íntimo, pertencente a nosso coração e mente individualizados, não é mesmo?

E é por isso mesmo que a Devoção tanto se assemelha à Suprema Consciência: possui apenas interiorização.

Quando é necessário que a Devoção exteriorize sua extrema interiorização, é preciso que a mente crie formas para expressar a Devoção.... assim como Prakrti, o Princípio Operativo, realiza a Criação dentro do Mundo da Manifestação, sendo inspirada sempre pelo Mundo da Não-Manifestação.

Daí nasce a verdadeira religiosidade, a integração do Homem entre a Terra e o Céu, é o religare.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO – http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com/

O Ciclo da Criação e a Triangulação de Forças

O Ciclo da Criação e a Triangulação de Forças 

Janine Milward

O Mundo da Não-Manifestação é um estado puro de onde se origina a Criação advinda do Mundo da Manifestação. Ao surgir a manifestação dos primórdios da Criação, com ela se objetiva a Mente Cósmica. Assim, a Mente Cósmica é uma objetivação para agir e nomear a Suprema Consciência dentro do Mundo da Manifestação... surge Brahma, a Consciência Cósmica, literalmente "O Grande". 

Existe, então, o Mundo da Não-Manifestação, Nirguna Brahma – a Consciência Cósmica não-manifesta – que faz nascer o Mundo da Manifestação, Saguna Brahma – a Consciência Cósmica manifesta.

Brahma desmembra-se em dupla qualidade manifestada através de sua própria consciência objetivada em Eu Sou: Purusa. E através de sua capacidade, potencial ou objetiva, de manifestar sua capacidade de expressão: Prakrti, a Energia Cósmica.

Penso que podemos denominar Brahma em seu duplo desdobramento: Purusa, Eu Sou, o Criativo, a Luz, a Unicidade, o Absoluto. E Prakrti, a energia cósmica, a multiplicidade dentro da Criação, o Receptivo, a Não-Luz.

Purusa e Prakrti interagem entre si tanto dentro do Mundo da Não-Manifestação – Nirguna Brahma – quando dentro do Mundo da Manifestação – Saguna Brahma.

Dessa forma, a partir de Brahma, surgem a Consciência Cósmica, Purusa, e sua expressão de manifestação através da energia cósmica – Prakrti – interagem, fusionam-se e separam-se, fusionam-se e separam-se, criando o princípio do movimento.

Essa movimentação acontece dentro dos dois mundos – da Não-Manifestação e da Manifestação – formando, então, um tríplice qualidade de forças que competem entre si, infinitamente dando início, vivenciando e trazendo a finalização para dar começo a uma nova jornada: é a Criação. Assim, tem início o Brahmacakra – o Ciclo de Brahma, - o movimento da Criação, do sutil ao denso, da Consciência à matéria, e o retorno do denso para o sutil, da matéria à Consciência.

Dessa forma, eis que surge a Estrela de Seis Pontas em sua primordialidade através de Purusa, Eu Sou, a consciência objetivada; e Prakrti, a energia cósmica, o princípio operativo, e concretizada pela triangulação de forças que manifestam o ciclo de Brahma – Brahmacakra.

• Força Sutil – Sattvaguna –: Eu Farei; a realização voltada para o futuro
• Força Mutativa – Rajoguna; força que causa movimento, atividade, agitação – Eu Faço; a realização voltada para o presente
• Força Estática – Tamoguna – Eu Fiz; a realização voltada para o passado

Essa triangulação de forças, seguindo seu movimento do sutil ao denso e em seu retorno, do denso ao sutil, do Mundo da Não Manifestação ao Mundo da Manifestação e deste para aquele, é a expressão autêntica da Estrela de Seis Pontas!

Podemos ver, dessa maneira, a mente manifestada através da Criação advinda do Mundo da Manifestação como espelhamento do Tao do Mundo da Não-Manifestação e formando a Estrela de Seis Pontas.

A mente em sua qualidade de unicidade, Shiva, é a Mente Cósmica. A mente em sua qualidade de coletividade, Jiva, é a mente da Criação que vai deslizando e condensando dentro do Mundo da Manifestação até expandir-se em sua plenitude de infinitude e de iluminação, através da eterna mutação da Criação até retornar à sua sutileza essencial dentro do Mundo da Não-Manifestação, quando volta a ser Shiva, a Mente Cósmica.

Srii Srii Anandamurti está sempre nos relembrando:

A meta da vida humana é fusionar-se a Paramapurusa, à Suprema Consciência.

Para tanto, para que possamos nos fusionar à Suprema Consciência e nos tornarmos uma Estrela de Seis Pontas, entrelaçando Terra, Homem e Céu..., existe a Sadhana, o trabalho espiritual, o esforço para se tornar pleno, a ser realizado pelo Sadhaka, o Caminhante, o aspirante espiritual.



COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO – http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com/

A Estrela de Seis Pontas

A Estrela de Seis Pontas

Janine Milward

Esta estrela que desce até nós, que somos nós, é composta da trindade inicial: o céu, a terra e o homem celestes. Objetivamente, é o Triângulo com o vértice apontando para o céu.

Num segundo momento, esta estrela que sobe a partir de nós, que somos nós, é composta da trindade já mutante: o céu, a terra e o homem terrestres. Objetivamente, é o Triângulo com o vértice apontando para a terra.

O entrelaçamento destas duas trindades, a celeste e a terrestre, ou dos dois Triângulos, existe a partir do desenvolvimento da mente e da expansão da consciência, fundamentalmente, e coloca o homem marcado pela estrela de seis pontas, a união, a Yoga, perfeita e plena, entre o homem, o céu e a terra. É a Sagração do Homem.

A estrela celeste, em sua trindade, desce à Terra trazendo a alma infinita e universal do homem que aqui se une com o corpo físico, formando a trindade terrestre, a estrela terrestre.

A partir da fusão das duas trindades, concretiza-se o Espírito, aquele que possui seu cordão umbilical diretamente ligado à Suprema Consciência - anterior à própria Criação que é pelo Mente Cósmica gerada através do Princípio Operativo, a Energia Cósmica, Prakrti, que cria a Criação.

Esse cordão umbilical que liga o Espírito à Suprema Consciência, Paramapurusa, é simbolizado pela corrente - Guruampara - que se instaura através a mutação da vida bem como através das heranças doadas e recebidas entre mestre e discípulo, em uma Linhagem ininterrupta ao longo dos tempos.

A plenitude da realização da estrela de seis pontas é, portanto, o retorno à Fonte Primordial: é o Homem Sagrado que, após trilhar seu Caminho da Iluminação e seu Caminho da Liberação, torna-se uma verdadeira estrela - objetiva ou subjetiva - ou seja, torna-se um Mestre, aquele que possui luz própria e assim pode guiar e iluminar seus planetas, ou melhor, seus discípulos.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Trecho extraído do meu livro O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO – http://ocaminhantecaminhandoseucaminho.blogspot.com/

Ação-Não-Intencional

Ação-Não-Intencional

A Naturalidade

Wu Jyh Cherng

O homem vive dentro da integração do universo. Há acima de nós um Céu que pode ir até o infinito do universo e abaixo de nós existe uma Terra que pode ir até uma finitude. A Terra é finita. Nós vivemos entre o finito da Terra e o infinito do Céu. Apesar de vivermos entre essas duas coisas, a nossa presença é temporária. A vida do homem é bem menor do que a finitude da Terra e menos ainda pode ser comparada à infinitude do Céu.

Novamente surgem as questões: por que o Céu e a Terra duram e permanecem tanto?

E como poderemos nós nos igualarmos ao Céu e à Terra para que possamos ter a constância do Céu e a duração da Terra?

Dentro de nós existe a mesma potencialidade entre o Yang e o Yin tanto quanto existe no universo a integração do Yang com o Yin.

Lao Tse, respondendo a estas questões, diz:

O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.

O Céu e a Terra não criam nada para si. A razão do Céu e da Terra serem duráveis e constantes é que a força primordial que os move, que mobiliza ambos, não é a força do próprio Céu nem da própria Terra e sim a força do Grande Tao. Céu e Terra são movidos pelo Tao. O Tao está em todas as partes, é o princípio de tudo, está presente em todas as coisas. É essa força do Tao, como o Absoluto, que move o Céu e a Terra.

A diferença entre o ser humano e o Céu e a Terra é que o Céu e a Terra trazem dentro de si uma coisa chamada ‘naturalidade’. No Céu e na Terra todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade: o Céu e a Terra não pensam, não premeditam. Eles emanam consciência, emanam força energética, produzem movimentos físicos de uma maneira natural enquanto o ser humano já perdeu, em sua grande parte, essa naturalidade. Nós agimos com demasiada intenção. Sempre tentamos produzir com nossa própria mente, questionar com nosso próprio julgamento, com nossas próprias idéias, ignorando a integridade do universo. Vivemos a nossa vida consumindo a nossa própria energia e nossa própria força enquanto esquecemos que existe uma energia cósmica que poderia estar nos conduzindo em vez de nós estarmos conduzindo a nossa vida com a nossa própria força. Precisamos aprender a permitir que a força cósmica conduza nossa vida.

A natureza em consciência sem ego, energia sem ego, movimento físico sem ego. Você já imaginou se o sol tivesse um ego tão forte quanto o nosso? Também a Terra não tem ego. A Terra não pode decidir deixar de girar, por exemplo. Bem como o sol, não pode recusar doar sua luz aos planetas. Tudo acontece naturalmente, sem intenção.

No caso do homem, ele usa sua intenção para conduzir os eventos: o ser humano complica a sua vida ao ponto de perder a própria naturalidade. Essa perda da naturalidade faz com que as nossas vidas não tenham mais constância e duração: que não sejam constantes e duradouras, como o Céu e a Terra.

Os mestres iluminados ou ascensionados são exatamente aquelas pessoas que conseguiram de alguma maneira recuperar essa constância e essa duração. Dependendo do grau de recuperação dessa naturalidade e integração entre o Céu e a Terra, eles se tornam ascensionados de um nível mais alto, mais amplo e profundo, ou menos alto, menos amplo e menos profundo.

A continuar permanecendo como estamos, nos tornamos sempre os mesmos: vivendo, morrendo, vivendo, morrendo. E ainda podemos piorar mais ainda essa condição, migrando para níveis inferiores.

O Taoísmo busca, portanto, essa recuperação dessa integração da naturalidade. O primeiro passo dessa jornada é a não-intenção. Não-intenção não deve ser entendida como não fazer nada. Quando o Taoísmo fala do famoso conceito da não-ação, deve ser entendido como ação-não-intencional. Uma ação que seja, pelo menos, menos intencional. Não se deixa de fazer as coisas. O que deve ser feito será feito, apenas que feito de uma maneira mais natural, de uma maneira mais espontânea, menos premeditada e menos engenhosa, com menos ego. Isso não significa que renunciaremos a nossa capacidade mental, racional, intelectual, física e energética. Não. Temos plena consciência das cosias apenas que usufruímos delas de uma maneira mais natural, mais espontânea, mais suave. Isso é chamado de ação-não-intencional. As pessoas não perdem o pensamento, a capacidade de pensar, de sentir, de sensibilizar-se, porém não são prisioneiras da sensibilidade, do pensamento, de quaisquer capacidades.

Capítulo 7

O Céu é constante, a Terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do Céu e da Terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros.

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança.
Além do corpo, o Corpo permanece.
Através do não-corpo, conclui o Corpo.

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Este texto é extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 19 de julho de 1994, sobre o Capítulo 7 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.

Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
Ação Não-Intencional - A Naturalidade
foi idealizado por Janine e não faz parte do texto original.

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Cada brasa palpita como um coração...

Cada brasa palpita como um coração...
- Mario Quintana, in: Sapato Florido, 1948.
Olá! Gosto muitíssimo de acender o fogão a lenha ao cair da noite... para rezar. Eu sinto que o fogo crepitante me traz um frêmito intenso no coração e rezo com fervor.
A oração é um mergulho no coração, sim, porém um mergulho bem consciente - para não nos perdermos na cadência da oração ou do mantra e também para não nos perdermos na imensa lista de seres minerais, animais e humanos para quem rezamos.
No entanto, o momento do fogo crepitante não é bom momento para a meditação de Concentração Interiorizada - apenas a maneira meditativa de Contemplação: contemplação das chamas do fogo, em seus rodopios dançantes e emocionantes. A Contemplação é também uma forma de meditação.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward