TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 17 de janeiro de 1995
Capítulo 27
A boa
caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra
não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo
não utiliza medida nem número
A boa porta
não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode
ser aberta
O bom nó não
necessita de corda para ser atado
E não pode
ser desatado
Assim, o
Homem Sagrado
É constante e
bondoso
Salva homens
e não abandona homens
É constante e
bondoso
Salva coisas
e não abandona coisas
Isso se chama
herdar a luz
O homem bom é
mestre daquele que não é bom
O homem que
não é bom é o recurso daquele que é bom
Quem não
valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo
inteligente, permanece enormemente desorientado
A tudo isso
denomina-se Maravilha e Essência
Este Capítulo fala da importância, da
característica, de uma conduta perfeita.
Uma pessoa que fala boas palavras, não
será criticada. Uma pessoa que faça uma
boa caminhada, não deixa rastros.
“O bom cálculo não utiliza medida nem
número” - Existe um ditado que diz assim:
Não há cálculo do homem melhor do que o cálculo do céu.
Por mais que queiramos driblar o
destino, por mais que tenhamos recursos para alterar e enganar o destino, nunca
seremos bem sucedidos.
Uma coisa muito desejada, pode ser
perdida. Uma coisa muito bem fechada,
não precisa de ferrolho, não precisa de algo rígido.
Para ser fazer um nó perfeito, não se
pode fazê-lo de corda porque todos os nós feitos de corda podem ser
desatados. Somente o nó que não é feito
de corda, é que não pode ser desatado.
Na prática espiritual, a “caminhada que
não deixa rastros ou pegadas” refere-se à Grande Realização, ao Grande Caminho.
Dentro do Taoísmo, existem o Grande
Caminho e o Pequeno Caminho. As puras
realizações espirituais são chamadas de Grande Caminho. As práticas artísticas ou a sabedoria de
viver algo da arte e algo da vida, são chamadas de Pequeno Caminho.
O Tao, como Absoluto, não tem uma forma
definida. Inúmeras vezes, dentro do
Taoísmo, nos utilizamos de simbolismos como a água, a nuvem, o vento para simbolizar
a característica não-formal, da não-forma do Tao.
A nuvem está se modificando todo o
tempo. Nunca sabemos de onde surge nem
onde termina. A nuvem está sempre em
constante modificação.
O Grande Tao é também assim. Ele não pode ser encontrado em uma maneira
rígida. Ao mesmo tempo, está em toda
parte, ao mesmo tempo não é limitado por nada, pode ter uma forma ou ter outra
forma, pode modificar sua forma. E,
justamente por essa não-limitação de Sua forma de manifestação, assim se
demonstra Sua infinitude como Sua manifestação.
Sua natureza é o Absoluto.
Mestre Maa nos diz que os Pequenos
Caminhos são aqueles onde podemos encontrar um princípio, um durante e um
fim. O Grande Caminho é aquele que não
tem princípio, que não se define o durante e que não tem fim.
Dentro desses Caminhos existem inúmeras
práticas espirituais que trazem efeitos, resultados, fenômenos bastante
determinados.
Falemos dos efeitos energéticos:
Conhecemos dentro do Taoísmo a
Circulação do Céu ou Pequenos Círculos Celestes que são energias que sobem pela
coluna vertebral através do vaso governador, chegando até a cabeça e descendo
pelo vaso de concepção, pela frente, circulando assim por todo o corpo da
pessoa, até a raiz da vida.
Através da prática mística da Alquimia,
ainda dentro das características do Pequeno Caminho - A Alquimia Inferior -,
encontramos o efeito da transmutação de uma maneira linear onde se encontra o
início, o durante e o fim. Nessas
práticas, depois de um longo tempo de meditação - de boa meditação -, surge uma
energia efervescente na região do baixo abdômen. Essa energia tende a sair pelos órgãos
genitais ou pelo reto. Esse escape de
energia pode acontecer através do próprio processo biológico-físico.
Muita energia centralizada no baixo
abdômen começa por vibrar e procurar uma saída.
Nessa hora, o praticante aprende a controlar-se para que a energia não
escape. Em seguida, com as portas
fechadas, a energia normalmente sobe pelo meio até o coração e a garganta e
depois, desce. Mas quando encontra um
caminho bem mais aberto, essa energia efervescente entra na região do sacro e
vai para trás, subindo dentro da coluna vertebral através da medula, até chegar
ao cérebro. Desce então pela frente e
volta para a região do períneo. Esse é o
movimento circular de energia.
Esse movimento da energia chamado de
Pequena Circulação do Céu ou Pequeno Círculo Celeste acontece durante a
meditação. É uma ação natural.
No Chi Kun, mentaliza-se essa energia
dentro do corpo, chama-se ______ ____________, ou seja, canalização de
energia. (Nota da Transcrição: não foi
possível entender estas palavras).
É um tipo abaixo da Alquimia e se chama
Circulação do Veículo Vazio. Só pode
acontecer quando se tem uma energia bastante grande para sair e ir abrindo o
caminho naturalmente. Os canais de
energia do corpo vão sendo abertos e limpos, fazendo-se a conexão entre os
centros inferiores com os meridianos superiores.
Como conseqüência, acontecem inúmeros
fenômenos como alteração da consciência, abertura da visão, premonição,
visualização, capacidade de memória, aumento de poderes energéticos e
curativos, auto-cura, etc.
Cada vez que os Círculos Celestes
aparecem, aumentam nossa capacidade humana de ser.
Essa maravilha de efeitos é ainda
chamada pelos mestres taoístas de Pequenos Caminhos.
Por que Pequenos Caminhos ainda?
Porque têm começo, se encontram o
durante e o fim. Todos esses fenômenos
terminam um dia (dando lugar a outros fenômenos). Ainda são fenômenos lineares.
Mestre Maa nos diz que na Alquimia Inferior
se coloca a Consciência unida ao Sopro em outros centros energéticos, o que
provoca a Pequena Circulação do Céu.
Tudo com começo, durante e fim.
Na Alquimia Superior, esse fenômeno não
se chama Pequena Circulação do Céu.
Chama-se Roda de Moinho. É também
uma circulação de energias. Apenas que
são 36 mil canais de energia do corpo que são despertados de uma só vez. E a Consciência não consegue detectar de onde
começa esse despertar de energia e não sabe onde termina. O corpo fica como tomado de milhares de
‘ventiladores’ e todos os 36 mil meridianos são despertados de uma só vez. Parece que a pessoa está dentro de uma enorme
tempestade. É preciso, então, deixar a
Consciência quieta e deixar todo o corpo vibrar com a energia. Esse não é um processo linear.
Esse é Grande Caminho que Mestre Maa
nos ensina. Com ele, o fenômeno
aconteceu pela primeira vez durante duas horas e meia. Ele estava sentado, meditando e, de repente,
apareceu um furacão que o tomou por completo com suas milhares energias
circulando por todos os canais do corpo.
Ele sentiu como se fosse uma explosão de bomba atômica. Pareceu-lhe ouvir seu Mestre lhe dizendo para
ficar calmo e quieto, para não fazer nada e não ter nenhum controle sobre o que
estava acontecendo.
Quando a explosão acontece, a pessoa
sai do estado de Fixação e sente que não tem mais corpo. É preciso manter a Consciência em Fixação,
deixando a tempestade acontecer, sem se ligar nela, sem nenhuma emoção, nada,
apenas buscando manter a Fixação. Por
fim, a tempestade acalma, passa.
Quando Mestre Maa abriu seus olhos, viu
que estava sozinho. Mais tarde, procurou
seu Mestre para lhe agradecer a ajuda.
Seu Mestre então lhe disse para não mencionar mais sobre aquele
fenômeno. Não falar sobre isso.
(Ele nos contou sobre isso em uma de
suas aulas e nos contou para nos alertar).
A boa caminhada não deixa rastros ou
pegadas. Não tem princípio nem fim. Não
se pode saber de nada.
O caminho normal deixa marcas pelo
chão, sabe-se o que acontece, de onde se veio e para onde se vai. Esse é o Pequeno Caminho.
Lao Tse deixa, no entanto, bem claro
que a boa caminhada, o Sublime Caminho, não deixa rastros nem pegadas. Simplesmente sabemos que existe e que
acontece. E não pode ser descrito. Não dá para falar. Se alguém consegue descrever esse caminho é
porque passou por um fenômeno do Céu Posterior e assim, pode ser nomeado,
pode-se saber onde começou, seu durante e seu fim. É temporal e limitado e está dentro da
linguagem - já que pode ser descrito.
Como sabemos, o Tao, o Absoluto, está
além da linguagem. O Céu Anterior não
tem linguagem que possa descrevê-lo.
Logo no Primeiro Capítulo do Tao Te
Ching, Lao Tse diz:
O Caminho que
pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que
pode ser enunciado não é o Nome constante
Quaisquer fenômeno ou efeito místico
que podem ser explicados fazem parte do Céu Posterior.
Todo nosso trabalho é recuperar o
estado do Céu Anterior, e quando isso acontece, apenas sabemos e não podemos
descrevê-lo.
O Taoísmo deixa bem claro que o
fenômeno místico existe. E são
inúmeros. Uns podem ser descritos e
outros, não.
Os que podem ser descritos - de uma
maneira abstrata ou concreta - são chamados de fenômenos do Céu Posterior.
Aqueles que realmente estão no Caminho
do Céu Anterior, não têm forma, não têm linguagem - mas, ao mesmo tempo,
existem e não podem ser descritos.
Os fenômenos e efeitos do Céu Posterior
são chamados de Pequenos Caminhos.
O Grande Caminho é o Caminho do Céu
Anterior.
Por isso, Lao Tse diz:
A boa caminhada
não deixa rastros ou pegadas
O efeito da Roda de moinho ainda é a
primeira etapa da Alquimia Superior.
Dentro da Alquimia Superior, existem
três Rodas de Moinho:
.
Roda de Moinho do Sopro - que é a energia do Céu Anterior que entra
dentro da pessoa como se fosse uma estrondosa tempestade.
.
Roda de Moinho do Fogo Líquido
.
Roda de Moinho Púrpura
Em todas essas Rodas de Moinho, quando
acontecem, não se sabe por onde começam e por onde terminam. E é impossível descrevê-las. Mas existe uma diferença de qualidade entre
elas..
Cada Roda de moinho representa um nível
de realização alquímica atingida:
.
Na primeira Roda, alcança-se a primeira realização da Alquimia, que se
chama Abertura do Sopro.
.
Na segunda Roda, alcança-se a Abertura do Espírito.
.
Na terceira Roda, alcança-se a Abertura do Espírito Universal.
Na Primeira Roda, toda a energia vital
se abre, o corpo se torna um canal aberto que faz com que as energias dentro e
fóra do corpo se tornem uma só, a mesma.
A energia do Céu Posterior e a energia do Céu Anterior do universo se
tornam uma.
Na Segunda Roda, a Abertura do Espírito
faz com que a consciência individual se conecte com a consciência
coletiva. O espírito está aberto para
toda a consciência interior que forma uma única Consciência. Nessa hora, não existem diferença individual
ou exterior. É a unificação da
consciência interior.
Cada um de nós tem vários espíritos
dentro de nós. Inúmeras
consciências. Nesse momento, temos uma
consciência, e em outro momento, temos outra consciência predominante. E cada parte do nosso corpo tem um espírito:
as articulações, a carne, os ossos, o sangue, os diversos tipos de emoção,
diversos tipos de pensamento, cada célula tem uma consciência, cada território
físico tem uma consciência.
Com a Abertura do Espírito, passamos a
ter um único espírito, ou seja, todas as consciências são reunidas numa
só. A partir desse momento, não temos mais consciente,
inconsciente ou sub-consciente. Menos
ainda sofreremos de neuroses ou esquizofrenias.
Teremos apenas uma única Consciência. E isso acontece depois da Segunda
Roda de Moinho - que é um fenômeno bastante forte.
Na Terceira Roda, a Roda de Moinho
Púrpura, a consciência e todas as consciências são uma só. A Consciência e todas as Consciências são uma
só. Nossa consciência estará na mente e
no pensamento de todos os seres. Não
existe o eu e o outro. Somos um só -
todos estarão dentro de nós. Chegou-se,
então, o Homem Universal.
São essas as Três Rodas de Moinho, sem
início, sem fim.
Mestre Maa sempre nos diz que antes de
aprendermos a ser Imortais, temos que aprendermos a ser mortais; ou seja,
vivermos como uma pessoa normal e termos as virtudes plenas, sem mais criarmos
Karmas negativos, com pureza de mente, com bondade interior.
Os mestres tradicionais dizem que temos
três trabalhos principais a serem realizados ao mesmo tempo:
A doação - a
devoção - a transformação
A Alquimia trabalha com a
transformação, altera a circulação de energia, traz as Rodas de Moinho. Mas, se não houver doação não romperemos com
as barreiras cármicas anteriores e dificilmente ingressaremos na segunda Roda
de Moinho.
Sem devoção, sem nos ligarmos às
Divindades e aos mestres, acumularemos ego e desenvolveremos um hiper ego. Sem reverência e devoção, podemos até chegar
ao segundo nível mas nunca teremos um espírito universal. Não atingiremos o terceiro nível.
Essa Trilogia Taoísta no trabalho
espiritual não é meramente uma doutrinação.
É a técnica, a pura experiência dos mestres anteriores.
A Grande Abertura do Sopro
A Grande Abertura do Espírito
A Grande Abertura do Espírito Universal
Vêm
através de 3 fenômenos:
A Roda de Moinho do Sopro
A Roda de Moinho do Fogo Líquido
A Roda de Moinho Púrpura, da Luz
Púrpura
E
acontecem através de uma meditação tipicamente da Alquimia Superior. Tudo sempre parte do puro conceito do Taoísmo
que vem sendo acontecido desde o que se encontra no Tao Te Ching.
Por isso, Mestre Maa sempre diz: Não existe um Taoísmo autêntico que
contradiga o que Lao Tse disse. Os
ensinamentos de todas as linhagens e ordens e escolas taoístas, tudo, sempre
veio de Lao Tse e sua obra fundamental, que é o Tao Te Ching. Portanto, qualquer ensinamento que seja
completamente contraditório ao Tao Te Ching, esse ensinamento será questionável
em sua autenticidade.
E o Tao Te Ching todo o tempo fala na
transcendência da forma, da linguagem.
Ele fala do Grande Caminho que não tem
nome, não tem forma, não tem sentimento.
É o Absoluto que abrange a Onipotência,
é a Consciência Pura unida ao Sopro Puro.
Num Caminho de auto-realização - que é
a Alquimia -, a grande transmutação tem que estar construída em cima desse
conceito. Se estiver de acordo com esse
conceito, é chamada de Alquimia Superior.
Se não, é chamado de Alquimia Inferior ou Mediana. Sempre se transmuta - porque é uma Alquimia. Mas não é a Alquimia Superior. Ou seja, não é o Grande Caminho.
O Grande Caminho abre para as três
Rodas e as três Aberturas - nos faz nos unir com todas as energias, possui uma
única Consciência, que é Una com todas as Consciências e torna o homem
onipotente.
Essa é a Sagração do Homem.
Para o homem alcançar o estado de
Onipotência, ele precisa, em primeiro lugar, ter o zero, esse Vazio
interior. A meditação. A meditação.
Para que isto aconteça, são precisos
três instrumentos místicos que constituem a base da doutrina taoísta, que são:
A doação - a
devoção - a transmutação
Devoção aos superiores. Transmutação de si próprio. Doação aos companheiros e aos inferiores, a
ajuda, o respeito ao superior.
Trabalha-se sua própria transmutação,
mudando a mente, a emoção, o corpo.
E assim, vem o Grande Caminho.
Parece fácil... mas não é.
É fácil de se compreender. É fácil, é simples, é sintético. O Caminho é único, Ele é simples. Quando o Caminho é fragmentado, ele é
complicado; quando o Caminho é único, Ele é simples.
Mas.... torna-se difícil para nós. E por que?
Porque somos muito viciados na vida fragmentada.
Vivemos nosso cotidiano atuando de
maneiras diferentes com as diferentes pessoas.
Nossos conceitos sociais, morais,
éticos, mudam - todo o tempo. Portanto,
nós não temos uma única consciência, um único princípio. Ao mesmo tempo. Apesar disso, o Taoísmo fala que precisamos
ter um único princípio. Mas esse único
princípio não tem que ser rígido, absoluto, uma doutrina rígida.
Não.
Nós temos que ter ao mesmo tempo o mesmo espírito interior para
encararmos todas as coisas, mas também saber trabalhar cada coisa como uma
coisa diferente da outra.
Dessa maneira, atuamos com a mesma
consciência para tratar as diferentes pessoas.
Voltando ao texto:
A boa
caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra
não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo
não utiliza medida nem número
Medida e número são valores, são
linguagens.
Uma vez mais, Lao Tse está nos dizendo,
nos lembrando: não se mede o infinito
através os instrumentos finitos. Menos
ainda se alcança o Absoluto através de instrumentos limitados ou medidas.
As boas palavras são não-palavras. São palavras das não-palavras. São o silêncio do Absoluto que não pode ser
enunciado. Mas por isso elas não deixam
imperfeição, não podem ser criticadas.
Chuang Tzu, em um de seus contos, diz
que quando um grupo de pessoas só encontra discordância em suas palavras, a
concordância só virá com o silêncio, na ausência das palavras.
Esse é um dos conceitos que influenciou
fortemente o Zen Budismo. Para o Zen, a
grande perfeição não está na palavra.
A boa palavra - a palavra do Grande
Caminho - é a não-palavra. E essa
não-palavra não pode ser a ausência da palavra.
É a não-palavra de todas as palavras quando tiverem palavras. A não-palavra em nenhuma palavra quando não
houver palavras.
Com essa compreensão, vem o conceito do
Taoísmo do não-julgamento, a não-conceituação.
É simplesmente o fluir natural.
Não deixe de falar quando tiver que
falar. Mas não falar com intenção, não
falar com premeditação, não falar com julgamento. Mas falar o que deve ser falado. E não falar quando não tiver que falar.
E não julgar quando tiver que falar ou
não-falar. Simplesmente a palavra com a
não-palavra. A não-palavra está dentro
da palavra.
Quando precisamos de um instrumento
material e físico para poder nos interiorizar, essa interiorização ainda não é
a interiorização absoluta ou autêntica.
Por isso, a boa interiorização não
precisa de ferrolho para ser fechada.
Como não há ferrolho para fechar, então não há nada para se colocar
dentro.
Uma boa Fixação na meditação faz com
que a respiração pare e a consciência entre em estado Zero.
Nessa hora, ninguém pode interferir em
tirar você, alterar você. A Consciência
está em absoluta quietude. Esse é o
estado como se fosse uma porta fechada que ninguém pode abrir, a não ser você.
Uma tradição hermética - como a Alquimia -, deveria ser compreendia
não apenas com um segredo (tradição secreta que somente os iniciados sabem) -
embora suas técnicas sejam passadas secretamente.
Mas, o verdadeiro hermetismo está no
Caminho Interior - porque a verdadeira Alquimia acontece dentro da Fixação.
A verdade Alquimia acontece dentro da
Fixação. Dentro da Alquimia. Não se entra dentro do Caldeirão do Mestre
para se descobrir os segredos do Elixir realizado e o Corpo Solar construído -
e assim é o processo da Alquimia. Não
entra porque a porta está fechada e essa porta não tem forma, não tem ferrolho,
não tem como abrir.
Na paranormalidade, depende de um fio,
depende de uma linguagem. Todas as
chaves que abrem as Portas do Mistério, são linguagens.
A linguagem pode ser uma palavra-chave,
pode ser um Mantra, pode ser uma visão, uma energia, o que for. Mas a partir do momento em que se entra no
Zero do Absoluto, é como se estivéssemos dentro de um cilindro onde não existem
aberturas. Como se fosse um ovo
perfeito, sem furos.
No mais importante Tratado Místico do
Taoísmo - Tratado da Salvação do Homem - , se diz:
O Venerável Senhor Celestial do
Princípio Inicial dos Infinitos Céus Anteriores, invocou todos os deuses de
todas as direções e os colocou junto com Ele em uma pérola do tamanho da
semente de um alpiste, juntou todos os senhores deuses de todos os tempos e de
todos os universos.
E lá dentro da pérola, foi revelado o
Mistério de todos os Universos e de todos os Tempos e de todas as Direções.
Essa revelação dentro dessa pérola é exatamente a idéia de
entrar dentro de um ovo e de onde não há retorno.
Todos os deuses de todos os tempos e
todas as direções representam todas as consciências onipotentes de todos os
lugares e de todos os universos, absorvidos pelo Senhor Celestial do Princípio
Inicial - que é o próprio Absoluto.
O Vazio convocou o Zero do Vazio
Absoluto e invocou a Onipotência de todos os tempos para dentro do Vazio. O Vazio engoliu a Onipotência e tudo
desapareceu dentro dEle e dentro dEle, o Mistério foi revelado.
Essa é a macrovisão que tentamos
realizar em estado de microcosmo e tentar penetrar dentro do estado do
Absoluto.
Essa entrada, na Alquimia, é chamada de
Portal Negro.
Entrar no Portal Negro significa o que
Lao Tse diz:
A boa porta
não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode
ser aberta
E aí, o grande fenômeno acontece e não
se sabe quando começa nem quando termina.
E as Rodas de Moinho acontecem em três
etapas e tudo isso abrirá os três níveis de realização espiritual:
O Sopro
O Espírito
E o Espírito Coletivo.
E, ao final de cada etapa, consegue-se
o resultado chamado A Pérola da Imortalidade ou Elixir da Imortalidade.
O primeiro Elixir chama-se Elixir do
Sopro.
O segundo Elixir chama-se Elixir do
Espírito
O terceiro Elixir chama-se Elixir do
Espírito Coletivo
Essas etapas levam anos e começam a
partir da Iniciação.
Esse Elixir é o que Lao Tse diz na
última frase do primeiro verso:
O bom nó não
necessita de corda para ser atado
E não pode
ser desatado
O Elixir é coagulado. A Coagulação do Elixir é fazer o nó, é
concentrar uma força energética e espiritual e espiritual coletiva como
resultado dessa prática. Apenas que esse
nó não é feito de nenhuma matéria do Céu Posterior - portanto, não é uma corda.
Numa escala mais inferior, explica-se
que a Verdadeira Alquimia não é feita de nenhuma matéria além do próprio
Espírito e o Sopro do Céu Anterior. É
uma Consciência anterior à criação do universo, uma energia.
A aquisição dessa matéria-prima é o que
faz o verdadeiro Elixir. Por isso, não
se chega ao Elixir forjando-se minerais ou metais nobres ou ervas ou luzes ou
cálculos astrológicos, veia do dragão, etc.
Todos estão fóra da realidade porque são impermanentes, são linguagem,
são matéria - sutil ou densa. Tudo isso
são portas.
Somente algo que esteja completamente
fora da linguagem é que realmente pode ser a verdadeira, a autêntica
matéria-prima para a construção da imortalidade: a Vida e a Consciência
Infinitas.
Essas são as últimas palavras da
Alquimia.
O universo do misticismo é muito
complexo. No Grande Caminho da Sublime
Alquimia quase tudo é ilusório - porque tudo fica dentro da limitação do Céu
Posterior. Somente ao rompermos a barreira do Céu Posterior e conseguirmos chegar
ao Céu Anterior, conseguiremos alcançar a Vida Infinita e a Consciência Pura.
Não havendo a união dessas duas, não
encontraremos a Grande Iluminação e a Grande Imortalidade. Não encontrando a Imortalidade, com a Vida e
a Consciência Infinitas, não estaremos livres da transmigração, dos 3 caminhos,
das 3 fronteiras, dos 3 mundos.
Ainda seremos aqueles que transmigram
mesmo se formos para o Reino Celestial, numa condição melhor do que a
nossa. E não rompemos essa grande casca
de ovo que se chama Universo. Não
alcançaremos a absoluta libertação.
O que o Taoísmo propõe?
O Taoísmo propõe que o homem alcance a
absoluta libertação..... para que possamos nos libertar do próprio universo,
par que possamos nos libertar da própria condição humana.... e para que não se
precise renunciar à condição humana e universal, mas sim abraçar tudo isso com
a absoluta naturalidade.
Libertar-se do mundo na significa
afastar-se do mundo. Abraçar o mundo não
significa ser aprisionado pelo mundo.
Entrar e sair sem ser prisioneiro de nada e ao mesmo tempo, estar em
toda parte.
É uma viagem ousada, grande. Esse é exatamente o propósito de Lao Tse.
Para a cultura cristã, tudo isso pode
parecer prepotente. Para o Taoísta, isso
é natural.
Portanto, fazer isso não é
ousadia. Fazer isso é natural. Isso é grande.
No Taoísmo, é importante se pensar que
a grande realização espiritual não é ousadia.
A grande realização espiritual é praticamente um dever, é algo natural.
Portanto, não existem culpa ou temor
diante da nossa vontade de nos realizarmos e de alcançarmos a libertação.
Somos livres, essencialmente.
Somos imortais, essencialmente.
Mestre Maa nos diz que no Taoísmo não
precisamos ter medo de usar frases e conceitos existentes em outras
religiões. Isso não significa fusão ou
sincretismo. Significa ouvir e pensar,
sem perdermos nosso Caminho.
Bem, o Buda disse: Todos os seres são Budas adormecidos. E todos os Budas são homens despertados.
Todos nós somos um Buda, um grande
iluminado, um grande esplendor.
E todos os grandes esplendores, grandes
avatares e mestres espirituais, são homens comuns como nós, que despertaram.
Nós, estamos dormindo.
Para o Taoísmo, todos nós somos
imortais. Todos nós temos a Vida e a
Consciência Infinitas. Apenas que
precisamos despertá-las, tirar as cascas e os laços que nos amarram, para que
alcancemos a liberdade.
Compreendendo isso, Lao Tse diz:
Assim, o
Homem Sagrado
É constante e
bondoso
Salva homens
e não abandona homens
É constante e
bondoso
Se não nos limitamos pelo tempo e pelo
espaço, somos constantes. Se caminharmos
e não deixarmos rastros, se nossa palavra não tem imperfeição e não atrai
críticas, se fizermos cálculos sem números, se conseguirmos nos interiorizar
sem nos fechar para o mundo, se conseguirmos nos realizar sem precisarmos de
nenhum instrumento para criar essa realização, então, tudo isso será a
verdadeira bondade.
Por isso, Lao Tse diz:
Assim, o
Homem Sagrado
É constante e
bondoso
Salva homens
e não abandona homens
É constante e
bondoso
Salva coisas
e não abandona coisas
Isso se chama
herdar a luz
Temos que transcender as limitações
emocionais, físicas e mentais.
Transcender não significa deixar de ter
pensamentos, deixar de ter emoções, deixar de ter corpo físico.
A pessoa que transcende a sua condição
inferior, renunciando tudo e fugindo, ela está isolada e não pode salvar
homens. Por que? Porque essa pessoa não abraça mais os
homens. É um falso sábio que se refugia
na montanha para não mais ver o mundo, para não ser pervertido pela sedução do
mundo. É o eremita que se afasta de
todos para não ser desafiado e não ser seduzido pelos prazeres comuns. Por que?
Porque ele não consegue viver o prazer do mundo, por isso tem que fugir. Ao se encontrar com os prazeres do mundo, ele
pode se sentir seduzido. E por isso
foge, porque não consegue transcender por inteiro.
O Homem Sagrado transcende e ao mesmo
tempo, abraça todas as coisas. Ele se
torna um Zero, como o Vazio que abraça todas as coisas. Por isso, Ele ama os homens, salva os homens
e não abandona os homens. Ele salva todas
as coisas e não as abandona.
Assim, no último estágio, o mais alto
nível da realização da Alquimia, os grandes mestres da transmutação não
abandonam o corpo físico. Eles
transmutam a matéria-prima e ascensionam com o corpo inteiro, em forma de nuvens.
Os mestres de níveis mais baixos, que
criam o Corpo Solar, ainda deixam o corpo físico na Terra. Eles ascensionam apenas com o Corpo Solar e
isso ainda não é a perfeição.
Os mestres de níveis ainda mais
inferiores que não conseguiram ainda
formar o Corpo Solar, vão entrar na lei da transmigração e no máximo, conseguem
ir para o Reino Celestial e mesmo assim, não conseguem o Corpo Solar.
Isso se chama ‘herdar a luz’.
No corpo dos grandes mestres, é essa a herança da luz que está em
toda parte.
No Taoísmo, existem quatro grandes
escolas de magia. Todas as quatro
escolas foram fundadas por mestres ascensionados da Alquimia e não da
magia. São alquimistas que ascensionaram
e deixaram o conhecimento da magia como instrumento para que seus discípulos possam
ajudar outras pessoas.
Na teologia taoísta, esses quatro
grandes mestres são os quatro ministros do Rei de Jade.
Todos ascensionaram e um deles é o que
fundou a Ordem que seguimos - a Ordem Ortodoxa Unitária - o Mestre
Celestial. Todas a quatro Ordens foram
fundadas por Mestres Celestiais. Todos
ascensionaram juntamente com o corpo físico.
Um desses mestres, em sua ascensão, não apenas transmutou seu corpo
físico e subiu em plena luz do dia, como também levou consigo cerca de
cinqüenta pessoas,de sua aldeia, que eram seus discípulos e serviçais, também
cachorros, galinhas, e um tigre.
Enquanto vivia, seu tigre preto era sua montaria. Em sua ascensão, raios, trovões, luzes, tudo
flutuava no espaço e tudo subiu junto.
Nosso Mestre Celestial também tinha
como montaria um tigre, mas um tigre comum.
Se o mestre possui muita real força,
seu momento de ascensão pode ser forte o bastante para ascensionar todo o resto
em torno de si. Tudo depende do tamanho
do coração do mestre.
Em textos sagrados antigos, diz-se que
em outros universos, nos infinitos tempos passados, alguns mestres eram tão
poderosos que em sua ascensão carregavam
consigo mesmo toda uma civilização e então se
formava, imediatamente, uma legião celeste.
Na Terra, há mais de cinco mil anos atrás, a ascensão do Rei do Mistério,
levou consigo quase toda a tribo formando uma grande legião que é extremamente
poderosa. Todo o trabalho de magia
envolve esta legião.
Em seguida, como Lao Tse fala em boa
caminhada, boa palavra, bom cálculo, boa porta, bom nó - tudo isso é o
Absoluto, a não-forma...., portanto tudo isso forma o homem bom, que é aquele
que vive a condição do Absoluto, o Homem Sagrado.
O homem bom é
mestre daquele que não é bom
O homem que
não é bom é o recurso daquele que é bom
Esta frase diz o mesmo que o Buda disse:
Todos os seres são Budas adormecidos.
E todos os Budas são homens despertados.
O homem que ainda não é bom, é um
recurso a ser transformado em bom.
O homem que já é bom, tem o poder de
transformar aquele que ainda não é bom.
Recurso é a matéria-prima a ser
trabalhada.
Nós, que somos adormecidos, temos que
nos trabalhar para podemos nos iluminar.
Ainda bem que não somos iluminados...
por isso ainda podemos iluminar. Ainda
bem para aqueles que são iluminados e por isso Eles podem nos iluminar.
Por isso, não existe bem ou mal. Existe o bem que é a absoluta iluminação: a
Vida e a Consciência Infinitas.
E aquele que ainda não é bom, porque
ainda não alcançou a vida e a consciência infinitas, pode alcançar - por isso é
um bom recurso.
Compreendendo isso, Lao Tse diz:
Quem não
valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo
inteligente, permanece enormemente desorientado
Não adianta sermos muito
inteligentes. Se não iluminamos, não
teremos a verdadeira compaixão de amarmos nossos recursos (nossos discípulos,
as pessoas).
Não havendo uma realização espiritual,
não valorizando o mestre com devoção, buscando nossa própria ascensão, não
adiante sermos inteligentes. Essa
inteligência seria uma inteligência que não é boa. Inteligência, quando não é boa, pode até ser
nociva.
A tudo isso
denomina-se Maravilha e Essência
Esses são ensinamentos maravilhosos e
essenciais do Tao. Todo Taoísta tem que
compreender esses ensinamentos para poder, com os recursos, transformar-se em
mestre; para poder alcançar a iluminação, para transmutar, para ter devoção e
doação; para queimar Karmas através da doação; para buscar a conexão com os
superiores através da devoção e esforçar-se por si próprio através da transmutação.
...............
Foto: Sítio das Estrelas
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 27
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 17 de janeiro de 1995
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se
a realização
da publicação, das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching