TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 12
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em agosto/setembro de 1994
Capítulo 12
As cinco
cores tornam os olhos do homem cegos
As cinco
notas tornam os ouvidos do homem surdos
Os cinco
sabores tornam a boca do homem insensível
Carreiras de
caça no campo tornam o coração do homem enlouquecido
Os bens de
difícil aquisição tornam a caminhada do homem prejudicada
Por isso,
O Homem
Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
Assim,
Afasta
aqueles e escolhe este
Podemos realizar esta leitura em vários
níveis.
Em nível mais rasteiro, olhando diretamente
para o texto, o que se diz?
Ao pé da letra, se diz que muitas cores
fazem mal à vista. Aos olhos. Muito som prejudica a audição. Muitos sabores não fazem bem ao paladar. Muita euforia enlouquece a mente da
pessoa. Excesso de desejo de valores,
tornam o caminho do homem mais difícil, mais prejudicado.
Por isso,
O Homem
Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
Ele se realiza voltado para dentro e
não voltado para fora. E assim, afasta
as cinco cores, os sons, os sabores, os bens de difícil obtenção para poder
ficar com a tranqüilidade, poder se interiorizar, poder não se tornar sendo
cego ou insensível.
À primeira vista, o conselho do Sábio é
dessa natureza. As cinco cores, as cinco
notas, os cinco sabores significam todas as cores, todas as notas, todos os
sabores. Tradicionalmente, na China, as
notas musicais são cinco em vez de sete.
Tudo isso corresponde ao conceito simbólico dos cinco elementos.
ELEMENTO COR NOTA SABOR
Madeira azul Mi ácido
Fogo vermelho Sol amargo
Terra amarelo Dó doce
Metal branco Ré picante
Água preto Lá salgado
Também correspondem às cinco direções: Leste
Sul Centro Oeste
Norte
Correspondem às quatro estações e mais o final de cada estação.
Simbolicamente, se fala de tudo.
As cinco
cores tornam os olhos do homem cegos
As cinco
notas tornam os ouvidos do homem surdos
Os cinco
sabores tornam a boca do homem insensível
Quando uma pessoa é hiper estimulada
pelos vários tipos de sabores, acaba perdendo a capacidade de saborear
realmente os alimentos.
A pessoa perde a capacidade de perceber
a fluidez e a harmonia da música e do som.
Tudo em excesso, é prejudicial nas
pessoas.
Têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não
ouvem; têm boca e não saboreiam.
Dentro da prática Taoísta, se propõe às
pessoas não usarem cores fortes, sabores fortes, sons fortes, para a vista não
se desgastar com a excessividade das cores.
Evitar sons radicais como a música
moderna. As passagens das notas devem
ser mais suaves, mais moduladas. A
audição sente um contraste muito grande.
Tudo com sabor muito forte acaba com o
tempo entorpecendo o paladar. Quando se
usa quase nenhum sal, ou pimenta, ou açúcar, basta ser a comida um pouco mais
temperada, para se perceber logo.
Tanto as cores, como os sons, como os
sabores devem ter sua freqüência de forma mais natural, menos carregada.
Carreiras de
caça no campo tornam o coração do homem enlouquecido
Normalmente, no Taoísmo, se coloca o
conceito da não-disputa. A caça é uma
prática que traz o conceito de disputa entre o homem e a natureza. Existe uma diferença entre caça para a
sobrevivência e a carreira de caça.
Carreira de caça é quando se caça puramente por prazer. Naturalmente, o Taoísmo não incentiva o
espírito de competição e o espírito do jogo.
Essas atividades geram euforia.
A euforia é uma distorção, uma
alteração da consciência, faz com que saiamos da realidade e entremos num
estado de fantasia.
Os bens de
difícil aquisição tornam a caminhada do homem prejudicada
Um dos juramentos do monge Taoísta é o
de não sacrificar a vida em função do prazer pessoal. Comer carne como espécie de busca do prazer,
traz o sacrifício da vida.
Se não tivermos uma outra coisa para
comer e se a carne for necessária para a sobrevivência..., então, sim.
O Taoísmo não trabalha com regras
rígidas. O Taoísmo trabalha com a
Consciência. O Taoísmo valoriza a
vida: é preciso se estar vivo para se
poder realizar o trabalho espiritual.
Se for vegetariano e um dia quiser
comer peixe, ou simplesmente qualquer outra coisa, siga sua consciência e não
deixe que a culpa faça surgirem indigestão ou mal-estar. É preciso se estar consciente das coisas, se
ter consciência das coisas.
Essa é a diferença entre o Taoísmo e as
outras doutrinas que enfatizam a rigidez do preceito em si - mesmo mais do que
a conscientização.
O Taoísmo é uma Tradição que se
preocupa muito com a saúde. O Chi Kun, o
Tai Chi Chuan, a Acupuntura e outras terapias e artes são provenientes do
Taoísmo.
O Taoísmo pensa que alimentação
vegetariana é bem mais saudável para o organismo humano, mais fácil de ser
digerida. O mito sobre as proteínas
animais é um mito. O homem não precisa
assim de gordura animal. O homem pode
ser vegetariano e comer de tudo e não ter nenhum problema de saúde. Ao contrário.
Não é preciso ficar se abastecendo de ovos e de laticínios. Eles também causam danos à saúde, quando em
excesso.
Na prática espiritual do Taoísmo,
consideramos que nosso corpo tenha três grandes portais - entradas e saídas -
de energia. Eles são:
Os olhos - relacionados à visão
Os ouvidos - relacionados à audição
Os olhos e as narinas - relacionados ao
paladar
São três portais que se relacionam com
o mundo externo.
Quando uma pessoa é atraída
excessivamente por algo externo que chame a atenção, sua energia vital é puxada
para fora.
Quando olhamos diretamente para algo,
nossa energia vital é sugada para aquilo que se olha.
Por isso, Lao Tse diz:
As cinco
cores tornam os olhos do homem cegos
Na pratica da meditação, a gente traz a
energia para o interior. Os olhos ficam
fechados para que a energia não se esvaia pelos olhos.
Quando se ouve muitos sons, a energia
vital é puxada por esse mesmo som, para fora.
Então, se perde a energia vital.
Temos Três Tesouros, os quais chamamos
de Essência, Sopro e Espírito.
O Espírito é a Consciência.
O Sopro é a energia vital do nosso corpo.
Essência são os fluídos do nosso corpo.
Quando toda a nossa consciência está
ligada com as várias coisas externas, os fluidos evaporam para fora. As energias vitais vão abandonando o
corpo. A consciência fica pressionada
pelas formas externas; começa a se esvaziar interiormente e esse esvaziamento
vai prejudicar a capacidade mental, vai alterar a capacidade emocional, e vai
reduzir a capacidade física da pessoa. É
um esvaziamento.
A prática da meditação é exatamente o
contrário disso.
A visão é trazida para o interior, a
audição e a respiração também. Dessa
maneira, a energia toda é trazida para dentro.
Se a atenção está no ar em que respiramos,
então a energia também virá através do ar que respiramos.
Quando estamos como uma estátua erguida
em um lugar evidente, num lugar que todos vêem, a energia se volta para nós.
Quando olhamos uma imagem - como no
Corcovado -, uma parte dessa energia - mesmo que seja minúscula e invisível -,
vai para essa imagem.
Sendo a imagem colocada num local bem
visível, ela sofre as energias advindas de todas as direções. E aquele local acaba se tornando um centro de
forças.
São como os missionários que chegaram à
América. Construíram cruzeiros e igrejas
em lugares que chamavam a atenção. E o
índio que não entendia nada daquilo, se sentia atraído; e quando olhava, sua
energia se dirigia para o cruzeiro e para a igreja, criando, assim, força. Dessa maneira, isso é involuntário.
Estamos o tempo todo voltados para as
coisas que nos chamam a atenção externamente.
Mais ainda na sociedade moderna em que vivemos. Os meios de comunicação, o marketing, tudo isso
chama sua atenção e retira sua energia.
O mesmo princípio de algo evidente que
chame a atenção de todos, serve como meio de descarrego de energia.
Um vaso de flor numa mesa de trabalho
em local muito tenso, atrai para si a energia dos olhares.
Existem Mestres Sábios que criam coisas
em regiões de energia negativa e prejudicial, para trazerem o descarrego.
Como também existem pessoas espertas
que usam as energias acumuladas nas imagens e se apropriam delas, para mau uso.
Tudo aquilo que se vê, absorve energia.
Algo extremamente evidente, atrai
energia.
A medalha de proteção traz uma
divindade, uma imagem, que representa uma crença sua. Pode ser uma crença filosófica ou
religiosa. Traz um fortalecimento
interior. Por outro lado, a medalha de
proteção é um pára-raios: quando um
‘mau-olhado’ atingir a pessoa, ‘baterá’ na medalha de proteção e lá
descarregará.
Normalmente, a medalha de proteção é
colocada na altura do peito, do coração.
Normalmente, a energia ruim atinge a
pessoa na altura do coração ou do umbigo, na altura do estomago ou na nuca.
Os maus-olhados nem sempre são
conscientes.
A inveja pode ser inconsciente,
incontrolável.
O descarrego pode ser feito através das
forças móveis: vento, água, água corrente, fogo, banhos. Nunca se deve dormir sem banho. O banho antes de dormir descarrega o corpo de
tudo o que ele teve que passar durante o dia.
Quando estamos lúcidos, a energia está
muito mais ativa. Quando se relaxa, o
campo de defesa fica menos ativo, portanto, toda aquela energia que está
contida pela parte externa da aura, entra no corpo relaxado.
Durante o dia, num corpo ativo, a
energia vai de dentro para fora. Ao
dormir e relaxar, a energia retorna para dentro. Portanto, nessa hora, se o corpo não estiver
descarregado, vai entrar toda a energia cumulada na periferia.
É bom comer bem, dormir bem, caminhar,
tomar banho de sol, ter menos desgastes emocionais.
Os amuletos e as medalhas de proteção
devem ser descarregados debaixo da torneira de água, com fumaça de
incenso. Também na cachoeira, no mar.
No banho de sal grosso, como acontece
no Brasil, deve-se depois tomar o banho normal.
Quando a pessoa fica todo o tempo
voltada para o chamariz exterior, através da visão, do som, dos sabores, sua
energia vai se desgastando.
Por isso, Lao Tse, no primeiro trecho,
aconselha às pessoas a evitarem os excessos.
Os três portais podem ser de saída ou
de entrada.
Quando se inspira, o ar entra.
Quando se come, a energia dos alimentos entra.
Quando se fecha a atenção para o interior, a energia entra dentro
de nós.
Quando se deixa de ouvir o som externo
para se ouvir o som interno, trazemos a energia para o interior e nos
fortalecemos.
Quanto mais a consciência se
interioriza, maior centralização de forças dentro de nós.
Isso é exatamente o que Lao Tse diz na
última frase:
Por isso,
O Homem
Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
Assim,
Afasta
aqueles e escolhe este
Pergunta: Quando se olha
para o altar, a energia da pessoa também está saindo?
Resposta de Cherng:
Sim.
É por isso que o altar tem força.
Mas tem uma diferença. Quando se
faz um altar, concentra-se lá a
força. Quando uma pessoa reverencia um
altar, vai ali deixar sua força. No
entanto, essa energia é uma concentração.
É uma troca de energias porque se manda energia para o Tao e o Tao manda
sua energia de volta.
Essa centralização de força no altar é
feita com o sentimento de respeito, de reverência, de humildade. São energias boas.
Portanto, o altar acaba se tornando um
campo, um centro de força que vai magnetizar quem perto dele chegue.
Nos aproximamos do altar de força
positiva e nos sentimos trocando energias.
Nos meus tempos de aprendiz, há sete
anos atrás, conheci uma moça que estava bem mais adiantada. Ela me ensinou a perceber o tipo de forças
presentes em vários lugares. Energia boa
ou não.
Para se reconhecer um Mestre, basta se
prestar atenção no altar. Se o altar
tiver muita força, o mestre tem muita força.
Se o altar causar enjôo, dor-de-cabeça ou mal-estar, certamente a
energia daquele mestre não está equilibrada para você. Sentindo uma força mais nítida, certamente é
um sacerdote que trabalha com força de justiça, de exorcismo, de algo mais
rígido. Sentindo uma sensação mais leve,
ficando-se emocionado, certamente é uma pessoa mais devocional, que trabalha
com força mais emotiva.
Conhece-se então a pessoa a partir da
força de seu altar. O altar é o centro
de vibração, a gente se aproxima do altar e o campo de vibração nos envolve.
Todos os altares recebem energia. Quando lá vamos rezar, orar, acender um
incenso, estamos externando nossa energia em direção ao altar.
Parece um fundo, um clube de
investimentos. Chega uma hora que
concentrou tanta força, que todas as vezes que nos aproximamos nos sentimos
re-equilibrados, re-energizados.
Essa é a função do altar.
As doutrinas místicas podem ser
compreendidas de duas maneiras:
Através da via racional, assistindo
aulas, palestras, lendo teorias e filosofias que são vistas se estão de acordo
conosco ou não.
O outro caminho é a via intuitiva,
sentindo a energia do ritual. Como
entender o ritual em chinês? Levariam-se
anos para traduzir tudo.
Enquanto isso, usa-se a intuição. Sentir a energia que lá está, se a energia
combina com você ou não. Se você se
sente bem ou não.
Se não nos sentirmos bem com a energia,
uma coisa é certa, aquele não é o seu caminho.
Não é essa a sua família invisível.
Sensação natural é a de se sentir bem, como se estivesse voltando para
casa. Na nossa casa não sentimos
estranheza, a energia flui.
Se não julgamos pelo racional, usamos a
intuição.
O Taoísmo é um Caminho. Não julgamos que o Taoísmo seja o único
Caminho. Existem outros caminhos. Para cada momento individual, para cada temperamento,
para cada natureza, existe um caminho.
Se não é o Taoísmo, é o Budismo.
Se não é o Budismo, é o Islamismo, ou Cristianismo - algum caminho se
encontra.
Esse encontro ideal é a soma de duas
coisas: do racional e do intuitivo.
Existem pessoas com dificuldades para
usar a intuição. Outras com dificuldades
para usar a razão. Cada um tem suas
dificuldades e suas facilidades.
Para o Taoísmo, pode a pessoa usar sua
intuição ou sua razão. Qualquer maneira
é válida na busca do Caminho. Quando se
tiver material para estudar, estudar.
Quando não, se intui. Então, o
Caminho pode ser descoberto.
Carreiras de
caça no campo tornam o coração do homem enlouquecido
Lao Tse nos fala da disputa do homem
com a natureza. A não-integração do
homem com a natureza. Lao Tse diz que o
homem tem que se integrar com os outros homens, e se integrar com todos os
seres, e se integrar com a grande natureza.
E purificar-se com o próprio universo.
Não entrar em choque com a natureza.
Somos muito pequenos para brigar e lutar contra a grande natureza.
Chuang Tzu tem um conto onde diz que
havia um gafanhoto pequenino e valente que lutava com os outros gafanhotos e
caçava todos os insetos que porventura passassem em sua frente. Ele se considerava onipotente e
poderoso.
Um dia, ele estava na beira da estrada
e viu passar a carroça com as rodas de madeira...
-
Quem são essa rodas que passam por aqui deixando marcas no chão,
que absurdo!
O outro gafanhoto disse:
-
Deixa prá lá, não vai lá, as rodas são muito fortes.
-
Não, não, eu sou todo-poderoso!
Eu vou enfrentá-las!
E assim, acabou a história...
O homem tem essa mesma característica
do gafanhoto valente. Ele quer o tempo
todo lutar contra a verdadeira natureza.
O homem pretende vencer a natureza, vencer outros seres, vencer o céu,
vencer a terra. Até pouco tempo atrás, a
frase “o homem vencendo a natureza” era proclamada. Hoje, com a compreensão ecológica mais clara,
podemos ver que besteira essa frase representa!
O homem não sabe adaptar e integrar a
natureza.
A caça é o típico exemplo de luta entre
o homem e a natureza. Mais ainda,
levando para uma perversão maior ainda que gera uma euforia. Quando o homem está caçando, fica
eufórico. Quando o homem está num
processo de matança, entra em euforia.
Parece que o cheiro de sangue o provoca.
Os soldados na batalha são tomados por
uma euforia de matança, são tomados por uma força que não tem controle.
Por isso, Lao Tse diz:
Carreiras de
caça no campo tornam o coração do homem enlouquecido
O homem perde a consciência, perde a
serenidade, perde a paz interior e torna-se eufórico.
Em nível mais sutil, a caça pode simbolizar
uma espécie de disputa, desafio ou vencimento.
Na verdade, a caça não precisa ser
apenas de animais. O homem, em seu
trabalho, também age como se estivesse caçando.
Caças, disputas, perseguições acontecem no campo profissional, no campo
social, no campo afetivo, no campo do relacionamento humano. Tudo isso torna as pessoas eufóricas, torna o
coração dos homens enlouquecidos. Torna
as pessoas desequilibradas.
O próprio desequilíbrio torna o ser
humano perverso. A palavra perversão
em chinês significa desequilíbrio. Algo
que é ou excessivamente Yang ou excessivamente Yin. Quando uma pessoa não consegue viver no
equilíbrio, entra num processo de perversão.
Por isso, na medicina chinesa, uma energia excessivamente quente ou fria
ou úmida é chamada de energia perversa.
Uma pessoa excessivamente apaixonada,
por exemplo, está sofrendo uma perversão da paixão.
A
palavra perversão costuma assustar as pessoas. Não deveria.
Todo o desequilíbrio é perverso.
Se temos uma mania que não conseguimos nos livrar dela, então temos uma
energia perversa dentro de nós. E a
maneira de trabalhar isso é procurando o equilíbrio. As coisas que estão em equilíbrio não são
perversas.
Os bens de
difícil aquisição tornam a caminhada do homem prejudicada
Chuang Tzu diz: “Não busque
o valor nas coisas que não têm valor”.
O diamante é valioso. No entanto, é uma pedra, apenas uma
pedra. É um conceito artificial criado
em cima de uma coisa natural.
Quando se cria um valor em cima de
alguma coisa, passa-se a ser obcecado
por esse mesmo valor, por essa coisa.
Cria-se um valor para então se tornar escravo dele. Algo valioso para ser guardado exige
sacrifício, tanto para tê-lo quanto para mantê-lo. Isso torna o Caminho do homem prejudicado
porque ele não caminha com naturalidade, nem com suavidade, nem com facilidade.
O homem pensa que precisa ter prestígio
social e por isso precisa ter recursos, ser famoso e poderoso.
Quando o homem precisa ter aquilo que
não tem, ele se sacrifica para ter. ele
tem que trabalhar em excesso para ganhar dinheiro. Ou talvez tenha que roubar, fazer truques,
mentir.
O homem paga com sua vida aquilo que
ele pensa ser valioso. Quando conquista tudo, perde o objetivo da vida e
pensa na morte.
É isso o que Lao Tse chama de ‘caminho prejudicado’.
Em resumo, nestas cinco primeiras
frase,s Ele diz para que tentemos nos interiorizar, para que procuremos não
sermos seduzidos pelas formas externas, para não nos desgastarmos, não
alterarmos a consciência através da euforia, e para não procurarmos pelos
falsos valores.
Para não vermos/ nos defrontarmos com a
nossa realidade, ficamos projetando mil coisas para fóra, para nos
distrair. Tudo isso é exteriorização da
consciência. Podem ser cores, sons,
sabores, prazeres, valores, criamos coisas e corremos atrás delas.
Por que o Taoísmo acha que a meditação
é fundamental?
Pelo menos quinze minutos por dia, a
gente deve se sentar, em silêncio, no silêncio e esquecermo-nos de tudo e
voltarmo-nos para nós mesmos, dedicando-nos a nós mesmos. Não pensar em ninguém, nem no trabalho, nem
na buzina. Prestar atenção só em nós
mesmos, no nosso corpo e depois, na respiração.
Esse processo de interiorização é
fundamental para nos colocarmos diante de nós mesmos e não nos distraindo com
outras coisas.
Por isso, nós dizemos que a meditação
do silêncio é a base de toda a prática espiritual Taoísta. Esse é o meio de nos colocarmos diante de nós
mesmos, sem julgamentos, sem pensamentos, sem querer nada, sem querer de querer
nada. Ficamos quietinhos, restabelecendo
a consciência transparente, nos reestruturando, trazendo a paz interior e a
tranqüilidade.
No final, Ele diz:
Por isso,
O Homem
Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
Assim,
Afasta
aqueles e escolhe este.
O ventre refere-se ao interior. Os olhos, ao exterior.
Olha-se para algo que está lá
fora. No ventre, os filhos são gerados.
Uma vez, se perguntou qual era a
diferença entre a arte do crítico e a arte do artista?
A arte do crítico é a arte de
criticar. A arte do artista é a arte do
fazer. O crítico olha e o artista
faz.
Por isso, Lao Tse diz:
O Homem
Sagrado se realiza pelo ventre e não pelo olho
O Homem Sagrado produz. Ele se volta para dentro. Ele cria Arte.... ao invés de olhar a Arte
para se distrair.
Quem apenas olha, não faz.
Na fase inicial da busca espiritual,
faz-se de tudo. Mas, a partir do momento
em que se percebe uma profunda afinidade com uma determinada linguagem
espiritual, a busca cessa e o homem volta-se para dentro. Não se pode distrair demais. Não se pode saber de tudo.
O Taoísta não deve ter orgulho. Porém, nosso maior orgulho é o de pertencer à
Escola dos realizadores e não à escola dos teóricos.
Essa foi a aula de hoje. Voltem para casa e meditem.
...............
foto - sitio das estrelas, janine
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 12
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em agosto/setembro de 1994
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização
da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching