TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 20
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro,
em 08 de novembro de 1994
Capítulo 20
No
ensinamento pela supressão não há preocupações
Entre aceita
e repudiar, qual a diferença?
Entre
apreciar e desprezar, qual a distância?
O que os
homens temem, poderiam não temer?
Abandone isso
antes que se esgote!
Os homens se
agitam como um festejo na grande prisão
Ou como subir
à varanda na primavera
Meu corpo não
tem expressão
Como uma
criança antes de nascer
Como a
estrela Kuei que não tem onde se apoiar
As pessoas
todas possuem em excesso
Somente eu
aparento estar perdendo
Sou como um
ignorante que tem o coração puro
Os medíocres
vivem lúcidos
Somente eu
aparento estar confuso
Os medíocres
vivem lúcidos
Somente eu
estou introspectivo
Indefinido
como uma infinita noite silenciosa
As pessoas
todas têm um ego
Somente eu o
ignoro considerando-o precário
O que quero
que me distinga dos demais
É valorizar o
alimentar-se da Mãe.
“O ensinamento pela supressão” refere-se ao
ensinamento que é capaz de cortar os vícios, os apegos às formas, os apegos aos
desejos, os apegos aos vícios. Desse
modo, podemos nos libertar desses laços que impedem a expressão de nossa
liberdade, que nos impedem de viver uma consciência mais plena, que nos impedem
de ter uma fluidez em nosso destino.
Quando Lao Tse diz
No ensinamento
pela supressão não há preocupações
, nos mostra que é necessário que
recuperemos nosso caminho e nossa virtude, que recuperemos nosso caminho
espiritual e que vivamos esse caminho naturalmente.
Em seguida, Lao Tse faz uma série de
análises. Ele questiona:
Entre aceitar
e repudiar, qual a diferença?
Entre
apreciar e desprezar, qual a distância?
O que os
homens temem, poderiam não temer?
Basicamente, Ele quer dizer que entre
aceitar e repudiar, não há diferença.
Entre apreciar e desprezar, não há distância. E aquilo que os homens temem, também nós
devemos temer.
O que significa aceitar e
repudiar? Aceitar é o que gostamos e
repudiar é o que não gostamos. Tanto
aceitar como repudiar são formas de apego.
Então, dentro da condição do apego, aceitar ou repudiar são a mesma
coisa..... mesmo que muitas vezes nós consideremos que aceitar é uma virtude e
repudiar é um defeito.
Também, muitas vezes consideramos como
qualidade uma pessoa que sabe apreciar as coisas... tudo o de bom e do melhor
no mundo... e consideramos algo ruim com desprezo.
Se uma pessoa consegue apenas apreciar
e não desprezar ou uma pessoa que só consegue desprezar - essas pessoas vivem
nas polaridades, nas extremidades: um lado como antítese do outro. Por isso, Lao Tse diz que não há distância
entre apreciar e desprezar. Ambos estão
no mesmo ponto. Não há diferença entre
aceitar e repudiar porque são dois lados da mesma moeda.
É preciso, portanto, estar acima do
apreciar e do repudiar, do aceitar e do desprezar para se poder ter
discernimento.
O discernimento não é julgamento. Julgamento é exatamente aceitar ou repudiar,
apreciar ou desprezar. Discernimento é
saber fazer a escolha certa simplesmente sem que essa escolha crie uma série de
reboliços ou murmúrios interiores. É
saber fluir no destino: quando é necessário fazer uma escolha, uma opção,
simplesmente optar pelo caminho que é natural, que é melhor, que é conveniente
para a pessoa que está vivendo aquele momento, aquele instante, aquela
situação. Fazer a opção sem cultivar
remorsos posteriores. Fazer a opção sem
temor antes, sem medo de escolher o caminho da direita ou da esquerda... o que
vai acontecer? É preciso fluir no
destino e simplesmente fazer aquilo que deve ser feito e, depois de ter feito, não ficar mais remoendo...
Mestre Maa sempre diz que não devemos
ficar preocupados antes de fazer uma coisa e não ficar remoendo, arrependidos,
por aquilo que já foi feito. O que é
preciso é na hora de fazer tomar uma atitude consciente e seguir em frente,
simplesmente.
Dessa maneira, nós podemos viver a cada
instante e não viver com antecipação e nem viver o passado que já se foi. Se uma pessoa a cada instante ficar
questionando o que fez no passado, estará esquecendo de viver o presente. Se uma pessoa ficar antecipando algo que
ainda não aconteceu, também não estará vivendo o presente. O que então acontece? A pessoa vive sempre com a consciência
deslocada no passado ou no futuro, fóra da realidade, fóra do presente. Assim, vive-se um longo tempo da vida sem grande
parte da vida ter sido realmente vivida.
O que os
homens temem, poderiam não temer?
Normalmente, o que mais se teme são a vida e a
morte. Considerando a infinitude e a
constante transmigração da alma, nós temos vida encarnada e vida desencarnada. Uma pessoa que não está viva, está
morta. A vida desencarnada também
desenvolve um temor pela nova vida que irá encarnar. Igualmente, uma pessoa que está vida, diante
da morte, fica incerta e com temor diante da nova vida que irá enfrentar.
Até o realizador da Alquimia, aquela
pessoa que segue o caminho espiritual, também tem o temor do desconhecido,
apenas que este temor é de diferente qualidade.
Uma pessoa que não segue o caminho da iluminação da consciência teme
simplesmente pelo desconhecido que virá em frente. Uma pessoa que segue o caminho da Consciência
Iluminada, não teme pelo desconhecido à frente mas sim teme pela repetição
infinita desse desconhecido que virá a viver ainda outras vezes. O temor, nesse caso, é que tenha que repetir
tudo de novo.
É necessário, então, que dentro de
nossas vidas nos esforcemos o mais possível para alcançarmos um maior grau, um
grau mais alto de iluminação para que nossa caminhada cada vez se desenvolva em
direção a uma dimensão mais elevada e mais iluminada.
Em seguida, Lao Tse diz:
Abandone isso
antes que se esgote!
Ou seja, antes de esgotar a vida.
Antes de virmos para essa vida, nós
nascemos com um monte de sementes transmigratórias que trouxemos de outras
vidas. Essas sementes são como
cristaizinhos concentrados de nossa alma desidratada de outras vidas. Nós viemos com mil apegos, vícios,
frustrações, costumes, hábitos, mil loucuras, mil felicidades, mil desejos; e
quando chega a hora da morte essa grande aglomeração de memórias que se chama
“alma humana” vira cristaizinhos. Esses
cristaizinhos são como se fosse a água salgada do mar, que se desidrata. Quando esses cristais são jogados dentro de
uma nova água, com o tempo acabam se diluindo fazendo com que essa água se
torne novamente uma água salgada.
Um bebê recém-nascido traz as memórias
de suas vidas passadas ainda em forma de cristaizinhos, ainda não manifestas
com intensidade e com amplitude. Numa
água bastante límpida são colocados os cristaizinhos, e conforme a vida vai
acontecendo, com a ansiedade e com as aflições, a água límpida começa a aquecer
os cristais e a dissolvê-los. A água vai
ficando mais e mais salgada. Essa água
límpida do princípio é a nossa Pura Consciência. Ao incorporarmos mais e mais questões de
nossa alma de vidas passadas, a água vai ficando turva, grossa e salgada, ressuscitando todos os
vícios passados - mesmo que não tenhamos consciência disso - e nossa vitalidade
vai se reduzindo.
Enquanto nós vivemos, essa consciência
da água junto com a alma vai podendo ser trabalhada através de um processo
espiritual. Esse processo espiritual vai
filtrando e jogando fóra esse sal, tentando recuperar a água límpida e
pura. No entanto, se isso não for feito
a tempo e se não for realmente feito, teremos que encarar uma outra morte e
carregar todos esses cristaizinhos novamente para uma outra vida. Também é possível que esse punhado de
cristais aumente ou reduza - dependendo de como a vida foi vivida.
Por isso, Lao Tse diz que antes de
esgotarmos nossa vida, devemos abandonar o mais rápido possível, os vícios da
alma do passado através de um caminho espiritual. O caminho espiritual é o Caminho da
Conscientização. Não é uma
conscientização racional mas sim um processo que faz com que a nossa
Consciência Pura cada vez mais se amplie, cada vez mais se torne iluminada, nos
trazendo uma limpidez interior. Não é um
fenômeno de ver luzes e sim de trazer para nós uma lucidez diante de cada
acontecimento de nossa vida. Lucidez de
atitudes em relação a nós mesmos e em
relação a todas as coisas em torno de nós.
Lucidez para podermos enxergar e ver as coisas e compreendê-las.
Dentro do Taoísmo, devemos trabalhar
para que as pessoas que têm menos condições possam ter alguma chance de se
iluminar. Num mosteiro tradicional
taoísta, existem três rituais diários: pela manhã, o ritual da purificação; ao
meio-dia, o ritual da oferenda; e à noite, o ritual da distribuição. Neste último, a distribuição é feita para
aquelas pessoas que estão abaixo da condição humana de uma pessoa viva, ou para
pessoas que estão no mundo da obscuridade, ou para pessoas que estão muito
próximas de nós mas que não conseguem enxergar, tomar contato com a luz. O Ritual da Distribuição é realizado para
beneficiar esses seres.
Em seguida, Lao Tse diz:
Os homens se
agitam como um festejo na grande prisão
ou como subir
à varanda na primavera
Isto quer significar que somos
prisioneiros do mundo físico, somos prisioneiros de nossos hábitos, costumes,
apegos e vícios e não percebemos isso, continuando num estado de festejo e
esses festejos nos levam a não termos a consciência da realidade. Festa é algo fóra da rotina. A festa nos leva para fóra da realidade. Às vezes, estar fóra da realidade serve
terapeuticamente como alívio: naquele momento estamos isolados temporariamente
dos problemas. No entanto, de uma
maneira geral, os seres humanos passam suas vidas como se estivessem dentro de
uma festa para não verem a realidade e, conseqüentemente, não precisarem
trabalhar essa realidade.
Tudo o que é difícil a gente tem a
consciência de quer jogar fóra; mas tudo
o que é fácil a gente não quer jogar fóra.
Se jogarmos fóra aquilo que consideramos agradável, podemos ser tachados
de loucos. Por isso, a frase: “Entre
apreciar e desprezar, qual a distância?”
Não há distância alguma: é o apego pelo repúdio ao desagradável ou o
apego por aquilo que sentimos como agradável.
Ambos fazem parte da grande festa
dentro de uma prisão ou ambos fazem parte da grande festa da primavera.
Até este momento, Lao Tse estêve
falando da pessoa comum. De agora em
diante, Ele estará falando em como seria o Homem Iluminado.
Meu corpo não
tem expressão
como uma
criança antes de nascer
como a
estrela Kuei que não tem onde se apoiar
A
criança antes de nascer é um estado de caos primordial. A criança dentro da barriga da mãe tem
consciência mas não tem ego, ou seja, a criança tem consciência mas não tem uma
consciência pensante, não tem uma consciência que julga, não tem uma
consciência que gosta ou não gosta, de repudiar ou aceitar. O Homem Sagrado, o Homem Iluminado, o
Imortal, é o homem que vive - apesar de já nascido e crescido - como um bebê
antes de nascer. Ele tem consciência mas
não tem julgamento; ele tem discernimento, faz escolhas, opções, come, bebe,
caminha, trabalhar; faz o que precisa ser feito apenas com a consciência mas
não com a mente. Mente e julgamento são
frutos do ego.
O ego encarna na véspera do nascimento
e anterior a esse período, a alma ainda não existe no bebê, apenas o
espírito. A partir do momento da fecundação,
entra uma consciência dentro da barriga da mãe.
Essa consciência é a consciência universal. O corpinho do bebê ainda está sendo preparado
para a recepção da alma que entra na véspera do nascimento. Enquanto a alma não entra, o corpo do bebê é
genuíno e tem uma consciência pura.
Igualmente, quando a alma entra dentro
do corpo do espírito após o nascimento, podemos atrair um trabalho espiritual
que limpe a nossa alma - ficando apenas com o espírito - e então retornamos ao
estado de quando éramos bebês, antes do nascimento. Por isso, Lao Tse diz: “Meu corpo não
tem expressão” - é o corpo do caos
primordial. Esse corpo não é somente o
corpo físico e sim refere-se à totalidade do ser porque somos múltiplos corpos
um dentro do outro, interpenetrando-se, formando um universo microcósmico.
Lao Tse diz que este estado é como se fosse “a estrela Kuei que não tem
onde se apoiar”. A estrela Kuei é a Alfa
da Ursa Maior. O centro do céu no
hemisfério norte é ao lado da estrela Polar, na constelação da Ursa Menor - que
está ao lado da constelação da Ursa Maior.
Durante as quatro estações do ano, a
Ursa Maior vai apontando como se fosse um ponteiro de relógio em direção e em
torno desse centro do céu. É um ponto
sempre apontando para frente, a estrela
Kuei.
Quando Lao Tse diz que o Homem Sagrado
não tem expressão, anula seu ego e não se apóia em nada, apóia-se no vazio do
centro do céu que tem todas as suas expressões manifestadas em torno desse
vazio do centro.
As sete estrelas da Ursa Maior
correspondem aos sete níveis de consciência, aos sete aspectos psicológicos,
aos sete centros energéticos; e assim por diante. Vemos
então, esse ponto de luz fazendo um movimento sobre o ponto inicial do
céu. A Alfa da Ursa Maior não está
apoiada em nada. Igualmente, a
consciência do Homem Sagrado apoiai-se no Vazio do Absoluto. Não se apóia no ego, nem se apóia no
pensamento, nem no julgamento, nem em nada... e por isso todas suas atividades
racionais, mentais, emocionais e físicas giram em torno de um grande vazio de
uma maneira absolutamente de acordo com a ordem cósmica.
Não quero dizer que o Homem Sagrado não
tenha emoção, nem pensamentos, nem sentimentos.
Apenas que, estas emoções, estes pensamentos e estes sentimentos são
pura expressão do Vazio. Nada nasce do
ego, não tem sensações que se apóiem no ego, não tem pensamentos que se apóiem
nas vidas passadas, na vida presente ou na vida futura. Não tem conceitos nem preconceitos, etc. Tudo é simplesmente pura expressão, feito a luz da estrela que nasce do Vazio, a
expressão da Consciência Pura.
Nos textos esotéricos do Taoísmo se diz
que temos três almas e sete corpos. A
Ursa Maior tem sete estrelas e dois complementos. Os complementos são estrelas não muito
iluminadas. Na astrologia chinesa bem
como na astronomia moderna, dizem que ao fundo da estrela Kuei existe uma
antítese de si mesma, uma estrela negra, ou seja, existe um ponto que não é uma
estrela física, que é representado pelo Yin.
São pontos de forças Yang versus a escuridão Yin. É um ponto de força como se fosse a Lilith da
astrologia.
Podemos então trabalhar os sete corpos
que existem dentro de nós e o primeiro corpo é exatamente a Alfa da Ursa Maior,
que é a estrela Kuei. O que é Alfa? Alfa é a consciência primeira e é o corpo
mais sutil dos sete corpos. O corpo mais
denso é o último/sétimo corpo e é o corpo físico.
Na magia exorcista taoísta, uma das
maneiras de trabalhar é com a sétima estrela, ou seja, trabalha-se até o nível
físico. Existe uma divindade que tem
oito braços e três rostos, seu corpo é azul e usa um colar grande cheio de
carreiras e representa a sétima estrela.
Em seguida, Lao Tse diz:
As pessoas
todas possuem em excesso
somente eu
aparente estar perdendo
sou como um
ignorante que tem o coração puro
As pessoas estão sempre querendo mais e
mais. Normalmente, nós possuímos em excesso, fisicamente,
emocionalmente, mentalmente. Estamos
sempre assimilando coisas. Mesmo que
sintamos que nossa vida afetiva é uma desgraça, essa “desgraça” é algo que não
precisamos mas que assimilamos porque dizemos que nossa vida afetiva é uma
desgraça. Muitas vezes pensamos que
estamos repudiando e assim retornamos à frase inicial “Entre aceitar
e repudiar, qual a diferença?”. Quando
aceitamos, estamos assimilando algo.
Quando repudiamos, também estamos assimilando algo para nós. Apenas que no primeiro caso, estamos
assimilando algo que gostamos e no segundo, estamos assimilando algo que não
gostamos. Pensamos que não estamos
assimilando aquilo que não gostamos; mas, a partir do momento que detestamos
alguma coisa, teremos essa coisa em nosso lado Yin e não do lado Yang. Apegar-se ao lado negativo e apegar-se ao
lado positivo, é a mesma coisa, é o mesmo apego. O apego é um vício muito difícil de ser
jogado fóra.
Quando aparentemente o Homem Sagrado
está perdendo as coisas da vida, na verdade, ele está preservando o Caminho da
Consciência. Por isso, Lao Tse diz: “Sou como um
ignorante que tem o coração puro”.
O coração puro é aquele que abraça a Consciência Pura dentro de si. Muitas vezes é bom aprender a ser bobo, a
parecer ignorante. Uma pessoa que tem a
tranqüilidade da vida interior, passa por situações que outros podem achar que
são situações humilhantes ou ridículas.
No entanto, para aquela pessoa, não faz a menor diferença.
Os medíocres
vivem lúcidos
somente eu
aparente estar confuso
os medíocres
vivem lúcidos
somente eu
estou introspectivo
indefinido
como uma infinita noite silenciosa
Neste trecho, Lao Tse é um poeta.
Os medíocres são aqueles que não são
nem iluminados nem ignorantes.
Ignorantes são aqueles que não têm luz suficiente nem para serem
lúcidos. Os Iluminados não são lúcidos,
são simplesmente transparentes, quietos.
Nós, por exemplo, somos os medíocres - pessoas medianas. Medíocre pode ser uma palavra muito forte.
Não somos os ignorantes que nada vêem -
mas também não sofrem e não sabem o que está acontecendo. Não somos iluminados que são aqueles que não
sentem sofrimentos apesar de viverem toda a realidade que vivemos.
O tempo inteiro somos espertos, estamos
‘ligados’: isso é um estado de lucidez.
Isso é um desgaste da consciência pura.
Todo o tempo estamos transformando consciência pura em atividade mental,
em atividade racional ou atividade emocional.
Isso é um desgaste da consciência pura: estamos gastando nosso
combustível espiritual chamado Consciência Pura.
Somente eu
aparente estar confuso
O Homem Sagrado de consciência
iluminada é aquela pessoa que parece estar confusa porque não tem o tempo todo
que estar determinando coisas. Aparenta
estar confuso mas não é confuso. Como
Mestre Maa diz, devemos aprender a ser ignorantes - não na realidade e sim na
aparência.
Quem segue o caminho do Tao tem a
consciência interiorizada, é mais introspectivo, gasta menos tempo com coisas
desnecessárias da vida. O Homem Sagrado
vive o caos primordial aqui definido como “uma infinita noite silenciosa”.
Imaginemos uma noite silenciosa e
infinita, com tranqüilidade e calma. É
assim o estado da meditação. Quando
meditamos, colocamos a consciência dentro de um processo de introspecção para
entrarmos num estado de uma infinita noite silenciosa onde tudo é tranqüilo,
tudo é silêncio, tudo é quieto e harmonioso; onde não há a agitação do
pensamento ou da emoção, onde não existem preocupações, onde existe apenas uma
paz interior.
O infinito é a ausência do tempo. Num estado de infinitude, não há tempo. É constante.
As pessoas
todas têm um ego
somente eu o
ignoro, considerando-o precário
O ego cria a personalidade. O Homem Sagrado considera o ego como algo
muito precário. Todos nós temos
ego. Algumas pessoas chamadas de
talentosas, brilhantes, excepcionais, são pessoas que praticam o ego. São pessoas ofuscantes, fóra do convencional
e sabem se destacar: são pessoas com muito ego.
O Homem Sagrado acha que o ego é algo
muito precário. Acima disso está a
ausência do ego. Por isso, o Homem
Sagrado joga o ego fóra.
O que quero
que me distinga dos demais
É valorizar o
alimentar-se da Mãe
Alimentar-se da Mãe é alimentar-se
daquilo que deu origem. É uma concepção
matriarcal. Significa alimentar-se do
Sopro-Uno-do-Céu-Anterior: alimentar-se da energia que criou o universo.
Na cosmogonia taoísta se considera que
antes de o universo existir, teria sido criado por uma energia que chamamos de
Sopro-Uno-do-Céu-Anterior. Essa é a
energia do Absoluto. É o estado entre o
Vazio do Absoluto e a matéria já manifestada do Céu Posterior. Este Sopro-Uno-do-Céu-Anterior é o fruto da
Mãe. É o Vazio primordial, o Vazio do Absoluto e esse alimento que a Mãe
oferece é exatamente a energia primordial que criou todas as coisas.
Na prática da meditação, tentamos
entrar no silêncio da infinita noite para podermos receber esse sopro chamado
Sopro-Uno-do-Céu-Anterior, para sermos renovados e re-criados. Essa energia, quando entra em nosso corpo,
cria o fenômeno chamado de Rodas do Moinho.
As Rodas do Moinho vão varrer os cristaizinhos do nosso ego para
renascermos e renovarmo-nos.
Quando falamos da criação do universo,
estamos falando simbolicamente, como uma maneira de falar. Na verdade, o universo nunca foi criado
porque sempre existiu. Também o Criador
não existiu antes de sua Criação. Todos
existiram em todos os tempos, passado, presente e futuro.
O que existe, existe entre o Universo e
o Vazio e que abrange tudo: é um estado intermediário que liga o Universo e o
Vazio, que não é totalmente Vazio e nem é totalmente manifestado. Essa é a energia que seria a ‘criadora’ do
Universo. O Universo se alimenta dessa
energia. Essa energia faz parte do Vazio
e faz parte do Universo. São três
energias do Universo que co-existem dentro de um estado de infinitude: o
Universo não tem princípio nem tem fim.
Portanto, quando se pergunta acerca o
começo do universo, não haverá resposta porque não deve ser feita a pergunta. Se o universo nunca foi criado e nunca terá
fim, se não tem princípio e não tem fim, não se pergunta o por que e o como se
criou o universo.
Aos filósofos, místicos, religiosos e
cientistas, a nossa resposta é de que “não se pergunta desta maneira”.
Não se diz que o universo se criou a
partir de algo que era o nada. Surge,
então, a questão do porquê se criou o Universo.
O Absoluto criou o Universo... No entanto, o Absoluto não criou o Universo
porque o Universo sempre existiu. O
Universo faz parte do Absoluto - que é o próprio Universo - que é o próprio
Absoluto.
Tecnicamente, esse Universo se alimenta
do Sopro-Uno-do-Céu-Anterior e é abraçado pelo Absoluto. Portanto, o Absoluto abraça o Supro Uno, o
Sopro Uno abraça e nutre o Universo. Os
três juntos são Um. E não têm tempo nem
espaço e não podem ser definidos.
Portanto, não se explica.
...............
TAO TE CHING
O LIVRO DO
CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o
Mestre do Tao
Tradução e
Interpretação do Capítulo 20
do Tao Te
Ching, de Lao Tse,
por WU JYH
CHERNG
Transcrição e
Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de
Janeiro, em 08 de novembro de 1994
Transcrição e
Síntese de Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas
A tradução
dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês
para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo
hoje publicada pela Editora Mauad, São
Paulo, Brasil
Nesta mesma
Editora, encontra-se
a realização
da publicação, as interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao
Tse, o Tao Te Ching