O que é mantido cheio não permanece até o fim




TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao



Tradução e Interpretação do Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de agosto de 1994


Capítulo 9


O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno

Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada

Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa

Concluir o Nome, terminar a Obra,
Retirar o Corpo - este é o Tao do Céu



O Tao do Céu é o  Caminho do Céu, o Caminho do Universo, o caminho da universalização.

A leitura do Capítulo 9 pode ser feita em diversos níveis.

O primeiro nível é o que está literalmente escrito nele: a importância que o Taoísmo dá ao conceito do espírito de humildade, da não-arrogância, da não-obsessividade.

Tudo aquilo que está demasiadamente cheio, repleto, não pode ser mantido.  Ao servir o vinho, não se deve encher demais a taça porque senão, transborda.  Ao carregar uma bacia cheia d’água, restarão poças d’água pelo chão.  Aquilo que está pleno, não se pode beber ou carregar.

A palavra ‘cheio’ refere-se ao orgulho, ao convencimento, ao perfeccionismo, à prepotência.  A auto-satisfação, o auto-engrandecimento, tornam a pessoa incompleta: todos acabam se virando contra, atacando, uma pessoa que aja dessa maneira. 

Tudo aquilo que é feito de forma radicalmente perfeita traz em si a causa de sua própria perda.

O I Ching nos diz que a plenitude do Sublime Yang torna-se o princípio do Sublime Yin.  No máximo do  frio, retorna o calor; no máximo do calor, retorna o frio.  O momento do retorno da energia Yang é o momento em que o sol está mais distante da terra e o momento do retorno do Yin  é o momento em que o sol está mais próximo da terra.  E assim, o universo segue o seu próprio movimento.

Uma pessoa que vive de forma muito plena, a partir do momento em que alcança a plenitude total, dá início a um processo de ruptura da plenitude anterior. 

Portanto, é uma atitude sábia a de se tornar uma pessoa mais humilde.  É preciso, com certeza, se aperfeiçoar, melhorar; mas, por outro lado, não se deve levar o perfeccionismo a um excesso - até a arrogância.


Meu mestre uma vez me contou uma história sobre um dos seus discípulos, que era filho de um grande mestre em geomancia chinesa.  Este mestre em geomancia era perfeito, bem conceituado, nunca falhava em seus dizeres.  Passou a vida inteira buscando um lugar ideal para si mesmo, o que ele chamava de cova perfeita.  Cova perfeita deveria ser um local de assentamento de forças onde tudo deveria ser perfeito: a distância do rio que passava, a montanha que se erguia, o crescimento das árvores, a qualidade da terra... Finalmente, ele encontrou esse lugar e ali começou a construir para si e sua família uma casa.  A casa foi construída dentro da maior perfeição desde o minuto do início das obras, a angulação de cada parede, de cada janela, o tamanho das telhas, a quantidade de telhas, a grossura da viga-mestra.  A casa demorou anos para ficar pronta e quando isso aconteceu, viu-se que era uma obra de geomancia perfeita.

Aconteceu, então, que o mestre em geomancia ficou doente e morreu em semanas.  A família entrou em falência, em decadência.  O filho - discípulo de seu pai -, não conseguia entender o que tinha acontecido: pela lógica, tudo tinha sito tão perfeito, tudo havia sido construído com tal perfeição... e de repente, tudo havia desmoronado.  Procurando se aconselhar com meu mestre, o rapaz aprendeu que em tudo, mesmo que se procure a perfeição maior, tem que se preservar a chance da imperfeição se apresentar.

O mestre, então, sugeriu que o discípulo quebrasse alguns pontos daquela casa erigida pelo pai, daquela estrutura tão perfeita, fazendo, dessa maneira, que a estrutura energética daquele lugar pudesse ser refeita.  O discípulo seguiu os conselhos do mestre e posteriormente tornou-se um dos maiores mestre de geomancia da atualidade.

Essa história é uma a mais das várias histórias que Mestre Maa contou para mim e ilustra admiravelmente as palavras “O que é mantido cheio não permanece até o fim”.


Também um ditado chinês diz que se você tiver um pau na mão e correr atrás de um cão vira-lata, numa persiga esse cão até uma rua sem saída. Se isto acontecer, o cachorro que antes corria, corria, no momento em que se vir acuado, voltar-se-á contra você - então o cão vai brigar com o homem.  Se quiser perseguir um cachorro, faça-o numa estrada onde o cão possa correr sem quaisquer impedimentos.


Mestre Maa diz que quando uma pessoa está cheia, repleta, ela se torna um pequeno  recipiente.  Quando não está cheia, torna-se um grande recipiente.  A palavra ‘recipiente’ quer significar literalmente ‘aquilo que recebe algo’.  Pode ser do tamanho de uma tigela como pode ser do tamanho de um estádio de futebol.  Não importa  qual o tamanho: quando o recipiente está cheio, torna-se pequeno e quando se torna pequeno, nele não cabe mais nada, está saturado.  Se se jogar um pouco fóra, poderá ainda ter uma tolerância, ainda aceitar alguma coisa.

Uma pessoa pode ser um grande recipiente ou um pequeno recipiente.  Uma vez cheio, sempre será um pequeno recipiente, mesmo que seja um grande recipiente.

Uma pessoa pode ser um pequeno recipiente; se não estiver cheio, sempre haverá a potencialidade de enchê-lo - por isso o recipiente torna-se grande.

Obviamente, o homem não é um recipiente feito uma cumbuca ou uma  tigela.  A capacidade humana, enquanto recipiente, é a de receber conhecimentos e tudo da vida.  Somos um recipiente que tem a capacidade de aumentar ou de reduzir de tamanho.  Se tivermos humildade - não encher até o máximo -, se não tivermos orgulho, o sentido de ‘especial destino’, ou arrogância, seremos aquele recipiente infinitamente grande onde sempre caberão mais conhecimentos e mais ensinamentos.

Se atingirmos o ponto de cheios, mesmo que sejamos altamente intelectualizados, altamente instruídos, com um imenso domínio das coisas, sempre seremos um pequeno recipiente.  Porque dentro de nós não cabe mais nada.

É realmente extremamente importante e fundamental que saibamos não ser cheios.  Uma pessoa que assim aja, conseguirá absorver infinitamente tudo aquilo que o universo pode dispensar.


O grande caminho do Taoísmo é exatamente uma realização infinita.  A infinitude se revela naqueles quinze a vinte por cento que não estão preenchidos.  Se um dia o caminho da infinitude alcançar a sua plenitude, a infinitude deixa de ser infinita e se torna finita.  O Caminho da Imortalidade termina quando um dia se morre.  O Caminho da Infinitude acaba no dia em que este caminho se torna finito.  Para ser infinitamente infinita, uma pessoa precisa nunca chegar ao máximo.  Para nunca se atingir o ponto máximo, é preciso conservar a humildade, a simplicidade.

Assim, Ele diz:  “O que é intencionalmente polido, não é um tesouro eterno“.  Uma obra eterna é uma obra que pode ser constantemente polida pelo tempo, pela história, pela própria trajetória de sua existência.  Uma pedra que pode ser polida, quando atingir o máximo de seu polimento, chegará ao ponto da limitação.  Se todos nós somos uma matéria-prima, uma pedra, potencialmente um tesouro, que precisa ser polido, que pode ser polido, que nunca deixará de ser polido, que pode ser polido infinitamente -, essa possibilidade, essa capacidade, é que nos torna um verdadeiro tesouro.

Assim é o caminho da realização espiritual.

Tudo aquilo que é intencionalmente polido, chega um ponto onde não se pode fazer mais nada, chega à limitação.  Por isso, Ele diz que “O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno”.  Torna-se um tesouro do momento.

Mestre Maa diz que o polimento intencional representa o avanço da inquietação.  Quando uma pessoa procura demasiadamente a perfeição, ela cria uma ansiedade que destrói a sua potencialidade latente.

O Taoísmo diz que é muito importante se manter o estado de ingenuidade, o estado de pureza primordial.  Para o Taoísmo, é mais importante se ser uma árvore gigante e toda torta, encurvada na floresta, do que ser uma cadeira elegante, requintada, numa sala.  É preciso se viver o estado de fluidez, de integração com todas as coisas e em qualquer instante, poder ser qualquer coisa, poder se transformar em qualquer outra coisa e estar sempre em crescimento.  Isso é melhor do que ser transformado em uma cadeira que passa a ser apenas uma cadeira.



Preservar a consciência e não deixar que a consciência se transforme em pensamento, é uma das tarefas da meditação.  A meditação nos propõe recuperar a consciência.  Quando a consciência é racional, ela se torna mente.  Quando a mente deixa de ser pensamento, volta a ser consciência.

Na prática da meditação, quando se coloca a Consciência no ar que se respira, chega um momento quando não se tem mais pensamentos.  Isto não quer significar que nos desligamos inteiramente; apenas que, nesse momento, nossa consciência volta a ser como ela deveria ser: apenas uma consciência.

O Vazio não é o vazio da ausência das coisas mas o vazio da potencialidade das coisas. 

Uma pessoa que tem consciência e vive no nível da consciência, quando ela pensa, pensa no nível da consciência, ou seja, seus pensamentos são mais fluentes, mais diluídos, mais claros.  Enquanto que uma pessoa  que vive no nível do pensamento, possivelmente entra num labirinto da mente e passa a ficar confuso.  Mestre Maa sempre nos alerta sobre essa questão.  Ele diz que uma pessoa que vive no mundo da consciência absolutamente não perde o discernimento nem perde a noção das coisas - muito pelo contrário.  Enquanto que as pessoas comuns que só vivem no mundo da mente, ficam perdidas dentre as inúmeras informações que a mente recolhe e ficam confusas por não saberem o que fazer e como fazer para se relacionarem, para trabalharem, para atuarem nas mais simples coisas.  Porém, quem tem a consciência, vai simplesmente atuar nas coisas de forma direta, objetiva e clara, vai se relacionar com as coisas de maneira clara, sem complicações.

Quando sentimos nossa cabeça cheia, não é de consciência, é de pensamentos.  Quando vivemos a consciência, cada pensamento que brota dentro de nós é simples e preciso.  Diferente das pessoas que estão cheias de pensamentos, que vivem no mundo da mente.

Na prática espiritual, temos que ter essa lucidez num nível muito mais profundo: é preciso ir fundo dentro dessa absoluta consciência.  Quem age com a lucidez da consciência não tem remorso, não tem culpa, não tem traumas.

Mestre Maa nos diz que a pessoa que procura o Tao deve cultivar dentro de si a constância, a sinceridade, a humildade, o silêncio, a naturalidade.  Mesmo que tiver grande sabedoria, deve aparentar ser ignorante.  Agir como uma pessoa que guarda a virtude do coração, que guarda a virtude do homem.  Este conceito é basicamente o mesmo dentre as muitas escolas taoístas.  Não é bom a pessoa chamar a atenção para si mesmo, destacar-se entre os outros.  Não.  A pessoa deve ser simples, agir de forma simples.  Tenta-se durante toda uma vida transformar o ego em consciência pura, sem brilho, sem carisma.  Não se encontra um mestre taoísta pela irradiação de seu brilho.  Pode-se encontrar um mestre taoísta com brilho, com personalidade forte, com carisma: normalmente, ele não estará entre os maiores mestres porque ainda é um tesouro muito polido, ainda precisa saber recuperar o estado anterior ao de ser polido.  Muitas pessoas, inclusive, abandonam o Taoísmo pelo fato de não se cultivar o brilho pessoal.



Em seguida, Lao Tse nos diz:

Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada

Ouro e jade significam a capacidade da consciência e a capacidade da energia; uma pessoa com grandes capacidades mentais e intelectuais, uma pessoa com muito talento.

Essas questões não  devem ser excessivamente expostas, exibidas.  O mestre taoísta não exibe sua força, não se presta a debates extremamente brilhantes, com grandes discursos, discursos arrasadores, platéias chocadas, chorando.  O mestre taoísta não emana tais energias.

No I Ching, o Hexagrama A Claridade Ferida, em uma de suas interpretações, nos diz que quando existe muita luz, essa luz fere.  Quando uma pessoa é muito brilhante, tem muito brilho pessoal, tem uma luz muito radiante.  Essa pessoa, esse brilho, essa luz radiante, tudo isso fere as outras pessoas.

O Taoísmo enfatiza o fato de que se você tem luz, tem que saber guardá-la para si mesmo, tem que aprender a ser discreto.  O grande sábio muitas vezes pode ser confundido com um ignorante porque ele mantém a sua luz guardada em seu interior e não fica irradiando essa luz.  Ele aprende a ser brando, suave.  A luz espiritual do mestre taoísta não é ofuscante - porque, se fosse, ele deixaria de possuir os três tesouros: simplicidade, afetividade e humildade.

Para o Taoísmo, o caminho do sábio é um caminho suave, brando.  Nunca se sabe quando o sábio sofre porque ele não deixa isso transparecer.  E nem tem esse conceito de sair do sofrimento para o não-sofrimento.  Simplesmente, o sábio passa a viver alegremente, sadiamente.  O sábio sabe transformar.  A transformação direta é a condição ideal de vida.

Existe um conceito bem difundido de que o sofrimento é um instrumento para o crescimento.  Isto é um conceito espiritualista.  O Taoísmo não trabalha com esse conceito.  Para o Taoísmo,  deve-se simplesmente aprender a sair do sofrimento.  Só se sai do sofrimento se se entrou nele.  A partir daí, aprende-se a sair do sofrimento com suavidade.

O Taoísmo tem uma visão em relação ao conceito do sofrimento, bem como de outros conceitos , diferente de outras escolas.  Por exemplo: o conceito da compaixão (que é um dos fundamentos do Budismo), é visto de forma diferenciada.  Para o Budismo, a compaixão é a pessoa entrar profundamente no sofrimento do outro para poder entender o outro e compartilhar de sua dor.  O Taoísmo diz que - sim, é preciso compreender a tristeza e o sofrimento dos mais ignorantes, para poder ter compaixão.  O fundamental, entretanto, é que é preciso se ter uma alegria contagiante para se aprender a tirar o outro de seu profundo sofrimento.  Portanto, é importante não apenas compreender o sofrimento do outro mas fundamentalmente, é imperioso que o outro não sofra mais.  Pode ser até que não se compreenda bem o sofrimento do outro, no entanto, o que importa é a alegria que ajuda o outro a sair de seu sofrimento.  Para o Taoísmo, a palavra compaixão é usada como ‘afetividade’.

A leveza e a suavidade do exemplo taoísta são positivas e construtivas.  A partir do momento em que se trabalha com o vazio universal que abraça todas as coisas no universo, naturalmente haverá a compreensão do sofrimento do próximo.  No entanto, não se deve sintonizar exclusivamente nesse canal de freqüência, mas sim deixar seu abraço envolver todas as outras freqüências.  Quem está no estágio do abraço do Vazio, acolhe tudo em seu próprio ser.  Porém, o envolvimento não pode ser absolutamente direto, porque, dessa maneira, traria limitações.



Em seguida, Ele diz:

Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa


Riqueza não é ruim, nobreza não é ruim.  Riqueza e nobreza somadas à arrogância, sim.  a riqueza pode ser material.  Também a riqueza significa conhecimento.  A riqueza somada à arrogância é nociva.  Tudo aquilo que possuímos são riquezas.  Todas as qualidades que possuímos são nobrezas.  A riqueza pode também ser entendida como uma potencialidade quantitativa e a nobreza, numa linguagem simbólica, é uma potencialidade qualitativa.  Uma pessoa pode ser quantativamente e qualitativamente capaz de realizar coisas.  Porém, quando essas qualidades são associadas à arrogância, podem ser prejudiciais.  Uma pessoa possuidora de uma excepcional inteligência - associada à arrogância - passa a ser nociva para si e para os outros.  Uma pessoa talentosa mas arrogante, quando está no poder, ninguém pode fazer nada a seu respeito.  Quando cai do poder, também ninguém pode fazer nada.  O próprio poder foi arrogante.

Para o Taoísmo, uma pessoa extremamente inteligente, brilhante, talentosa, criativa - porém arrogante - perde o caminho da afetividade, da suavidade.  A luz que ofusca não é a verdadeira luz.  Quando se possui a luz, a consciência, não se tem a necessidade de usar o poder da inteligência, do talento, do brilho de uma maneira ofuscante, violenta.  Uma consciência plena é uma consciência que não ofusca.


Existe uma história que conta que, antigamente, havia um grande mestre especialista na arte de desmembrar o boi por inteiro sem que o boi percebesse que estava sendo desmembrado.  Matava o boi sem que o boi soubesse que estava sendo morto.  O imperador, ouvindo falar do açougueiro, chamou-o para  conversar e perguntou ao mestre açougueiro como ele conseguia a façanha de matar o boi sem berros, sem sangue, sem sofrimento.  O açougueiro respondeu dizendo que sempre se guiava pelo sentido do sentimento do boi, já chegava ao boi integrado pelo sentimento deste.  Ao cortar as partes do boi, já comungava com o boi.  Ao cortar o boi, parecia que o acariciava.

Essa história ilustra o fato de que muitas vezes quando é preciso realizar alguma coisa, não se faz necessário o uso da violência.  Uma consciência plena não é uma consciência que ofusca, é uma consciência branda, uma consciência que abraça.  Não é uma consciência que chora.  Para uma pessoa ser um Taoísta, tem que ser sintonizada com esse princípio.  A violência, o ofuscamento, na verdade, só pode trazer resultados negativos para a própria pessoa:  Riqueza e nobreza somadas à arrogância fazem restar para si sua própria culpa.



Concluir o Nome, terminar a Obra,
Retirar o Corpo - este é o Tao do Céu


No primeiro Capítulo do Tao Te Ching, Lao Tse diz:

O Tao que pode ser enunciado não é o verdadeiro Tao
O Nome que pode ser enunciado não é o Nome constante


Concluir o Nome -  Não é concluir o nome que pode ser enunciado e sim concluir o Nome que não pode ser enunciado.  O Nome constante.  O Nome que não morre.  A transcendência da forma e a transcendência da eternidade.

Concluir o Nome é concluir o nome não-nome.  O verdadeiro Nome não pode ser enunciado.  O verdadeiro Nome não se limita pela força da palavra; não se limita pela força da forma; não se limita pela força da identidade de seu ego.


Terminar a Obra - A obra de restauração do próprio Tao; a obra que é deixada pelo homem.

Mestre Maa diz que cada homem iluminado -  como se fosse um incenso aceso cheio de pólen aliviando o ambiente - deixa uma obra no universo.  Mesmo que esta obra seja invisível, ela existe em níveis mais sutis, menos visíveis.


A mitologia chinesa conta que em tempos imemoriais houve um grande dilúvio.  No dilúvio, morreram todas as pessoas da Terra, com exceção de duas - um homem e uma mulher.  O homem era Fu Xi, que concebeu o I Ching e a mulher se chamava Nu Guo ou Lü Wa.  Algumas versões desse mito dizem que Fu Xi e Nu Guo eram irmãos.  Outras versões, dizem que eles eram marido e mulher.  A verdade é que Fu Xi e Nu Guo se casaram e procriaram.

A partir dessas duas figuras simbólicas tecem-se duas linhagens de mitologias e de conhecimentos que representam a Tradição Patriarcal de Fu Xi e a Tradição Matriarcal de Nu Guo.

Todo o conhecimento do I Ching deriva de Fu Xi - bem como a matemática, os números, a astronomia, a metafísica: uma força patriarcal, uma força Yang.

De Nu Guo nasce a Tradição Matriarcal que contou muitas lendas.  Uma dessas lendas narra que Nu Guo foi a responsável em reestruturar e restaurar a desordem que acontecera na natureza.

Antes de acontecer o cataclismo na Terra, houve uma grande guerra entre dois líderes do mundo.  Depois de muitas mortes, vitórias e derrotas, finalmente, um líder venceu o outro.  Aquele que perdeu a guerra, irado por sua derrota, resolver bater com sua cabeça na coluna de sustentação do céu.  Em linguagem simbólica, a coluna era como a base de um cogumelo, o céu.  O céu, então, desabou, tudo ficou escuro e aconteceu a grande tempestade, o grande cataclismo.  O mar subiu, a terra partiu-se a afundou em si mesma, as pessoas morreram: o vitorioso e o derrotado também morreram.  Restaram apenas Fu Xi e Nu Guo que fugiram para o alto de uma montanha e assim, conseguiram sobreviver.

Nu Guo era uma pessoa extremamente sábia e resolver restaurar o céu.  Para tanto, colheu pedras de cinco cores, dos cinco elementos: vermelha, branca, amarela, azul e preta.  Usou o fogo para destilar os pigmentos e processar as pedras.  Quando as pedras ficaram prontas, Nu Guo as colocou, uma a uma, no céu, tapando todos os buracos.  Ela havia processado exatamente 100 pedras e usou 99 para restaurar a abobada celeste.  O céu ficou repleto de estrelas.

As nuvens, então, desapareceram, o mar desceu e o mundo pacificou-se.  Criou-se uma nova civilização.

Nu  Guo não somente teve filhos com seu marido Fu Xi mas fez do barro homens, sempre usando as cinco cores, representando as cinco raças.

Como vimos, sobrou uma pedra.  Essa pedra que sobrou foi colocada no coração de cada ser humano que nasceu posteriormente...

Assim, sentimos uma angústia, uma tristeza ao olharmos para o céu, querendo, com certeza, estar lá em cima.  É que dentro de nós existe um pedacinho daquela pedra que teria sido uma estrela - se tivesse sido colocada no céu por Nu Guo...

Desde os tempos imemoriais, todos os homens fazem uma imensa força espiritual para conseguirem se iluminar, ascensionar, subir para o céu e se tornar uma estrela.....


Portanto, ‘Retornar ao Caminho do Céu', significa retornar ao caminho da grande natureza, da grande naturalidade.  Através da observação das estrelas se percebe a ordem do tempo.  O conceito do tempo foi   criado a partir da observação do movimento dos astros.  Retornar ao Céu é retornar à grande ordem cósmica.

O grande sábio é aquele que recupera o estado do Absoluto, conclui seu Trabalho e retorna a essa grande naturalidade, como as estrelas que decoram o céu.  Dessa maneira, ele pega sua pedrinha, seu pedaço de estrela e vai para o céu... torna-se uma estrela.

As estrelas no céu são as  referências para todos os homens.  Nós nos orientamos pelas estrelas para conhecermos os conceitos de tempo, de estações, de direção, de todas as coisas.

O mestre ascensionado se torna uma estrela que passa a ser a orientação, a referência, a diretriz para os homens que ainda estão na Terra.

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 foto - sitio das estrelas, janine

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 9
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 02 de agosto de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching