Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés

“Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de nove andares levanta-se de um acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés”

Wu Jyh Cherng - extraído de sua aula sobre sua interpretação acerca o Capítulo 64 do Tao Te Ching, de Lao Tse

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Esta última frase é muito falada pelos taoístas porque ela diz que as grandes realizações começam a partir das pequenas.

Nesse trecho, Lao Tse está falando de uma maneira metafórica.

A terra é a coisa mais baixa que existe e então podemos entender que todas as grandes realizações, todos os grandes resultados, começam a partir das pequenas coisas.

O espiritualista procura sua meta espiritual a partir das pequenas coisas, embora possa desejar uma árvore de grande abraço, uma torre de nove andares, uma viagem de mil léguas.

Sempre é repetida para nós a frase de que a prática espiritual começa a partir das coisas cotidianas. A prática espiritual nunca começa isolada da vida.

O caminho espiritual está em cada instante. E Caminho Espiritual, no Taoísmo, não é aquele do “deixar-se deslumbrar pelo espírito”. Não.

O caminho espiritual começa pela simples consciência, a consciência simples de Quem Sou Eu? O que é possível fazer? O que estou fazendo?

Sem julgamentos, sem culpas, sem remorsos.

O não-julgamento permite que entendamos nossos desejos, que saibamos que são desejos e que os encaramos como desejos. Também que saibamos se3 estamos ou não nesse momento conseguindo nos desvencilhar ou não desses desejos. Se estamos libertos. Isso é trabalho espiritual.

O primeiro passo para o trabalho espiritual é ‘cair na real’. Sem ‘cairmos na real’, não conseguiremos começar a trabalhar espiritualmente.

Como podemos nos mudar?

Temos que saber quem somos nós. Porque, se não conseguirmos nos mudar, o que iremos então mudar? Vamos mudar quem?

E também primeiramente temos que saber quem somos nós para em seguida ajudarmos os outros a se mudarem.

O trabalho espiritual é transformação interior. Transformar nossa natureza, nossa consciência, nosso comportamento, transformar nosso ser para uma perfeição, para uma coisa melhor.

Por isso, ‘cair na real’ é importante, é o primeiro passo, no Taoísmo.

Depois, é preciso aprendermos a encarar a nós mesmos de uma maneira honesta. Nisso já se conquista o primeiro passo: estamos em paz conosco mesmo, não temos remorsos. Sabemos quem somos e assim estamos tranqüilos, estamos em paz.

Conquistou-se o primeiro passo que é essa paz. A paz que Lao Tse fala no início do Capítulo - a paz que permite a tranqüilidade interior.

A quietude interior acaba nos permitindo ter uma consciência um pouco mais madura, uma consciência um pouco mais lúcida, acaba por nos conceder atitudes um pouco diferentes. São mudanças.

E tudo isso começa a partir do ‘cair na real’. Nos reconhecendo e nos aceitando como somos, naturalmente começamos a trabalhar espiritualmente.
E isso pode e deve ser feito a cada instante de nossa vida, em cada momento de nossa vida, de uma maneira natural e possível.

Também não devemos cair no outro lado quando podemos agir tudo isso de forma muito rígida ou obrigatória. Não. Se criarmos uma pressão mental o tempo inteiro, não estaremos tendo uma consciência lúcida. Estaremos, sim, tendo uma consciência pesada.

O caminho espiritual, segundo o Taoísmo, não pode ser algo insustentável, algo tão pesado que esmague nossos ombros, nosso ego, todo nosso ser.

O caminho espiritual precisa ser sustentável, possível.

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Voltando ao texto,

Na linguagem simbólica, ‘árvore de grande abraço’ - uma árvore bem grande; ‘torre de nove andares’ - uma torre bem alta;’ viagem de mil léguas’ - uma viagem mais longa....... esses três símbolos
Árvore - Torre - Viagem

Representam a grandiosidade, a altura ou profundidade e algo distante.

O caminho espiritual tem que ir longe, ir para a altura e para a profundidade, e tem que ser abrangente: para poder abranger, para poder ser superior, para poder ser profundo.

E tudo começa pelas coisas simples.



Como fazer tudo isso de uma maneira simples?
- sem apego
- sem intenção
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Tradução e Interpretação do Capítulo 64
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 19 de setembro de 1995


Capítulo 64


O que tem paz é fácil de manter
O que é anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é frágil é fácil de quebrar
O que é pequeno é fácil de dissolver

Realiza-se a partir de antes da existência
Organiza-se a partir de antes da desordem

Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de nove andares levanta-se de um acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés

Quem age, fracassa
Quem se apega, perde

Assim, o Homem Sagrado não age, por isso não fracassa
Não se apega, por isso não perde
Os homens, na realização das atividades,
Sempre fracassam em suas quase-conclusões

Cautela tanto no fim como no princípio
Conduz à atividade sem fracasso

Assim, o Homem Sagrado deseja através do não-desejo
Não valoriza as coisas de difícil aquisição
Aprende através do não aprender
Possui o que ultrapassa a todos os homens
Para auxiliar a naturalidade dos dez mil seres
E não encorajar a ação.


TRECHO EXTRAÍDO DE

TAO TE CHING

O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE

Lao Tse, o Mestre do Tao

Tradução e Interpretação do Capítulo 64
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG

Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 19 de setembro de 1995

Transcrição e Síntese de Janine Milward


A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching