TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 5
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 21 de junho de 1994
Capítulo 5
O Céu e a
Terra não são bondosos
Tratam os dez
mil seres como cães de palha
O Homem
Sagrado não tem piedade
Trata os
homens como cães de palha.
O espaço
entre o Céu e a Terra se assemelha a um fole
É um vazio
que não distorce
Seu movimento
é a contínua criação.
O excesso de
conhecimento conduz ao esgotamento
E não é
melhor do que manter-se no meio.
Encontramos, por vezes, idéias
distorcidas sobre o Taoísmo em relação à sua pura filosofia. O Tao Te Ching muitas vezes fala de uma
maneira bastante sutil, portanto gerando falsas idéias e julgamentos nas
pessoas que se dizem leitoras do Taoísmo.
Essas pessoas se atêm à transcendência da forma da linguagem, da imagem,
etc., e acham que questões como a Justiça, a Bondade, a Polidez e outras são
questões ‘rasteiras’ e não relevantes para os textos. Na verdade, o Taoísmo trabalha com amplas partes.
Mestre Maa, nosso mestre, diz: “Antes de uma pessoa se dizer aprender ou
tentar seu um Imortal, primeiramente tem que tentar aprender a ser um
mortal. Antes de ser um Homem Sagrado,
tem que aprender a ser e viver como um homem comum. Para viver como um homem comum, tem que ter
Bondade, Justiça, Polidez, Sabedoria e Fidelidade”
Dessa maneira, as Cinco Virtudes são a
base que precisamos ter para podermos percorrer o Caminho.
..................................
Capítulo 5
No primeiro parágrafo, Lao Tse diz:
O Céu e a
Terra não são bondosos
Tratam os dez
mil seres como cães de palha
O Homem
Sagrado não tem piedade
Trata os
homens como cães de palha.
À primeira vista, isso parece
contraditório com aquilo que acabei de falar.
(Nota da Transcrição: as questões que
foram tratadas acerca as Cinco Virtudes, apresentadas na síntese acima. O Texto
que trata sobre este Tema encontra-se ao final deste Trabalho, após a
Interpretação do Capítulo).
O Céu e a Terra e os sábios iluminados
não se importam com os seres humanos. O
que se quer dizer com isso? O Céu e a
Terra não têm piedade, não são piedosos.
Toda a piedade é um ato de doação, um
ato de benefício feito ao próximo com intenção.
O Céu e a Terra não têm essa
piedade... e será então que eles nada
fazem? Pelo contrário. Tudo o que o Céu e a Terra fazem, tudo o que
a natureza faz, é sem-intenção. O Céu e
a Terra doam nossa água, nosso ar, nosso calor, nossa Terra, a vida - mas não o
fazem por piedade, eles simplesmente fazem.
E sem intenção. É uma doação sem
intenção.
O Céu e a
Terra não são bondosos
Tratam os dez
mil seres como cães de palha
Todos os seres vivem entre o Céu e a
Terra. O Céu, a Terra e a natureza
tratam todos os seres sem intenção.
Antigamente, o cão de palha era usado para o ritual de oferenda
substituindo o sacrifício dos animais.
Pega-se a palha, faz-se o formato de um cachorro e o queima.
Por que se queima o cão de palha? Primeiramente, assim não se sacrifica a
vida. A oferenda torna-se simbólica. A oferenda é necessária, ela simboliza a
doação, o desapego.
No altar, se põem comida, dinheiro, se
acende incenso - tudo isso como um gesto de doação. A doação é um gesto que representa o
desapego. Se nos apegamos às coisas, não
existe doação. As oferendas, no entanto,
não são um suborno às Divindades.
Tratam-se, sim, de um processo de desapego. Todas as doações são realizadas para o
desapego e não para o suborno. Na
verdade, devemos colocar as coisas no altar, não desejando nada, simplesmente
oferecendo, como um desapego em si.
Quando se realiza uma oferenda,
oferece-se um cão de palha. Por que um
cão e não um boi ou um porco de palha?
Porque o cão é o animal da fidelidade, passando a vida inteira sendo
fiel a seu dono. Por isso se oferece o
cão de palha que tão bem simboliza a fidelidade.
Num ritual de oferenda de um cão de
palha, simboliza-se a entrega, um gesto de desapego, de resguardo da vida e de
fidelidade. Fidelidade perante as
tradições espirituais, perante os Imortais, perante às Divindades, os Mestres
Ascensionados.
Nessa frase também está implicada a
idéia de que, em se oferecendo um cão de palha, está se dando uma importância
ao simbolismo do gesto. Desde há muito
tempo na história da humanidade muitas coisas foram simbolicamente realizadas
para poupar vidas e para manter apenas o espírito da coisa e não para que a
oferenda se tornasse algo distorcido e de conveniência.
Diz-se, então, que o Céu e a Terra não
são piedosos porque tratam os dez mil seres como cães de palha... significando
que o Céu e a Terra tratam todas as pessoas sem a intenção de fazer o bem, no
entanto, eles simplesmente fazem o bem.
E se não tratam bem as pessoas, se
não têm piedade, tratam todos os seres como cães de palha. Tratar muito bem alguém, tornar uma pessoa
muito valiosa para si mesmo, pode significar que se está querendo exercer a
posse sobre esta mesma pessoa. Todos os
valores que temos em relação a coisas e pessoas trazem um sentimento de posse. Quem não tem qualquer sentimento de posse não
trata algo ou alguém como valioso e nem trata como sem valor. Não faz as coisas nem se relaciona por
piedade com as pessoas; apenas faz tudo
como dever ser feito. Dessa maneira, faz
todas as coisas sem sentimento, sem intenção, sem julgamento.
O Céu e a Terra fazem o sol, a luz, o
vento, o lume, a chuva, sem intenção de fazê-los. O ser humano sim, é que quase sempre tem uma
intenção naquilo que faz. O ser humano
tende a julgar que a tempestade acontece porque o Céu está aborrecido com ele,
que a seca acontece porque a Terra está irada.
Nós sempre julgamos que a Terra e o Céu possuem uma identidade
egóica. Que reagem como nos, seres
humanos, reagimos em relação aos nossos amigos ou inimigos. Nós podemos nos irar contra pessoas e criar
tempestades em suas vidas ou tornar suas vidas áridas ou secas. E fazemos tudo isso com intenção. Como uma reação do nosso ego. Porém o Céu e a Terra não possuem egos, eles
simplesmente fazem as coisas e fazem-nas sem intenção. Dessa maneira, eles tratam os dez mil seres
como cães de palha.
O Homem Sagrado é o homem que se
realizou conforme o Tao. E, sendo o Tao
seu próprio corpo, ele se orienta pela própria lei da natureza. O movimento do sol, da Terra e das estrelas é
sua própria lei. Dessa maneira, o Homem
Sagrado, ao invés de iluminar, ele trata as pessoas como o Céu e a Terra as
tratam. Ele simplesmente faz o que deve
ser feito.
Esse ponto é fundamental porque muitas
vezes somos levados a pensar que o mestre espiritual é aquele ser bonzinho que,
através de sua intenção, faz coisas para nos beneficiar.
O mestre espiritual, segundo o conceito
do Tao, não faz nada com intenção. Ele
simplesmente age refletindo nossa própria realidade e de acordo com o movimento do universo. E não age nem por ele nem por nós. Não por ele, porque ela não se importa. Não por nós porque, para ele, somos como cães
de palha. Não somos valiosos para ele e
por isso ele não nos quer possuir. Ele
não tem ego, por isso não julga nada, se tem valor ou não. Ele não nos despreza como também não nos
possui. Ele simplesmente faz tudo o que
deve ser feito e quando conclui sua obra, desaparece sem que as pessoas
percebam que ele teria passado por suas vidas.
Não deixa marcas. Essa é a
característica com que o Taoísmo vê um Homem Sagrado, um mestre espiritual -
bastante diferente de muitas outras tradições religiosas.
PERGUNTA: Como ele pode ser humano e não ter ego?
RESPOSTA de Cherng:
Esse é exatamente o ponto a ser
alcançado.
Você tem que ver pelo oposto: se ele
não tem ego, não se tem como fazer referências ou se imaginar algo do ego para
se falar sobre uma pessoa sem ego. É
exatamente quando se retiram todas as referências sobre o ego, é que o ser pode
se tornar Sagrado. Esse é que chamamos
de Autêntico Homem, o verdadeiro homem.
Homem da Consciência, não homem do pensamento; homem da naturalidade,
não homem da intenção. O homem que faz
todas as coisas sem intenção de fazê-las - sem, no entanto, deixar de fazê-las.
Todo o trabalho do Taoísmo é, então, o
de conduzir as pessoas até alcançarem esse ponto. Se cada vez mais pessoas entrarem nessa
busca, cada vez menos entenderemos nossa natureza, nosso ambiente, de uma
maneira egóica, nociva; a natureza por si mesma fluirá e nós fluiremos junto
com ela. No entanto, o ser humano parece
estar no caminho inverso, sempre querendo interferir na natureza - fazendo o
verão frio e o inverno quente - perdendo, na verdade, a capacidade de viver o
calor do verão e o frio do inverno. O
Homem Sagrado não tem ego, não interfere em nada: vive o calor do verão e o
frio do inverno, naturalmente.
Como o Taoísmo trataria, por exemplo,
uma indignação em relação a um ladrão, um homem mau? O Homem Sagrado sempre reage a estas pessoas
conforme o clima do ambiente. Quando está
muito quente, certamente cairá uma tempestade de chuva. Quando a indignação social é muito grande,
ela poderá ter como uma resposta natural, uma grande punição. Apenas que isso deve vir naturalmente e não
com intenção. Então, o Homem Sagrado, se
estivesse no lugar do governante, atuaria naturalmente conforme o ciclo. Uma pessoa má que consegue levar uma
população a um grande sofrimento, naturalmente irá encontrar sua própria
punição. Essa punição pode ser aplicada
por aquele Homem Sagrado - que não estaria punindo porque quer punir -, estaria
apenas reagindo conforme o rumo natural das coisas. Portanto, aquele ladrão que roubou todo mundo
e trouxe sofrimento às pessoas foi finalmente punido, morrendo nessa
punição. Quem o puniu? Ele mesmo: ele levou a sua vida a esse ponto
e não o justiceiro que determinou que sua vida deveria terminar naquele
ponto.
Muitas coisas são aparentemente muito
parecidas em seus resultados mas os cursos internos acontecem de maneiras
diferentes no modo de sentir, de conduzir as coisas...
Assim, Lao Tse diz:
O Céu e a
Terra não são bondosos
Tratam os dez
mil seres como cães de palha
O Homem
Sagrado não tem piedade
Trata os
homens como cães de palha.
Continuando, Ele diz:
O espaço
entre o Céu e a Terra se assemelha a um fole
Fole é o Vazio.
É um vazio
que não distorce
O vazio não pode ser distorcido. Qualquer coisa que seja concreta por ser
distorcida, mas não o vazio.
Seu movimento
é a contínua criação
Como diz o I Ching, o Céu é Yang e a
Terra é Yin, o Céu está em cima e a Terra está embaixo: entre o Yin e o Yang há
um espaço. Um espaço onde o Céu desce
atravessando a Terra e a Terra sobe atravessando o Céu: a energia do Céu e da
Terra se entrecruza e novamente a energia do Céu volta para cima e a da Terra
volta para baixo.
Esse eterno trânsito de energia de
subida e energia de descida faz exatamente parecer como um fole. O fole tem dois lados, um lado Terra e outro
lado, Céu. Eles se movimentam entre si e
esse movimento atinge uma situação de energia entre as duas polaridades. Essa situação de energia entre as duas
polaridades jamais poderá ser distorcida por causa do Sopro do Vazio. Esse sopro do vazio é que traz a contínua
criação e a contínua renovação das vidas entre o Céu e a Terra.
Todas as energias vitais que recebemos
vêm do espaço em que vivemos entre o Céu e a Terra. Essa energia é capaz de nos transformar, nos
regenerar, nos renovar. Por ser uma
energia do vazio, ela jamais se esgota, jamais acaba. Por isso, na prática espiritual do Taoísmo,
para nos renovar, nos rejuvenescer e nos regenerar, precisamos abrir o canal e
receber essa energia do vazio que existe entre o Céu e a Terra. Essa energia está sempre em constante
movimento e é dessa maneira, que nós a extraímos e a trazemos para dentro de
nós.
Para podermos trazer essa energia vital
para dentro de nós, é preciso que nos tornemos vazios como o próprio fole. Não se pode ser um alvo compacto e fechado,
assim nada poderá entrar. É preciso haver
um vazio. Do mesmo modo, precisamos nos
esvaziar interiormente para podermos receber essa energia.
Como esvaziar-nos interiormente? Através da redução do pensamento, da redução
da emoção, da redução da tensão física.
Quando o corpo está relaxado, a emoção abrandada, o pensamento zerado,
nesta hora, naturalmente, entrará uma energia dentro do nosso corpo, dentro do
nosso ser que faz com que nossa consciência fique mais forte, todos os nossos
sentimentos fiquem mais profundos, nosso corpo fique mais energizado.
O excesso de emoção torna-se sentimento
profundo. Excesso de emoção é trabalho,
nos confunde. Excesso de pensamento nos
perturba. Pensamento não é consciência,
emoção não é sentimento e tensão física não é
vitalidade. O corpo físico tem
que ficar relaxado, a emoção deve ser abrandada até se tornar sentimento
profundo e o pensamento deve ser diminuído até se tornar consciência.
Esse esvaziamento interior é
normalmente conseguido através da prática da meditação. Meditação através do silêncio, através do
domínio da respiração, através do mantra, do canto..., sempre com o sentimento
de não-intenção.
Se você está contemplando a sua
respiração como meio de meditação, isso deverá ser feito de uma maneira
passiva, sem controle nem julgamento. Se
você estiver entoando um mantra - mesmo que você saiba que cada mantra tem uma
função própria (purificação da mente, do corpo e da emoção) -, você deverá
fazê-lo sem intenção. Você deve entoar o
mantra simplesmente repetindo aquelas palavras de maneira correta até tudo se
tornar mecanizado e, a partir daí, sua consciência torna-se ‘empatada’ nessa
repetição, sem julgamentos, sem diálogos internos. Quando se consegue diminui o diálogo interno,
já se conseguiu um grande progresso.
Nós temos diálogos interiores em
excesso e cenas em excesso. Muitas das
vezes, você está conversando com você mesmo ou está simulando um diálogo com
outra pessoa ou ainda está simulando ou repetindo um diálogo do passado; ou
mesmo você está observando e participando do diálogo de outra pessoa dentro da
sua mente - diálogos simulados ou observados.
Nossa cabeça se assemelha a um radinho de pilha que fica falando o tempo
inteiro. Devido à nossa distração, não
nos apercebemos disso. A partir do
momento em que tomamos consciência disso, percebemos que esse radinho está
falando alto demais.
No desenrolar da prática da meditação,
você atinge o estado de se imaginar entrando numa piscina, seu corpo totalmente
unido à água. Nessa hora, você terá a
consciência coletiva, a consciência universal e não a consciência do ego. Esse estado é um estado de profunda paz que
é tecnicamente chamado de Fixação. É
como se pregasse um prego, pronto, não mexe mais. Fixou.
Sua consciência está fixada.
Normalmente, o homem ocidental tem medo
dessa Fixação. Medo de perder o eu. Mas, se eu não existo, como poderia eu ter
medo? Eu não existo! Esse é o momento do universo, da consciência
universal, da sensação da piscina - piscina sem corpo -, de paz profunda: o
estado da Fixação.
PERGUNTA: Se uma pessoa atinge esse estado, como é
possível que ela continue em contacto com o mundo, como sair para trabalhar,
fazer suas coisas? Não teria, então, que
se retirar do mundo?
RESPOSTA de Cherng:
Não.
Existem duas etapas. A primeira
delas é relacionada ao ego. O homem
ocidental tem medo de entrar nesse estado de Fixação. Não precisa ter medo. Mesmo porque é muito difícil chegar
lá... E, se chegar, não permanece por
muito tempo. Nosso ego é muito forte. Trabalha-se, medita-se anos a fio e de
repente, alguns segundos de Fixação e pronto!
Caiu-se fora imediatamente, novamente.
Se uma pessoa consegue realizar quinze minutos de Fixação, na realidade
conseguiu apenas três ou quatro minutos de Fixação de boa qualidade. Os gurus entram em Fixação por sete ou oito
horas e saem. Não se consegue manter a
Fixação por um tempo interminável porque nosso eu é muito forte.
Quem chega a esse ponto tem que se
retirar do mundo? Não, pelo
contrário. Cada minuto de meditação de
efeito vai gerar um efeito secundário e uma conseqüência durante o resto do
dia. O sabor dos minutos ou segundos do
estado de Fixação deixa um aroma, um sabor, para o resto do dia. A paz, a tranqüilidade, o espírito universal
adquiridos vão nos acompanhar numa escala menos profunda, nos trazendo um dia
mais pacífico, mais harmonioso, mais tranqüilo.
Diariamente, repetindo essa prática, tomamos um cálice de néctar da Vida
e da Consciência.
Se uma pessoa repudia o mundano e se
torna um eremita, seja porque não consegue mais se relacionar com as pessoas ou
seja porque é considerado um mestre espiritual de tal porte - como acontece nos
conceitos -, essa espiritualidade, do ponto de vista do Taoísmo, é
questionável. Essa pessoa estaria
entrando - de uma polaridade mundana para uma polaridade sagrada. Se o sagrado é oposto ao mundano, então esse
sagrado é como se fosse o Yin oposto ao Yang e o Yang oposto ao Yin: essa
pessoa ainda vive num mundo dual, ainda não encontrou a verdadeira união e o
verdadeiro equilíbrio dentro de si. Uma
pessoa perfeitamente iluminada pode viver o mundo sem problemas.
Os taoístas dizem que um grande mestre
espiritual é capaz de viver a vida sem ser prisioneiro dela, é capaz de
libertar-se da vida sem se afastar dela.
Portanto, ele ainda domina a vida.
um dia, ele deixa o corpo físico e continua sendo iluminado, numa
dimensão mais sutil... mas isso é adquirido pela vida.
Isso também responde a outra questão:
se o Taoísmo fala tanto da não-forma, do não-apego, da não-imagem, então por
que seu altar é tão colorido, cheio de estátuas esculpidas em madeira, com
barbas, sobrancelhas e tudo? O altar e
as divindades em imagens são exatamente o espelho que nos reflete. No espelho, você se vê como uma pessoa
comum. No altar, você se vê como num
espelho mágico que reflete sua verdadeira identidade. Você se vê como um Homem Sagrado. Como habitamos o corpo físico, o espelho nos
reflete como no corpo físico. Por isso,
as divindades taoístas são como figuras físicas no altar, simbolizando que o
sagrado ainda se encontra no corpo físico.
E as imagens refletem a nossa verdadeira identidade. A nossa Sagração pode ser feita de inúmeras
formas: podemos nos sagrar como imagem de Lao Tse, nos sagrar como o Sagrado
Guerreiro, nos sagrar como Rei dos Mistérios ou outras Divindades. Assim entendemos o altar.
Ao mesmo tempo, reverenciamos o altar por
dois sentidos: como homenagem aos
mestres ascensionados - reverenciando-os teremos a chance de nos iluminar como
eles iluminaram. A imagem de Lao Tse é
simbolicamente colocada no altar porque Ele nos deixou todos esses
conhecimentos, essas técnicas, essa sabedoria.
Por outro lado, todas as imagens que
estão no altar refletem nossa verdadeira identidade e nós também devemos
reverenciar a nossa verdadeira identidade.
O Céu designa o Sagrado e esse Sagrado, na verdade, está dentro de
nós. O Sagrado de dentro e fora de nós,
se unem num só. Dessa maneira, nós
juntamos nosso espírito aos espíritos do altar.
Não sendo o altar, portanto, uma superstição. Faz-se o altar, recita-se o mantra,
reverenciam-se as Divindades, acende-se o incenso - e não se faz tudo isso sem
significado.
No altar Taoísta, existem quatro
oferendas básicas: o incenso, a flor, a
água e a luz. A luz da lâmpada, da
lanterna ou da vela simboliza a luz da conscienci9a, o encontro da nossa
consciência com a Consciência Sagrada. O
incenso é normalmente um pedaço de palito com essências e pozinho de carvão que
se queima simbolizando o despojamento e a transformação. Transformação do corpo físico em corpo
etéreo, transformação do indivíduo, do aroma que permeia no ambiente. Simboliza a consciência do ego dissolvido que
começa a abraçar o todo. Enquanto se
queima o incenso, o palito vai desaparecendo ao mesmo tempo em que o aroma vai
se acentuando e se espalhando pelo ambiente.
Do mesmo modo, a partir do momento em que dissolvemos nosso ego, nossa
consciência passa a ser como o aroma que abraça todos os seres igualmente.
A água simboliza a purificação. Nós usamos a água para lavar todas as
coisas. Muitas vezes, no altar, a água é
substituída por chá, com o mesmo simbolismo.
A água retira os apegos, as loucuras, os traumas.
A flor simboliza a vida. sendo a flor o símbolo da vida, a partir do
momento em que você percebe que a árvore floresceu, você entende que a
primavera chegou, você percebe que a vida da árvore está ficando resplandecente. Uma pessoa cheia de energia, diz-se que está
na flor da vida. a flor deve ser trocada
periodicamente, simbolizando que a nossa vitalidade deve sempre ser renovada.
PERGUNTA: E as frutas?
RESPOSTA de Cherng:
As frutas simbolizam o despojamento. Despojamento de valores porque, se cortamos
tudo de uma pessoa, teremos que manter o ar, a comida, a água, o mínimo
necessário de vestimentas. A comida
simboliza aquilo que é essencial na vida do ser humano, simbolizando, deste
modo, o despojamento do ego.
PERGUNTA: A Divindade principal deste altar é um
guerreiro. Isso é um sentido figurado ou
não?
RESPOSTA de Cherng:
Ele era um guerreiro que viveu há cerca
de dois mil anos atrás... soldado de guerra, mesmo.
PERGUNTA: Como o Tao tem como princípio o
não-sacrifício e como o guerreiro deve ter tirado vidas..., me parece
contraditório.
RESPOSTA de Cherng:
Ao mesmo tempo faz-se a justiça. O universo tem duas funções ativas; gerar a
vida e retirar a vida. O tempo inteiro
todas as pessoas estão criando a vida e retirando a vida. ou seja, criar e matar são
complementares. Nesse ponto, o Taoísmo
vê de uma maneira bem firme e clara. A
cada instante estamos criando alguma coisa e a cada instante esmos matando
alguma coisa. O tempo todo estamos
matando o nosso passado e criando um futuro.
A cada instante que exalamos o ar para fora, estamos colocando energia
para fora e criando uma energia vital para fora de nós. E a cada instante em que inspiramos, estamos
trazendo uma energia para dentro de nós e matando uma parte da energia que está
fora. A cada momento em que expiramos
estamos matando uma parte da energia que existia dentro de nós. Dessa maneira, todos os seres e todas as
coisas estão assim entrelaçados uns aos outros.
Todo mundo depende de todo mundo.
Todos estamos ao mesmo tempo beneficiando como sacrificando o
outro. ATerra tira a energia do homem,
o homem tira a energia do Céu, o Céu tirar a energia da Terra, a Terra tira a
energia do Céu, o homem tira a energia da Terra, e esse entrelaçamento de doar
e tirar acontece ao mesmo tempo em que todos os lugares. O tempo inteiro estamos criando e o tempo
inteiro estamos matando. Em todos os
níveis.
Quando se está apenas cumprindo o
destino - e não tendo o prazer em fazer esse destino -, simplesmente se cumpre
o papel. E sem intenção. O guerreiro se fez um Homem Sagrado porque
ele não matou por prazer e sim, por destino.
Ele cumpriu seu papel simplesmente, sem julgamentos. Essa é a diferença. Um guerreiro sagrado simplesmente cumpre seu
papel naquele momento da melhor maneira possível, ou seja, se não dá para
evitar a guerra, então que seja feita de uma maneira absolutamente justa e
equilibrada.
É muito difícil fazer este
trabalho. É mais fácil entendermos que
dentro de uma cultura cristã é sempre bom ser bonzinho; é mais fácil aceitar um
mestre que nunca pisou numa formiguinha...
O Taoísmo fala que no mundo manifestado tudo tem dois lados, até a moeda
tem dois lados. Uma face mostra a
bondade e na outra, a severidade que se faz necessária, manifestada com a
espada e com justiça. Fazer justiça com
compaixão. Madeira e metal. Muitas vezes é necessário se expressar bondade de um modo que a execução de um
homem extremamente perigoso e nocivo aconteça não como uma punição mas como
compaixão. Com essa sentença, o
executado poderá praticar menos Karmas negativos para consigo mesmo e fará
menos mal aos outros, trazendo menos sofrimentos também para si próprio na sua
própria vida.
Dentro do Taoísmo, encontramos
cerimônias, rituais invocando justiça e compaixão, trazendo a restauração do
equilíbrio. Os mestres recomendam que
esse trabalho seja feito com muita cautela, com absoluta transparência
interior. Não se faz isso por si
próprio, nem para satisfazer o ego ou qualquer outra necessidade pessoal, menos
ainda como reflexo de algum complexo interior.
Somente se anulando a personalidade, a intenção pessoal, transparente e
sem pensamentos, é que se poderá executar a justiça.
Esse conceito muito influenciou a arte
marcial oriental. Na arte marcial comum,
normalmente se enfatiza a importância da ira e da violência no momento da
luta. É preciso explodir a raiva pela
emoção para bater e assim se bate com mais força. Na arte marcial chinesa, não se deve ter
qualquer sentimento em relação ao adversário.
Nem raiva, nem pena - nem gosta nem desgosta. Apenas executa-se o golpe, sem sentimentos,
sem ira, sem palavras interiores.
Inspiradas nesse conceito filosófico,
podemos ver nas práticas de artes marciais chinesas e japonesas o não-julgamento. Não pensar nem julgar. Na hora de fazer não existe o pensar. Isso influenciou muito o pensamento Zen no
campo da arte. Pintar sem se premeditar
o que se vai pintar. Escrever sem se
premeditar o que se vai escrever.
Simplesmente na hora, no vazio, surge uma expressão.
Através da meditação em que a pessoa se
esvazia por inteiro interiormente, a criação e a expressão sem intenção são
colocadas. Da não-ideia nasce a idéia
pura. Do não-pensamento nasce o
pensamento puro. Da não-intenção nasce o
gesto puro. Esse é exatamente o
fundamento do Taoísmo. Diz-se, então,
que quem age com a ação não-intencional poderá agir em qualquer circunstância. Quem tem intenção de fazer alguma coisa, só
poderá fazer aquilo que intui ilimitadamente.
O Taoísmo nos propõe vivermos com
discernimento, sem julgamento, sermos bondosos e justos, sermos polidos e
sábios, dessa maneira, tornando-nos a própria fidelidade. Para confiarmos e sermos confiados. Confiando nas Divindades para que elas nos
ajudem e nos dêem a capacidade de nos transformarmos. A força sagrada vem de cima para nós e nós
ascendemos até ela. As Divindades nos
estendem as mãos e nós, em retorno.
Forma-se, então, uma corrente ininterrupta vindo do infinito passado até
hoje - que se chama A Tradição. A
Tradição Espiritual Ininterrupta.
Chamamos uma Tradição Espiritual de
religião viva quando nunca, em nenhum momento, houve uma desconexão, uma
interrupção de geração após geração, de homem para homem, de mestres para
discípulo, de homem para Divindade, de Divindade para homem, assim ligados de
cima para baixo. Quanto maior essa
corrente for, maior a força da Tradição, maior a força da Egrégora. Egrégora quer dizer a aglomeração das forças
espirituais, um conjunto de forças espirituais.
Todas as religiões possuem um conjunto de forças espirituais e uma
quantidade de discípulos de mãos dadas, geração após geração.
Em seguida, Lao Tse diz:
O excesso de
conhecimento conduz ao esgotamento
E não é
melhor do que manter-se no meio.
“Excesso de conhecimentos” significa
excesso de pensamentos, de julgamentos.
Em cada julgamento, cada pensamento que temos, nossa consciência é
consumida, transformando nossa consciência pura em consciência maculada. Perdemos então a infinitude da consciência
pura e passamos a ter o pensamento finito.
Quanto mais pensamentos, maior julgamento, menos consciência. Quanto mais atividade mental, menos
consciência. Essa é uma questão que as
pessoas não estão acostumadas a ouvir.
Para a maioria das pessoas, uma pessoa consciente é aquela com a cabeça
cheia, que pensa muito e portanto, é muito consciente. Não. A
consciência não tem nada a ver com a quantidade de pensamentos. O pensamento não é uma consciência. o pensamento, muitas vezes, atrapalha a
consciência. Quem tem consciência pode
ter o pensamento como instrumento de trabalho.
Para quem não tem consciência, o pensamento torna-se um instrumento que
atrapalha. Para a consciência, o pensamento
é um instrumento de trabalho.
“Manter-se no meio” significa não
ficar excessivamente de um lado ou de outro mas sim procurar um ponto de
equilíbrio. Saber ter a bondade e a
justiça ao mesmo tempo. Saber usar o
pensamento e não ser prisioneiro deste.
Saber discernir as coisas sem o julgamento do ego. Esse é o ponto do equilíbrio.
Como alcançar este ponto de equilíbrio?
É preciso ter o vazio interior feito o
espaço entre o Céu e a Terra. Como um
fole que está constantemente usando a energia da consciência, do sentimento e a
energia do corpo físico. E, para tanto,
é preciso não se ter qualquer julgamento.
Como o Céu e a Terra não julgam e tratam todas as coisas como cães de
palha. O Homem Sagrado não tem
julgamento e trata todos os seres como cães de palha porque seu coração é um
vazio e sem erros. Ele está sempre o
ponto de equilíbrio e é capaz de usar o pensamento sem ser prisioneiro do
pensamento. Ele utiliza o sentimento sem
ser prisioneiro do sentimento e usa seu corpo físico sem ser prisioneiro do
corpo físico.
Comemoração
do Nascimento de
O Sagrado Guerreiro,
Kuan Pi
Hoje, dia 21 de junho, é a comemoração
do nascimento da Divindade principal de nosso altar, o Sagrado Guerreiro. Seu nome é Kuan Pi. Kuan é seu sobrenome e Pi significa Rei ou Imperador. Portanto, Imperador Kuan.
No Taoísmo, o nome Rei ou Imperador é
atribuído às Divindades. Dentro de um
país, de um reino, quem governa é o Rei.
Dentro de uma pessoa, o que comanda a sua totalidade, é a sua
consciência. dessa maneira, o rei é
análogo à consciência.
O Imperador Kuan é uma Divindade de
Justiça, de Retidão, e é também cultuado
pelos comerciantes. O comerciante
deveria ser, antes de mais anda, aquele que age dentro da Retidão e da Justiça. Na verdade, essa Divindade não é o protetor
da fortuna das pessoas e sim é aquele que supervisiona se as pessoas estão
usando o dinheiro decentemente. Na
China, os comerciantes possuem em suas lojas uma estátua do Imperador
Kuan. Essa Divindade tanto protege
contra as entidades negativas que se aproximam quanto controla, censura e
aplica a lei; sendo assim, a Divindade da Retidão.
Nossa imagem veio presenteada por
nossos amigos da China. Quando estivemos
lá, conversamos com nossos colegas e confidenciamos que, ao retornar ao Brasil,
pretendíamos montar um centro para divulgar o Taoísmo. Como nossas finanças eram muito precárias e
não tínhamos dinheiro suficiente para montarmos um templo, começamos a receber
inúmeros presentes: livros, textos, instrumentos religiosos usados no ritual,
medalhinhas de proteção, etc. E ainda
existe mais uma imagem para ser trazida, já consagrada lá.
Não importa de que natureza seja a
atividade exercida, no Taoísmo para uma pessoa se tornar uma Divindade, tem que
possuir cinco completas Virtudes:
Bondade
Justiça
Polidez
Sabedoria
Fidelidade
Essas cinco Virtudes correspondem às
cinco energias do I Ching:
A Bondade corresponde à energia da Primavera, da Madeira
A Polidez corresponde ao Verão, ao Fogo
A Justiça corresponde à energia do Metal, ao Outono
A Sabedoria corresponde ao elemento Água e ao Inverno.
Cada um desses elementos situa-se
simbolicamente numa direção:
A Madeira da primavera, no Leste
O Metal da Justiça, no Oeste
A Polidez do fogo situa-se no Sul
E a Sabedoria da Água, no Norte.
Entre esses quatro elementos existe o
elemento do Centro, que é o da Terra, simbolizando a Fidelidade.
A Fidelidade deve ser entendida como
fidelidade mútua significando que se pode confiar numa pessoa que se mostra
fiel às pessoas. Ou significa que as
pessoas podem confiar em você e que você confia nas pessoas. Ser capaz de fazer com que as pessoas confiem
em você ao mesmo tempo em que você mostra fidelidade às pessoas que têm
compromisso com você.
Todas as pessoas nascem com essas cinco
energias completas dentro de si, cinco Virtudes latentes. Com o decorrer da vida, os costumes, os
vícios, os problemas fazem com que umas energias predominem sobre outras ou
gasta-se mais uma energia do que outra, perdendo-se, então, a Bondade, a noção
da Justiça, da Polidez, da Sabedoria e da Fidelidade.
Para se percorrer o caminho espiritual
do Taoísmo, é preciso, como primeiro passo, recuperar essas cinco Virtudes
dentro de nós.
Uma pessoa tem que ser, ao mesmo tempo,
doce e justa. Justiça é uma coisa mais
fria, mais severa, enquanto Bondade é mais calorosa, perdoa. Uma coisa tem que estar associada à
outra. Se uma pessoa tem bondade mas não
tem justiça, ela corre o risco de ser aquele ser bonzinho, que tolera qualquer
coisa. A Bondade só faz sentido quando
se equilibra com a Justiça.
A Polidez equilibra-se com a Sabedoria. A água
corre sempre para baixo, vai para o fundo da terra, sempre saindo de um riacho
pequeno, finalmente chegando ao oceano, quando se une com todas a águas. Isto é Sabedoria.
Sabedoria é unir a consciência do
indivíduo com a consciência do coletivo.
É saber ser humilde para se
atingir a mais profunda experiência da vida - como a água que desce para
a profundeza da terra. Portanto, a água
simboliza a Sabedoria. Se uma pessoa
apenas vive a sabedoria e não a expõe, ela corre o risco de ser apenas uma
pessoa sábia porém egoísta consigo mesma.
A sabedoria egoísta deixa de ser a verdadeira sabedoria. A sabedoria tem que ser exteriorizada para
poder se equilibrar.
Polidez é a maneira educada de tratar
as pessoas. Uma pessoa polida é uma
pessoa que sabe se comunicar com as outras, se relaciona com a natureza, enfim,
com tudo o que existe em torno de si. Se
uma pessoa possui polidez e não a sabedoria, corre o risco de se tornar uma
pessoa falsa e superficial. Dessa forma,
a Polidez é a aparência e a Sabedoria é o interior: uma precisa equilibrar-se
com a outra. O fogo equilibra-se com a
água.
Todas as quatro Virtudes somadas nos
levam a encontrar a quinta energia, a quinta Virtude: a Fidelidade.
A Fidelidade significa que somos
capazes de ser justos, bondosos, polidos e sábios. Dessa maneira, teremos a capacidade de sermos
fieis ao nosso ideal e às pessoas com quem temos compromisso ao mesmo tempo em
que as pessoas podem confiar em nós.
Essas são as Cinco Virtudes.
No Taoísmo, todas as pessoas possuem,
ao nascer, intrinsecamente dentro de si, as Cinco Virtudes. Porém, devido à maneira de viver a vida,
vão-se perdendo uma ou outra Virtude; a pessoa vai se tornando energeticamente
incompleta, sua consciência torna-se distorcida.
O caminho espiritual do Taoísmo propõe,
de início, a recuperação desse
equilíbrio para que a pessoa possa recuperar a Bondade dentro de si e, o senso
da Justiça, ou seja, saber ter compaixão e discernimento. Não adiante ter compaixão sem
discernimento. Discernimento é Justiça;
compaixão é Bondade - metal e madeira.
Ser sábio e conviver com as pessoas de maneira polida - através a
Polidez - e ao mesmo tempo ter uma base interior, uma filosofia interior, uma
meta interna, que é a Sabedoria.
Uma vez recuperadas essas cinco
qualidades, o homem encontra a sua Sagração.
Qualquer pessoa que viva a sua vida dentro dessas cinco naturezas,
quando morre, normalmente, migra para uma dimensão superior à nossa condição de
vida, tornando-se, então, uma Divindade.
Kuan Pi não é uma Divindade das mais
altas na hierarquia Taoísta. Na verdade,
ele está no campo dos guardiões
guerreiros e protetores mais do que propriamente num nível mais sutil. Também é uma Divindade de Guerra porque era
um general, um grande guerreiro que viveu aproximadamente há dois mil anos
atrás. Nunca perdeu uma batalha e foi
extremamente fiel ao seu Rei, que era seu irmão, irmão de coração. Inúmeras vezes foi pressionado pelos inimigos
sendo oferecido grandes fortunas, porém ele nunca traiu seus amigos ou seu
ideal, aquilo que ele acreditava e em quem confiava. Por isso, ele era uma pessoa que possuía a
Fidelidade. Era uma pessoa polida, bem
educada, e sua imagem no altar não é a de um guerreiro empunhando a
espada. Sua imagem é a de uma pessoa
segurando um livro, um guerreiro que vence pela virtude. Durante o dia, ele era oficial militar e seus
subordinados eram trabalhos de uma maneira afetuosa. Durante a noite, ele estudava. Antes de se tornar um guerreiro conhecido,
ele era professor na escola de crianças de sua aldeia. Durante toda sua vida, nunca perdeu uma
batalha e seus soldados sempre lhe foram extremamente fieis.
Ele morreu numa armadilha, quando
andava a cavalo e caiu num buraco.
Apareceram, então, milhares de arqueiros e o flecharam. Dizem que morreu indignado, de pé, com
raiva. Depois de sua morte, aconteceram
suas aparições e, finalmente, foi reconhecido pelo Patriarca do Taoísmo como
uma pessoa que se tornou Divindade.
Passou então a ser cultuado como uma espécie de símbolo.
Todas as pessoas que passam suas vidas
inteiras lutando pelo sendo de Justiça, quando morrem, muitas vezes, são
levadas pela Egrégora do Sagrado Guerreiro para fazer parte de seu grupo. Dessa forma, Ele acabou construindo uma força
espiritual, uma grande Egrégora, que é a da Justiça.
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Encontramos, por vezes, idéias
distorcidas sobre o Taoísmo em relação à sua pura filosofia. O Tao Te Ching muitas vezes fala de uma
maneira bastante sutil, portanto gerando falsas idéias e julgamentos nas
pessoas que se dizem leitoras do Taoísmo.
Essas pessoas se atêm à transcendência da forma da linguagem, da imagem,
etc., e acham que questões como a Justiça, a Bondade, a Polidez e outras são
questões ‘rasteiras’ e não relevantes para os textos. Na verdade, o Taoísmo trabalha com amplas
partes.
Mestre Maa, nosso mestre, diz: “Antes de uma pessoa se dizer aprender ou
tentar seu um Imortal, primeiramente tem que tentar aprender a ser um
mortal. Antes de ser um Homem Sagrado,
tem que aprender a ser e viver como um homem comum. Para viver como um homem comum, tem que ter
Bondade, Justiça, Polidez, Sabedoria e Fidelidade”
Dessa maneira, as Cinco Virtudes são a
base que precisamos ter para podermos percorrer o Caminho.
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foto - sitio das estrelas, janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 5
do Tao Te
Ching, de LAO TSE,
POR WU JYH
CHERNG
Transcrição
de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 21 de junho de 1994
Esta Aula foi
dividida em duas partes:
A Primeira
Parte trata sobre a Comemoração do Nascimento do Sagrado Guerreiro, Kuan Pi
A Segunda
Parte trata sobre O Capítulo 5 do Tao Te Ching
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo.
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching