Hua Hu Ching, os últimos ensinamentos de Lao Tse
# 44
"Gentil príncipe", disse o mestre, "os que são motivados para obter a percepção da verdade íntegra deveriam seguir o caminho analisado neste registro sagrado para perceber, compreender e entender tanto o interior como o exterior. Eles não deveriam ser logrados pelas imagens ilusórias da mente. O apego às imagens falsas da mente é o maior obstáculo para se alcançar a consciência da verdade íntegra do universo.
"Gentil príncipe, acreditar na realidade das imagens é igual a acreditar na não-realidade das imagens. As duas coisas são apenas conceitos que separam a pessoa do contato imediato da intuição com a verdade integra. Conhecer a verdade é nada conhecer; no entanto, quando alguém conhece a verdade, nada há de que a pessoa não tenha consciência.
"Ter a visão do todo é não ter visão de nada em particular; no entanto, nada há que possa escapar ao discernimento da pessoa. As pessoas que não são iluminadas ainda não chegaram à verdade íntegra, pois que não podem dirigir sua energia mental quanto a fluir no canal correto. Em vez disso, apegam-se a sistemas de crença totalmente falsos e inflexíveis, compostos de conceitos que derivam da limitação dos órgãos sensoriais. Essas informações deturpadas são armazenadas e organizadas pela memória e pelos sistemas de julgamento. Desse modo, quanto mais alguém conhece e compreende, mais sombra e confusão se instauram. A pessoa se vê continuamente aturdida pelo que conhece e percebe. Se por acaso a pessoa consegue evitar a armadilha do conteúdo do que se conhece e vê, invariavelmente é apanhada nos mecanismos do modo como alguém conhece e vê. Se a pessoa não se confunde com a aparência do que vê, então essa pessoa pode se enganar com aquilo que lhe permite ver. A mente apega-se às imagens falsas que cria. Todo esse condicionamento forma camada por camada dos filtros conceituais por meio dos quais a pessoa encara então o mundo. Assim, não só a percepção que a pessoa tem do mundo é deturpada pela interposição dessas imagens falsas, como também o próprio ser da pessoa se torna deturpado. Isso gera ainda mais obstáculos para se alcançar a verdade íntegra.
"Gentil príncipe, eis por que fazer qualquer coisa para acabar com a perturbação da mente apenas agrava ainda mais a situação. No processo que envolve empenhar-se para eliminar a perturbação da mente, criam-se mais problemas e ainda mais separação. Isso impede a pessoa de entrar em contato com o verdadeiro ser de alguém e de avançar rumo à realidade íntegra do universo. O movimento gerado pela tentativa de acabar com a perturbação da mente, tal como o voltar-se para a religião à procura de amparo ou de saída, é justamente mais um desvio do canal correto em que a energia mental da pessoa deveria fluir. Se, neste momento, a pessoa não se apega ao que vê e conhece, ela pode descobrir a verdadeira introvisão pessoal e, por isso, ver através das situações enganosas da vida. De fato, o apego é a separação da completude da verdade. As promessas da teologia, a aparência da vida e da morte e as atividades humanas todas são inúteis se comparadas à verdade íntegra. Quando a pessoa acaba com a ilusão da separação da fonte da Mente Universal, ela recupera sua mente pura e original. É o acúmulo de pó e imundície, que se reuniram durante a vida na Terra, que impede a pessoa de viver a real experiência da completude da vida. Quando se dá a purificação do pó e da imundície, a pessoa de súbito se torna incomumente iluminada com a consciência da unidade íntegra. Não é por meio da criação nem dos projetos que uma pessoa pode usufruir a consciência da unidade com o corpo cósmico sutil, mas tão-só por meio da experiência imediata do Caminho Universal da vida. Uma pessoa também não pode ter a experiência do Caminho Universal da vida prendendo-se ao que quer que a mente tenha criado; só seguindo o Caminho Universal pode a pessoa ver e conhecer corretamente. A lucidez e a iluminação se realizam sem que haja necessidade de se mover uma palha, de vez que a verdade íntegra sempre é encontrada na verdadeira natureza da pessoa."
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. : O texto acima foi retirado do livro "Hua Hu Ching, os últimos ensinamentos de Lao Tzu", do autor Hua-Ching Ni, pela editora Pensamento, 1995 : .
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. : O texto acima foi retirado do livro "Hua Hu Ching, os últimos ensinamentos de Lao Tzu", do autor Hua-Ching Ni, pela editora Pensamento, 1995 : .
Imagem: Sítio das Estrelas, Janine Milward