TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 15
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 15
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados.
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E, justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los.
Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos
Eram reservados como o hóspede
Eram solúveis como gelo fundente
Eram genuínos como a madeira bruta
Eram vazios como os vales
Entorpecidos como a água turva.
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E, justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.
Este Capítulo não fala no Tao mas fala do homem que alcançou o Tao.
Lao Tse chama de ‘bons realizados da antiguidade” aqueles homens que buscaram, que encontraram, que se tornaram o próprio Tao. São os grandes sábios da antiguidade.
Isso caracteriza um dos pontos fundamentais do Taoísmo.
O Taoísmo nunca é completo se não for realizado. Se Ele não se tornar uma prática.
Jamais encontraremos no Taoísmo a característica de uma filosofia pura que não é aplicável, que não pode ser vivida.
Todos os fundamentos do Taoísmo precisam ser vividos. Eles só têm sentido quando são vividos. O Taoísmo só é Taoísmo quando é vivido por uma pessoa. Se vivemos o Taoísmo, nos tornamos taoístas.
Por isso mesmo que, ao fundarmos nossa Sociedade, ao invés de denominá-la Sociedade Brasileira de Taoísmo, nos decidimos por Sociedade Taoísta do Brasil. Pelo menos, tentamos viver o Taoísmo, nos tornando Taoístas.
É, portanto, fundamental que o Caminho do Taoísmo seja realizado.
Como eram esses “realizadores”?
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados.
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E, justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los.
Lao Tse faz uma ilustração sobre esses grandes realizadores da antiguidade.
Como eles realizavam?
Na prática mística do Taoísmo, basicamente, nos realizamos através do seguinte processo:
- Devemos trazer a visão e a audição para o interior anulando os pensamentos e as preocupações.
Dessa maneira, estaremos unindo nosso espírito, nossa alma, nosso corpo e nossa essência vital dentro de um único elemento chamado “vontade”. Esse é o quinto elemento fundido dentro dos quatro elementos.
Na teoria dos cinco elementos do I Ching, no Taoísmo, todas as pessoas possuem quatro elementos:
Alma - Corpo - Essências Vitais - Espírito
A Alma - que é Madeira - é oposta ao Corpo - que é Metal.
Temos 3 Almas e 7 corpos.
A Alma é o elemento Madeira. A Madeira pode ser talhada. A Alma também. A Alma é nossa personalidade. A personalidade pode ser modificada, pode ser polida, moldada.
Igualmente, a Madeira pode ser transformada numa mesa, num instrumento, pode virar um objeto.
Também nossa Alma pode ser talhada, torneada, moldada, tendo sua forma modificada, como a personalidade vai se modificando.
O Corpo corresponde ao elemento Metal.
Corpo não é aquele que nos protege?
Se não tivermos um Corpo, nossa Alma não terá proteção. Nossa Alma precisa encarnar no Corpo e o Corpo é aquele que nos protege. Assim como a casca da fruta protege a própria fruta.
O corpo físico é o mais denso dos corpos. Temos 7 corpos, um dentro do outro, interpenetrando-se.
O Metal é um elemento rígido, forte, que agüenta impactos - assim como nosso Corpo
As Essências Vitais antagonizam com o Espírito.
O Espírito corresponde ao elemento Fogo e as Essenciais Vitais, ao elemento Água.
A Água é a essência da vida. A terra sem água fica estéril. Uma pessoa pode ficar vários dias sem comer mas não além de 4 dias sem beber - porque senão morre. Setenta por cento de nosso corpo é composto de água, bem como nosso Planeta, de oceanos.
Nós temos Corpo, Alma, Consciência/Espírito e Essências Vitais. Na prática mística do Taoísmo, todos esses elementos se unem, se juntam em um ponto. Passar a ser abraçados por um ponto que chamamos de ‘vontade’, o elemento do centro, o elemento Terra.
Terra é aquela que acolhe tudo: a Água, o Fogo, a Madeira e o Metal.
Tudo está na Terra, sendo abraçado e segurado.
Na prática mística, essa Terra que segura tudo é representada pela palavra ‘vontade’.
Vontade é uma intenção sutil. Essa palavra, muitas vezes, pode ser destorcida.
Vontade inicial é vontade. Passada a fase inicial, essa vontade passa a ser outras coisas. Passa a ser desejo, obsessão, etc. Logo no início, a vontade é indescritível, quase uma intuição de algo que não dá para descrever muito bem.
Ou seja, na prática da meditação, devemos todo o tempo cultivar dentro de nós uma espécie de Vontade, como vontade inicial de alguma coisa e colocar nossa personalidade dentro dessa Vontade, bem como nosso corpo.
Meditamos de olhos fechados, e então colocamos nosso corpo dentro dessa Vontade, a Consciência que pensa, que raciocina, as energias vitais - as sensações - tudo, tudo vai sendo colocado dentro dessa Vontade e assim, tudo desaparece.
Dessa maneira, entramos em estado de Fixação. A Fixação é um estado onde não há pulsação nem respiração.
Obviamente, isso não acontece de um dia para outro. Tudo deve ser colocado dentro dessa verdadeira vontade, dessa Vontade autêntica.
O que é a Vontade Autêntica?
É aquela que é diferente da vontade falsa.
A vontade falsa é aquela que é uma vontade agora mas que daqui a poucos minutos, já não é mais vontade, foi esquecida. É uma vontade impermanente. Essa vontade, como qualquer outra coisa no mundo manifestado, é impermanente. Nossa vida é impermanente, nosso pensamento, nosso corpo, nossa consciência, nossa energia vital, todos são impermanentes.
Vontade impermanente não é uma Autêntica Vontade. Autêntica Vontade é uma vontade que não é interferida pelo tempo e pelo espaço.
Como encontrá-la?
Não sei dizer.
É preciso usar a intuição.
Fechamos nossos olhos, relaxamos nosso corpo, deixamos nossa respiração fluir, e depois entramos intuitivamente dentro de um estado que não é propriamente focalizado em alguma parte do corpo, que não é um Mantra, nem uma Letra Sagrada, nem uma visualização. É um estado extremamente sutil, que, entrando nele, levamos nosso corpo, nossa personalidade, nossa consciência, nossa essência vital.
Essa vontade, que chamamos de Autêntica Vontade ou Autêntica Terra, é como se fosse um buraco negro.
Imaginemos um buraco negro no centro do universo. Todo esse universo é embutido dentro desse buraco negro e tudo assim, desaparece.
Meditando,
Meditando,
Meditando............
Alguns Mestres, de repente, desaparecem mesmo, tendo seus corpos entrado numa outra dimensão, mais sutil e inencontrável fisicamente.
Pergunta: A Fixação é o caos primordial?
Resposta de Cherng: A Fixação é um termo que se refere a um lado mais externo. Ou seja, a respiração é a pulsação param, é a Fixação. Tudo parou, mas não morreu, está vivo.
Internamente, a pessoa sentirá que está dentro de algo indescritível - que chamamos de Caos Primordial.
Essa viagem ao caos primordial - dependendo do nível e do grau de aprimoração da pessoa -, pode até chegar ao nível físico, fazendo com que a pessoa realmente desapareça.
No entanto, como a maioria das pessoas não consegue permanecer por muito tempo neste estado, volta-se e reaparece-se.
Existe um monge que vive em Singapura e que certa vez foi para dentro de uma caverna, para meditar. Ao atingir o estado de Fixação, teve seu corpo desaparecido por 45 dias. Segundo sua experiência pessoal, esses 45 dias lhe pareceram como uma ou duas horas. Ele não chegou ao Absoluto, não alcançou o Caos Primordial. Ele simplesmente foi para uma dimensão mais sutil.
Mestre Maa nos diz assim:
“Aquele que abraça o Princípio e resguarda a Unidade, pode penetrar com mais sutil insistência.”
Nesse estado, a pessoa pode viver uma situação e esquecer a palavra. Pode romper a barreira da inexistência. E seu espírito estará integrado com o Espírito do Céu e da Terra. A energia da pessoa estará unida às essências do Céu e da Terra.
De repente, percebemos que tudo o que sentimos, o mundo sente. Tudo o que o mundo sente, nós sentimos. Tudo o que pensamos, o mundo pensa. Tudo o que o mundo pensa, está dentro da nossa mente.
Nos encontramos, então, integrados com tudo, nesse estado.
Mestre Maa ainda acrescenta:
“O Grande Tao não tem forma”.
Dessa maneira, ao adquirirmos Seu sentido, perdemos a forma. Adquirindo Sua energia, perdermos Sua forma. Adquirindo Sua razão, perdemos a palavra que O descreve.
Uma vez adquiramos esse esquecimento da palavra e da forma e de tudo, ainda podemos alcançar o esquecimento desse esquecimento.
Quando se chega ao sentido real das palavras, não se precisa mais de palavras.
Quando se chega à origem das energias, aí não mais existem energias.
Tudo foi esquecido, a energia abandonada, as palavras abandonas.
Então ainda abandonamos o abandono da palavra e o abandono da energia.
Por isso, na prática da meditação, quando se atinge a Fixação, não se tem mais palavras, nem pensamentos, nem respiração, nem batidas de coração.
A pessoa abandonou a palavra, abandonou a energia porém chegou à raiz da vitalidade e à raiz de todos os pensamentos.
Quando se atinge este ponto, ainda não basta, é preciso abandonar e romper a barreira da capacidade de ficar não pensando, não respirando. Volta-se, então, ao ‘normal’. Porém, se foi mais adiante.
Existe um ditado Zen que diz assim:
“Antes, montanhas eram montanhas e rios eram rios”
- Isto quer significar uma pessoa que está iniciando o Caminho.
“Depois, percebe-se que a montanha não é mais montanha e o rio não é mais rio”.
“Ao final, a montanha volta a ser montanha e o rio volta a ser rio”.
A pessoa abandonou tudo até chegar a transcender. Transcendeu o sentido normal e depois transcendeu a transcendência do sentido normal... e então, voltou ao normal.
Um grande Mestre é, aparentemente, igual a uma pessoa comum. Um mestre que está em seu Caminho ainda a meio caminho, é diferente de uma pessoa comum.
Mestre Maa diz:
“A experiência profunda do Tao não pode ser detectada, não pode ser reconhecida. Por isso, é preciso desenvolver essa experimentação até o nível mais profundo onde as palavras são meros esforços para descrever inutilmente uma experiência que está além das palavras”.
Lao Tse, como não consegue descrever através das palavras, tenta dizer mais ou menos como seriam esses homens, bons realizadores da antiguidade:
Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno
Como se atravessa um rio no inverno?
A pé.
No inverno, o rio congela. Temos que atravessá-lo com cautela porque, em alguns lugares, o gelo é muito fino e se cairmos, afundamos e morremos. Deve-se atravessar o rio no inverno com passos leves, sutis, como um gatinho andando.
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos
Devemos ter cuidado ao nos relacionarmos com os outros. Som alto, estridente, exagerado, não é aconselhável. Os grandes realizadores eram sutis, cautelosos, cheios de tato no trato com as pessoas, procurando sempre não incomodar.
Eram reservados como o hóspede
Quando estamos na casa dos outros, devemos ser reservados, tendo o cuidado de não infringir os costumes do dono da casa.
Eram solúveis como gelo fundente
O gelo, ao contacto com o calor, começa a perder sua forma, amoldando-se, fundindo-se. Ao perder a forma, não dá para descrever. Os grandes sábios vão perdendo a forma.
Eram genuínos como a madeira bruta
A madeira que foi talhada tem uma forma definida, muitas vezes engenhosa. A madeira bruta é genuína, não tem engenhosidade, é como é, simplesmente - Isso é a pureza do ser.
Eram vazios como os vales
O vale é a Abrangência, a tudo acolhe.
Entorpecidos como a água turva.
A água turva é a não-divisão. Na água turva não se vê a diferença de cores, é um caos. O caos primordial lembra um pouco isso.
O vale é a abrangência; a madeira bruta é a naturalidade; a água turva é a não-divisão.
Os sábios da antiguidade são lúcidos, têm clareza das coisas.
Nos trechos acima, existe uma frase que é fundamental:
Eram reservados como o hóspede
O hóspede reservado é o hóspede que colabora com o dono da casa, que não contraria os costumes da casa.
Na nossa prática mística, nós também devemos ser o hóspede e não o dono.
Devemos deixar o universo ser o dono. Como no universo existe o Grande Caminho da Naturalidade, onde todas as coisas acontecem dentro de uma lei natural, há uma grande força que flui dentro do equilíbrio. Dessa forma devemos ser hóspedes e deixar essa grande força que flui ser a dona do destino.
Na meditação, devemos ser abertos, receptivos, para colaborarmos com o grande destino do universo, integrando-nos ao grande destino do universo em vez de lutarmos contra.
Lutar contra o grande destino do universo é inútil. É preciso saber fluir, integrar.
Na prática da meditação, vamos nos integrando com essa grande força. A partir do momento em que nos integramos com ela, essa força entra dentro de nós.
Então, nos renovamos e nos purificamos.
Essa energia muda nossas células, nossa energia, nosso corpo físico, nossa mente, nossa estrutura psíquica. Então nos transformamos.
O grande segredo da Alquimia - segundo o Taoísmo - não é o alquimista se colocar como o dono do destino contra o destino do universo. O grande segredo da transmutação é nos integrarmos ao destino do universo fazendo com que a força do universo seja o instrumento regente que nos modifica.
Não é “Eu Transmuto” e sim Ele (o dono do universo) Me Transmuta.
Por isso, Lao Tse fala do conceito da ação não-intencional: eu ajo não com a intenção de agir. Na não-intenção, eu colaboro para que a força do universo me transmute.
Esse é o grande segredo da Alquimia.
A grande transmutação é saber usar a força do universo para nos transformar. Isso não está nos livros. Mestre Maa nos ensinou.
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Lao Tse diz que, depois de termos alcançado a extrema quietude, no estado da Fixação - dentro do Caos Primordial - , alcançamos a perfeição.
No Taoísmo, quem entra no caos primordial, ainda não se tornou um Mestre. Apenas chegou ao Ponto Inicial da verdadeira caminhada. Todas as grandes caminhadas místicas acontecerão desse ponto em diante.
Somente a partir do ponto da Fixação - quando a Consciência e a Energia estão no próprio Caos -, com paciência de esperar e não se limitando ao colocar esse ponto como Sublime Realização...., com o tempo, percebe- se que dentro desse Caos haverá uma grande explosão de força. Aí é, exatamente, o movimento que nasce da quietude. É a limpidez que nasce do caos.
Esse caos é como uma água turva que nada se distingue. Dentro dele surgirá uma luz, uma luz completamente diferente de qualquer luz anteriormente conhecida.
Surge uma Consciência que é completamente diferente de todas as consciências que conhecíamos antes de entrarmos no Caos Primordial.
No I Ching, tudo isso corresponde ao Hexagrama Fu, o Retorno. É o Yang que retorna por debaixo da absoluta quietude.
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Da plenitude de atividades à absoluta quietude, os Hexagramas passam por 7 etapas:
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1 Linha Yang tornando-se Yin ________
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2 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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3 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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4 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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5 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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Finalmente, na sexta etapa, o Hexagrama se torna inteiramente Yin:
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A mesma coisa acontece na prática da meditação. Começamos a meditar e gradualmente nossa ansiedade vai desaparecendo, até que tudo desaparece e nessa hora, entramos no Caos Primordial.
Alcançou-se a Plenitude?
Não.
Alcançou-se o Caos Primordial de onde o universo novamente nasce dentro de nós. Parece uma bomba explodindo debaixo da terra.
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É uma força explosiva, como um trovão, como um big-bang espiritual que surge dentro de nós. E essa grande explosão vai trazer uma nova Consciência, surge uma grande Iluminação, ao mesmo tempo em que aparece uma força altamente criativa, de onde um novo ciclo de transformação começa. A Linha Yang que surge por debaixo das Linhas Yin, em Fu, o Retorno.
Por isso, Ele diz:
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
É preciso entrar na Fixação para começar a Caminhar.
Na Alquimia Taoísta da Escola Oeste do Mestre Maa, existem várias etapas a serem cumpridas:
A primeira etapa chama-se Construção da Base
A segunda etapa chama-se Recolhimento da Matéria Prima
A terceira etapa chama-se Coagulação do Elixir
A quarta etapa chama-se Destilação do Eu
A quinta etapa chama-se Reprocessamento do Elixir
A sexta etapa chama-se Nascimento do Feto Sagrado
A sétima etapa chama-se Sagração - quando o Corpo Solar está pronto.
Onde se situa a Fixação?
A Fixação se situa na primeira fase. Está na Construção da Base. Não atingindo a Fixação, não entrando no Caos Primordial, não atingimos a grande transmutação.
Não quero fazer parecer que o Taoísmo seja mais profundo do que as outras práticas. Mas, realmente, a concepção do Taoísmo sobre a pratica da meditação vai muito fundo.
Na maior parte das Escolas de Meditação, quando se atinge o momento de não mais pensamentos nem respiração nem pulsação, isso já é a grande realização.
Para o Taoísmo, isso significa apenas o começo da viagem. E esse começo se chama Construção da Base.
A viagem é longa.
Mestre Maa sempre diz:
“E quando se atinge a sétima etapa, o que se faz?
Reinicia-se um novo Caminho”.
Tudo o que foi forjado até ali deve ser jogado num novo Caldeirão Cósmico e tudo começa de novo, numa dimensão bem maior.
A partir daí, não está mais na dimensão de Mestre Maa.
Não precisamos nos preocupar muito com isso porque - para se chegar lá - são poucos entre milhões e milhões que conseguem.
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E, justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.
A pessoa que não quer possuir mais do que o outro, que não quer ser mais do que o outro, tem constantemente simplicidade e humildade, naturalmente. É constantemente renovado. É muito simples.
Aquilo que encontra o Vazio, pode estar constantemente possibilitado de tornar-se pleno. Isso é o que Lao Tse chama de Constante Criação. Mesmo chegando a ser velho, pode voltar a criar.
O Vazio traz a renovação e a criação.
Nesse ponto, o Taoísmo é muito otimista. Uma pessoa pode estar muito envolvida em hábitos, costumes, apegos. Uma vez tenha abertura para uma nova inspiração, ela estará dando chance para se renovar e modificar, até por inteiro.
Não existe uma pessoa ‘incurável’ mentalmente, espiritualmente ou fisicamente.
Mestre Maa diz:
“Basta que uma pessoa ainda esteja respirando, ela pode voltar a criar uma vida renovada”.
Essa abertura é fundamental. É preciso se ter essa consciência para que a renovação seja possível. Sem Consciência, a pessoa fecha as portas para si mesma.
Havendo uma pequena esperança para a modificação, isso já é suficiente para que a pessoa possa se modificar completamente e se tornar outra pessoa completamente renovada.
Pergunta: Qual seria o Hexagrama do I Ching correspondente à sétima etapa?
Resposta de Cherng:
Começamos assim: uma pessoa normal, agitada, é representada pelo Yang Criativo, interpretado de uma maneira pejorativa:
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Ao começar a trabalhar interiormente, vai começando a se esvaziar:
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Em seguida, vai se esvaziando mais um pouquinho:
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.... E mais um pouquinho vai se esvaziando. Este é um momento perigoso que gera uma ruptura com o exterior. Seu mundo externo ainda está ativo e seu mundo interno já está passivo. Esse é o Hexagrama Estagnação. Nessa hora, a caminhada deve ser cautelosa.
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Na próxima etapa, vai melhorando:
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Em seguida, mais um passo à frente:
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Quando chega a sexta etapa, o que se atinge?
O Caos. Interiormente, chegou-se ao Caos Primordial e exteriormente, chegou-se à Fixação. Por absolutamente passivo, este Hexagrama pode durar um tempo infinito, podendo a pessoa ficar neste estágio um momento, uma hora, um dia, um mês, um ano, dez anos.... ___ ___
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Mas, se esperar, em algum momento, de repente, surge o primeiro Yang. Este é o sétimo retorno, o retorno da sétima etapa. Isso se chama o Retorno do Sete.
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Daí surgem uma nova Consciência e uma nova Força Criativa.
O Ponto do Retorno não é o retornar ao mesmo ponto. Esse ponto de retorno é retornar à uma nova vida. é a nova vida que retorna.
Pergunta: O Mestre Taoísta é considerado Mestre quando atinge esse ponto?
Reposta de Cherng: Não. Ele começa a ser considerado um Iniciado que realmente começou sua Caminhada. Antes disso, estamos tentando ser um aprendiz.
Até um ponto somos aprendizes. Depois, somos realizadores.
Primeiramente aprendemos o Tao. Depois, realizamos o Tao.
E, mais tarde, conquistamos o Tao.
Pergunta: E a continuação do processo se dá da mesma maneira?
Reposta de Cherng: Sim. até finalmente se alcançar a Plenitude. A partir daí, teremos nosso Corpo Solar pronto.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Miwlard
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 15
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 15
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 15
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados.
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E, justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los.
Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos
Eram reservados como o hóspede
Eram solúveis como gelo fundente
Eram genuínos como a madeira bruta
Eram vazios como os vales
Entorpecidos como a água turva.
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E, justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.
Este Capítulo não fala no Tao mas fala do homem que alcançou o Tao.
Lao Tse chama de ‘bons realizados da antiguidade” aqueles homens que buscaram, que encontraram, que se tornaram o próprio Tao. São os grandes sábios da antiguidade.
Isso caracteriza um dos pontos fundamentais do Taoísmo.
O Taoísmo nunca é completo se não for realizado. Se Ele não se tornar uma prática.
Jamais encontraremos no Taoísmo a característica de uma filosofia pura que não é aplicável, que não pode ser vivida.
Todos os fundamentos do Taoísmo precisam ser vividos. Eles só têm sentido quando são vividos. O Taoísmo só é Taoísmo quando é vivido por uma pessoa. Se vivemos o Taoísmo, nos tornamos taoístas.
Por isso mesmo que, ao fundarmos nossa Sociedade, ao invés de denominá-la Sociedade Brasileira de Taoísmo, nos decidimos por Sociedade Taoísta do Brasil. Pelo menos, tentamos viver o Taoísmo, nos tornando Taoístas.
É, portanto, fundamental que o Caminho do Taoísmo seja realizado.
Como eram esses “realizadores”?
Os bons realizadores da antiguidade eram sutis,
Maravilhosos, misteriosos e despertados.
Eram profundos e não podiam ser compreendidos
E, justamente por não poderem ser compreendidos,
É preciso esforçar-se para ilustrá-los.
Lao Tse faz uma ilustração sobre esses grandes realizadores da antiguidade.
Como eles realizavam?
Na prática mística do Taoísmo, basicamente, nos realizamos através do seguinte processo:
- Devemos trazer a visão e a audição para o interior anulando os pensamentos e as preocupações.
Dessa maneira, estaremos unindo nosso espírito, nossa alma, nosso corpo e nossa essência vital dentro de um único elemento chamado “vontade”. Esse é o quinto elemento fundido dentro dos quatro elementos.
Na teoria dos cinco elementos do I Ching, no Taoísmo, todas as pessoas possuem quatro elementos:
Alma - Corpo - Essências Vitais - Espírito
A Alma - que é Madeira - é oposta ao Corpo - que é Metal.
Temos 3 Almas e 7 corpos.
A Alma é o elemento Madeira. A Madeira pode ser talhada. A Alma também. A Alma é nossa personalidade. A personalidade pode ser modificada, pode ser polida, moldada.
Igualmente, a Madeira pode ser transformada numa mesa, num instrumento, pode virar um objeto.
Também nossa Alma pode ser talhada, torneada, moldada, tendo sua forma modificada, como a personalidade vai se modificando.
O Corpo corresponde ao elemento Metal.
Corpo não é aquele que nos protege?
Se não tivermos um Corpo, nossa Alma não terá proteção. Nossa Alma precisa encarnar no Corpo e o Corpo é aquele que nos protege. Assim como a casca da fruta protege a própria fruta.
O corpo físico é o mais denso dos corpos. Temos 7 corpos, um dentro do outro, interpenetrando-se.
O Metal é um elemento rígido, forte, que agüenta impactos - assim como nosso Corpo
As Essências Vitais antagonizam com o Espírito.
O Espírito corresponde ao elemento Fogo e as Essenciais Vitais, ao elemento Água.
A Água é a essência da vida. A terra sem água fica estéril. Uma pessoa pode ficar vários dias sem comer mas não além de 4 dias sem beber - porque senão morre. Setenta por cento de nosso corpo é composto de água, bem como nosso Planeta, de oceanos.
Nós temos Corpo, Alma, Consciência/Espírito e Essências Vitais. Na prática mística do Taoísmo, todos esses elementos se unem, se juntam em um ponto. Passar a ser abraçados por um ponto que chamamos de ‘vontade’, o elemento do centro, o elemento Terra.
Terra é aquela que acolhe tudo: a Água, o Fogo, a Madeira e o Metal.
Tudo está na Terra, sendo abraçado e segurado.
Na prática mística, essa Terra que segura tudo é representada pela palavra ‘vontade’.
Vontade é uma intenção sutil. Essa palavra, muitas vezes, pode ser destorcida.
Vontade inicial é vontade. Passada a fase inicial, essa vontade passa a ser outras coisas. Passa a ser desejo, obsessão, etc. Logo no início, a vontade é indescritível, quase uma intuição de algo que não dá para descrever muito bem.
Ou seja, na prática da meditação, devemos todo o tempo cultivar dentro de nós uma espécie de Vontade, como vontade inicial de alguma coisa e colocar nossa personalidade dentro dessa Vontade, bem como nosso corpo.
Meditamos de olhos fechados, e então colocamos nosso corpo dentro dessa Vontade, a Consciência que pensa, que raciocina, as energias vitais - as sensações - tudo, tudo vai sendo colocado dentro dessa Vontade e assim, tudo desaparece.
Dessa maneira, entramos em estado de Fixação. A Fixação é um estado onde não há pulsação nem respiração.
Obviamente, isso não acontece de um dia para outro. Tudo deve ser colocado dentro dessa verdadeira vontade, dessa Vontade autêntica.
O que é a Vontade Autêntica?
É aquela que é diferente da vontade falsa.
A vontade falsa é aquela que é uma vontade agora mas que daqui a poucos minutos, já não é mais vontade, foi esquecida. É uma vontade impermanente. Essa vontade, como qualquer outra coisa no mundo manifestado, é impermanente. Nossa vida é impermanente, nosso pensamento, nosso corpo, nossa consciência, nossa energia vital, todos são impermanentes.
Vontade impermanente não é uma Autêntica Vontade. Autêntica Vontade é uma vontade que não é interferida pelo tempo e pelo espaço.
Como encontrá-la?
Não sei dizer.
É preciso usar a intuição.
Fechamos nossos olhos, relaxamos nosso corpo, deixamos nossa respiração fluir, e depois entramos intuitivamente dentro de um estado que não é propriamente focalizado em alguma parte do corpo, que não é um Mantra, nem uma Letra Sagrada, nem uma visualização. É um estado extremamente sutil, que, entrando nele, levamos nosso corpo, nossa personalidade, nossa consciência, nossa essência vital.
Essa vontade, que chamamos de Autêntica Vontade ou Autêntica Terra, é como se fosse um buraco negro.
Imaginemos um buraco negro no centro do universo. Todo esse universo é embutido dentro desse buraco negro e tudo assim, desaparece.
Meditando,
Meditando,
Meditando............
Alguns Mestres, de repente, desaparecem mesmo, tendo seus corpos entrado numa outra dimensão, mais sutil e inencontrável fisicamente.
Pergunta: A Fixação é o caos primordial?
Resposta de Cherng: A Fixação é um termo que se refere a um lado mais externo. Ou seja, a respiração é a pulsação param, é a Fixação. Tudo parou, mas não morreu, está vivo.
Internamente, a pessoa sentirá que está dentro de algo indescritível - que chamamos de Caos Primordial.
Essa viagem ao caos primordial - dependendo do nível e do grau de aprimoração da pessoa -, pode até chegar ao nível físico, fazendo com que a pessoa realmente desapareça.
No entanto, como a maioria das pessoas não consegue permanecer por muito tempo neste estado, volta-se e reaparece-se.
Existe um monge que vive em Singapura e que certa vez foi para dentro de uma caverna, para meditar. Ao atingir o estado de Fixação, teve seu corpo desaparecido por 45 dias. Segundo sua experiência pessoal, esses 45 dias lhe pareceram como uma ou duas horas. Ele não chegou ao Absoluto, não alcançou o Caos Primordial. Ele simplesmente foi para uma dimensão mais sutil.
Mestre Maa nos diz assim:
“Aquele que abraça o Princípio e resguarda a Unidade, pode penetrar com mais sutil insistência.”
Nesse estado, a pessoa pode viver uma situação e esquecer a palavra. Pode romper a barreira da inexistência. E seu espírito estará integrado com o Espírito do Céu e da Terra. A energia da pessoa estará unida às essências do Céu e da Terra.
De repente, percebemos que tudo o que sentimos, o mundo sente. Tudo o que o mundo sente, nós sentimos. Tudo o que pensamos, o mundo pensa. Tudo o que o mundo pensa, está dentro da nossa mente.
Nos encontramos, então, integrados com tudo, nesse estado.
Mestre Maa ainda acrescenta:
“O Grande Tao não tem forma”.
Dessa maneira, ao adquirirmos Seu sentido, perdemos a forma. Adquirindo Sua energia, perdermos Sua forma. Adquirindo Sua razão, perdemos a palavra que O descreve.
Uma vez adquiramos esse esquecimento da palavra e da forma e de tudo, ainda podemos alcançar o esquecimento desse esquecimento.
Quando se chega ao sentido real das palavras, não se precisa mais de palavras.
Quando se chega à origem das energias, aí não mais existem energias.
Tudo foi esquecido, a energia abandonada, as palavras abandonas.
Então ainda abandonamos o abandono da palavra e o abandono da energia.
Por isso, na prática da meditação, quando se atinge a Fixação, não se tem mais palavras, nem pensamentos, nem respiração, nem batidas de coração.
A pessoa abandonou a palavra, abandonou a energia porém chegou à raiz da vitalidade e à raiz de todos os pensamentos.
Quando se atinge este ponto, ainda não basta, é preciso abandonar e romper a barreira da capacidade de ficar não pensando, não respirando. Volta-se, então, ao ‘normal’. Porém, se foi mais adiante.
Existe um ditado Zen que diz assim:
“Antes, montanhas eram montanhas e rios eram rios”
- Isto quer significar uma pessoa que está iniciando o Caminho.
“Depois, percebe-se que a montanha não é mais montanha e o rio não é mais rio”.
“Ao final, a montanha volta a ser montanha e o rio volta a ser rio”.
A pessoa abandonou tudo até chegar a transcender. Transcendeu o sentido normal e depois transcendeu a transcendência do sentido normal... e então, voltou ao normal.
Um grande Mestre é, aparentemente, igual a uma pessoa comum. Um mestre que está em seu Caminho ainda a meio caminho, é diferente de uma pessoa comum.
Mestre Maa diz:
“A experiência profunda do Tao não pode ser detectada, não pode ser reconhecida. Por isso, é preciso desenvolver essa experimentação até o nível mais profundo onde as palavras são meros esforços para descrever inutilmente uma experiência que está além das palavras”.
Lao Tse, como não consegue descrever através das palavras, tenta dizer mais ou menos como seriam esses homens, bons realizadores da antiguidade:
Eram receosos como quem atravessa um rio no inverno
Como se atravessa um rio no inverno?
A pé.
No inverno, o rio congela. Temos que atravessá-lo com cautela porque, em alguns lugares, o gelo é muito fino e se cairmos, afundamos e morremos. Deve-se atravessar o rio no inverno com passos leves, sutis, como um gatinho andando.
Eram cautelosos como quem teme seus vizinhos
Devemos ter cuidado ao nos relacionarmos com os outros. Som alto, estridente, exagerado, não é aconselhável. Os grandes realizadores eram sutis, cautelosos, cheios de tato no trato com as pessoas, procurando sempre não incomodar.
Eram reservados como o hóspede
Quando estamos na casa dos outros, devemos ser reservados, tendo o cuidado de não infringir os costumes do dono da casa.
Eram solúveis como gelo fundente
O gelo, ao contacto com o calor, começa a perder sua forma, amoldando-se, fundindo-se. Ao perder a forma, não dá para descrever. Os grandes sábios vão perdendo a forma.
Eram genuínos como a madeira bruta
A madeira que foi talhada tem uma forma definida, muitas vezes engenhosa. A madeira bruta é genuína, não tem engenhosidade, é como é, simplesmente - Isso é a pureza do ser.
Eram vazios como os vales
O vale é a Abrangência, a tudo acolhe.
Entorpecidos como a água turva.
A água turva é a não-divisão. Na água turva não se vê a diferença de cores, é um caos. O caos primordial lembra um pouco isso.
O vale é a abrangência; a madeira bruta é a naturalidade; a água turva é a não-divisão.
Os sábios da antiguidade são lúcidos, têm clareza das coisas.
Nos trechos acima, existe uma frase que é fundamental:
Eram reservados como o hóspede
O hóspede reservado é o hóspede que colabora com o dono da casa, que não contraria os costumes da casa.
Na nossa prática mística, nós também devemos ser o hóspede e não o dono.
Devemos deixar o universo ser o dono. Como no universo existe o Grande Caminho da Naturalidade, onde todas as coisas acontecem dentro de uma lei natural, há uma grande força que flui dentro do equilíbrio. Dessa forma devemos ser hóspedes e deixar essa grande força que flui ser a dona do destino.
Na meditação, devemos ser abertos, receptivos, para colaborarmos com o grande destino do universo, integrando-nos ao grande destino do universo em vez de lutarmos contra.
Lutar contra o grande destino do universo é inútil. É preciso saber fluir, integrar.
Na prática da meditação, vamos nos integrando com essa grande força. A partir do momento em que nos integramos com ela, essa força entra dentro de nós.
Então, nos renovamos e nos purificamos.
Essa energia muda nossas células, nossa energia, nosso corpo físico, nossa mente, nossa estrutura psíquica. Então nos transformamos.
O grande segredo da Alquimia - segundo o Taoísmo - não é o alquimista se colocar como o dono do destino contra o destino do universo. O grande segredo da transmutação é nos integrarmos ao destino do universo fazendo com que a força do universo seja o instrumento regente que nos modifica.
Não é “Eu Transmuto” e sim Ele (o dono do universo) Me Transmuta.
Por isso, Lao Tse fala do conceito da ação não-intencional: eu ajo não com a intenção de agir. Na não-intenção, eu colaboro para que a força do universo me transmute.
Esse é o grande segredo da Alquimia.
A grande transmutação é saber usar a força do universo para nos transformar. Isso não está nos livros. Mestre Maa nos ensinou.
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
Lao Tse diz que, depois de termos alcançado a extrema quietude, no estado da Fixação - dentro do Caos Primordial - , alcançamos a perfeição.
No Taoísmo, quem entra no caos primordial, ainda não se tornou um Mestre. Apenas chegou ao Ponto Inicial da verdadeira caminhada. Todas as grandes caminhadas místicas acontecerão desse ponto em diante.
Somente a partir do ponto da Fixação - quando a Consciência e a Energia estão no próprio Caos -, com paciência de esperar e não se limitando ao colocar esse ponto como Sublime Realização...., com o tempo, percebe- se que dentro desse Caos haverá uma grande explosão de força. Aí é, exatamente, o movimento que nasce da quietude. É a limpidez que nasce do caos.
Esse caos é como uma água turva que nada se distingue. Dentro dele surgirá uma luz, uma luz completamente diferente de qualquer luz anteriormente conhecida.
Surge uma Consciência que é completamente diferente de todas as consciências que conhecíamos antes de entrarmos no Caos Primordial.
No I Ching, tudo isso corresponde ao Hexagrama Fu, o Retorno. É o Yang que retorna por debaixo da absoluta quietude.
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Da plenitude de atividades à absoluta quietude, os Hexagramas passam por 7 etapas:
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1 Linha Yang tornando-se Yin ________
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2 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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3 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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4 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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5 Linhas Yang tornando-se Yin _______
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Finalmente, na sexta etapa, o Hexagrama se torna inteiramente Yin:
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A mesma coisa acontece na prática da meditação. Começamos a meditar e gradualmente nossa ansiedade vai desaparecendo, até que tudo desaparece e nessa hora, entramos no Caos Primordial.
Alcançou-se a Plenitude?
Não.
Alcançou-se o Caos Primordial de onde o universo novamente nasce dentro de nós. Parece uma bomba explodindo debaixo da terra.
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É uma força explosiva, como um trovão, como um big-bang espiritual que surge dentro de nós. E essa grande explosão vai trazer uma nova Consciência, surge uma grande Iluminação, ao mesmo tempo em que aparece uma força altamente criativa, de onde um novo ciclo de transformação começa. A Linha Yang que surge por debaixo das Linhas Yin, em Fu, o Retorno.
Por isso, Ele diz:
O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido
O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo
É preciso entrar na Fixação para começar a Caminhar.
Na Alquimia Taoísta da Escola Oeste do Mestre Maa, existem várias etapas a serem cumpridas:
A primeira etapa chama-se Construção da Base
A segunda etapa chama-se Recolhimento da Matéria Prima
A terceira etapa chama-se Coagulação do Elixir
A quarta etapa chama-se Destilação do Eu
A quinta etapa chama-se Reprocessamento do Elixir
A sexta etapa chama-se Nascimento do Feto Sagrado
A sétima etapa chama-se Sagração - quando o Corpo Solar está pronto.
Onde se situa a Fixação?
A Fixação se situa na primeira fase. Está na Construção da Base. Não atingindo a Fixação, não entrando no Caos Primordial, não atingimos a grande transmutação.
Não quero fazer parecer que o Taoísmo seja mais profundo do que as outras práticas. Mas, realmente, a concepção do Taoísmo sobre a pratica da meditação vai muito fundo.
Na maior parte das Escolas de Meditação, quando se atinge o momento de não mais pensamentos nem respiração nem pulsação, isso já é a grande realização.
Para o Taoísmo, isso significa apenas o começo da viagem. E esse começo se chama Construção da Base.
A viagem é longa.
Mestre Maa sempre diz:
“E quando se atinge a sétima etapa, o que se faz?
Reinicia-se um novo Caminho”.
Tudo o que foi forjado até ali deve ser jogado num novo Caldeirão Cósmico e tudo começa de novo, numa dimensão bem maior.
A partir daí, não está mais na dimensão de Mestre Maa.
Não precisamos nos preocupar muito com isso porque - para se chegar lá - são poucos entre milhões e milhões que conseguem.
Aquele que resguarda este Caminho não tem desejo de se enaltecer
E, justamente por não se enaltecer, mesmo envelhecido, pode voltar a criar.
A pessoa que não quer possuir mais do que o outro, que não quer ser mais do que o outro, tem constantemente simplicidade e humildade, naturalmente. É constantemente renovado. É muito simples.
Aquilo que encontra o Vazio, pode estar constantemente possibilitado de tornar-se pleno. Isso é o que Lao Tse chama de Constante Criação. Mesmo chegando a ser velho, pode voltar a criar.
O Vazio traz a renovação e a criação.
Nesse ponto, o Taoísmo é muito otimista. Uma pessoa pode estar muito envolvida em hábitos, costumes, apegos. Uma vez tenha abertura para uma nova inspiração, ela estará dando chance para se renovar e modificar, até por inteiro.
Não existe uma pessoa ‘incurável’ mentalmente, espiritualmente ou fisicamente.
Mestre Maa diz:
“Basta que uma pessoa ainda esteja respirando, ela pode voltar a criar uma vida renovada”.
Essa abertura é fundamental. É preciso se ter essa consciência para que a renovação seja possível. Sem Consciência, a pessoa fecha as portas para si mesma.
Havendo uma pequena esperança para a modificação, isso já é suficiente para que a pessoa possa se modificar completamente e se tornar outra pessoa completamente renovada.
Pergunta: Qual seria o Hexagrama do I Ching correspondente à sétima etapa?
Resposta de Cherng:
Começamos assim: uma pessoa normal, agitada, é representada pelo Yang Criativo, interpretado de uma maneira pejorativa:
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Ao começar a trabalhar interiormente, vai começando a se esvaziar:
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Em seguida, vai se esvaziando mais um pouquinho:
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.... E mais um pouquinho vai se esvaziando. Este é um momento perigoso que gera uma ruptura com o exterior. Seu mundo externo ainda está ativo e seu mundo interno já está passivo. Esse é o Hexagrama Estagnação. Nessa hora, a caminhada deve ser cautelosa.
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Na próxima etapa, vai melhorando:
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Em seguida, mais um passo à frente:
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Quando chega a sexta etapa, o que se atinge?
O Caos. Interiormente, chegou-se ao Caos Primordial e exteriormente, chegou-se à Fixação. Por absolutamente passivo, este Hexagrama pode durar um tempo infinito, podendo a pessoa ficar neste estágio um momento, uma hora, um dia, um mês, um ano, dez anos.... ___ ___
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Mas, se esperar, em algum momento, de repente, surge o primeiro Yang. Este é o sétimo retorno, o retorno da sétima etapa. Isso se chama o Retorno do Sete.
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Daí surgem uma nova Consciência e uma nova Força Criativa.
O Ponto do Retorno não é o retornar ao mesmo ponto. Esse ponto de retorno é retornar à uma nova vida. é a nova vida que retorna.
Pergunta: O Mestre Taoísta é considerado Mestre quando atinge esse ponto?
Reposta de Cherng: Não. Ele começa a ser considerado um Iniciado que realmente começou sua Caminhada. Antes disso, estamos tentando ser um aprendiz.
Até um ponto somos aprendizes. Depois, somos realizadores.
Primeiramente aprendemos o Tao. Depois, realizamos o Tao.
E, mais tarde, conquistamos o Tao.
Pergunta: E a continuação do processo se dá da mesma maneira?
Reposta de Cherng: Sim. até finalmente se alcançar a Plenitude. A partir daí, teremos nosso Corpo Solar pronto.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Miwlard
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 15
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching