A Ação sem-intenção do Céu e da Terra
Wu Jyh Cherng
Trecho extraído da interpretação
de Mestre Cherng sobre o
Capítulo 5
Lao Tse, Tao Te Ching, o Livro
do Caminho e das Virtudes
O Céu e a Terra não são
bondosos
Tratam os dez mil seres como
cães de palha
O Homem Sagrado não tem
piedade
Trata os homens como cães de
palha.
O espaço entre o Céu e a Terra
se assemelha a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua
criação.
O excesso de conhecimento
conduz ao esgotamento
E não é melhor do que
manter-se no meio.
O Céu e a Terra e os sábios
iluminados não se importam com os seres humanos. O que se quer dizer com isso? O Céu e a Terra não têm piedade, não são
piedosos.
Toda a piedade é um ato de
doação, um ato de benefício feito ao próximo com intenção.
O Céu e a Terra não têm essa
piedade... e será então que eles nada
fazem? Pelo contrário. Tudo o que o Céu e a Terra fazem, tudo o que
a natureza faz, é sem-intenção. O Céu e
a Terra doam nossa água, nosso ar, nosso calor, nossa Terra, a vida - mas não o
fazem por piedade, eles simplesmente fazem.
E sem intenção. É uma doação sem
intenção.
O Céu e a Terra não são
bondosos
Tratam os dez mil seres como
cães de palha
Todos os seres vivem entre o Céu
e a Terra. O Céu, a Terra e a natureza
tratam todos os seres sem intenção.
Antigamente, o cão de palha era usado para o ritual de oferenda
substituindo o sacrifício dos animais.
Pega-se a palha, faz-se o formato de um cachorro e o queima.
Por que se queima o cão de palha? Primeiramente, assim não se sacrifica a
vida. A oferenda torna-se
simbólica. A oferenda é necessária, ela
simboliza a doação, o desapego.
No altar, se põem comida,
dinheiro, se acende incenso - tudo isso como um gesto de doação. A doação é um gesto que representa o
desapego. Se nos apegamos às coisas, não
existe doação. As oferendas, no entanto,
não são um suborno às Divindades.
Tratam-se, sim, de um processo de desapego. Todas as doações são realizadas para o
desapego e não para o suborno. Na
verdade, devemos colocar as coisas no altar, não desejando nada, simplesmente
oferecendo, como um desapego em si.
Quando se realiza uma oferenda,
oferece-se um cão de palha. Por que3 um
cão e não um boi ou um porco de palha?
Porque o cão é o animal da fidelidade, passando a vida inteira sendo
fiel a seu dono. Por isso se oferece o
cão de palha que tão bem simboliza a fidelidade.
Num ritual de oferenda de um cão
de palha, simboliza-se a entrega, um gesto de desapego, de resguardo da vida e
de fidelidade. Fidelidade perante as
tradições espirituais, perante os Imortais, perante às Divindades, os Mestres
Ascensionados.
Nessa frase também está
implicada a idéia de que, em se oferecendo um cão de palha, está se dando uma
importância ao simbolismo do gesto.
Desde há muito tempo na história da humanidade muitas coisas foram
simbolicamente realizadas para poupar vidas e para manter apenas o espírito da
coisa e não para que a oferenda se tornasse algo distorcido e de conveniência.
Diz-se, então, que o Céu e a
Terra não são piedosos porque tratam os dez mil seres como cães de palha...
significando que o Céu e a Terra tratam todas as pessoas sem a intenção de
fazer o bem, no entanto, eles simplesmente fazem o bem. E se não tratam bem as pessoas, se não têm piedade, tratam todos os seres como
cães de palha. Tratar muito bem alguém,
tornar uma pessoa muito valiosa para si mesmo, pode significar que se está
querendo exercer a posse sobre esta mesma pessoa. Todos os valores que temos em relação a
coisas e pessoas trazem um sentimento de posse.
Quem não tem qualquer sentimento de posse não trata algo ou alguém como
valioso e nem trata como sem valor. Não
faz as coisas nem se relaciona por piedade com as pessoas; apenas faz tudo como dever ser feito. Dessa maneira, faz todas as coisas sem
sentimento, sem intenção, sem julgamento.
O Céu e a Terra fazem o sol, a
luz, o vento, o lume, a chuva, sem intenção de fazê-los. O ser humano sim, é que quase sempre tem uma
intenção naquilo que faz. O ser humano
tende a julgar que a tempestade acontece porque o Céu está aborrecido com ele,
que a seca acontece porque a Terra está irada.
Nós sempre julgamos que a Terra e o Céu possuem uma identidade
egóica. Que reagem como nos, seres
humanos, reagimos em relação aos nossos amigos ou inimigos. Nós podemos nos irar contra pessoas e criar
tempestades em suas vidas ou tornar suas vidas áridas ou secas. E fazemos tudo isso com intenção. Como uma reação do nosso ego. Porém o Céu e a Terra não possuem egos, eles
simplesmente fazem as coisas e fazem-nas sem intenção. Dessa maneira, eles tratam os dez mil seres
como cães de palha.
Capítulo 5
O Céu e a Terra não são
bondosos
Tratam os dez mil seres como
cães de palha
O Homem Sagrado não tem
piedade
Trata os homens como cães de
palha.
O espaço entre o Céu e a Terra
se assemelha a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua
criação.
O excesso de conhecimento
conduz ao esgotamento
E não é melhor do que
manter-se no meio.
CRÉDITOS:
foto - sitio das estrelas, janine milward
Este texto é extraído da
transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 21 de
junho de 1994, sobre o Capítulo 5 do Tao
Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e
Interpretação do Mestre Cherng.
Esta Aula foi transcrita e
sintetizada por Janine Milward.
O Título deste texto
A Ação Sem-Intenção do Céu e
da Terra
foi idealizado por Janine e não faz parte do
texto original.
A tradução dos Capítulos do
Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora
Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo,
Brasil
Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se a realização da
publicação
das interpretações de Wu Jyh
Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse,
o Tao Te Ching