TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 25 do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 03 de janeiro de 1995
CAPÍTULO 25
Há algo
completamente entorpecido
Anterior à
criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente
e inalterável
Move-se em
círculo e não se exaure
Pode-se
considera-lo a Mãe sob o céu
Eu não
conheço seu nome
Chamo-o de
Caminho
Me esforçando
por denominá-lo, chamo-o de Grande
“Grande”
significa Ir
“Ir”
significa Distante
“Distante”
significa Retornar
O Caminho é
grande
O céu é
grande
A terra é
grande
O rei é
grande
Dentro do
universo há quatro grandes e o rei é um deles
O homem se
orienta pela terra
A terra se
orienta pelo céu
O céu se
orienta pelo Caminho
O Caminho se
orienta por sua própria natureza
No Capítulo 25, Lao Tse volta a falar
sobre o próprio Tao, sobre as características do Tao, de que maneira o homem se
situa diante do Tao, como vivê-lo e como realizá-lo.
Na primeira parte, fazendo uma
descrição, ele diz assim:
Há algo
completamente entorpecido
Anterior à
criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente
e inalterável
Move-se em
círculo e não se exaure
Pode-se
considera-lo a Mãe sob o céu
Lao Tse faz uma determinação sobre a
natureza do Tao. O Tao, aqui traduzido
como Caminho, é o Absoluto.
Qual é a característica do
Absoluto? O Absoluto é aquele que não
pode ser alterado. Ele é completamente
independente, se movimenta em círculos e não se exaure. É a mãe de todas as coisas. É esse algo que é anterior a todas as coisas,
que não precisa de nada para complementá-lo, que não pode ser alterado por
nada, que não pode ser desvirtuado por nada.
É aquele que cria e é anterior à existência do microcosmo e do
macrocosmo. É anterior ao céu e à terra.
Sendo anterior ao céu e à terra, no
texto do I Ching é chamado de Céu Anterior ou Anterior do Céu.
Sua característica é uma espécie de
algo entorpecido.
Na prática mística, uma pessoa consegue
experimentar a experiência do Tao. A
pessoa se encontra com algo ao qual se integra, se une com esse algo de
característica caótica e entorpecida. É
como se fosse aquele estado de embriagues que não chega ao extremo, um estado
caótico, um estado de perda de noção do tempo, do espaço, do físico... A pessoa entra num estado que chamamos de
caos primordial, onde não há diferenciação e não há a separação das coisas. É como se
fossem várias latas de tinta de diferentes cores puras misturadas e que,
ao serem mexidas, fica tudo tão misturado que não se pode definir exatamente
onde ficam o amarelo, o vermelho, o azul, o verde, o branco...
Por isso, Ele usou o termo ‘entorpecimento’: o sujeito
entorpecido perde a noção do tempo, do espaço, do físico, das limitações. O sujeito sai das limitações da definição
individual ou coletiva, sai das fronteiras do eu e dos outros, o ego se
dissolve e tudo se torna o Um que não pode ser definido.
Esse estado de ‘embriagues’, de ‘entorpecimento’, não pode ser
definido exatamente. Na prática da
meditação, é chamado de estado do caos primordial.
O Tao em estado latente é uma espécie
de caos primordial onde todas as coisas se encontram potencialmente. Todas as coisas no estado do Tao são
indivisíveis, indefiníveis e inseparáveis.
Existe um outro texto taoísta que se
intitula “O Tratado da Transparência e da Quietude Permanentes” que, logo no
princípio, diz que o Grande Caminho não tem forma, não tem sentimento, não tem
nome.
Quem encontra o Tao, o Absoluto, não
pode atribuir-lhe um nome. Não pode
dizer que o Tao é uma coisa quadrada, por exemplo. Quadrado é nome, quadrado é linguagem. O Tao está além da possibilidade da
linguagem. Também não se pode dizer que
o Tao é uma espécie de sentimento alegre.
Alegria é uma linguagem, não uma linguagem verbal mas uma linguagem
sentimental. Não uma linguagem racional
mas é uma linguagem emocional. E é uma linguagem. O Tao não tem sentimento. Ele não é um sentimento porém possui
caoticamente em si todos os sentimentos.
E não sendo nenhum deles, dEle podem nascer todos os sentimentos: o
sentimento da ira, o sentimento da compaixão, o sentimento da alegria, o
sentimento da tristeza... mas o Tao não é nenhum deles e não se limita a nenhum
deles, ou seja, o Tao não se limita a nenhuma linguagem.
A linguagem racional normalmente é
expressa através da palavra, da escrita, das idéias e conceitos. Existe a linguagem emocional que são os
sentimentos, as emoções, as sensibilidades.
Existe a linguagem física que são as expressões que formam imagens,
imagens abstratas ou imagens concretas.
Enfim, todas as coisas imagináveis ou
inimagináveis do universo são linguagens.
O universo é a composição de todas as linguagens. Sendo a junção de todas as linguagens, o
universo é auto-pro-criador, todo o tempo algo está nascendo e algo está
morrendo. Tudo no universo a cada
instante é ao mesmo tempo um nascimento e ao mesmo tempo uma morte e ao mesmo
tempo é a vida. E durante.
Todas as formas do universo estão
sempre em constante renovação e em constante morte. O universo é a soma de todas as linguagens e
ao mesmo tempo todas as linguagens que existem dentro do universo estão em
constante modificação. A linguagem
também não é permanente.
Por isso, o I Ching tem o nome de Livro
das Mutações porque fala exatamente que o universo está em constante
modificação.
Todas as linguagens fazem parte da
constante mutação do universo que é composto do céu, da terra, do homem e de
todos os seres. E todos os seres, todos
os homens, todas as terras e todo o céu estão em constante mutação: são
impermanentes.
O Absoluto, por ser inalterável e
independente como o caos primordial, não pode ser interpretado ou delimitado ou
limitado através de quaisquer linguagens.
Ao mesmo tempo, esse caos abraça todas as linguagens. Mesmo em constante transformação, esse caos
abraça e inclui em si todas as linguagens de uma maneira não distinguível e não
definível.
Por isso, Ele diz que
Há algo
completamente entorpecido
Anterior à
criação do céu e da terra
Isso é o Tao, o Tao em estado latente
que nós chamamos de “O Caminho do Céu Anterior”, o Tao do Céu Anterior.
O céu e a terra que são criados pelo
Tao são chamados de “O Caminho do Céu Posterior”, o Tao do Céu Posterior.
Esse Céu Anterior é “quieto e êrmo”. Ele é infinitamente grande e infinitamente
silencioso.
É “Independente e inalterável”. Podemos alterar todas as coisas que têm forma
mas não podemos alterar a não-forma.
Podemos modificar todas as imagens mas não podemos modificar a
não-imagem. Podemos rasgar todos os
livros mas não podemos rasgar o vazio que permite o livro existir dentro
dele. Não podemos sair por aí quebrando
o vazio com um pau. O vazio não se
quebra... igualmente o Absoluto, o Tao, algo êrmo, quieto, independente e
inalterável.
Todo o trabalho do Taoísmo é exatamente
o de buscar a integração, o encontro com esse algo chamado Tao.
E o Tao, o Absoluto, não pode ser
encontrado quando nos opomos a ele ou quando estamos fóra dele.
O que é oposição? É o se colocar do outro lado.
Quando nos opusermos ao Tao, não o
encontramos.
No misticismo, a integração não pode
ser feita de oposição. Muitas religiões
colocam o divino em oposição ao humano.
Quando optamos pela interpretação do Tao através da linguagem, nos
opomos, estamos fóra. E estando fóra,
supomos que deus é quadrado ou, na verdade, apenas pensamos assim.
Se estivermos dentro do Tao, estaremos
despidos de todas as linguagens e de todas as formas. Só podemos entrar dentro do silêncio através
do silêncio. Só podemos viver o vazio,
nos esvaziando. Só podemos alcançar o
Céu Anterior e viver o Tao como o Absoluto, se nos esvaziarmos e entrarmos no
Absoluto, ou seja, o homem só encontra deus quando ele se torna deus. O homem só encontra o sagrado quando ele se
torna sagrado.
Se nos opusermos ao divino, ao sagrado,
nunca haverá a integração.
Vários críticos, de outras religiões,
dizem que o Taoísmo é muito pretensioso,
muito ousado porque quer igualar o homem a deus. Na verdade, o que queremos é nos integrar a
esse deus, a esse sagrado. E só podemos
encontrar deus e o sagrado quando nos tornamos deus e o sagrado. Só encontramos esse Vazio, esse Absoluto
quando nos tornamos o Vazio, o Absoluto - quando nos esvaziamos.
Por isso, a nossa prática espiritual
não é ousadia, é simplesmente uma compreensão das coisas, uma lucidez. Sempre trabalhamos no fundamento da quietude,
no esvaziamento, no silêncio interior.
Isso deveria acontecer tanto para as atividades silenciosas quanto para
as atividades externas. Devemos saber
viver esse silêncio interior em todos os momentos; esse vazio deve nos
acompanhar enquanto estivermos falando, escrevendo, pensando, trabalhando. Tanto no estado ativo quanto no estado
passivo, devemos manter dentro de nós uma quietude, um silêncio, um vazio, um
‘algo entorpecido’ que não faz a separação das coisas. Quando em atividade, temos que saber
discernir o que fazer do que não fazer.
É uma integração sutil.
Uma pessoa que entra nesse estado de
entorpecimento, nesse estado êrmo e inalterável, tem a quietude interior ao
mesmo tempo que nas atividades externas sabe distinguir naturalmente o que
dever ser feito e o que não deve ser feito, não julgando de forma
preconceituosa mas tendo o discernimento.
Quando precisar falar em voz alta, falar em voz alta; quando precisar
falar em voz baixa, falar em voz baixa; quando não tiver que falar, não falar;
se tiver fome, comer; se não tiver fome, não comer. Trabalhar quando tiver que trabalhar e repousar
na hora de repousar. Na atividade ou no
silêncio sempre manter dentro de si a quietude.
Essa quietude interior é exatamente o eixo que nos mantém em equilíbrio.
Pode-se
considerá-lo a Mãe sob o céu
‘Sob o céu’ é uma maneira
erudita e poética de ver o mundo. Em
chinês se diz que o melhor carro do mundo é o melhor carro sob o céu.
‘A Mãe sob o céu’ é a Mãe do
mundo.
Eu não
conheço seu nome
Chamo-o de
Caminho
Me esforçando
por denominá-lo, chamo-o de Grande
“Grande”
significa Ir
“Ir”
significa Distante
“Distante”
significa Retornar
“Eu não conheço seu nome” - nem
poderia, porque o Tao não tem nome.
“Chamo-o de Caminho” - essa é a
diferença essencial entre o Taoísmo e as demais religiões. Enquanto as religiões usam o termo “Deus”,
nós usamos Caminho.
O que é Caminho?
Caminho é um curso que só existe ao
caminharmos sobre ele. Se não
praticarmos o Caminho, o caminho não existe.
Para a pessoa que não vive em si a
integração com o Absoluto, não existe Caminho, não existe o Tao. Dentro da linguagem ocidental para aqueles
que usam o termo “Deus”, essa pessoa pode ser chamada de ‘ateu’.
Para aquela pessoa que vive essa
integração e essa busca interior, existe o Caminho. O Caminho é aquele que se anda, é a própria
busca. Nessa busca se encontra o
Absoluto. Quando o homem aprende a viver
o silêncio, está no Caminho. O Caminho é
o próprio silêncio. O Silêncio é o
próprio Absoluto. O sagrado, o Absoluto,
o Deus, está dentro do homem que está em seu Caminho.
Não existe o Caminho se todas essas
coisas não acontecerem.
Lao Tse diz que “não conhece
seu nome” mas precisa dizer alguma coisa para a pessoa que ainda não
alcançou esse estado do Absoluto, então chama-O de Tao. Tao significa Caminho.
Parece que Ele diz “não procure Deus,
busque seu Caminho. Realizando seu
Caminho, Deus estará em você”, naturalmente.
E o Tao não se chama Deus porque se se
chamar Deus haverá de ter um nome e o Tao não tem nome.
Dentro do Taoísmo existe um termo para
“Deus” que é a palavra Shen e não é a palavra Tao que é claramente colocada
como uma compreensão simbólica e externa de uma manifestação formal do
Absoluto.
Por isso, hierarquicamente, o Absoluto
não se chama Deus, se chama Tao, ou seja, o Caminho.
Shen é a parte expressiva do
Absoluto. É a parte visível do Absoluto,
da Onipotência, do Todo manifestado e existente, ou seja, o Universo em si, o
Uno em si. A consciência desse Uno,
desse Um, chama-se Shen que é o espírito de todas as coisas e é representado
alegoricamente como entidade.
As divindades estão na categoria do
Shen. Qualquer um de nós, vivendo
virtuosamente, poderá tornar-se uma
divindade, um Shen ou uma manifestação do Shen.
O Rei de Jade é a soma de todos os
Shen. Na linguagem simbólica e
alegórica, uma pessoa que se torna uma divindade, que se torna um Shen - em
linguagem ocidental, um “santo” -, passa a ser uma divindade de hierarquia
inferior ao Rei de Jade. É como se fosse
um ‘deusinho’ fazendo parte do grande Deus.
Na consciência sagrada cabem todas as consciências sagradas e todas as
consciências sagradas são manifestações da consciência sagrada. Cada divindade é o Rei de Jade manifestado em
forma de Santo Guerreiro, em forma de compaixão, em forma de misericórdia, em
forma de justiça, em forma de demônio, tudo o que se possa imaginar.
Como todas as formas são mutáveis,
todas as misericórdias podem se transformar em justiça e todas as justiças
podem se transformar em misericórdia.
Na magia superior isso significa a
transfiguração da divindade. A divindade
é como um espelho, simplesmente reflete tudo.
As divindades são simbolicamente representadas pelo ouro metafísico.
O ouro pode ser derretido e ir se
modificando na forma; mas em sua natureza, sempre será ouro. O ouro pode estar debaixo da terra, pode ser
uma jóia, pode ser um tesouro, pode ser unido a outro ouro mas sempre será
ouro.
Como o ouro que permanece ouro sempre
pode mudar de forma, o Shen - o espírito iluminado - é a consciência sagrada
que pode tomar uma forma e outra forma e faz parte do grande ouro da grande
consciência sagrada. Ao mesmo tempo é individual
e coletiva. Como indivíduo, reflete o
coletivo; como coletivo, traz dentro de si o indivíduo.
Portanto, cada divindade Shen pequena é
um reflexo de um Shen puro que nós chamamos de Rei de Jade. O Santo Guerreiro e as outras divindades
fazem parte - como células - da composição do Rei de Jade. O Rei de Jade tudo inclui. Dessa maneira, outras divindades que não são
o Santo Guerreiro - por serem reflexos do Rei de Jade - podem se transfigurar
em forma de Santo Guerreiro ou em outras divindades.
Na magia, isso se chama ‘transfiguração
das divindades’. As divindades podem se
transfigurar porque todas são múltiplas e unas ao mesmo tempo. o múltiplo e o uno são as partes manifestadas
e visíveis do Tao.
A parte invisível do Tao é a Mãe de
todas as coisas. É algo quieto, êrmo,
entorpecido, independente e inalterável, anterior a todas as coisas.
Dessa maneira, percebemos um ponto
essencial: o Tao, didaticamente, pode ser partido ao meio - o Céu Anterior e o
Céu Posterior.
O Céu Anterior é a Mãe e o Céu
Posterior é o Filho. O Filho é o Uno que
dentro de si faz nascer o múltiplo.
Teologicamente falando, o Taoísmo é
matriarcal em primeiro lugar e patriarcal em segundo lugar; e múltiplo
patriarcal em terceiro lugar. Diferente
das outras várias religiões que trabalham com o múltiplo patriarcal em primeiro
lugar e não mencionam o matriarcal.
Chamamos o matriarcal de Tao e não de
‘deusa’. Se fosse deusa seria o
contrário de deus ou ao complementação feminina do deus masculino. Não se usa ‘deusa’, se usa Tao.
Para descrevermos o Tao, O chamamos de
Transparência. No Taoísmo, o Absoluto
está representado como a Tríplice Transparência. A transparência é o vazio e o invisível.
Me esforçando
por denominá-lo, chamo-o de Grande
“Grande”
significa Ir
“Ir”
significa Distante
“Distante”
significa Retornar
Imaginemos um discípulo
perguntado: “Mestre, o que é o
Absoluto? O que você está
buscando?”
Lao Tse responderia: “Bem, o que eu
estou buscando não dá para dizer.
Podemos chamar de Tao. Tao é o
Caminho que devemos seguir para encontrá-lO e realizá-lO e nos tornar o próprio
Tao”.
E o discípulo continua: “Mas, Mestre, seja mais objetivo...”.
O Mestre responde: “Se você precisa da linguagem, pode chama-lO
de Grande”
-
“O que é Grande?”
-
“Grande quer dizer Ir.
-
“Mas.... ir para onde?”
-
“Ir no Caminho...”
-
“Mas, ir, o que é ir?”
-
“Ir significa Distante”.
-
“O que se busca?”
-
“O Caminho”.
-
“O que é o Caminho?”
-
“Caminhando se saberá...”
-
“É longe?”
-
“Longe, onde é longe?” E
Lao Tse conclui: “Longe é aqui”.
Por isso, “Distante
significa Retornar”.
Esses versos podem ser compreendidos em
nível mais rasteiro, não como em um
nível metafísico, nem como estudo filosófico ou espiritual mas apenas sendo
vistos como uma orientação prática.
O Caminho do Taoísmo precisa ser
praticado: “Ir”. Um caminho por onde as
pessoas não andam, não é um caminho. Uma
vez entrando no Caminho, vai-se longe, vai-se profundamente e se retorna para a
simplicidade, para o natural.
Mestre Maa sempre diz que o taoísta
deve fazer para si mesmo um grande voto, ter uma grande meta e entrar
profundamente no Caminho. A grandeza
deve ser de um tamanho que não possa ser descrita, deve ser infinita.
No ocidente, as pessoas são
incentivadas a quererem mais e mais as coisas materiais e não a aspirarem uma
grande meta espiritual. Também as
pessoas são instruídas a não se compararem com deus, a sempre agirem c Omo
meros mortais.
Para o Taoísmo, o homem buscar sua
plenitude espiritual não é uma ousadia, uma pretensão. É, sim, natural e é um dever.
As demais religiões consideram que uma
pessoa que ajuda os pobres e os necessitados, que faz trabalho de benefício
social, construí templos, etc, essa
pessoa é considerada de grande mérito.
O Taoísmo não vê nisso nenhum
mérito. Agir assim é simplesmente
natural, é o que deve ser, é um dever.
Aquilo que o mundo ocidental considera como meritório, nós consideramos
como nada de mais, nada de menos; e sim, como natural.
Outras coisas que as outras religiões
consideram como ambição excessiva ou pretensão, nos consideramos como nada de
mais, nada de menos; e sim, como naturais e inevitáveis.
Esse é o caminho da naturalidade:
seguir e fazer, simplesmente.
O Taoísmo é grande como o próprio Tao:
é preciso ir, ir fundo no Caminho e nem por isso se perde o retorno... Isso é ser uma pessoa comum, natural e simples. Ser natural significa retornar. Ir distante e retornar. Retornar significa viver profundamente cada
gesto, cada vida, cada segundo.
O profundo não deve ser uma força
separativa, que distancia, que dualiza, que opõe o homem aos outros, sem a
integração entre o homem e as divindades e menos ainda sem a integração entre
as divindades. Menos ainda opondo a
expressão à não-expressão, a manifestação à não-manifestação, do Céu Anterior
ao Céu Posterior, o Tao manifestado ao Tao não-manifestado.
Na terceira parte, imaginemos o
discípulo ainda não satisfeito, insistindo:
“Mestre, como encontrar esse Grande?”.
Lao Tse dá então exemplos concretos e
aponta objetivamente:
O Caminho é
grande
O céu é
grande
A terra é
grande
O rei é
grande
Dentro do
universo há quatro grandes e o rei é um deles
Grande é ir longe e ir longe é estar
presente.
Como encontrar esse grande? Esse grande está no céu, está na terra, está
no rei.
Dentro do
universo há quatro grandes e o rei é um deles
O que é o rei? Na antiguidade, o rei era o dono de todas as
coisas. Numa sociedade monárquica, tudo
pertence ao rei. Se o rei é o dono de
todas as cosias, é dono de si mesmo. rei
é a consciência. o Rei comanda tudo o
que acontece no reino. A consciênciaa
comanda tudo o que existe dentro de nós.
O rei é a consciência, a consciência
verdadeira, a consciência pura que é a consciência real.
Se prestarmos atenção, perceberemos
aqui a trilogia de que nos fala o I Ching: o céu em cima, a terra em baixo e
homem no meio.
O homem que tem a consciência é o
rei. O rei é aquele que caminha unindo o
céu e a terra.
Como se escreve o Trigrama do I Ching?
________ céu
________ homem
________ terra
________ homem
________ terra
A linha debaixo é a linha da
terra. A linha do meio é o homem. Alinha de cima é a linha do céu. O homem vive entre o céu e a terra. No I Ching, o princípio e o fim se escrevem
de baixo para cima.
(Nota da Transcritora: neste ponto da Aula, Cherng escreveu no
quadro alguns ideogramas em chinês indicando rei, homem, céu e terra e a união
de tudo isso. Como esta Aula foi gravada
em fita cassete, não foi possível saber e transcrever esses ideogramas).
O Tao é grande, o céu é grande, a terra
é grande. Tudo isso significa trabalho,
fazer, ir, praticar. O rei é grande e
rei significa consciência.
A consciência no Caminho que une o céu,
o homem e a terra. Quem possui essa
consciência é dono de si mesmo: esse é o rei.
Ao unirmos o homem, o céu e a terra, o
que se forma? Um círculo que não tem
princípio nem fim. Dentro do círculo
estão o céu e a terra. O céu, a terra, o
homem e seu caminho se encontram dentro do céu e da terra - como uma
infinitude.
..........................
Na alquimia taoísta existe um termo chamado
de Elixir. O Elixir é o plantio e
significa imortalidade. Onde se semeia
imortalidade se colhe imortalidade.
Aonde se semeia imortalidade?
No encontro do homem com o Caminho, no
encontro da consciência com o sopro. Por
isso, Lao Tse ressaltou o rei em importância, ou seja, a consciência.
Em seguida, Ele acrescenta:
O homem se
orienta pela terra
A terra se
orienta pelo céu
O céu se
orienta pelo Caminho
O Caminho se
orienta por sua própria natureza
Lao Tse coloca os quatro grandes em
forma hierárquica. O rei é o homem, o
homem que é dono de si próprio. É o
homem que tem a consciência unido o céu e a terra em seu próprio Caminho.
Como realizar este Caminho?
“O homem se orienta pela terra”, precisa
aprender com a terra, aprender com a natureza, com o rio, com a montanha, com a
água, com o trovão, o lago, o vento, as mudanças de clima, as estações, a vida,
a morte. O homem precisa aprender com a
terra e ser abrangente, receptivo, quieto e suave.
“A terra se orienta pelo céu”. O Planeta Terra se orienta pela estrela do
nosso sistema solar que se orienta pela grande estrela Vega que se orienta por
algo que ainda não sabemos. Tudo se
orienta pelo macrocosmo.
O homem deve aprender com tudo o que
acontece em seu ambiente mais natural, depois deve aprender com o céu, com as
estrelas, com o tempo - nosso relógio anda de acordo com o movimento da terra e
das estrelas. Deve aprender com o céu e com as estrelas
assim como a terra se orienta pelo céu.
“O céu se orienta pelo Caminho”, que é o
próprio Tao.
E o Caminho se orienta por si próprio,
por isso Ele diz: “O Caminho se
orienta por sua própria natureza”.
A natureza está no homem, na terra e no céu. Ou seja, podemos, na verdade, aprender com
tudo o que existe em torno de nós, podemos aprender com a vida concreta, com a
metafísica e com o Tao.
Podemos aprender com a natureza
incorporando a natureza em nossa vida concreta e podemos aprender com o céu
incorporando-o em nossa vida concreta.
Por isso, o Taoísmo se diferencia das
outras escolas e métodos de ensinamento.
Dentro do Taoísmo, encontramos a prática da alquimia, a prática da
magia, a prática do ritual, trabalhos devocionais, trabalhos litúrgicos,
trabalhos adivinhatórios, geomancia, astrologia,. Todas as práticas místicas formam uma aglomeração
bastante grande e todas seguem o Tao.
Seguindo todas as práticas místicas o
mesmo princípio, você pode ser um astrólogo que estuda o céu e que consegue
viver em você mesmo o Tao. Você poder
ser um geólogo que estuda a terra para compreender a terra. Você pode viver os ensinamentos da terra em
sua vida e assim, viver o Tao. Você pode
ser uma dona-de-casa, pode ser um intelectual - o que for - mas nunca deixará
de viver o Tao.
O Tao está em toda a parte e não está
limitado em nenhuma parte.
O Tao não é apenas encontrado através
da astrologia taoísta, não é apenas encontrado pelo ritual, não é apenas
encontrado pela meditação. Pode ser
encontrado por tudo e não apenas encontrado pelo Taoísmo.
O Tao não é apenas encontrado pelos
taoístas. O Tao pode ser encontrado por
todos, em todos os lugares, em todos os tempos, de todas as formas e não se
limita a nenhuma forma.
O Taoísmo é aquele que tem a tradição
de falar sobre o Tao.
Qualquer tradição, através de qualquer
linguagem, sempre chega ao Tao - porque o Tao está fóra da linguagem.
O Taoísmo é um instrumento místico que
nos leva à busca do Tao. Mas, quem
encontra o Tao não está mais dentro do Taoísmo mas também não está fora do
Taoísmo: está em tudo e não se limita em nada.
...............
Foto: Estrada do Belém, Sítio das Estrelas, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 25
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 03 de janeiro de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se
a realização
da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching