Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 17
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Capítulo 17

Do Supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança.

Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.



Neste Capítulo, Lao Tse nos fala sobre os três níveis de vivência no Tao: o nível superior, o nível mediano e o nível inferior.

O ser humano pode compreender ou conviver com o que chamamos de sagrado ou forças superiores - não importa o nome que se atribui, o Tao, Deus, Divindades, Desconhecido - de três maneiras.

O nível inferior é vivenciado com temor ou com desprezo. Existem pessoas que têm pavor dos deuses, acham que os deuses castigam, censuram, nos vigiam, nos mandam tempestades e raios, trovões, guerras, miséria... Ou possuem uma mentalidade cética, materialista, sem acreditar em nada.

Num outro estado mais acima, existem as pessoas que vivem o sagrado com intimidade ou com admiração. Parecem ter uma espécie de deslumbramento, uma reverência com algo que é superior. Muitas vezes isso pode ser levado ao extremo eclodindo uma espécie de paixão que, no sentido negativo, pode levar à histeria mística e religiosa. Outras vezes, as pessoas demonstram uma intensa intimidade com o que se chama de sagrado.

Não importa se aconteça de uma maneira ou de outra, a interpretação desse sagrado, desse Absoluto, parece ser de uma maneira de ‘idealização’. Sempre essa intimidade ou essa admiração parecem querer dizer ‘aquilo que eu idealizo é o que eu gostaria de ser e que não ou que ainda não sou’. Em qualquer caso, é uma idealização.

A idealização é a utilização da linguagem. Você pode idealizar algo se isto não for definido através de uma forma - mesmo que esta forma seja abstrata - mas tem que ser definida.

Do Supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo

No estado do Supremo, não há linguagem, não há forma. Quem alcançou a vivência de real integração com o Supremo - esse estado puro do Tao - não tem nada para dizer: é, simplesmente. Essa vivência não pode ser revelada através da palavra. Não pode ser ilustrada através da palavra nem pode ser ilustrada através de alguma linguagem. O Supremo, mesmo para aqueles que ainda não O alcançaram, é sabido que Ele existe.

Uma pessoa que pratica o Caminho do Tao numa compreensão superior, mesmo que ainda não tenha alcançado o Supremo, não tem como traduzir o Absoluto e o ilimitado e o infinito através das palavras finitas, ou das formas finitas - porque mesmo que essa pessoa ainda não esteja neste estado, ela sabe que o Absoluto não pode ser interpretado. Ela apenas sabe que Ele existe.

Dessa maneira, mesmo que se force a interpretação deste estado, todas as palavras usadas serão apenas indicações que apontam para uma direção. Par que as pessoas possam se dirigir por si mesmas e possam alcançar o caminho do Tao.

Por isso o Taoísmo usa o termo Tao como Caminho, como uma referência desta busca e não usa o termo Deus como a referência desse Absoluto. Assim, se evita uma possível interpretação personalizada ou realizada através de uma linguagem.

O Caminho é apenas uma referência para nós. O Caminho só existe se andarmos nele. O Caminho só existe uma vez que Ele seja percorrido. Se não caminharmos, o Caminho não existe.

Se uma estrada de milhões de dólares é construída e ninguém a usa, teoricamente a estrada existe, mas na prática, não. Igualmente, acreditamos teoricamente que o Absoluto existe, mas se Ele não for vivenciado..., ele não existe.

Por isso, o Taoísmo usa o termo Tao para representar a possibilidade desse alcance do Absoluto. Como um Caminho que só existe quando nós o vivenciamos, o caminhamos, o percorremos. Mas quem realmente vive esse Caminho - o Tao - não tem palavras para defini-lo, para interpretá-lo - sabe apenas que Ele existe.

Existem aquelas pessoas que conseguiram, através de uma prática mística, alcançar uma experiência extraordinária e maravilhosa que transcende a barreira do mundo físico, da linguagem e da forma. Quando essas pessoas retornam de usas experiências e tentam descrevê-la através da linguagem, da forma, da imagem, etc., o que então acontece? Uma vez esta experiência tenha sido transformada em conceitos verbalizados, na verdade, não mais estará se falando da experiência - porque não se fala, não se revela o Absoluto através da linguagem. Essas pessoas são aquelas que demonstram ‘intimidade’.... ‘porque na minha experiência eu me encontrei com Deus’.... E o discípulo, admirado, diz: Venerável mestre, como foi que você encontrou com Deus? .................. Deus, portanto, parece ser aquela luz irradiante, parece tudo ser uma ficção científica e todos ficam maravilhados.

Esse é o segundo nível, o nível do fenômeno. O segundo nível é o da experiência do fenômeno. Esse nível ainda é melhor do que o terceiro, quando se as pessoas forem religiosas, rezam para não serem castigadas ou para serem abençoadas. E se não forem religiosas, desprezam qualquer experiência ou fenômeno porque não acreditam em nada.

Por isso, no texto que se sucede, Ele diz:

Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança.

Portanto, existem as pessoas que vivem no estado do Supremo, que compreendem as coisas de uma maneira superior. Existem as pessoas que compreendem a um nível mediano, aquelas que compreendem a um nível inferior e existem aquelas pessoas que não compreendem. Nesse nível, estão as pessoas que não possuem convicção das coisas.

No nível superior, existe a convicção, a consciência da existência de algo além do mundo em que vivemos; algo supremo, algo sagrado, algo transcendental que não pode ser descrito através da linguagem. Sabe-se que o Supremo está além da linguagem: apenas sabe-se que Ele existe.

O segundo nível acredita que existe algo e tenta interpretar esse algo através da linguagem.

O terceiro nível também acredita mas não consegue interpretar nada. Também tem confiança no que acredita ou acredita de uma maneira ignorante ou ainda acredita não acreditando e critica. Isso também é uma espécie de convicção, uma espécie de confiança. Também nesse nível estão as pessoas céticas, que não acreditam.

No quarto nível, abaixo das três categorias anteriores, surge o nível de ‘Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança’. São aquelas pessoas que não têm nem convicção das coisas. Nos três níveis anteriores existe a convicção demonstrada de formas diferentes. Nesse quarto nível, as pessoas não são totalmente confiantes em suas próprias mentes, não têm a convicção de acreditar que existe ou que não existe - ficam flutuando entre o ‘às vezes acho que sim e ás vezes acho que não - às vezes penso e às vezes não penso’. Surge, então, a desconfiança e a vida é vivida na incerteza.

Em seguida, nas duas últimas frases, Lao Tse diz:
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

Por que então teria surgido toda essa polêmica e toda essa divisão entre as convicções dos seres? Porque, na verdade, o Homem Sagrado valoriza suas palavras. A vivência no sagrado está além de sua linguagem. O Sábio, o Iluminado, sente não poder transportar essa experiência para a linguagem, para a palavra, para que não seja distorcida, para não trazer má interpretações dessas experiências que estão além das palavras.

Por isso, Ele diz:
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros

Quem vive o Absoluto - que não tem forma -, age naturalmente em sua vida cotidiana, não deixando rastros.

O que são rastros?

O rastro é a personalidade. Os grandes mestres iluminados não têm personalidade, não têm sub-consciente ou inconsciente.

Numa palestra de um grande mestre budista em meditação, um discípulo perguntou como seria a conduta de um grande mestre iluminado.

O mestre respondeu que quem alcança a iluminação não tem subconsciente ou inconsciente, apenas tem uma única consciência. essa consciência não é o consciente como antítese do inconsciente e não é o consciente que cobre, que esconde o inconsciente - simplesmente não existem consciente e inconsciente nem subconsciente. Existe apenas uma única Consciência. Essa Consciência não tem julgamento, é uma luz pura, uma lucidez pura.

O ser iluminado, então, não terá atitudes inconscientes ou subconscientes. Não se encontram mestres iluminados que, de vem em quando, deixam transparecer atitudes inconscientes ou subconscientes. Isso não existe. Se existirem algumas atitudes inconscientes, esses mestres ainda não teriam alcançado, pelo menos, a Plena Iluminação. Podem até ter uma consciência mais iluminada do que as pessoas comuns, mas a Plena Iluminação só pode ser alcançada quando se atinge a Consciência Única.

O mestre iluminado age naturalmente, com a consciência plenamente integrada com a natureza. A natureza é tudo o que está em torno dele. Ele faz parte naturalmente de todas as coisas: se tem fome, come; se tem sono, dorme; na hora de trabalhar, trabalha; na hora de descansar, descansa.

As pessoas comuns se disciplinam mecanicamente e não descansam na hora de descansar, por isso a atividade não pode ser bem feita. Elas se forçam a aceitar as coisas de forma racional, aceitar coisas que realmente não aceitam e que, mais tarde, deixam transparecer esses reflexos através das doenças.

Quem alcança a Plenitude da Consciência, quando é para não aceitar uma situação, age sem raiva, sem ódio, sem desprezo. Diz simplesmente: Não é possível ser assim. E comporta-se de uma maneira muito natural.

Para uma pessoa que não tenha alcançado a iluminação, ela pode até ter uma consciência de que o fato é inaceitável mas ainda guarda dentro de si um julgamento e por causa desse julgamento, essa pessoa será levada a sentir repúdio em relação à situação e agir e reagir com sentimento de repúdio, ou de insegurança ou de raiva.

A pessoa iluminada não tem tais sentimentos - de repúdio ou insegurança. Simplesmente, ela diz: Não é possível. E pronto. E, por incrível que pareça, tal resposta é mais fácil de ser aceita pelas pessoas que estão propondo algo fora da normalidade, ou incorreto.

Quando a raiva ou o ódio vem à tona, cria-se o conflito.

Quando a energia é natural, não se cria o choque.

Dessa maneira, quem alcança o estado da iluminação, resolve as situações de forma mais natural. Simplesmente age naturalmente: na hora de dizer sim, é sim; na hora de dizer não, é não; na hora de fazer, faz; e na hora de não fazer, não faz. Torna-se, então, uma pessoa invisível, sua personalidade dissolveu-se, tornou-se transparente. A pessoa que não cria choques nem confrontos, não deixa rastros.

A personalidade é exatamente aquele pé que marca os rastros. Cada pessoa que tenha andado, deixa seus rastros como sua marca pessoal. O ser iluminado não tem essa marca. O caminho é natural. Não deixa rastros.

Por isso, Ele diz:

Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

As pessoas que vivem em torno de um ser iluminado, acabam sendo beneficiadas por ele, sem perceberem. Chegam a pensar que as coisas aconteceram naturalmente. Muitos Karmas negativos são desmanchados ou dissolvidos sem que as pessoas tenham consciência que isso aconteceu por intermédio dos benefícios espalhados pelo Ser Iluminado. Tudo acontece tão naturalmente, que ninguém na verdade presta atenção ao que acontece.

O sol nasce todos os dias e convivemos naturalmente com essa realidade, não sentimos nada de estranho - porque não existe nada que chame a atenção - e tudo está dentro da normalidade.

O Homem Sagrado está tão integrado com a natureza e com todas as pessoas que tudo o que ele faz, acontece naturalmente.

O Tao Te Ching diz que o Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem que ninguém perceba.

...............

PHTO SÍTIO DAS ESTRELAS, BY JANINE MILWARD

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 17
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 04 de outubro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
Foto: TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 17
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Capítulo 17

Do Supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança.

Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

Neste Capítulo, Lao Tse nos fala sobre os três níveis de vivência no Tao:  o  nível superior, o nível mediano e o nível inferior.

O ser humano pode compreender ou conviver com o que chamamos de sagrado ou forças superiores - não importa o nome que se atribui, o Tao, Deus, Divindades, Desconhecido - de três maneiras.

O nível inferior é vivenciado com temor ou com desprezo.  Existem pessoas que têm pavor dos deuses, acham que os deuses castigam, censuram, nos vigiam, nos mandam tempestades e raios, trovões, guerras, miséria...  Ou possuem uma mentalidade cética, materialista, sem acreditar em nada.

Num outro estado mais acima, existem as pessoas que vivem o sagrado com intimidade ou com admiração.  Parecem ter uma espécie de deslumbramento, uma reverência com algo que é superior.  Muitas vezes isso pode ser levado ao extremo eclodindo uma espécie de paixão que, no sentido negativo, pode levar à histeria mística e religiosa.  Outras vezes, as pessoas demonstram uma intensa intimidade com o que se chama de sagrado.

Não importa se aconteça de uma maneira ou de outra, a interpretação desse sagrado, desse Absoluto, parece ser de uma maneira de ‘idealização’.  Sempre essa intimidade ou essa admiração parecem querer dizer ‘aquilo que eu idealizo é o que eu gostaria de ser e que não ou que ainda não sou’.  Em qualquer caso, é uma idealização.

A idealização é a utilização da linguagem.  Você pode idealizar algo se isto não for definido através de uma forma - mesmo que esta forma seja abstrata - mas tem que ser definida.

Do Supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo

No estado do Supremo, não há linguagem, não há forma.  Quem alcançou a vivência de real integração com o Supremo - esse estado puro do Tao - não tem nada para dizer: é, simplesmente.  Essa vivência não pode ser revelada através da palavra.  Não pode ser ilustrada através da palavra nem pode ser ilustrada através de alguma linguagem.  O Supremo, mesmo para aqueles que ainda não O alcançaram, é sabido que Ele existe.

Uma pessoa que pratica o Caminho do Tao numa compreensão superior, mesmo que ainda não tenha alcançado o Supremo, não tem como traduzir o Absoluto e o ilimitado e o infinito através das palavras finitas, ou das formas finitas - porque mesmo que essa pessoa ainda não esteja neste estado, ela sabe que o Absoluto não pode ser interpretado.  Ela apenas sabe que Ele existe.

Dessa maneira, mesmo que se force a interpretação deste estado, todas as palavras usadas serão apenas indicações que apontam para uma direção.  Par que as pessoas possam se dirigir por si mesmas e possam alcançar o caminho do Tao.

Por isso o Taoísmo usa o termo Tao como Caminho, como uma referência desta busca e não usa o termo Deus como a referência desse Absoluto.  Assim, se evita uma possível interpretação personalizada ou realizada através de uma linguagem.

O Caminho é apenas uma referência para nós.  O Caminho só existe se andarmos nele.  O Caminho só existe uma vez que Ele seja percorrido.  Se não caminharmos, o Caminho não existe.

Se uma estrada de milhões de dólares é construída e ninguém a usa, teoricamente a estrada existe, mas na prática, não.  Igualmente, acreditamos teoricamente que o Absoluto existe, mas se Ele não for vivenciado..., ele não existe.

Por isso, o Taoísmo usa o termo Tao para representar a possibilidade desse  alcance do Absoluto.  Como um Caminho que só existe quando nós o vivenciamos, o caminhamos, o percorremos.  Mas quem realmente vive esse Caminho - o Tao - não tem palavras para defini-lo, para interpretá-lo - sabe apenas que Ele existe.

Existem aquelas pessoas que conseguiram, através de uma prática mística, alcançar uma experiência extraordinária e maravilhosa que transcende a barreira do mundo físico, da linguagem e da forma.  Quando essas pessoas retornam de usas experiências e tentam descrevê-la através da linguagem, da forma, da imagem, etc., o que então acontece?  Uma vez esta experiência tenha sido transformada em conceitos verbalizados, na verdade, não mais estará se falando da experiência - porque não se fala, não se revela o Absoluto através da linguagem.  Essas pessoas são aquelas que demonstram ‘intimidade’.... ‘porque na minha experiência eu me encontrei com Deus’....   E o discípulo, admirado, diz:  Venerável mestre, como foi que você encontrou com Deus?     ..................   Deus, portanto, parece ser aquela luz irradiante, parece tudo ser uma ficção científica e todos ficam maravilhados.

Esse é o segundo nível, o nível do fenômeno.  O segundo nível é o da experiência do fenômeno.  Esse nível ainda é melhor do que o terceiro, quando se as pessoas forem religiosas, rezam para não serem castigadas ou para serem abençoadas.  E se não forem religiosas, desprezam qualquer experiência ou fenômeno porque não acreditam em nada.

Por isso, no texto que se sucede, Ele diz:

Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança.

Portanto, existem as pessoas que vivem no estado do Supremo, que compreendem as coisas de uma maneira superior.  Existem as pessoas que compreendem a um nível mediano, aquelas que compreendem a um nível inferior e existem aquelas pessoas que não compreendem.  Nesse nível, estão as pessoas que não possuem convicção das coisas.

No nível superior, existe a convicção, a consciência da existência de algo além do mundo em que vivemos; algo supremo, algo sagrado, algo transcendental que não pode ser descrito através da linguagem.  Sabe-se que o Supremo está além da linguagem: apenas sabe-se que Ele existe.

O segundo nível acredita que existe algo e tenta interpretar esse algo através da linguagem.

O terceiro nível também acredita mas não consegue interpretar nada.  Também tem confiança no que acredita ou acredita de uma maneira ignorante ou ainda acredita não acreditando e critica.  Isso também é uma espécie de convicção, uma espécie de confiança.  Também nesse nível estão as pessoas céticas, que não acreditam.

No quarto nível, abaixo das três categorias anteriores, surge o nível de ‘Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança’.  São aquelas pessoas que não têm nem convicção das coisas.  Nos três níveis anteriores existe a convicção demonstrada de formas diferentes.  Nesse quarto nível, as pessoas não são totalmente confiantes em suas próprias mentes, não têm a convicção de acreditar que existe ou que não existe - ficam flutuando entre o ‘às vezes acho que sim e ás vezes acho que não - às vezes penso e às vezes não penso’.  Surge, então, a desconfiança e a vida é vivida na incerteza.

Em seguida, nas duas últimas frases, Lao Tse diz:
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

Por que então teria surgido toda essa polêmica e toda essa divisão entre as convicções dos seres?  Porque, na verdade, o Homem Sagrado valoriza suas palavras.  A vivência no sagrado está além de sua linguagem.  O Sábio, o Iluminado, sente não poder transportar essa experiência para a linguagem, para a palavra, para que não seja distorcida, para não trazer má interpretações dessas experiências que estão além das palavras.

Por isso, Ele diz:  
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros

Quem vive o Absoluto - que não tem forma -, age naturalmente em sua vida cotidiana, não deixando rastros.  

O que são rastros?

O rastro é a personalidade.  Os grandes mestres iluminados não têm personalidade, não têm sub-consciente ou inconsciente.

Numa palestra de um grande mestre budista em meditação, um discípulo perguntou como seria a conduta de um grande mestre iluminado.

O mestre respondeu que quem alcança a iluminação não tem subconsciente ou inconsciente, apenas tem uma única consciência.  essa consciência não é o consciente como antítese do inconsciente e não é o consciente que cobre, que esconde o inconsciente - simplesmente não existem consciente e inconsciente nem subconsciente.  Existe apenas uma única Consciência.  Essa Consciência não tem julgamento, é uma luz pura, uma lucidez pura.  

O ser iluminado, então, não terá atitudes inconscientes ou subconscientes.  Não se encontram mestres iluminados que, de vem em quando, deixam transparecer atitudes inconscientes ou subconscientes.  Isso não existe.  Se existirem algumas atitudes inconscientes, esses mestres ainda não teriam alcançado, pelo menos, a Plena Iluminação.  Podem até ter uma consciência mais iluminada do que as pessoas comuns, mas a Plena Iluminação só pode ser alcançada quando se atinge a Consciência Única.

O mestre iluminado age naturalmente, com a consciência plenamente integrada com a natureza.  A natureza é tudo o que está em torno dele.  Ele faz parte naturalmente de todas as coisas: se tem fome, come; se tem sono, dorme; na hora de trabalhar, trabalha; na hora de descansar, descansa.

As pessoas comuns se disciplinam mecanicamente e não descansam na hora de descansar, por isso a atividade não pode ser bem feita.  Elas se forçam a aceitar as coisas de forma racional, aceitar coisas que realmente não aceitam e que, mais tarde, deixam transparecer esses reflexos através das doenças.

Quem alcança a Plenitude da Consciência, quando é para não aceitar uma situação, age sem raiva, sem ódio, sem desprezo.  Diz simplesmente: Não é possível ser assim.  E comporta-se de uma maneira muito natural.

Para uma pessoa que não tenha alcançado a iluminação, ela pode até ter uma consciência de que o fato é inaceitável mas ainda guarda dentro de si um julgamento e por causa desse julgamento, essa pessoa será levada a sentir repúdio em relação à situação e agir e reagir com sentimento de repúdio, ou de insegurança ou de raiva.

A pessoa iluminada não tem tais sentimentos - de repúdio ou insegurança.  Simplesmente, ela diz:  Não é possível.  E pronto.  E, por incrível que pareça, tal resposta é mais fácil de ser aceita pelas pessoas que estão propondo algo fora da normalidade, ou incorreto.

Quando a raiva ou o ódio vem à tona, cria-se o conflito.

Quando a energia é natural, não se cria o choque.

Dessa maneira, quem alcança o estado da iluminação, resolve as situações de forma mais natural.  Simplesmente age naturalmente: na hora de dizer sim, é sim; na hora de dizer não, é não; na hora de fazer, faz; e na  hora de não fazer, não faz.  Torna-se, então, uma pessoa invisível, sua personalidade dissolveu-se, tornou-se transparente.  A pessoa que não cria choques nem confrontos, não deixa rastros.

A personalidade é exatamente aquele pé que marca os  rastros.  Cada pessoa que tenha andado, deixa seus rastros como sua marca pessoal.  O ser iluminado não tem essa marca.  O caminho é natural.  Não deixa rastros.

Por isso, Ele diz:

Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.

As pessoas que vivem em torno de um ser iluminado, acabam sendo beneficiadas por ele, sem perceberem.  Chegam a pensar que as coisas aconteceram naturalmente.  Muitos Karmas negativos são desmanchados ou dissolvidos sem que as pessoas tenham consciência que isso aconteceu por intermédio dos benefícios espalhados pelo Ser Iluminado.  Tudo acontece tão naturalmente, que ninguém na verdade presta atenção ao que acontece.

O sol nasce todos os dias e convivemos naturalmente com essa realidade, não sentimos nada de estranho - porque não existe nada que chame a atenção - e tudo está dentro da normalidade.

O Homem Sagrado está tão integrado com a natureza e com todas as pessoas que tudo o que ele faz, acontece naturalmente.

O Tao Te Ching diz que o Homem Sagrado realiza a obra, conclui a obra e se retira, sem que ninguém perceba.

...............

PHTO SÍTIO DAS ESTRELAS, BY JANINE MILWARD

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 17
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 04 de outubro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

...da existência vem o valor ... E da não-existência, a utilidade

CAPÍTULO 11

Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo

A argila é trabalhada na forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto

Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa

Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade

TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse
Tradução do Mestre Wu Jyn Cherng
Sociedade Taoísta do Brasil (http://www.taoismo.org.br/)

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Quem conhece a constância é abrangente

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Janine Milward

Capítulo 16

Alcançando o extremo Vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz
O regresso à raiz se chama ‘quietude’
Quietude se chama ‘retornar a viver’
O retornar a viver se chama ‘constância’
Conhecer a constância se chama ‘Iluminação’
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Tao
O Tao tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

Na China, a Tradição Taoísta é também chamada de Tradição do Mistério.

A Tradição do Mistério é a tradição que busca uma vivência através de uma prática mística que nos leva, que nos conduz a um universo mais profundo, a um universo onde não há limitação, não há linguagem, não há forma... porém é um universo que abraça todas as linguagens e todas as formas.

Essa vivência, esse caminho, se realiza através do alcance do extremo Vazio e a permanência nesse estado - mesmo que a pessoa esteja em estado de lucidez. Devemos entrar no Vazio da extrema quietude e permanecer nesse estado de extrema quietude mesmo que estejamos em atividade. É fácil estar na quietude quando estamos fóra da atividade; difícil é estar em atividade e ao mesmo tempo permanecendo na quietude. Didaticamente, portanto, é necessário primeiro renunciar à atividade para se poder entrar na quietude e só então retornar à atividade sem perder a quietude que foi conquistada quando estávamos quietos.

É esse exatamente o processo do efeito da meditação.

O que é a meditação? Fechamos as portas e as janelas, desligamos o telefone e colocamos um aviso de ‘não perturbe’ na porta. O que então acontece? Estamos nos isolando da atividade para entrarmos na quietude. Através do processo da quietude, alcançamos o Vazio. E, conquistada a calma da quietude, do Vazio, saímos da meditação, voltamos a abrir portas e janelas, religamos o telefone e começamos a trabalhar e a falar com as pessoas. Ainda, porém, permanece dentro de nós aquele efeito da quietude que foi conquistado através do isolamento.

Dessa maneira, uma pessoa que diariamente encontra um tempo para se isolar e entrar na meditação, quando volta ao mundo, carregará consigo aquela quietude enquanto exercer suas atividades cotidianas.

Para o iniciante, esse efeito não dura tanto tempo.

Para um mestre de nível mais elevado, é possível entrar em meditação e sair da meditação e continuar permanecendo com a mesma calma e quietude até a próxima meditação. Para o mestre, a quietude não é alterada durante o seu dia: algumas horas ele pode passar em quietude, até mesmo numa quietude física. Em outras horas, ele estará trabalhando, conversando, agindo e seu corpo físico também estará agindo mas ele terá sempre a sua mente quieta. Sua mente é igualmente quieta durante a meditação ou fora dela. Se houver alguma oscilação, será mínima.

Mesmo sendo um grande mestre, enquanto ainda estiver encarnado, ele estará carregando seu corpo e possui, portanto, as limitações desse corpo. Não terá limitações do espírito e assim pode ter um grande poder para transmutar as limitações do corpo físico. Essas limitações são as doenças, o cansaço. O estágio onde as limitações do corpo físico são transmutadas é um estágio difícil de ser alcançado.

Deve-se alcançar um estágio onde o espírito não seja mais limitado e o corpo físico esteja dentro de uma razoável conservação. Para tanto, existem inúmeras práticas de manutenção física - o Tai-Chi, o Chi Kun, a Yoga, etc. - e cuidados com a dieta, em relação ao que se ingere; cuidados com a saúde de todas as maneiras.

Na verdade, não se encontra um Mestre Taoísta com a cabeça boa e o corpo sedentário. A tradição taoísta dá um imenso valor à saúde física. Saúde física significa que a pessoa tem uma estrutura material que sustenta o espírito para que essa consciência iluminada encarnada no corpo físico possa trabalhar no mundo, possa ajudar as pessoas, divulgar trabalhos e beneficiar a passagem da Tradição para frente.

O Taoísmo gerou grandes terapias: os grandes mestres da medicina chinesa, da acupuntura, vieram todos do Taoísmo.

Na China, portanto, o Taoísmo é chamado de Tradição do Mistério.

Mistério é a entrada na dimensão que vai além da linguagem.

Como se faz essa entrada?

Através do alcance do extremo Vazio. Esse Sublime Vazio, esse extremo Vazio, que é o sublime Vazio que abrange todas as coisas, que é o próprio Wu Chi do I Ching, que é o próprio Absoluto, que é o próprio zero da matemática.

É permanecendo na quietude da extrema quietude, da sublime quietude, que a pessoa consegue se realizar.

Alcançando o extremo Vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude

Mestre Maa nos diz que para realizar o Caminho e a Virtude - Caminho é o Princípio e Virtude é aquilo que está de acordo com o Princípio - o Taoísta deve partir de dois pontos: viver o Tao do Céu Anterior e viver o Tao do Céu Posterior.

No livro do Tao Te Ching - Ching significa Tratado; Tao significa Caminho e Te significa Virtude: portanto o Tratado do Caminho e da Virtude - nos é ensinado que o Tao do Céu Anterior é a própria palavra Tao, o Caminho. E o Tao do Céu Posterior é a Virtude.

Virtude é uma palavra que simboliza aquele que está de acordo com o Absoluto. O Tao do Caminho significa o próprio Absoluto. Uma vez que se esteja sintonizado com o Absoluto, tudo o que for feito estará dentro da normalidade e das Leis cósmicas do Absoluto. Então, a pessoa será naturalmente virtuosa e mesmo que não tiver a intenção de fazer as coisas corretamente, sempre tomará a postura correta.

Quando uma pessoa consegue sintonizar com a grande natureza - viver, comer, caminhar, conviver seguindo a lei da natureza do universo - tudo o que fizer naturalmente estará correto, sem que prejudique ninguém, sem que faça as coisas fóra do momento ou fóra da normalidade ou fóra do curso natural do universo. Todos os seus atos serão virtuosos.

A Virtude é, então, aquilo que está de acordo com as leis cósmicas, com a fluidez e a naturalidade do universo.

Esses não são preceitos e regras rígidas. O Taoísmo diz que precisamos assimilar e compreender os conceitos através do processo de conscientização para então se poder tomar as decisões naturais e se modificar naturalmente.

Em seguida, Ele diz:

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Nessa primeira estrofe, as quatro frases têm que ser separadas em dois conjuntos. Lao Tse não está falando em seqüência. Ele diz que todas as coisas têm manifestação e todas se manifestam simultaneamente.

Nós encontramos no universo uma enorme diversidade de coisas: o homem está vivo, o cavalo está vivo, pedras, montanhas, vulcões, rios, sol - todos se manifestam simultaneamente no universo. Cada um á sua maneira de expressão, num estágio, numa dimensão, com uma característica própria. Em todas as coisas existe a raiz primordial que é a mesma raiz e todas as coisas que estão em manifestação também têm seu momento de repouso.

É exatamente através do processo de repouso que se retorna à raiz.

Quando todos os animais estão dormindo, voltam a entrar no silêncio que é o silêncio de todos os seres. O silêncio de um cachorrinho dormindo é o mesmo silêncio de um homem dormindo. Nessa hora, todos os seres voltam às suas raízes, à raiz de seu ser. O silêncio de um homem vivo e que não está pensando é o mesmo silêncio do homem que já morreu e não está pensando.

O silêncio desse nosso mundo, dessa nossa dimensão, é o mesmo silêncio do outro mundo, da outra dimensão. Nosso universo possui infinitas dimensões que se interpenetram umas nas outras. O silêncio de todas as dimensões é o mesmo silêncio. O Vazio de todas as dimensões é o mesmo Vazio. A quietude de todas as dimensões é a mesma quietude.

Isso é o que Lao Tse chama de ‘raiz de todos os seres’: o Princípio Inicial que é o Tao do Céu Anterior que gera e permite a manifestação de todas as coisas.

Para todos nós que nesse momento estamos vivos e vivendo em atividade, é como se estivéssemos vivendo a primavera e o verão. Porém, tudo o que vive na primavera e no verão, em seguida viverá o outono e o inverno para então novamente voltar à primavera e ao verão. A vida é cíclica.

Se hoje vivemos a atividade, podemos viver também a não-atividade. Se hoje nossa mente é agitada e não pára, nós não conseguiremos não nos preocupar, não nos emocionar. Às vezes, essa emoção e essa atividade mental são tão grandes que ficamos doentes: não conseguimos dormir, ficamos emocionalmente alterados. Todos nós que vivemos em atividade - seja mental, emocional ou física - e não temos controle sobre isso, precisamos saber que também podemos ter a quietude.

É preciso re-descobrir essa quietude e voltar para ela. Fazer renascer dentro de nós uma nova consciência, mais jovial, mais saudável.

Precisamos saber viver a quietude - o outono e o inverno - em cada momento da primavera e do verão. Precisamos viver o outono e o inverno guardando, em cada instante, a primavera e o verão dentro de nós.

Em cada momento de quietude, devemos manter dentro de nós a potencialidade da criatividade. Em cada momento da criação, do trabalho, da atividade, devemos manter a quietude dentro de nós. Sempre. Então viveremos o Yin e o Yang ao mesmo tempo. o Yin dentro do Yang e o Yang dentro do Yin. No momento Yin, não perder o Yang. No momento Yang, não perder o Yin.

Esse é o símbolo do Tai Chi, metade Yin, metade Yang. Dentro do Yin, o pontinho do Yang e dentro do Yang, o pontinho do Yin. Essa é a maneira sábia de viver a primavera e o verão mantendo dentro de si a sobriedade e a profundidade do outono e do inverno.

No momento do repouso do inverno e do recolhimento do outono, manter dentro de nós a força e a criação da primavera e do verão. Essa é a sabedoria que Lao Tse quer passar para nós.

Por isso, Ele diz:

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

O retorno da quietude está dentro de nós. Precisamos saber viver a atividade e resgatar a quietude. Viver o mundo resgatando o silêncio.

Como resgatar esse silêncio? Dentro da meditação, tecnicamente falando.

Dentro do Taoísmo existem três categorias de conhecimento: O Tao, O Caminho - A Lei e As Artes.

Dessa maneira, são infinitas as opções. Existem dezenas de Ordens e Escolas que oferecem um sem número de técnicas. Na medicina chinesa existem infinitas questões a serem estudadas. Na acupuntura existem infinitos pontos a serem trabalhados. Dentro dessas infinitas atividades existe um fundamento interior. É preciso buscar esse fundamento, que é exatamente a quietude que existe dentro da atividade. Igualmente na vida cotidiana que pode ser repleta de atividades - no entanto, é preciso sempre resguardar a quietude interior.

Na prática da Alquimia, essa quietude é conquistada através da prática da meditação. Dentre as infinitas técnicas, em todas as escolas taoístas sempre se considera fundamental a meditação pura.

O que é a meditação pura? Simplesmente sentar-se com as pernas cruzadas, de olhos fechados e deixar-se entrar no silêncio. E através do silêncio, penetrar no Mistério. Através do Mistério, abrir, romper a barreira que limita o universo com o universo. A partir daí, se terá acesso à vivência do Tao para abrir a grande biblioteca sagrada do universo que revelará os sagrados conhecimentos e se entrará em contato direto com os grandes mestres.

A meditação é fundamental, ela é parte do conhecimento, mesmo sendo o mais simples de todos os conhecimentos. No Taoísmo, os mais altos níveis de técnica são os mais simples, os mais altos conhecimentos são os mais simples. O próprio Tao Te Ching deixa muito claro que o Sublime Tao está no Vazio, na quietude, na simplicidade. Não está na complexidade. Mesmo as coisas complexas têm que ser vividas de maneira simples. Se temos qualquer conhecimento complexo, complicado, devemos usá-lo de forma simples, com naturalidade.

O mecanismo do automóvel pode ser complicado mas o espírito do mecânico que realiza o trabalho pode e deve ser simples para poder melhor atuar no momento da feitura ou do conserto. Assim, igualmente acontece para todas as coisas.

Também podemos estar encarnados como um homem ou como um animal, podemos estar no mundo das almas ou podemos ser uma divindade de luz ou uma divindade de obscuridade, podemos estar em qualquer condição - mas a essência permanece a mesma.

Por isso, Lao Tse diz:
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Como retornar? No Taoísmo, tecnicamente, colocamos o Espírito dentro do Sopro e o Sopro dentro de um ponto que chamamos de Portão Negro ou Orifício do Mistério. Ambos significam aquele buraquinho por onde surge o universo e por onde desaparece o universo: uma espécie de buraco negro, onde tudo nasce e onde tudo desaparece.

Através de um processo de meditação profunda, quando se atinge o nível que é chamado de Fixação - quando não mais se tem respiração, pulsação ou pensamento - em qualquer ponto pra frente, chega uma hora em que se atinge uma dimensão onde se encontra esse buraquinho. Esse é o Orifício do Mistério ou Portão Negro. O Espírito está unido ao Sopro, o Sopro segura a Consciência e a energia vai conduzindo a consciência até uma espaçonave que entra dentro de um buraquinho onde exatamente nasce, inicia e termina todo o universo. Nesse ponto, iniciamos nosso mergulho no Mistério.

Também o Orifício do Mistério ou Portão Negro pode ser chamado de “cova”. O Sopro entrando dentro do buraco é acompanhado pelo Espírito - porque o Espírito já estava dentro do Sopro - e o Sopro se instala dentro da cova que não é um buraco e sim um ponto vazio. Um ponto vazio que é infinito. Essa cova se revela após o atingimento do nível de Fixação: é o próprio Absoluto. O Absoluto é o ponto que se abre.

Essa grande viagem é a viagem do Mistério. Como entrar nessa viagem? Através do extremo Vazio e da extrema quietude, todos os seres podem retornar ao princípio.

Assim, Ele diz:

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz

Apesar da personalidade, da cultura, da raça, da característica pessoal, apesar de tudo

Cada um deles pode retornar à sua raiz
O regresso à raiz se chama ‘quietude’
Quietude se chama ‘retornar a viver’

A pessoa volta a viver o infinito, a vinda infinita que volta ao Vazio e passa a abraçar o universo inteiro dentro de si.

O universo, segundo o Taoísmo, não tem princípio nem fim. O universo é a própria infinitude dentro do Absoluto.

Abraçar a vida e retornar a viver

O retornar a viver se chama ‘constância’

A constância não tem princípio nem fim - é constância. Constância significa viver a infinitude, viver todos os seres como um só, viver todos os lugares com um só. Viver todos os momentos como um só. Viver o universo como a si próprio. Isso é constância. Isso é infinito.

Conhecer a constância se chama ‘Iluminação’ - A pessoa passa a ser Iluminada.

Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio

Uma pessoa que não consegue compreender e não consegue alcançar a infinitude do ser, todo o tempo estará se debatendo contra mil coisas.

Quando vivemos a infinitude, percebemos que a vida e a morte são mera ilusão, são infinitos pontos, são infinitos acontecimentos simultâneos que existem abraçados a um grande Vazio que é o Absoluto. Essa é a grande libertação.

O Taoísmo é uma tRAdição que traz em si duas características: ao mesmo tempo que é uma tradição mística é também uma tradição existencial. Existem religiões que se ligam mais às questões que surgem a partir de uma crise existencial: de onde viemos? O que acontecerá conosco, com nossas vidas? Por que estamos aqui?... As pessoas não suportam as próprias crises existenciais e são levadas a uma busca metafísica ou a solução de suas angústias de vida. isso pode gerar um caminho religioso.

Outras Tradições - as místicas - são aquelas que querem compreender a vida: a vida é maravilhosa e por detrás dessa vida maravilhosa devem existir universos maravilhosos... É preciso compreender, viver não apenas o mundo físico como também o mundo paralelo, o mundo das luzes, dos anjos e dos arcanjos... Isso é a busca do místico.

O Taoísmo trabalha com esses dois aspectos juntos. O misticismo significa os infinitos universos e a necessidade da busca existencial é exatamente a de romper esses universos para se alcançar o Vazio. Dessa maneira, o Taoísmo trabalha com ambos os aspectos.

Aquele que atinge o Vazio, abraça o mistério do universo, abraça o misticismo mas ao mesmo tempo, rompe a barreira da crise existencial através da viagem da quietude.

Nós estamos dentro da vida. apenas que não temos o domínio da vida. podemos ter o domínio da vida quando estamos fóra dela. Aí então é possível tornar a ter domínio da vida. não se pode carregar uma xícara se estivermos dentro dela. Se somos limitados pelos fenômenos do mundo que para nós é ilusoriamente representado pelo início, o durante e o fim - e não temos domínio sobre o anterior, ao início e sobre o depois do fim - nos iludimos, nos sentimos limitados e não dominamos o destino. Só teremos o domínio sobre o destino se estivermos fóra dele. E se estivermos fóra do destino, perceberemos que não existe um destino e sim uma infinitude e se o fim não existe, é mesmo o infinito. Então, passaremos a possuir de verdade a vida que é a própria infinitude.

Para o Taoísmo, a vida é igual e infinita. A infinitude é igual, é constante, é eterna. A vida é eterna. Queiramos ou não, conseguindo sentir isso ou não.

Quem conhece a constância é abrangente
Existe uma frase em outro texto Taoísta que diz assim: O homem que é capaz de viver a constante quietude e transparência, tanto o céu quanto a terra retornarão a ele.

Quando o homem possui uma quietude interior, uma transparência interior, ele é tão abrangente que é capaz de abraçar o mundo inteiro. Até o céu e a terra cabem dentro dele, simbolicamente.

Na prática mística, uma pessoa que possui a transparência e a quietude interior, tanto a força do céu quanto a força da terra podem penetrá-la e movimentá-la e essa pessoa não será limitada. Quando o Espírito do homem não é limitado pelo corpo físico, o Espírito e a energia do céu e da terra podem penetrá-lo e então acontecerá uma grande transmutação. Esse é o recolhimento da matéria-prima: esvaziar para receber.

Quem é abrangente pode ser coletivo

Coletivo é aquilo que funciona para tudo e para todos. Não é verdade que o universo - o coletivo - carrega todo mundo?

No misticismo chinês existe um conceito chamado de a Tradição do Grande Veículo e do Pequeno Veículo.

No Pequeno Veiculo cabem duas, três, no Maximo, seis pessoas. No Grande Veículo, cabem cinqüenta, cem pessoas.

Igualmente, no caminho espiritual, existem os grandes e pequenos veículos. As pessoas do Pequeno Veículo são pessoas que se preocupam com o seu bem-estar, sua melhora espiritual, sua libertação, seu rompimento com o sofrimento, meditando, praticando, tudo isso apenas para si mesmas, sem se preocuparem com os outros. No Grande Veículo, as pessoas que tentam buscar sua Iluminação o fazem na intenção de abranger os outros. Portanto, o conceito do caminho do Grande Veículo não é egoísta, é constante e tem abrangência, é o coletivo que abraça todos os seres, ou pelo menos, o máximo que puder atingir.

O coletivo tem o poder da criação... que abraça todos e pode levar a vida para todos. É criador, traz o poder da criação.

A criação tem o poder do céu - Esse é um poder cósmico e não é mais um poder individual: está em toda parte e abraça todos os seres.

O céu, ou seja, o cosmos, contém dentro de si o poder do Tao, o poder do Absoluto: O céu tem o poder do Tao

O Tao tem o poder do eterno - O Tao é o Absoluto e tem o poder do eterno.

Assim (quem alcança este estado)
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

A diferença que existe entre o Homem Sagrado e nós é que o Homem Sagrado um dia deixa seu corpo e quando isso acontece, ele está em toda a parte. Quando nós deixamos nosso corpo, nossa alma compacta transmigra para outro corpo e começa tudo novamente. Para o Homem Sagrado, a morte física lhe aumenta a força, não reduz. Para quem não é Iluminado, a morte física reduz a força porque resta apenas a alma que precisa da força do espírito, que desapareceu. É preciso então encarnar em outro corpo para se re-adquirir essa força e dependendo do karma de cada um, esse corpo poderá ser melhor ou pior e assim segue o destino.

Por isso, Ele diz:

Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

Ao contrário, engrandecerá.

Esse é o conceito da Imortalidade. É preciso não confundir Imortalidade com a tentativa de fazer permanecer o corpo físico. Na Imortalidade, o corpo imortal é outro corpo, é outra maneira de ser. Nós chamamos de Corpo Solar ou Espírito Solar. Um corpo feito de luz irradiante, um corpo de Consciência que quando concentra pode até se materializar e quando se dissolve pode estar dentro de cada um de nós.

Dessa maneira, Lao tese e todas as outras divindades estão dentro de nós.

Quando olharmos para o altar, estamos olhando para o Sagrado que existe dentro de nós, como um espelho que nos diz: Eu estou mostrando a você quem você é realmente. Não se esqueça que você é o Sagrado Guerreiro, que você é um Mestre Ascensionado, que você é a própria Sabedoria, que você caminha na Virtude e na Imortalidade. Não se esqueça que todo o Sagrado está dentro de você, para você despertar e renascer.

..............

PHTO BY JANINE - SÍTIO DAS ESTRELAS

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
Foto: TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Janine Milward

Capítulo 16

Alcançando o extremo Vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz
O regresso à raiz se chama ‘quietude’
Quietude se chama ‘retornar a viver’
O retornar a viver se chama ‘constância’
Conhecer a constância se chama ‘Iluminação’
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Tao
O Tao tem o poder do eterno
Assim, 
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

Na China, a Tradição Taoísta é também chamada de Tradição do Mistério.

A Tradição do Mistério é a tradição que busca uma vivência através de uma prática mística que nos leva, que nos conduz a um universo mais profundo, a um universo onde não há limitação, não há linguagem, não há forma... porém é um universo que abraça todas as linguagens e todas as formas.

Essa vivência, esse caminho, se realiza através do alcance do extremo Vazio e a permanência nesse estado - mesmo que a pessoa esteja em estado de lucidez.  Devemos entrar no Vazio da extrema quietude e permanecer nesse estado de extrema quietude mesmo que estejamos em atividade.  É fácil estar na quietude quando estamos fóra da atividade; difícil é estar em atividade e ao mesmo tempo permanecendo na quietude.  Didaticamente, portanto, é necessário primeiro renunciar à atividade para se poder entrar na quietude e só então retornar à atividade sem perder a quietude que foi conquistada quando estávamos quietos.

É esse exatamente o processo do efeito da meditação.

O que é a meditação?  Fechamos as portas e as janelas, desligamos o telefone e colocamos um aviso de ‘não perturbe’ na porta.  O que então acontece?  Estamos nos isolando da atividade para entrarmos na quietude.  Através do processo da quietude, alcançamos o Vazio.  E, conquistada a calma da quietude, do Vazio, saímos da meditação, voltamos a abrir portas e janelas, religamos o telefone e começamos a trabalhar e a falar com as pessoas.  Ainda, porém, permanece dentro de nós aquele efeito da quietude que foi conquistado através do isolamento.

Dessa maneira, uma pessoa que diariamente encontra um tempo para se isolar e entrar na meditação, quando volta ao mundo, carregará consigo aquela quietude enquanto exercer suas atividades cotidianas.

Para o iniciante, esse efeito não dura tanto tempo.

Para um mestre de nível mais elevado, é possível entrar em meditação e sair da meditação e continuar permanecendo com a mesma calma e quietude até a próxima meditação.  Para o mestre, a quietude não é alterada durante o seu dia: algumas horas ele pode passar em quietude, até mesmo numa quietude física.  Em outras horas, ele estará trabalhando, conversando, agindo e seu corpo físico também estará agindo mas ele terá sempre a sua mente quieta.  Sua mente é igualmente quieta durante a meditação ou fora dela.  Se houver alguma oscilação, será mínima.

Mesmo sendo um grande mestre, enquanto ainda estiver encarnado, ele estará carregando seu corpo e possui, portanto, as limitações desse corpo.  Não terá limitações do espírito e assim pode ter um grande poder para transmutar as limitações do corpo   físico.  Essas limitações são as doenças, o cansaço.  O estágio onde as limitações do corpo físico são transmutadas é um estágio difícil de ser alcançado.

Deve-se alcançar um estágio onde o espírito não seja mais limitado e o corpo físico esteja dentro de uma razoável conservação.  Para tanto, existem inúmeras práticas de manutenção física - o Tai-Chi, o Chi Kun, a Yoga, etc. - e cuidados com a dieta, em relação ao que se ingere; cuidados com a saúde de todas as maneiras.

Na verdade, não se encontra um Mestre Taoísta com a cabeça boa e o corpo sedentário.  A tradição taoísta dá um imenso valor à saúde física.  Saúde física significa que a pessoa tem uma estrutura material que sustenta o espírito para que essa consciência iluminada encarnada no corpo físico possa trabalhar no mundo, possa ajudar as pessoas, divulgar trabalhos e beneficiar a passagem da Tradição para frente.

O Taoísmo gerou grandes terapias: os grandes mestres da medicina chinesa, da acupuntura, vieram todos do Taoísmo.

Na China, portanto, o Taoísmo é chamado de Tradição do Mistério.

Mistério é a entrada na dimensão que vai além da linguagem.

Como se faz essa entrada?

Através do alcance do extremo Vazio.  Esse Sublime Vazio, esse extremo Vazio, que é o sublime Vazio que abrange todas as coisas, que é o próprio Wu Chi do I Ching, que é o próprio Absoluto, que é o próprio zero da matemática.

É permanecendo na quietude da extrema quietude, da sublime quietude, que a pessoa consegue se realizar.

Alcançando o extremo Vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude

Mestre Maa nos diz que para realizar o Caminho e a Virtude - Caminho é o Princípio e Virtude é aquilo que está de acordo com o Princípio - o   Taoísta deve partir de dois pontos: viver o Tao do Céu Anterior e viver o Tao do Céu Posterior.

No livro do Tao Te Ching - Ching significa Tratado; Tao significa Caminho e Te significa Virtude: portanto o Tratado do Caminho e da Virtude - nos é ensinado que o Tao do Céu Anterior é a própria palavra Tao, o Caminho.  E o Tao do Céu Posterior é a Virtude.

Virtude é uma palavra que simboliza aquele que está de acordo com o Absoluto.  O Tao do Caminho significa o próprio Absoluto.  Uma vez que se esteja sintonizado com o Absoluto, tudo o que for feito estará dentro da normalidade e das Leis cósmicas do Absoluto.  Então, a pessoa será naturalmente virtuosa e mesmo que não tiver a intenção de fazer as coisas corretamente, sempre tomará a postura correta.

Quando uma pessoa consegue sintonizar com a grande natureza - viver, comer, caminhar, conviver seguindo a lei da natureza do universo - tudo o que fizer naturalmente estará correto, sem que prejudique ninguém, sem que faça as coisas fóra do momento ou fóra da normalidade ou fóra do curso natural do universo.  Todos os seus atos serão virtuosos.

A Virtude é, então, aquilo que está de acordo com as leis  cósmicas, com a fluidez e a naturalidade do universo.

Esses não são preceitos e regras rígidas.  O Taoísmo diz que precisamos assimilar e compreender os conceitos através do processo de conscientização para então se poder tomar as decisões naturais e se modificar naturalmente.

Em seguida, Ele diz:

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Nessa primeira estrofe, as quatro frases têm que ser separadas em dois conjuntos.  Lao Tse não está falando em seqüência.  Ele diz que todas as coisas têm manifestação e todas se manifestam simultaneamente.

Nós encontramos no universo uma enorme diversidade de coisas: o homem está vivo, o cavalo está vivo, pedras, montanhas, vulcões, rios, sol - todos se manifestam simultaneamente no universo.  Cada um á sua maneira de expressão, num estágio, numa dimensão, com uma característica própria.  Em todas as coisas existe a raiz primordial que é a mesma raiz e todas as coisas que estão em manifestação também têm seu momento de repouso.

É exatamente através do processo de repouso que se retorna à raiz.

Quando todos os animais estão dormindo, voltam a entrar no silêncio que é o silêncio de todos os seres.  O silêncio de um cachorrinho dormindo é o mesmo silêncio de um homem dormindo.  Nessa hora, todos os seres voltam às suas raízes, à raiz de seu ser.  O silêncio de um homem vivo e que não está pensando é o mesmo silêncio do homem que já morreu e não está pensando.

O silêncio desse nosso mundo, dessa nossa dimensão, é o mesmo silêncio do outro mundo, da outra dimensão.  Nosso universo possui infinitas dimensões que se interpenetram umas nas outras.  O silêncio de todas as dimensões é o mesmo silêncio.  O Vazio de todas as dimensões é o mesmo Vazio.  A quietude de todas as dimensões é a mesma quietude.

Isso é o que Lao Tse chama de ‘raiz de todos os seres’: o Princípio Inicial que é o Tao do Céu Anterior que gera e permite a manifestação de todas as coisas.

Para todos nós que nesse momento estamos vivos e vivendo em atividade, é como se estivéssemos vivendo a primavera e o verão.  Porém, tudo o que vive na primavera e no verão, em seguida viverá o outono e o inverno para então novamente voltar à primavera e ao verão.  A vida é cíclica.

Se hoje vivemos a atividade, podemos viver também a não-atividade.  Se hoje nossa mente é agitada e não pára, nós não conseguiremos não nos preocupar, não nos emocionar.  Às vezes, essa emoção e essa atividade mental são tão grandes que ficamos doentes: não conseguimos dormir, ficamos emocionalmente alterados.  Todos nós que vivemos em atividade - seja mental, emocional ou física - e não temos controle sobre isso, precisamos saber que também podemos ter a quietude.

É preciso re-descobrir essa quietude e voltar para ela.  Fazer renascer dentro de nós uma nova consciência, mais jovial, mais saudável.

Precisamos saber viver a quietude - o outono e o inverno  - em cada momento da primavera e do verão.  Precisamos viver o outono e o inverno guardando, em cada instante, a primavera e o verão dentro de nós.

Em cada momento de quietude, devemos manter dentro de nós a potencialidade da criatividade.  Em cada momento da criação, do trabalho, da atividade, devemos manter a quietude dentro de nós.  Sempre.  Então viveremos o Yin e o Yang ao mesmo tempo.  o Yin dentro do Yang e o Yang dentro do Yin.  No momento Yin, não perder o Yang.  No momento Yang, não perder o Yin.

Esse é o símbolo do Tai Chi, metade Yin, metade Yang.  Dentro do Yin, o pontinho do Yang e dentro do Yang, o pontinho do Yin.  Essa é a maneira sábia de viver a primavera e o verão mantendo dentro de si a sobriedade e a profundidade do outono e do inverno.

No momento do repouso do inverno e do recolhimento do outono, manter dentro de nós a força e a criação da primavera e do verão.  Essa é a sabedoria que Lao Tse quer passar para nós.  

Por isso, Ele diz:  

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

O retorno da quietude está dentro de nós.  Precisamos saber viver a atividade e resgatar a quietude.  Viver o mundo resgatando o silêncio.

Como resgatar esse silêncio?  Dentro da meditação, tecnicamente falando.

Dentro do Taoísmo existem três  categorias de conhecimento:   O Tao, O Caminho - A Lei e As Artes.

Dessa maneira, são infinitas as opções.  Existem dezenas de Ordens e Escolas que oferecem um sem número de técnicas.  Na medicina chinesa existem infinitas questões a serem estudadas.  Na acupuntura existem infinitos pontos a serem trabalhados.  Dentro dessas infinitas atividades existe um fundamento interior.  É preciso buscar esse fundamento, que é exatamente a quietude que existe dentro da atividade.  Igualmente na vida cotidiana que pode ser repleta de atividades - no entanto, é preciso sempre resguardar a quietude interior.

Na prática da Alquimia, essa quietude é conquistada através da prática da meditação.  Dentre as infinitas técnicas, em todas as escolas taoístas sempre se considera fundamental a meditação pura.

O que é a meditação pura?  Simplesmente sentar-se com as pernas cruzadas, de olhos fechados e deixar-se entrar no silêncio.  E através do silêncio, penetrar no Mistério.  Através do Mistério, abrir, romper a barreira que limita o universo com o universo.  A partir daí, se terá acesso à vivência do Tao para abrir a grande biblioteca sagrada do universo que revelará os sagrados conhecimentos e se entrará em contato direto com os grandes mestres.

A meditação é fundamental, ela é parte do conhecimento, mesmo sendo o mais simples de todos os conhecimentos.  No Taoísmo, os mais altos níveis de técnica são os mais simples, os mais altos conhecimentos são os mais simples.  O próprio Tao Te Ching deixa muito claro que o Sublime Tao está no Vazio, na quietude, na simplicidade.  Não está na complexidade.  Mesmo as coisas complexas têm que ser vividas de maneira simples.  Se temos qualquer conhecimento complexo, complicado, devemos usá-lo de forma simples, com naturalidade. 

O mecanismo do automóvel pode ser complicado mas o espírito do mecânico que realiza o trabalho pode e deve ser simples para poder melhor atuar no momento da feitura ou do conserto.  Assim, igualmente acontece para todas as coisas.

Também podemos estar encarnados como um homem ou como um animal, podemos estar no mundo das almas ou podemos ser uma divindade de luz ou uma divindade de obscuridade, podemos estar em qualquer condição - mas a essência permanece a mesma.  

Por isso, Lao Tse diz: 
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno

Como retornar?  No Taoísmo, tecnicamente, colocamos o Espírito dentro do Sopro e o Sopro dentro de um ponto que chamamos de Portão Negro ou Orifício do Mistério.  Ambos significam aquele buraquinho por onde surge o universo e por onde desaparece o universo: uma espécie de buraco negro, onde tudo nasce e onde tudo desaparece.

Através de um processo de meditação profunda, quando se atinge o nível que é chamado de Fixação - quando não mais se tem respiração, pulsação ou pensamento - em qualquer ponto pra frente, chega uma hora em que se atinge uma dimensão onde se encontra esse buraquinho.  Esse é o Orifício do Mistério ou Portão Negro.  O Espírito está unido ao Sopro, o Sopro segura a Consciência e a energia vai conduzindo a consciência até uma espaçonave que entra dentro de um buraquinho onde exatamente nasce, inicia e termina todo o universo.  Nesse ponto, iniciamos nosso mergulho no Mistério.

Também o Orifício do Mistério ou Portão Negro pode ser chamado de “cova”.  O Sopro entrando dentro do buraco é acompanhado pelo Espírito - porque o Espírito já estava dentro do Sopro - e o Sopro se instala dentro da cova que não é um buraco e sim um ponto vazio.  Um ponto vazio que é infinito.  Essa cova se revela após o atingimento do nível de Fixação: é o próprio Absoluto.  O Absoluto é o ponto que se abre.

Essa grande viagem é a viagem do Mistério.  Como entrar nessa viagem?  Através do extremo Vazio e da extrema quietude, todos os seres podem retornar ao princípio.

Assim, Ele diz:

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz

Apesar da personalidade, da cultura, da raça, da característica pessoal, apesar de tudo 

Cada um deles pode retornar à sua raiz
O regresso à raiz se chama ‘quietude’
Quietude se chama ‘retornar a viver’

A pessoa volta a viver o infinito, a vinda infinita que volta ao Vazio e passa a abraçar o universo inteiro dentro de si.

O universo, segundo o Taoísmo, não tem princípio nem fim.  O universo é a própria infinitude dentro do Absoluto.  

Abraçar a vida e retornar a viver

O retornar a viver se chama ‘constância’

A constância não tem princípio nem fim - é constância.  Constância significa viver a infinitude, viver todos os seres como um só, viver todos os lugares com um só.  Viver todos os momentos como um só.  Viver o universo como a si próprio.  Isso é constância.  Isso é infinito.

Conhecer a constância se chama ‘Iluminação’  - A pessoa passa a ser Iluminada.

Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio

Uma pessoa que não consegue compreender e não consegue alcançar a infinitude do ser, todo o tempo estará se debatendo contra mil coisas.

Quando vivemos a infinitude, percebemos que a vida e a morte são mera ilusão, são infinitos pontos, são infinitos acontecimentos simultâneos que existem abraçados a um grande Vazio que é o Absoluto.  Essa é a grande libertação.

O Taoísmo é uma tRAdição que traz em si duas características: ao mesmo tempo que é uma tradição mística é também uma tradição existencial.  Existem religiões que se ligam mais às questões que surgem a partir de uma crise existencial: de onde viemos?  O que acontecerá conosco, com nossas vidas?  Por que estamos aqui?...  As pessoas não suportam as próprias crises existenciais e são levadas a uma busca metafísica ou a solução de suas angústias de vida.  isso pode gerar um caminho religioso.

Outras Tradições - as místicas - são aquelas que querem compreender a vida: a vida é maravilhosa e por detrás dessa vida maravilhosa devem existir universos maravilhosos... É preciso compreender, viver não apenas o mundo físico como também o mundo paralelo, o mundo das luzes, dos anjos e dos arcanjos... Isso é a busca do místico.

O Taoísmo trabalha com esses dois aspectos juntos.  O misticismo significa os infinitos universos e a necessidade da busca existencial é exatamente a de romper esses universos para se alcançar o Vazio.  Dessa maneira, o Taoísmo trabalha com ambos os aspectos.

Aquele que atinge o Vazio, abraça o mistério do universo, abraça o misticismo mas ao mesmo tempo, rompe a barreira da crise existencial através da viagem da quietude.

Nós estamos dentro da vida.  apenas que não temos o domínio da vida.  podemos ter o domínio da vida quando estamos fóra dela.  Aí então é possível tornar a ter domínio da vida.  não se pode carregar uma xícara se estivermos dentro dela.  Se somos limitados pelos fenômenos do mundo que para nós é ilusoriamente representado pelo  início, o durante e o fim - e não temos domínio sobre o anterior, ao início e sobre o depois do fim - nos iludimos, nos sentimos limitados e não dominamos o destino.  Só teremos o domínio sobre o destino se  estivermos fóra dele.  E se estivermos fóra do destino, perceberemos que não existe um destino e sim uma infinitude e se o fim não existe, é mesmo o infinito.  Então, passaremos a possuir de verdade a vida que é a própria infinitude. 

Para o Taoísmo, a vida é igual e infinita.  A infinitude é igual, é constante, é eterna.  A vida é eterna.  Queiramos ou não, conseguindo sentir isso ou não.

Quem conhece a constância é abrangente
Existe uma frase em outro texto Taoísta que diz assim:  O homem que é capaz de viver a constante quietude e transparência,  tanto o céu quanto a terra retornarão a ele.

Quando o homem possui uma quietude interior, uma transparência interior, ele é tão abrangente que é capaz de abraçar o mundo inteiro.  Até o céu e a terra cabem dentro dele, simbolicamente.

Na prática mística, uma pessoa que possui a transparência e  a quietude interior, tanto a força do céu quanto a força da terra podem penetrá-la e movimentá-la e essa pessoa não será limitada.  Quando o Espírito do homem não é limitado pelo corpo físico, o Espírito e a energia do céu e da terra podem penetrá-lo e então acontecerá uma grande transmutação.  Esse é o recolhimento da matéria-prima: esvaziar para receber.

Quem é abrangente pode ser coletivo

Coletivo é aquilo que funciona para tudo e para todos.  Não é verdade que o universo - o coletivo - carrega todo mundo?

No misticismo chinês existe um conceito chamado de a Tradição do Grande Veículo e do Pequeno Veículo.

No Pequeno Veiculo cabem duas, três, no Maximo, seis pessoas.  No Grande Veículo, cabem cinqüenta, cem pessoas.

Igualmente, no caminho espiritual, existem os grandes e pequenos veículos.  As pessoas do Pequeno Veículo são pessoas que se preocupam com o seu bem-estar, sua melhora espiritual, sua libertação, seu rompimento com o sofrimento, meditando, praticando, tudo isso apenas para si mesmas, sem se preocuparem com os outros.  No Grande Veículo, as pessoas que tentam buscar sua Iluminação o fazem na intenção de abranger os outros.  Portanto, o conceito do caminho do Grande Veículo não é egoísta, é constante e tem abrangência, é o coletivo que abraça todos os seres, ou pelo menos, o máximo que puder atingir.

O coletivo tem o poder da criação... que abraça todos e pode levar a vida para todos.  É criador, traz o poder da criação.

A criação tem o poder do céu - Esse é um poder     cósmico e não é mais um poder individual: está em toda parte e abraça todos os seres.

O céu, ou seja, o cosmos, contém dentro de si o poder do Tao, o poder do Absoluto:  O céu tem o poder do Tao

O Tao tem o poder do eterno  - O Tao é o Absoluto e tem o poder do eterno.

Assim (quem alcança este estado)
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

A diferença que existe entre o Homem Sagrado e nós é que o Homem Sagrado um dia deixa seu corpo e quando isso acontece, ele está em toda a parte.  Quando nós deixamos nosso corpo, nossa alma compacta transmigra para outro corpo e começa tudo novamente.  Para o Homem Sagrado, a morte física lhe aumenta a força, não reduz.  Para quem não é Iluminado, a morte física reduz a força porque resta apenas a alma que precisa da força do espírito, que desapareceu.  É preciso então encarnar em outro corpo para se re-adquirir essa força e dependendo do karma de cada um, esse corpo poderá ser melhor ou pior e assim segue o destino.

Por isso, Ele diz:

Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

Ao contrário, engrandecerá.

Esse é o conceito da Imortalidade.  É preciso não confundir Imortalidade com a tentativa de fazer permanecer o corpo físico.  Na Imortalidade, o corpo imortal é outro corpo, é outra maneira de ser.  Nós chamamos de Corpo Solar ou Espírito Solar.  Um corpo feito de luz irradiante, um corpo de Consciência que quando concentra pode até se materializar e quando se dissolve pode estar dentro de cada um de nós.

Dessa maneira, Lao tese e todas as outras divindades estão dentro de nós.

Quando olharmos para o altar, estamos olhando para o Sagrado que existe dentro de nós, como um espelho que nos diz: Eu estou mostrando a você quem você é realmente.  Não se esqueça que você é o Sagrado Guerreiro, que você é um Mestre Ascensionado, que você é a própria Sabedoria, que você caminha na Virtude e na Imortalidade.  Não se esqueça que todo o Sagrado está dentro de você, para você despertar e renascer.

..............

PHTO BY JANINE - SÍTIO DAS ESTRELAS

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 16
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1994

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

O retorno é o movimento do Caminho

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 40
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese realizada por Janine Milward
de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1995

Capítulo 40

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

Este Capítulo é muito conhecido devido à sua primeira frase:

“O retorno é o movimento do Caminho”.

Existe um Capítulo do Tao Te Ching que diz assim:

“O Tao gera o Um
O Um gera o Dois
O Dois gera o Três
E o Três gera os dez mil seres”.

Quer dizer, do Três criam-se todas as coisas.

Se o Um cria o Dois, se o Dois cria o Três, e se o Três cria todas as coisas, então o Tao é o Zero.
O Zero é a não-existência. E a existência é a existência de todas as coisas, como Unidade, como algo indivisível, inseparável - que é o Um.

Existência é o Um.
Não-existência é o Zero

O Um é o que o I Ching chama de Tai Chi.
O Zero, é o Wu Chi.

A não-existência é o Vazio, a Abrangência.

A existência é - num exemplo -, como se fosse uma representação teatral que tem seu começo, seu durante e seu fim.

Porém, o espaço, o Vazio, que dispõe o Teatro para que possa haver cenário, palco, espetáculo, trama, atores - isso é a não-existência.

Essa não-existência é o Vazio que permite a forma existir. É o silêncio do teatro que permite a voz e o som dos atores serem ouvidos.

Igualmente, em nossa vida, se tivermos um espaço em nosso coração, podemos abrigar as expressões da vida. Se existir um silêncio em nossa mente, podemos ouvir e expressar a sabedoria da vida.

Por isso, no Taoísmo, nós enfatizamos como maior prioridade, o trabalho da meditação.

O que é o trabalho da meditação?

É o trabalho do silêncio, o trabalho do Vazio. Fechamos os olhos, trazemos a consciência para o interior, tentamos reduzir os pensamentos e diálogos interiores para podermos ter o silêncio dentro de nós.

Quanto maior silêncio temos, maior percepção desenvolvemos. Quando estamos no silêncio, podemos observar e perceber muitos mais sons e vozes. Analogicamente, isto significa que quanto maior quietude interior temos, maior capacidade de observar, pensar e de discernir as coisas teremos.

O silêncio interior é essencial.

Quando temos muito barulho interior, temos menos capacidade de discernir o que deve ser feito, o que é correto, o que é oportuno, o que é inoportuno. E devido ao tumulto interior acabamos tomando decisões erradas e entramos em atividades no momento inadequado. Por isso, o silêncio é prioritário.

É a não-existência que permite a existência.

“O retorno é o movimento do Caminho”

O “retorno” é uma palavra que pode conter três significados;

- em seu sentido bem linear: voltar para trás
- movimento através do círculo. O movimento é feito de retorno - porque estamos sempre voltando ao mesmo ponto. E estamos sempre voltando ao mesmo ponto de todos os pontos desse círculo. Assim, a palavra ‘retorno’ tem o sentido de movimento circular.
- Movimento cíclico. Depois da primavera, vêm o verão, o outono, o inverno e este último dá lugar à primavera, novamente.

Em seu primeiro sentido, o de voltar ao princípio, é como a palavra ‘reliquio’, ou religião, voltar à origem, buscar a raízes e a essência primordial de todas as coisas. Isso é religião.

Não devemos, entretanto, confundir religião com igreja. Igreja é a comunidade de pessoas que estão buscando esse retorno. E cada religião obviamente interpreta esse ‘retorno’ de uma maneira ou de outra. Por isso, existem diversos tipos de retorno, diversos caminhos para o retorno.

Podemos assim conhecer o retorno em seu sentido linear de ‘voltar ao princípio’, encontrar a origem das coisas.

Retorno também significa movimento em círculo.

E, finalmente, significa movimento em ciclos, em períodos cíclicos.

Sem dúvida, a primavera de um ano não é a primavera do ano anterior e não será a primavera do ano a seguir.

Assim, nunca se volta ao mesmo ponto. Volta-se sim, à mesma natureza.

Dessa maneira, o ciclo acontece dentro do linear movimento da infinitude.

No Taoísmo, o conceito do tempo é infinito. O passado não tem princípio. O futuro não tem fim. Não existe início dos tempos nem existe o fim dos tempos.

O tempo é um fio infinito.

E nessa infinitude, os ciclos se repetem. Apenas que a primavera nunca é a mesma, mas tem sempre a mesma natureza.

Se conseguirmos saltar fóra desse fio de infinitude, veremos que - já que o fio é infinito, o tempo não existe para ele. O tempo existe no fio, mas não existe a partir do momento que não existem nem início nem fim. Todos os tempos na verdade estarão espalhados e estarão num mesmo tempo.

Essa é a compreensão da infinitude, segundo o Taoísmo. Esse conceito é essencial dentro da teologia taoísta. Ele difere essencialmente do conceito de outras religiões que falam do início, durante e fim dos tempos.
Para o Taoísmo, não existem nem fim nem início dos tempos. O início está em todos os momentos.

O início, o durante e o fim são uma grande ilusão.

Na questão da re-encarnação, se existe o início, o durante e o fim (e são inúmeros os inícios, os durantes e os fins, um atrás do outro, encadeados) - olhando de ´fora uma vida após outra vida, veremos que a pessoa é sempre a mesma.

No entanto, se o tempo é infinito, a pessoa está sempre no mesmo tempo. assim, se eu estou vivo hoje, a minha próxima vida já co-existe simultaneamente com essa minha vida, como também co-existe com a vida anterior a essa encarnação. Tudo, neste momento, junto.

O que então acontece?

Para quem está fora desse fio de infinitude chamado ‘vida’, todos os tempos estão no mesmo tempo.

Para quem está dentro desse fio, cada tempo é um tempo.

Nós estamos dentro do fio da infinitude e não fóra. Por isso, somos limitados e somos prisioneiros dessa infinitude de nascimentos, crescimentos, envelhecimentos, adoecimentos e mortes. E tudo isso sempre se repetirá.

Todo o trabalho do Taoísmo é para que possamos colocar nossa consciência para além desse fio, para alcançar este Vazio, esse Vazio que abraça esse fio, para compreendermos a infinitude da vida. assim, podemos transcender a vida e a morte.

Esse fio é a palavra ‘existência’.
Esse Vazio que abraça, que abrange este fio, é a não-existência.

Por isso, Lao Tse diz:

“Os seres sob o céu nascem da existência
e a existência nasce da não-existência”

“sob o céu” é uma maneira poética de dizer ‘no mundo’.

Nós estamos nascendo e morrendo infinitamente dentro desse fio. E esse fio nasce do Vazio.

Devemos então levar nossa consciência para o estado do Vazio, para que nosso corpo se torne o próprio fio, para que o infinito universo seja nosso próprio corpo e para que nossa consciência seja esse Vazio que abraça o infinito universo.

A meditação é um processo para nos libertar da vida, sem renunciarmos à vida.

Na verdade, na vida a nada se renuncia. Precisamos nos libertar da vida sem renunciar a ela.

“O retorno é o movimento do Caminho”

O retorno é o movimento do Tao.

No Caminho que estamos vivendo, tudo é cíclico e rítmico.

“A suavidade é a atuação do Caminho”

Como o Caminho atua, como acontece?

Acontece de maneira sutil e suave.

Se considerarmos o movimento do Caminho como algo ativo, então, a atuação desse Caminho é algo passivo.

Tudo o que é ativo é retornável, é o retorno. Ativo é o movimento. Tudo o que tem movimento, retorna.

E tudo o que é a aplicação desse movimento deve ser por natureza, suave.

Essa compreensão, essa linguagem sintética, pode ser levada ao Karma da vida - a lei da causa e do efeito.

Quanto maior a ira que uma pessoa tenha em relação à outra, maior será o retorno recebido dessa ira. Na medicina chinesa, sabemos que a ira causa problemas ao fígado e à vesícula. Atitudes bruscas e violentas externadas trazem efeitos bruscos e violentos para dentro do corpo. Isso é o retorno das coisas.

Caminhando na vida com omais suavidade, o retorno será mais suave.

Todos os movimentos do Tai Chi são movimentos de retorno, circulares. Círculo é retorno. E todos os movimentos do Tai Chi são suaves.

A inspiração do Tai Chi é baseada nessa frase: “A suavidade é a atuação do Caminho”.

O movimento do Tao é o movimento da naturalidade.

O que é movimento da naturalidade?

É o movimento criativo que flui de acordo com a ordem do céu e da terra. Esse é o movimento da naturalidade.

Como saber se estamos em naturalidade?

Qual a fronteira entre vício e naturalidade?

O vício é algo quase instintivo, sem muita consciência ou lucidez.

A naturalidade é fluir.

Os mestres do Tao dizem: A naturalidade é aquilo que está de acordo com a ordem do céu e da terra. É algo que flui em nossa vida naturalmente harmonizado com o tempo, o espaço, o lugar e conosco. É algo integrado com o céu e a terra.

Se estivermos dentro dessa condição, estaremos na naturalidade.

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Foto do meu Altar no Sítio das Estrelas - Janine Milward

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 40
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Foto: TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 40
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese realizada por Janine Milward
 de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1995

Capítulo 40

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

Este Capítulo é muito conhecido devido à sua primeira frase:

“O retorno é o movimento do Caminho”.

Existe um Capítulo do Tao Te Ching que diz assim:

“O Tao gera o Um
O Um gera o Dois
O Dois gera o Três
E o Três gera os dez mil seres”.

Quer dizer, do Três criam-se todas as coisas.

Se o Um cria o Dois, se o Dois cria o Três, e se o Três cria todas as coisas, então o Tao é o Zero.
O Zero é a não-existência.  E a existência é a existência de todas as coisas, como Unidade, como algo indivisível, inseparável - que é o Um.

Existência é o Um.
Não-existência é o Zero

O Um é o que o I Ching chama de Tai Chi.
O Zero, é o Wu Chi.

A não-existência é o  Vazio, a Abrangência.

A existência é - num exemplo -, como se fosse uma representação teatral que tem seu começo, seu durante e seu fim.

Porém, o espaço, o Vazio, que dispõe o Teatro para que possa haver cenário, palco, espetáculo, trama, atores - isso é a não-existência.

Essa não-existência é o Vazio que permite a forma existir.  É o silêncio do teatro que permite a voz e o som dos atores serem ouvidos.

Igualmente, em nossa vida, se tivermos um espaço em nosso coração, podemos abrigar as expressões da vida.  Se existir um silêncio em nossa mente, podemos ouvir e expressar a sabedoria da vida.

Por isso, no Taoísmo, nós enfatizamos como maior prioridade, o trabalho da meditação.

O que é o trabalho da meditação?

É o trabalho do silêncio, o trabalho do Vazio.  Fechamos os olhos, trazemos a consciência para o interior, tentamos reduzir os pensamentos e diálogos interiores para podermos ter o silêncio dentro de nós.

Quanto maior silêncio temos, maior percepção desenvolvemos.  Quando estamos no silêncio, podemos observar e perceber muitos mais sons e vozes.  Analogicamente, isto significa que quanto maior quietude interior temos, maior capacidade de observar, pensar e de discernir as coisas teremos.

O silêncio interior é essencial.

Quando temos muito barulho interior, temos menos capacidade de discernir o que deve ser feito, o que é correto, o que é oportuno, o que é inoportuno.  E devido ao  tumulto interior acabamos tomando decisões erradas e entramos em atividades no momento inadequado.  Por isso, o silêncio é prioritário.

É a não-existência que permite a existência.

“O retorno é o movimento do Caminho”

O “retorno” é uma palavra que pode conter três significados;

- em seu sentido bem linear: voltar para trás
- movimento através do círculo.  O movimento é feito de retorno - porque estamos sempre voltando ao mesmo ponto.  E estamos sempre voltando ao mesmo ponto de todos os pontos desse círculo.  Assim, a palavra ‘retorno’ tem o sentido de movimento circular.
- Movimento cíclico.  Depois da primavera, vêm o verão, o outono, o inverno e este último dá lugar à primavera, novamente.

Em seu primeiro sentido, o de voltar ao princípio, é como a palavra ‘reliquio’, ou  religião, voltar à origem, buscar a raízes e a essência primordial de todas as coisas. Isso é religião.

Não devemos, entretanto, confundir religião com igreja.  Igreja é a comunidade de pessoas que estão buscando esse retorno.  E cada religião obviamente interpreta esse ‘retorno’ de uma maneira ou de outra.  Por isso, existem diversos tipos de retorno, diversos caminhos para o retorno.

Podemos assim conhecer o retorno em seu sentido linear de ‘voltar ao princípio’, encontrar a origem das coisas.

Retorno também significa movimento em círculo.

E, finalmente, significa movimento em ciclos, em períodos cíclicos.

Sem dúvida, a primavera de um ano não é a primavera do ano anterior e não será a primavera do ano a seguir.

Assim, nunca se volta ao mesmo ponto.  Volta-se sim, à mesma natureza.

Dessa maneira, o ciclo acontece dentro do linear movimento da infinitude.

No Taoísmo, o conceito do tempo é infinito.  O passado não tem princípio.  O futuro não tem fim.  Não existe início dos tempos nem existe o fim dos tempos.

O tempo é um fio infinito.

E nessa infinitude, os ciclos se repetem.  Apenas que a primavera nunca é a mesma, mas tem sempre a mesma natureza.

Se conseguirmos saltar fóra desse fio de infinitude, veremos que - já que o fio é infinito, o tempo não existe para ele.  O tempo existe no fio, mas não existe a partir do momento que não existem nem início nem fim.  Todos os tempos na verdade estarão espalhados e estarão num mesmo tempo.

Essa é a compreensão da infinitude, segundo o Taoísmo.  Esse conceito é essencial dentro da teologia taoísta.  Ele difere essencialmente do conceito de outras religiões que falam do início, durante e fim dos tempos.
Para o Taoísmo, não existem nem fim nem início dos tempos.  O início está em todos os momentos.

O início, o durante e o fim são uma grande ilusão.

Na questão da re-encarnação, se existe o início, o durante e o fim (e são inúmeros os inícios, os durantes e os fins, um atrás do outro, encadeados) - olhando de ´fora uma vida após outra vida, veremos que a pessoa é sempre a mesma.

No entanto, se o tempo é infinito, a pessoa está sempre no mesmo tempo.  assim, se eu estou   vivo hoje, a minha próxima vida já co-existe simultaneamente com essa minha vida, como também co-existe com a vida anterior a essa encarnação.  Tudo, neste momento, junto.

O que então acontece?

Para quem está fora desse fio de infinitude chamado ‘vida’, todos os tempos estão no mesmo  tempo.

Para quem está dentro desse fio, cada tempo é um tempo.

Nós estamos dentro do fio da infinitude e não fóra.  Por isso, somos limitados e somos prisioneiros dessa infinitude de nascimentos, crescimentos, envelhecimentos,  adoecimentos e mortes.  E tudo isso sempre se repetirá.

Todo o trabalho do Taoísmo é para que possamos colocar nossa consciência para além desse fio, para alcançar este Vazio, esse Vazio que abraça esse fio, para compreendermos a infinitude da vida.  assim, podemos transcender a vida e a morte.

Esse fio é a palavra ‘existência’.
Esse Vazio que abraça, que abrange este fio, é a não-existência.

Por isso, Lao Tse diz:

“Os seres sob o céu nascem da existência
e a existência nasce da não-existência”

“sob o céu” é uma maneira poética de dizer ‘no mundo’.

Nós estamos nascendo e morrendo infinitamente dentro desse fio.  E esse fio nasce do Vazio.

Devemos então levar nossa consciência para o estado do Vazio, para que nosso corpo se torne o próprio fio, para que o infinito universo seja nosso próprio corpo e para que nossa consciência seja esse Vazio que abraça o infinito universo.

A meditação é um processo para nos libertar da vida, sem renunciarmos à vida.

Na verdade, na vida a nada se renuncia.  Precisamos nos libertar da vida sem renunciar a ela.

“O retorno é o movimento do Caminho”

O retorno é o movimento do Tao.

No Caminho que estamos vivendo, tudo é cíclico e rítmico.

“A suavidade é a atuação do Caminho”

Como o Caminho atua, como acontece?

Acontece de maneira sutil e suave.

Se considerarmos o movimento do Caminho como algo ativo, então, a atuação desse Caminho é algo passivo.

Tudo o que é ativo é retornável, é o retorno.  Ativo é o movimento.  Tudo o que tem movimento, retorna.

E tudo o que é a  aplicação desse movimento deve ser por natureza, suave.

Essa compreensão, essa linguagem sintética, pode ser levada ao Karma da vida - a lei da causa e do efeito.

Quanto maior a ira que uma pessoa tenha em relação à outra, maior será o retorno recebido dessa ira.  Na medicina chinesa, sabemos que a ira causa problemas ao fígado e à vesícula.  Atitudes bruscas e violentas externadas trazem efeitos bruscos e violentos para dentro do corpo.  Isso é o retorno das coisas.

Caminhando na vida com omais suavidade, o retorno será mais suave.

Todos os movimentos do Tai Chi são movimentos de retorno, circulares.  Círculo é retorno.  E todos os movimentos do Tai Chi são suaves.

A inspiração do Tai Chi é baseada nessa frase:  “A suavidade é a atuação do Caminho”.

O movimento do Tao é o movimento da naturalidade.

O que é movimento da naturalidade?

É o movimento criativo que flui de acordo com a ordem do céu e da terra.  Esse é o movimento da naturalidade.

Como saber se estamos em naturalidade?

Qual a fronteira entre   vício e naturalidade?

O vício é algo quase instintivo, sem muita consciência ou lucidez.

A naturalidade é fluir.

Os mestres do Tao dizem:   A naturalidade é aquilo que está de acordo com a ordem do céu e da terra.  É algo que flui em nossa vida naturalmente harmonizado com o tempo, o espaço, o lugar e conosco.  É algo integrado com o céu e a terra.

Se estivermos dentro dessa condição, estaremos na naturalidade.

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Foto do meu Altar no Sítio das Estrelas - Janine Milward

TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 40
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, 
Rio de Janeiro, em 25 de abril de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng, 
do chinês para o português,
 e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se 
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching