Tradução e
Interpretação do Capítulo 2
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em maio de 1994
Capítulo 2
Quando os
seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já
se tornou um mal
E
reconhecendo o bem como bem
Então, já não
seria um bem
A existência
e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o
fácil completam-se um ao outro
O longo e o
curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e
o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a
tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o
depois seguem-se um ao outro
Portanto,
O Homem
Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o
ensinamento através da não-palavra
Os dez mil
seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam
a realização mas não a possuem
Concluem a
obra sem se apegar
E, justamente
por realizar sem apego
Não passam.
......................
Nota da
Transcrição:
Esta transcrição
do Capítulo 2 não está completa. É
possível que tenha sido transcrito por volta de oitenta por cento do tempo
voltado para a interpretação do texto.
Parte do início e parte do final da aula não foram registrados em fita
gravada ou não chegaram até a transcritora.
Embora, aparentemente, o conteúdo central do texto tenha sido bem
abrangente.
.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Ao realizarem a prática espiritual, as
pessoas têm medo de chegarem a um ponto onde elas perderão suas personalidades
e não mais saberão quem são.
Não.
Além de se re-conhecerem em seus
antigos eus, passarão a se conhecerem em seus outros eus, bem maiores.
Além de se conhecerem como seres
isolados, passarão a se conhecer como seres coletivos, que, na verdade, sempre
foram e sempre serão.
Esse é o propósito do Taoísmo. Devemos trabalhar não apenas criando uma
consciência coletiva, terrestre, mas também criando uma consciência coletiva
cósmica. Não apenas devemos ser uma
consciência cósmica, mas devemos ser a consciência do próprio Tao que abraça o
universo dentro dEle.
Não devemos criar apenas uma
consciência universal do presente, mas sim criar uma consciência universal do
passado, do presente e do futuro, como único instante. Ou seja, uma Consciência que rompa a barreira
do tempo, uma consciência que rompa a barreira do espaço. Uma Consciência que rompa as partículas,
maiores ou menores.
Mestre Maa nos diz que é melhor darmos
um voto maior, um voto grande, para abrirmos nossas possibilidades de chegar
onde queremos - mesmo que não consigamos.
Se colocarmos um limite pequeno, ao alcançarmos a plenitude de nossa
realização pessoal, não passaremos daquele pequeno passo que foi o nosso voto.
Devemos ter humildade para vivermos o
lado material da vida, o lado mundano. E
devemos ter força de vontade, coragem, para vivermos a infinitude do espírito.
Nosso corpo físico talvez não atravesse
paredes mas a nossa consciência pode alcançar um estado infinito de ser. Pode romper a barreira do tempo, romper a
barreira do espaço. E, para tanto, o Taoísmo é bastante liberal no
sentido de que cada pessoa tem absoluta liberdade e poder de realizar o seu
Caminho de Infinitude.
Ninguém é limitado ou proibido de fazer
esta expansão da consciência, esse engrandecimento do espírito. O homem precisa encontrar esse engrandecimento
para encontrar sua Sagração. A Sagração
do Homem é exatamente recuperar essa infinita Consciência. Para se recuperar essa infinita consciência é
como construir uma torre de nove andares: temos que começar pelo chão, pela
base, passo a passo.
Também não adianta alimentarmos altas
metafísicas em nosso discurso e não fazermos nada, na prática.
Primeiramente, para nos iniciarmos na
prática, passo a passo, temos que tentar anular as polarizações. Eu e o outro, nós, os melhores; eles, os
piores; os bonitos, os feios. Devemos
evitar polarizações. O tempo inteiro
estamos polarizando, separando.
Lao Tse nos diz em seus ensinamentos
que o primeiro passo para tentarmos buscar o Caminho - que é longo e nunca se
sabe quanto tempo leva para se alcançar a Plenitude do Ser - é buscar anular as
polaridades e fazer... fazendo.
Uma vez alcançada a Plenitude, o tempo
não é mais importante. Quem alcança a
Plenitude, anula o tempo. Quem não
alcança a Plenitude, sempre será prisioneiro do tempo e do espaço.
Portanto, anular as polaridades é
exatamente transcender o conceito de julgamento de polaridades. Assim como diz Lao Tse:
Quando os
seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já
se tornou um mal
E
reconhecendo o bem como bem
Então, já não
seria um bem
No momento em que passamos a ter
julgamentos, criamos um vício dentro de nós.
Em seguida, Ele diz:
A existência
e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o
fácil completam-se um ao outro
O longo e o
curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e
o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a
tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o
depois seguem-se um ao outro
Estamos todo o tempo fazendo
julgamentos. Havendo julgamentos,
começamos a polarizar e deixamos de ter uma consciência que abrange, que
aceita. Deixamos de conhecer o real e
assumimos o ilusório.
O que é deixar de reconhecer o real?
É como se, em nossa mão,
reconhecêssemos apenas o dedo polegar, deixando de lado os outros quatro
dedos. Estaríamos então assumindo uma
identidade ilusória dessa mão.
E Lao Tse continua:
Portanto,
O Homem
Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o
ensinamento através da não-palavra
Não-ação e não-palavra são dois
conceitos específicos do Taoísmo.
Não-ação é o famoso conceito do Wu Wei
e a não-palavra é Wu Yen.
Na verdade, temos que entender
não-palavra como palavra-não-intencional, a que não tem intenção, pronunciada
sem intenção e não pronunciada com intenção.
Wu Wei é a ação-não-intencional. Fazer as coisas simplesmente, e não fazer as
coisas através de uma intenção. No
entanto, não devemos confundir a não-ação com não-fazer-nada. Constantemente, os mestres taoístas nos
alertam sobre isso, sobre esse conceito que poder ser bastante distorcido.
Wu Wei significa fazer as coisas naturalmente,
fazer o que tiver que ser feito, não deixar de agir, não acrescentar
desnecessários afazeres e não fugir do que deve ser feito. Não reduzir nem acrescentar, simplesmente
fazer o que é natural.
Tudo na natureza é natural. O sol é natural, a lua é natural, o mundo é
natural, a árvore, calor, frio. O sol
nasce sempre dentro de seus ciclos cósmicos bem como a lua. Por que então o ser humano teria que fazer
alguma coisa que não esteja de acordo com a natureza? A natureza age naturalmente, ela tem sua
própria e natural ordem.
Por isso, Lao Tse, em outro Capítulo,
diz:
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
E o Caminho se orienta por sua própria
natureza
Assim, o homem deveria recuperar a sua
naturalidade integrando-a com tudo o que está na terra. E
fazendo parte de tudo o que está na terra, ele se integra com tudo o que
está no céu, ou seja, no cosmos.
Como tudo no cosmos é o fruto do Tao, é
a parte manifestada do Tao, então o homem deve se integrar com a parte
invisível que esse todo abrange.
A partir desse momento, tudo se torna o
Tao e, dentro dessa grande condição, todas as coisas acontecem dentro de uma
naturalidade e se cria uma ordem que não é uma norma e sim a ordem natural das
coisas.
O Taoísmo enfatiza a ordem natural das
coisas. Valorizar a ordem natural das
coisas é deixar as coisas fluírem.
Deixar as coisas fluírem significa viver cada coisa e cada instante de
nossa vida, de nosso destino, de forma natural.
Não fugindo das coisas - o que seria
uma má interpretação; não vivendo a vida modificando-a intencionalmente - o que
seria contrariar a naturalidade.
Esse é o simbolismo do caminho das
águas: ela nasce no alto da montanha, vai descendo a serra, sempre correndo
pelos caminhos mais apropriados, simplesmente correndo, e fluindo até encontrar
o oceano. No oceano, ela evapora e sobe
ao céu onde se transforma em nuvem.
Então chove, a chuva entra na terra, forma a fonte e assim vai,
infinitamente transformando..
O grande ensinamento do I Ching nos
fala da infinita transformação das coisas.
Todas as coisas estão constantemente em transformação. A nossa impressão fotográfica não existe. A imagem não pode ser mantida estática.
O apego às coisas faz o homem morrer e
essa morte acontece a cada instante.
Todas as vezes que nos apegamos a alguma coisa, estamos morrendo um
pouco. Os apegos traumatizam nossa
consciência e prejudicam nosso corpo.
Dessa maneira, o homem morre a cada instante, morre em sua consciência,
morre em seu corpo.
A partir do momento em que o ser humano
consegue viver a infinitude da transformação, ele não se apega mais à
forma. Se pensarmos que o universo em um
princípio e terá um fim, estaremos nos condicionando dentro de um universo
ilusório.
O universo é como uma grande corrente -
um elo encadeando no outro - e portanto, é o próprio infinito. O infinito é a própria vida. A partir do momento em que nos tornamos a
infinita transformação, não teremos a morte.
Teremos, sim, a Plenitude da Consciência e a Plenitude da Vida.
E quando a Vida e a Consciência
infinitas forem um único ponto, um único elemento, o homem passa a ser chamado
de Imortal.
Os grandes mestres taoístas
ascensionados da antigüidade são chamados de Imortais. Assim como o Buda é chamado de O
Desperto. O simbolismo não é muito
diferente. Existem as interferências
culturais e também o propósito e a linguagem são um pouco diferentes.
Encontramos dois tipos de religião:
-
a religião patriarcal
-
a religião ancestral
O Taoísmo é uma religião ancestral, ou
seja, não é uma doutrina fundamentada na palavra de uma pessoa,
especificamente.
O Taoísmo é uma Tradição que tem seus
ensinamentos fundamentados em todos os mestres que buscaram o Tao, desde os
tempos imemoriais. Historicamente,
podemos encontrar textos escritos há mais de sete mil anos, escritos pelos
mestres que já buscavam e alcançaram o Tao, realizando o Tao em si mesmos.
A religião ancestral não determina de
onde ela nasce e onde será seu fim. Esse
é um conceito paralelo ao conceito sobre o universo. No Taoísmo, não se considera que exista um
começo ou um fim no universo.
Simplesmente, o universo é a própria infinitude. Essa infinitude não tem princípio e não terá
fim.
Temos que entender, então, que:
-
O Taoísmo é uma Tradição religiosa
ancestral, mística e espiritual.
-
A busca espiritual do homem pode ser uma necessidade existencial ou
uma necessidade mística.
A necessidade existencial faz as
perguntas: quem sou eu, de onde venho,
para onde vou? Qual é o porquê de tudo
isso? Qual é o sentido de eu viver? Tudo termina?
Se não termina....?
A pessoa entra em aflição, se desespera
e parte para uma busca existencial.
Existe a necessidade mística de se
saber o que existe além daquilo que eu vejo...?
..... no além do visível, do racional, do compreensível: uma ânsia de
viver profundamente a vida.
Na crise existencial, a religião é
procurada para preencher todas as limitações.
Na necessidade mística, o que impera é
o desejo de viver profundamente a vida.
mesmo que a vida seja a parte manifestada do Tao.
O Taoísmo é uma Tradição religiosa que
soma estes dois conceitos.
O Tao, do lado do Céu Anterior, fala do
Vazio, do estado de libertação das prisões da vida, das limitações e da
ignorância. Quem alcança o Vazio do Tao
sai das limitações e da ignorância.
Mas, por outro lado, o Taoísmo
considera que o próprio universo manifestado - que pode ser compreendido como
aquele que aprisiona a alma da pessoa - também ele é a própria manifestação do
Tao.
O Taoísmo, então, propõe que vivamos
profundamente a vida.
Todo o tempo estamos trabalhando com
esta fusão. O Taoísmo compreende que
tudo é indivisível e, ao mesmo tempo, didaticamente, nos faz perceber esta diferenciação, essa polarização, devido ao
nosso nível de consciência.
Dessa maneira, fundimos a questão
existencial com a questão mística.
Fundimos o Vazio do Absoluto com a Onipotência do Universo, vivemos
profundamente a vida e nos libertamos da prisão da vida.
Os grandes mestres taoístas sempre
dizem que devemos viver profundamente a vida sem sermos prisioneiros da
vida; que devemos nos libertar
totalmente da vida sem nos afastarmos da vida.
No momento em que se precisa da
liberdade da vida e nos afastamos dela (pensando conseguir esta liberdade),
estamos criando uma polarização.
Se vivemos profundamente a vida e somos
prisioneiros dela, também estamos em outra polaridade.
Para vivermos profundamente a vida sem
sermos prisioneiros da vida e para nos libertarmos da prisão da vida sem nos
afastarmos da vida - para podermos viver essa condição -, precisamos ter uma
virtude:
A Naturalidade.
Saber fluir como a água, saber nos
transformar, saber que todas as coisas estão em contínua transformação, ampliar
nossa consciência, nos harmonizando com todas as coisas que estão em torno de nós, tomar a consciência da
integridade das coisas e aceitar nossa vida atual.
Na prática, temos que conhecer quem
somos nós, conhecer nossos defeitos, nossas impossibilidades, nossas
impotências, nossos apegos, nossos desejos.
Então, após podermos comandar a
consciência da realidade, é possível começarmos a trabalhar.
Como poderíamos transformar algo que não sabíamos bem o que?
Primeiramente, temos que ter a consciência.
Por exemplo, na iniciação do monge
Taoísta, existe um juramento. Todos os
monges taoístas são parcialmente ou inteiramente vegetarianos - mas isso não
acontece por obrigação. No juramento do
monge Taoísta, se realiza a consciência de não satisfazer os prazeres pessoais
através do sacrifício da vida. Toma-se a
consciência de que todas as vidas são semelhantes, todas as vidas são parte de
nos. Toma-se a consciência de não se
criar felicidade em sacrificar vidas para satisfazer nossos prazeres.
Isso não se restringe apenas ao
vegetarianismo. Também não existe prazer
na caça ou matança de animais, até da formiguinha.
No Taoísmo, trabalha-se principalmente
no desenvolvimento da consciência. A
maioria das pessoas não querem pensar nas coisas, não querem trabalhar sua
consciência. Os vícios e os apegos,
normalmente são transformados após a tomada de consciência, com a transformação
da consciência.
O Taoísmo trabalha sempre na
compreensão equilibrada das coisas.
Sempre procuramos o caminho do equilíbrio. É preciso haver disciplina espiritual, sem
radicalidades, sem extremismos.
Na meditação, é fundamental que haja a
disciplina diária: 10, 15 minutos que vão transformando a pessoa pouco a pouco.
Como viemos de um acúmulo de vícios e
apegos de vidas anteriores, Tomar a Consciência significa trabalhar o caminho
espiritual de uma maneira gradual, progredindo aos poucos - mas progredindo - e
não regredindo.
Também não adianta tentar mudar vícios
e apegos de um dia para outro, radicalmente, porque o retorno à vida anterior
pode ser ainda mais danoso.
Caminhando devagarinho um dia se olha
para trás e se realiza que já se andou bastante.
Existe um ditado chinês que diz:
Quem tem força de vontade está sempre tendo força de vontade.
(ou seja, a pessoa projeta sua meta e a
realiza)
Quem não tem força de vontade está sempre tendo vontade.
(ou seja, a pessoa está todo o tempo
mudando suas vontades e criando força de vontade para poder caminhar... e não
vai conseguir).
Voltando à nossa leitura, Lao Tse diz:
Os dez mil
seres fazem-se mas não para se realizar
O sol, a lua, a água, o vento, tudo se
manifesta no universo de forma natural.
O sol não diz: Sem a minha luz o
povo viverá na escuridão..... Não existe
isso porque isso é muito mais o raciocínio do homem que não possui a
naturalidade.
Saber deixar fluir, fluir; fazer os
empreendimentos mas não fazê-los com uma obra pessoal, personalizada. Simplesmente fazer o que deve ser feito. Fazer, simplesmente.
Em outros Capítulos do Tao Te Ching, se
diz que o Homem Sagrado realiza a obra sem que as pessoas percebam e termina
sua obra e se retira, sem que as pessoas lhe atribuam elogios ou
reconhecimento. Porque Ele simplesmente
faz, e não faz para ganhar elogios. Ele
não se revela, Ele simplesmente faz.
Por isso, Lao Tse diz que “os dez mil
seres fazem-se mas não para se realizar”.
E continua:
Iniciam
a realização mas não a possuem
O sol traz a luz, cria a vida mas não
quer a vida para si. Ele não possui a
vida.
Por isso, Lao Tse diz que os dez mil
seres iniciam a obra mas não a possuem. Concluem a obra sem se apegar a ela.
Esse espírito é fundamental: se
tivermos que fazer alguma coisa, simplesmente fazemos. Concluímos a obra e saímos de cena,
simplesmente, sem apegos.
Porque o ser humano tende a viver
fazendo as coisas com intenção e quando as conclui acha que tudo lhe pertence,
Lao Tse diz:
Os dez mil
seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam
a realização mas não a possuem
Concluem a
obra sem se apegar
E, justamente
por realizar sem apego
Não passam.
Aquele que não se apega às coisas, está
eternamente presente. Aquele que se
apega às coisas, fica para trás, passa.
Aquele que não se apega, está sempre
presente, mesmo que não seja reconhecido pelas pessoas. Quem está presente, normalmente, não é
percebido.
Não se percebe o vazio que existe nessa
sala. O que percebemos são as cadeiras,
a mesa, o quadro-negro. Se um dia a mesa
sair, então, desapareceu. E o espaço da
mesa ainda assim continua.
Quando a nossa identidade espiritual
for o espaço e não a mesa, nós estaremos sempre presentes.
Uma identidade espiritual que seja a
mesa - e não o espaço - passa.
Por isso, o corpo pode perecer. Mas se a consciência estiver num estado
infinito, não morreremos nunca. Lao Tse
fala sobre isso em outro Capítulo.
O que tudo isso tem a ver com a nossa
prática espiritual, os mantras, a meditação?
Entrando no silêncio, como fazemos,
sempre colocamos nossa consciência na respiração. Primeiramente, na respiração física,
colocando a mente em estado absolutamente passivo. É como se estivéssemos no quarto dos fundos
da casa. Do quarto à sala e depois à rua
tumultuada. O quarto está tranqüilo e a
rua está agitada. No ambiente mais
próximo a nós tudo está quieto; no ambiente mais distante, há tumulto.
Na meditação, quando entramos no
silencio, de olhos fechados, colocamos a consciência no fundo de nós mesmos,
como se estivéssemos no quarto dos fundos.
E, de repente, percebemos que na parte mais exterior de nós mesmos,
somos nós que estamos pensando, são os nossos pensamentos que estão passando,
são os nossos diálogos interiores que permanecem - e, no entanto, não temos
nada a ver com esses diálogos, com nossa mente falante, com nosso pensamento
ativo. Como identidade real, estamos no
fundo - até a identidade está quieta.
Esse é o primeiro passo para tentarmos
meditar no silêncio.
E essa tarefa não é muito fácil porque
estamos profundamente viciados no tumulto, nos pensamentos, nas atividades
mentais.
Não devemos - na prática da meditação -
reprimir ou inibir os pensamentos. Nunca
devemos ‘brigar’ com os pensamentos.
Apenas deixamos os pensamentos do lado de fora. Se eles não quiserem ficar do lado de fora,
então, nós é que viremos para o lado de dentro.
Ficando quietinhos e silenciosos.
Dentro desse quarto que está no
interior de nós mesmos, começamos a perceber que existe um fluxo de
energia. Esse fluxo de energia pode ser
o ar que estamos respirando. Pode ser a energia vital que circula em nosso
corpo através dos canais, do corpo energético.
Também esse fluxo de energia pode ser as palavras, o mantra, o som, que
estamos pronunciando.
Em seguida, essa verdadeira identidade
nossa vem gradualmente se aproximando de nós e coloca a tenção por sobre essa
referencia de energia - o mantra, a respiração - que está sendo usada na
meditação. Toma consciência, contempla,
mas não controla e não julga nada. Vem
se aproximando, aproximando, aproximando até que entra dentro de nós.
O Espírito entra dentro do Sopro. O Sopro é o ar que estamos respirando.
A partir desse momento, nós entramos em
um estado de União. Normalmente, quando
entramos nesse estado, o mantra, a respiração, se tornam mecânicos até que
desaparecem...
Entramos então num estado que é chamado
de Fixação. Apenas nos sentiremos sem
corpo físico, sem pensamentos, sem intenção, sem nada. Passamos a ser uma consciência em estado
extremamente quieto, dentro de uma energia... vazia.
É como se estivéssemos boiando dentro
de uma piscina de águas mornas... Não existem mais corpo, nem tempo, nem espaço
e nenhuma referencia em torno de nós.
....................................................................................................
.............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Concluem a
obra sem se apegar
E, justamente
por realizar sem apego
Não passam.
Nota da
Transcrição:
Esta
transcrição do Capítulo 2 não está completa.
É possível que tenha sido transcrito por volta de oitenta por cento do
tempo voltado para a interpretação do texto.
Parte do início e parte do final da aula não foram registrados em fita
gravada ou não chegaram até a transcritora .
Embora, aparentemente, o conteúdo central do texto tenha sido bem
abrangente.
..................
foto - sitio das estrelas, janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 2
do Tao Te
Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH
CHERNG
Transcrição
de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em maio de 1994
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil.
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching