O céu é constante, a terra é duradoura

Foto de Caminhos Espirituais.

O céu é constante, a terra é duradoura

Janine Milward

O céu é o tempo e a terra é o espaço. O tempo existe todo o tempo, o espaço vai se formando e desformando a partir do tempo. A verdade é que tempo e espaço se cruzam e entrecruzam todo o tempo e todo o espaço. Porém, quando o espaço termina de acontecer, permanece o tempo.

No entanto, tudo aquilo que restou do espaço duradouro e do tempo constante, em algum momento, novamente fusionados numa semente cósmica, explodem juntos dando vida a um novo universo de tempo e espaço.

No I Ching, o tempo constante é simbolizado pela linha Yang e contínua; e o espaço duradouro é simbolizado pela linha Yin e vazada, nos trazendo, dessa maneira, a noção da constância do tempo e da duração do espaço. O espaço, em sua múltipla maneira de se apresentar, é a matéria e a anti-matéria que, ao assumirem e re-assumirem sua eterna mutação, vão adentrando o tempo, que já existe anteriormente e posteriormente - por ser constante.

Ambos apenas existem e se existem dentro da constância e da duração é porque apenas criam, criam todo o universo, toda a natureza, todos os seres... mas não criam para si... apenas criam. E porque apenas existem e criam são constantes e duradouros.

Em seu Capítulo 51 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude , Lao Tse nos diz, novamente confirmando o fato de que céu e terra, o Caminho e a Virtude, criam mas não criam para si... apenas criam:
O Caminho gera, a Virtude cria
Fazem crescer, fazem nutrir
Fazem completar, fazem concluir
Fazem o sustento e fazem a cobertura
Geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
Isto chama-se Misteriosa Virtude.

O Caminho gera, a Virtude cria.... O Tao gera, o Te cria.... O tempo corresponde ao Tao - por ser constante. O espaço corresponde à Virtude - por ser duradouro, por se metamorfosear eternamente. O céu corresponde, então ao tempo e ao Tao. A terra corresponde, então, ao espaço (a matéria e a anti-matéria) e à Virtude.

Assim sendo, o que faz todo o universo ser gerado e criado é a fusão do Tao e do Te, do Caminho e da Virtude, do céu e da terra, do tempo e do espaço. E tudo pode assim existir simplesmente porque o Tao da Criação assim é, por natureza.... Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 25:
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza.

Orientando-se por sua própria natureza, o Tao gera e a Virtude cria - é a Misteriosa Virtude, o Mistério dos Mistérios. Apenas podemos compreender a partir da geração e da criação.... para além disso, encontra-se o Tao da natureza.
Penso que, na realidade, céu e terra expressam o Wei Wu Wei, a ação-dentro-da-não-ação, ou seja, a ação agida sem-intenção, apenas dentro da naturalidade do Tao - é a Misteriosa Virtude, o Mistério dos Mistérios.

O Tao da natureza é impessoal - por isso nada gera e cria para si mesmo, apenas cria. Gera por gerar e cria por criar e exatamente por nada gerar nem criar para si mesmo, é constante e duradouro, assim como o céu e a terra.

O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
A segunda estrofe, no entanto, nos recoloca no lugar do homem, da criação, daquilo que foi gerado e criado e que, a partir da expansão de sua mente e da iluminação de sua consciência, consegue compreender todas estas questões e a elas retornar - é a Criação quem re-cria o Criador.

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência
- Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 40.

A existência é o Mundo da Manifestação e a não-existência é o Mundo da Não-Manifestação. O homem é aquele que, através da expansão infinita de sua mente e da iluminação de sua consciência, pode transitar entre esses dois mundos, conscientizando-se enquanto Caminhante e trilhando seus Caminhos da Iluminação e da Imortalidade - tornando-se de homem a Homem Sagrado.

E é sobre isso que Lao Tse nos fala na segunda estrofe do Capítulo 7:
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo

Lao Tse diz também ao homem que ele, sendo parte da geração e da criação, pode também ser o co-regente do Tao da Criação da natureza.... Como? Através de sua Sagração.

O que é a Sagração do Homem? Lao Tse nos diz para nos assemelharmos ao tempo e ao espaço, ao céu e à terra, ao Tao e ao Te, ao Caminho e à Virtude, à constância e à duração.

A consciência iluminada é aquela que faz o homem aprender a "deixar seu corpo para trás"... ou seja, sendo o corpo matéria e sendo matéria a correspondência da duração (por estar sendo sempre transformada e estabelecida dentro de alguma forma), a busca do Homem Sagrado é ser constante como o tempo fusionado à duração do espaço. Ou seja, a busca do Homem Sagrado é posicionar-se no Portal entre os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação. Neste lugar, pode o Homem Sagrado criar e apenas criar e não criar para si e por isso pode manter-se constante e duradouro, exercendo a Misteriosa Virtude.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas