A Tomada da Consciência
Wu Jyh Cherng
Encontramos dois tipos de religião:
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a religião patriarcal
-
a religião ancestral
O Taoísmo é uma religião ancestral, ou seja, não é uma doutrina
fundamentada na palavra de uma pessoa, especificamente.
O Taoísmo é uma Tradição que tem seus ensinamentos fundamentados em
todos os mestres que buscaram o Tao, desde os tempos imemoriais. Historicamente, podemos encontrar textos
escritos há mais de sete mil anos, escritos pelos mestres que já buscavam e
alcançaram o Tao, realizando o Tao em si mesmos.
A religião ancestral não determina de onde ela nasce e onde será
seu fim. Esse é um conceito paralelo ao
conceito sobre o universo. No Taoísmo,
não se considera que exista um começo ou um fim no universo. Simplesmente, o universo é a própria
infinitude. Essa infinitude não tem
princípio e não terá fim.
Temos que entender, então, que:
-
O Taoísmo é uma Tradição religiosa ancestral, mística e espiritual.
-
A busca espiritual do homem pode ser uma necessidade existencial ou
uma necessidade mística.
A necessidade existencial faz as perguntas: quem sou eu, de onde venho, para onde
vou? Qual é o porquê de tudo isso? Qual é o sentido de eu viver? Tudo termina?
Se não termina....?
A pessoa entra em aflição, se desespera e parte para uma busca
existencial.
Existe a necessidade mística de se saber o que existe além daquilo
que eu vejo...? ..... no além do
visível, do racional, do compreensível: uma ânsia de viver profundamente a
vida.
Na crise existencial, a religião é procurada para preencher todas
as limitações.
Na necessidade mística, o que impera é o desejo de viver
profundamente a vida. mesmo que a vida
seja a parte manifestada do Tao.
O Taoísmo é uma Tradição religiosa que soma estes dois conceitos.
O Tao, do lado do Céu Anterior, fala do Vazio, do estado de
libertação das prisões da vida, das limitações e da ignorância. Quem alcança o Vazio do Tao sai das
limitações e da ignorância.
Mas, por outro lado, o Taoísmo considera que o próprio universo
manifestado - que pode ser compreendido como aquele que aprisiona a alma da
pessoa - também ele é a própria manifestação do Tao.
O Taoísmo, então, propõe que vivamos profundamente a vida.
Todo o tempo estamos trabalhando com esta fusão. O Taoísmo compreende que tudo é indivisível
e, ao mesmo tempo, didaticamente, nos faz perceber esta diferenciação, essa polarização, devido ao
nosso nível de consciência.
Dessa maneira, fundimos a questão existencial com a questão
mística. Fundimos o Vazio do Absoluto
com a Onipotência do Universo, vivemos profundamente a vida e nos libertamos da
prisão da vida.
Os grandes mestres taoístas sempre dizem que devemos viver
profundamente a vida sem sermos prisioneiros da vida; que devemos nos libertar totalmente da vida
sem nos afastarmos da vida.
No momento em que se precisa da liberdade da vida e nos afastamos
dela (pensando conseguir esta liberdade), estamos criando uma polarização.
Se vivemos profundamente a vida e somos prisioneiros dela, também
estamos em outra polaridade.
Para vivermos profundamente a vida sem sermos prisioneiros da vida
e para nos libertarmos da prisão da vida sem nos afastarmos da vida - para
podermos viver essa condição -, precisamos ter uma virtude:
A Naturalidade.
Saber fluir como a água, saber nos transformar, saber que todas as
coisas estão em contínua transformação, ampliar nossa consciência, nos
harmonizando com todas as coisas que estão em
torno de nós, tomar a consciência da integridade das coisas e aceitar
nossa vida atual.
Na prática, temos que conhecer quem somos nós, conhecer nossos
defeitos, nossas impossibilidades, nossas impotências, nossos apegos, nossos
desejos.
Então, após podermos comandar a consciência da realidade, é
possível começarmos a trabalhar.
Como poderíamos transformar algo
que não sabíamos bem o que?
Primeiramente, temos que ter a
consciência.
No Taoísmo, trabalha-se principalmente no desenvolvimento da
consciência. A maioria das pessoas não
querem pensar nas coisas, não querem trabalhar sua consciência. Os vícios e os apegos, normalmente são
transformados após a tomada de consciência, com a transformação da consciência.
O Taoísmo trabalha sempre na compreensão equilibrada das
coisas. Sempre procuramos o caminho do
equilíbrio. É preciso haver disciplina
espiritual, sem radicalidades, sem extremismos.
Na meditação, é fundamental que haja a disciplina diária: 10, 15
minutos que vão transformando a pessoa pouco a pouco.
Como viemos de um acúmulo de vícios e apegos de vidas anteriores,
Tomar a Consciência significa trabalhar o caminho espiritual de uma maneira
gradual, progredindo aos poucos - mas progredindo - e não regredindo.
Também não adianta tentar mudar vícios e apegos de um dia para
outro, radicalmente, porque o retorno à vida anterior pode ser ainda mais
danoso.
Caminhando devagarinho um dia se olha para trás e se realiza que já
se andou bastante.
Existe um ditado chinês que diz:
Quem tem força de vontade está
sempre tendo força de vontade.
(ou seja, a pessoa projeta sua meta e a realiza)
Quem não tem força de vontade
está sempre tendo vontade.
(ou seja, a pessoa está todo o tempo mudando suas vontades e
criando força de vontade para poder caminhar... e não vai conseguir).
Capítulo 2
Quando os seres sob o céu reconhecem o belo como belo
Então isso já se tornou um mal
E reconhecendo o bem como bem
Então, já não seria um bem
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro
Portanto,
O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra
Os dez mil seres fazem-se mas não para se realizar
Iniciam a realização mas não a possuem
Concluem a obra sem se apegar
E, justamente por realizar sem apego
Não passam.
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foto - sitio das estrelas, janine
Texto extraído das transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em maio de 1994, sobre o Capítulo 2 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e sintetizada por Janine Milward e os Títulos dos Textos foram idealizados por Janine e não fazem parte dos textos originais concernente a cada um dos Capítulos apresentados.
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se ainda no prelo a realização da publicação, em breve,
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching