A Luz e a Não-Luz


A Luz e a Não-Luz

Janine Milward

Sendo o Mundo da Não-Manifestação advindo do Tao, o Caminho, apenas espelhado ou manifestado pelo Mundo da Manifestação, surgem a Luz e a Não-Luz, o princípio criativo e a energia cósmica que realizam esta Criação ou espelhamento ou manifestação.

Aquilo que não pode ser nomeado, o Tao, o Caminho, o Vazio, finalmente é nomeado, manifestado, através de seu espelhamento realizado pela Luz e a Não-Luz.

A Luz e a Não-Luz seriam as definições mínimas da dualidade cabível na primordialidade da Criação, ou Mundo da Manifestação, ou Céu Posterior, ou Tai Chi (que nos revela o Sublime Yang e o Sublime Yin – a Luz e a Não-Luz).

Quando existe a interação entre a Luz e a Não-Luz, estaremos falando, então, da Criação e da mutação constante existente dentro dessa Criação, em ciclos de nascimento, vida e morte.

A Criação – nascendo dentro do útero do Tao, o Caminho – em seu processo de eterna mutação, vai apresentar a constância da realização da duração, ou seja, a Criação, em sua multiplicidade, vai sempre se metamorfoseando, transformando, mudando, transmutando em tempo e espaço e em seu Caminho de eterno retorno – realizando assim, o movimento do Caminho dentro do Mundo da Manifestação.

Assim, o Mundo da Não-Manifestação possui apenas plena interiorização..... enquanto o Mundo da Manifestação, por estar contido dentro do Mundo da Não-Manifestação, possui exterioridade ao mesmo tempo que interioridade, certamente. E por possuir este duplo aspecto, está em constante estado de mutação: ora a Criação faz face à sua exteriorização, ora à sua interiorização, ora a Luz entra em cena, ora a Não-Luz entra em cena.

A partir desta dualidade mínima - Luz e Não-Luz, Exteriorização e Interiorização -, toda a Criação sob o Tao realiza-se. E esta realização acontece sempre fusionando a constância da Vida à duração da vida, em ciclos que vão do sutil ao denso e de retorno ao sutil, sempre em eterno retorno, sempre em eterna mutação.

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas

O ETERNO RETORNO

O ETERNO RETORNO
Janine Milward
A Infinitude acontece sempre e sempre nos apresentando suas constantes mutações. Tudo no mundo da manifestação é apresentado através a Infinitude porém sempre também através suas constantes mutações: é o Eterno Retorno. Somente o mundo da não-manifestação é efetivamente Infinito e não-mutável.
Em nosso Planeta Terra, nossa Mãe-Gaia, essa Infinitude - acolhendo suas constantes mutações - é realizada através o aparente Caminho do Sol ao longo de um ano, formando o Oito do Sol, o Revirão do Sol, o Analema.
Eu penso que uma forma de vivenciarmos a Infinitude em suas eternas mutações é através nossa prática espiritual, nossos Caminhos na Espiritualidade.
O conceito da Infinitude sendo vivenciado através a Mutação acontece todo o tempo, sempre tudo está em eterno movimento - Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching, que
O RETORNO É O MOVIMENTO DO CAMINHO.
Esta movimentação de eterno retorno do Sol pode ser compreendida enquanto uma mensagem importante para os seres da Terra que tentam, através suas observações diurnas e noturnas, compreenderem os céus e tudo aquilo que os céus queriam traduzir para a Terra.
Sempre que o Sol atinge um lugar mais ao alto na abóbada celeste no lugar onde os seres estão enraizados, este momento pode ser denominado enquanto Solstício de Verão, ou seja, um Tempo de Luz, de Calor, de Vida.
Porém, logo depois o Sol retorna... e continua sua jornada buscando o lado oposto e fica bem mais baixo no horizonte - ou mesmo desaparece (dependendo da latitude do lugar do enraizamento dos seres): este momento pode ser denominado enquanto Solstício de Inverno, ou seja, um Tempo de Não-Luz, de Frio, de encolhimento de vida.
Sempre foi preciso que os seres pudessem traduzir suas percepções através manifestações simbolizadas, de alguma maneira:
A Luz pode ser simbolizada/expressa enquanto Manifestação Yang.
A Não-Luz pode ser simbolizada/expressa enquanto Manifestação Yin.
A figura do Oito do Sol pode ser simbolizada através os discos do Sol expressando tanto o momento Yang da Luz quanto o momento Yin da Não-Luz.
O Oito do Sol, o Revirão, o Eterno Retorno, é a viga-mestra de nossa compreensão sobre a natureza e, em continuidade, de todos os conhecimentos que, a meu ver podem simbolizar tanto a compreensão possível do mundo da não-manifestação quanto a compreensão possível do mundo da manifestação.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Foto do Analema ou Oito do Revirão do Sol
Realizada por John Raffell combinando 52 exposições individuais, perto do Trópico de Câncer (latitude 23 1/2 norte)

O Eterno Retorno



O Eterno Retorno

Janine Milward

O fio da existência é advindo do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior através da Luz e da Não-Luz, certamente. Porém, a existência é advinda da não-existência – o Mundo da Manifestação é o espelho do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior.
Lao Tsé nos diz em seu Capítulo 40:
O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

O Mundo da Não-Manifestação é a própria não-mutação, ou seja, a única coisa que nunca entra em mutação é a própria não-mutação que somente existe no Mundo da Não-Manifestação e é exatamente aquilo que Lao Tsé nos diz que não se têm palavras para falar sobre, ou para se definir... É o Tao.

O Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior – Wu Chi -, no entanto, não possui qualquer dualidade, apenas a Unidade, o Absoluto, Paramapurusa, Tao, Deus – o Tao da Criação.

E no Mundo da Não-Manifestação, em não havendo lugar para a dualidade – apenas para a Unidade absoluta – então, poderia nos trazer a idéia da Imortalidade, certamente. Dessa maneira, a palavra Imortalidade poderia ser sinônima de Unidade absoluta.

....... Apenas não podemos nos esquecer que o Tao está ainda além do Tudo, do Todo e do Nada....

Lao Tsé nos diz que o próprio Tao, o Caminho, faz brotar sua semelhança dentro de si mesmo – em sua absoluta interiorização, constância e não-mutação realizadas pelo Mundo da Não-Manifestação – dando berço à Criação advinda Mundo da Manifestação, ou seja, o Caminho realiza uma movimentação.

A movimentação realizada pelo Caminho em seu espelhamento plenamente interiorizado é a própria Criação.

No entanto, essa Criação é apenas um espelho do Caminho e sendo assim, sempre a Ele retorna – por ser Seu absoluto pertencimento.

Chegamos, então, à conclusão de que o movimento do Caminho em seu retorno é o princípio primordial do conceito da mutação, ou seja, existe uma movimentação entre o Caminho e a Criação, entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação.

A verdade é que essa movimentação dá berço ao Mundo da Manifestação. O Mundo da Manifestação existe a partir da mutação.

Não podemos nos esquecer, entretanto, que o Tao, o Caminho é plenamente interiorizado - assim como o Mundo da Não-Manifestação que acolhe e realiza o Mundo da Manifestação..., que, por sua vez, possui tanto interiorização quanto exteriorização.

Sendo o Tao, o Caminho, absolutamente interiorizado, constante e não-mutável, a mutação constante e existente dentro do Mundo da Não-Manifestação, se expressa na Criação – em seu Eterno Retorno.

Assim, a Criação, antes de mais nada, é o espelhamento do Tao, o Caminho, e cabe dentro Dele – que possui apenas a plenitude da interiorização.

A Criação – nascendo dentro do útero do Tao, o Caminho – em seu processo de eterna mutação, vai apresentar a constância da realização da duração, ou seja, a Criação, em sua multiplicidade, vai sempre se metamorfoseando, transformando, mudando, transmutando em tempo e espaço e em seu Caminho de eterno retorno – realizando assim, o movimento do Caminho dentro do Mundo da Manifestação.

A Criação – em sua multiplicidade e coletividade – apresenta sua exterioridade (na medida que toda a Criação cabe dentro do Mundo da Não-Manifestação advindo do Tao, o Caminho), bem como apresenta sua interioridade (na medida que é espelhamento do Tao, o Caminho, que é absolutamente interiorizado).

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
JANINE MILWAD
foto: Sítio das Estrelas

Além do corpo, o Corpo permanece Através do não-corpo, conclui o Corpo





Capítulo 7

O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros

Assim
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo  avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo

TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.



Interpretação
Janine Milward

O céu é constante, a terra é duradoura
O céu é o tempo e a terra é o espaço. O tempo existe todo o tempo, o espaço vai se formando e desformando a partir do tempo. A verdade é que tempo e espaço se cruzam e entrecruzam todo o tempo e todo o espaço. Porém, quando o espaço termina de acontecer, permanece o tempo.

No entanto, tudo aquilo que restou do espaço duradouro e do tempo constante, em algum momento, novamente fusionados numa semente cósmica, explodem juntos dando vida a um novo universo de tempo e espaço.

No I Ching, o tempo constante é simbolizado pela linha Yang e contínua; e o espaço duradouro é simbolizado pela linha Yin e vazada, nos trazendo, dessa maneira, a noção da constância do tempo e da duração do espaço. O espaço é a matéria e a anti-matéria que, ao assumirem e re-assumirem sua eterna mutação, vão adentrando o tempo, que já existe anteriormente e posteriormente - por ser constante.

Ambos apenas existem e se existem dentro da constância e da duração é porque apenas criam, criam todo o universo, toda a natureza, todos os seres... mas não criam para si... apenas criam. E porque apenas existem e criam são constantes e duradouros.

Em outro Capítulo (51) , Lao Tse nos diz:

O Caminho gera, a Virtude cria
Fazem crescer, fazem nutrir
Fazem completar, fazem concluir
Fazem o sustento e fazem a cobertura
Geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
Isto chama-se Misteriosa Virtude.

O Caminho gera, a Virtude cria.... O Tao gera, o Te cria.... O tempo corresponde ao Tao - por ser constante. O espaço corresponde à Virtude - por ser duradoura, por se metamorfosear eternamente. O céu corresponde, então ao tempo e ao Tao. A terra corresponde, então, ao espaço (a matéria e a anti-matéria) e à Virtude.

Assim sendo, o que faz todo o universo ser gerado e criado é a fusão do Tao e do Te, do Caminho e da Virtude, do céu e da terra, do tempo e do espaço. E tudo pode assim existir simplesmente porque o Tao da Criação assim é, por natureza.... Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 25:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza.

Orientando-se por sua própria natureza, o Tao gera e a Virtude cria - é a Misteriosa Virtude, o Mistério dos Mistérios. Apenas podemos compreender a partir da geração e da criação.... para além disso, encontra-se o Tao da natureza.

O Tao da natureza é impessoal - por isso nada gera e cria para si mesmo, apenas cria. Gera por gerar e cria por criar e exatamente por nada gerar nem criar para si mesmo, é constante e duradouro, assim como o céu e a terra.

O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros

A segunda estrofe, no entanto, nos recoloca no lugar do homem, da criação, daquilo que foi gerado e criado e que, a partir da expansão de sua mente e da iluminação de sua consciência, consegue compreender todas estas questões e a elas retornar - é a Criação quem re-cria o Criador.

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 40.

A existência é o Mundo da Manifestação e a não-existência é o Mundo da Não-Manifestação. O homem é aquele que, através da expansão infinita de sua mente e da iluminação de sua consciência, pode transitar entre esses dois mundos, tornando-se de homem a Homem Sagrado. E é sobre isso que Lao Tse nos fala na segunda estrofe do Capítulo 7:

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo


Então, Lao Tse diz também ao homem que ele, sendo parte da geração e da criação, pode também ser o co-regente do Tao da Criação da natureza.... Como? Através de sua Sagração.
O que é a Sagração do Homem? Lao Tse nos diz para nos assemelharmos ao tempo e ao espaço, ao céu e à terra, ao Tao e ao Te, ao Caminho e à Virtude.

A consciência iluminada é aquela que faz o homem aprender a "deixar seu corpo para trás"... ou seja, sendo o corpo matéria e sendo matéria a correspondência da duração (por estar sendo sempre transformada), a busca do Homem Sagrado é ser constante como o tempo fusionado à duração do espaço.

Assim como acontece com as estrelas em nosso universo, por exemplo.

...............

O Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação
Quando uma estrela explode ejeta na Galáxia gases e partículas que em algum tempo e em algum espaço se condensarão e formarão outra estrela com seus planetas girando em torno de si e, quem sabe, gerando vida... Assim, elementos leves e elementos pesados se fundem alquimicamente fazendo e refazendo, criando e re-criando, numa re-encarnação quase eterna, a natureza, os seres, nós.

Somos, então, poeira de estrelas. Em nossos ossos, nossas veias, nossa carne, todo nosso corpo, estão re-encarnados os elementos químicos provenientes de estrelas que viveram antes de nós e que morreram e ao morrerem, nos proporcionaram a vida tal como a vivemos e conhecemos.

Sendo poeira de estrelas, temos em nosso corpo e consequentemente em nossa mente, guardados toda a herança deixada pelas estrelas nossas antecedentes, como uma árvore genealógica da galáxia, do universo em que vivemos. Assim, existe dentro de nós e em nós o passado, o presente e o futuro, tudo dentro de nossa vida, numa mesma simultaneidade do universo.

Assim é o nosso corpo dentro do tempo e do espaço em que existimos. No entanto, sendo poeira de estrelas, podemos voltar a ser uma estrela?

O que dentro de nós certamente pertence à totalidade desse universo, que com ele junto nasceu, que anteriormente a ele já existia e quando ele morrer, não morrerá e junto com a semente que restou do universo que findou, explodirá em um novo universo?

O espírito do Tao.

O Espírito do Tao que gera o Tudo dentro do Nada e que cria o Todo... esse espírito vive em cada tempo e espaço do universo que conhecemos. Esse espírito vive na Terra, no Sol, na Lua, na Galáxia, nas outras estrelas, nas outras Galáxias, em mim, em você.

A consciência expandida significa a assunção do Espírito do Tao através do Caminho da Iluminação, inicialmente, e posteriormente através do Caminho da Imortalidade ou Liberação.
Trilhar esses caminhos significa trabalhar o corpo - herança da re-encarnação das estrelas do universo - para nele conter não apenas uma parte do Todo do Universo mas também o Tudo e o Nada gerados pelo Tao através do Espírito.

Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo

O Homem Sagrado é aquele que já alcançou a Iluminação, possuindo, portanto, consciência iluminada e infinita, sabedora de sua herança da re-encarnação das estrelas do universo e contenedora do Espírito do Tao.

O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás e o Corpo avança
Esse corpo feito de poeira de estrelas, já contendo em si mesmo a consciência iluminada e infinita, busca trazer para si mesmo a Luz dessas estrelas da qual faz parte - dentro da simultaneidade do universo.

Luz é matéria. Trazer a Luz à matéria do corpo é o trabalho realizado dentro do Caminho da Imortalidade ou Liberação. O Homem Sagrado, ao se aproximar e se fusionar mais e mais com o Espírito do Tao, gera e cria para si mesmo sua própria Luz, como se, pouco a pouco, fosse se tornando uma estrela, voltando a ser uma estrela, fazendo seu corpo acompanhar a Luz que já existe de forma subjetiva em sua consciência expandida, infinita e iluminada pela Luz do Tao.

Além do corpo, o Corpo permanece
Este processo alquímico vai acontecendo de forma que o corpo físico vai sendo "tomado" pela Luz que o ilumina, fazendo-o então tomar a forma de um Corpo de Luz. Esse Corpo de Luz é constante enquanto o corpo é duradouro.

Através do não-corpo, conclui o Corpo
Finalmente, o corpo físico, poeira de estrelas, herdeiro da re-encarnação das estrelas do universo, já plenamente fusionado à Luz do Espírito do Tao, deixa de ser corpo - agora é o não-corpo - concluindo o Corpo, o Corpo de Luz, o Corpo Espiritual.

O Corpo de Luz do Homem Sagrado traz em si mesmo O Tao, O Caminho, e A Virtude, o tempo e o espaço, o céu e a terra, a constância e a duração e retorna à sua fonte primordial, volta a ser uma estrela.

(Uma estrela espiritual, certamente, pertencente ao Mundo da Não-Manifestação, pronta a ser materializada no Mundo da Manifestação)
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Meditação: A Alquimia do Tao
No Caminho da Iluminação o que se pretende alcançar é a infinitude da consciência, a plena e total iluminação da consciência, a expansão ilimitada da consciência.

Essa consciência já vem fusionada com o Espírito que por sua vez já se fusionou com o Sopro Primordial e O Elixir da Vida é uma energia concreta, objetivada – que pode, porém, ser perdida.

Dessa forma, com o Elixir da Vida adquirido, o Caminhante parte, então, para o reprocessamento desse Elixir, tornando-o mais e mais preservado e amadurecido.

O amadurecimento completo, através da realização do Caminho e da Virtude, ou seja, do aprofundamento na meditação e nas práticas espirituais, leva o Caminhante a, do Elixir da Vida amadurecido, alquimizar sua transformação em Feto Sagrado, ou seja, dar gestação a um ser de luz dentro de si mesmo. Esse sentimento de estar gestando um Ser de Luz não é ilusório ou subjetivo, não, é real mesmo: começa a surgir no ventre do Caminhante uma energia condensada extremamente poderosa.

Quando o Feto Sagrado se torna totalmente amadurecido surge o Corpo Solar ou Corpo de Luz ainda interiorizado dentro do Caminhante. Existem Mestres que são tão iluminados por este Corpo Solar que iluminam qualquer lugar onde chegam!

Finalmente, este Corpo Solar é exteriorizado e a partir desse momento, o Caminhante Iluminado passa a trabalhar seu próprio corpo físico , seu Caldeirão, para torná-lo apto a se interiorizar totalmente dentro do Corpo Solar – que passa a ser o corpo real e alquimizado do Caminhante Iluminado e prestes a se tornar um Imortal, O Homem Sagrado.

Essa é a Alquimia do Tao. Essa Alquimia surge a partir da constância do Céu e da duração da Terra, ou seja, da fusão dos elementos do Mundo da Não-Manifestação com os do Mundo da Manifestação....isso traz a eternidade.
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O Caminho da Iluminação e o Caminho da Imortalidade
O Caminho da Imortalidade se dá quando, ao morrer, o Iluminado não deixa seu corpo na terra para ser cremado ou enterrado...ele ascende para o céu com seu Corpo de Luz exteriorizado e seu corpo físico interiorizado e totalmente alquimizado – tudo é Corpo de Luz - tornando-se, então, um Imortal. Mestre Jesus foi um claro exemplo de Ascensão aos Céus.

Essa é a Sagração do Homem, esse é o Homem Sagrado, mostrada por Lao Tse em seu Capítulo 16:

O Caminho tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer

O Caminho da Imortalidade é muito mais além do que O Caminho da Iluminação – desde que traz a Infinitude da Consciência e da Vida, A Imortalidade, e não somente a Infinitude da Consciência, A Iluminação.

O Iluminado ainda continua atado à Roda da Vida, retornando à encarnação para continuar processando seu Elixir da Vida. Ele possui a consciência infinita mas ainda não possui, em si mesmo, a própria Luz. Luz é matéria. É somente dentro da encarnação que o processamento da própria Luz pode ser realizado e a Alquimia do Tao pode ser completada. Sobre isso, Lao Tse nos fala no Capítulo 9:

Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu

O Imortal não mais continua atado à Roda da Vida, não mais precisando retornar à encarnação.... No entanto, muitos Imortais assumem o compromisso de retornar á encarnação e atuarem como mestres até que o último ser alcance sua Iluminação e Imortalidade... Eis o Capítulo 77:

Mas quem pode possuir sobra para oferecer ao mundo?
Somente aquele que possui o Caminho
Por isso, o Homem Sagrado
Age sem querer para si
Conclui a obra mas não se apega
E não deseja mostrar sua eminência


Lao Tse bem nos descreve o Iluminado e o Imortal quando qualifica ambos de "Grande", sendo que o primeiro é o "Ir" e o segundo o "Retornar" bem como ambos são "O rei", ou seja, aquele que possui em si (o Iluminado) e é em si (O Imortal) a Consciência do Tao: :O Espírito e O Sopro Primordial da Criação. Eis o Capítulo 25:

Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho

Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar

O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes,
E o rei é um deles.

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Tao
O Tao se orienta por sua própria natureza 


Com um abraço estrelado,
Janine Milward

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TAO TE CHING
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tse, o Mestre do Tao

Capítulo 7

Interpretação de Janine Milward

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior
e hoje é publicada pela Editora Mauad, São Paulo.

Na Editora Mauad, São Paulo, Brasil,
encontra-se  a realização da publicação
das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Somos Poeira de Estrelas




Somos Poeira de Estrelas

Janine Milward

Quando uma estrela explode ejeta na Galáxia gases e partículas que em algum tempo e em algum espaço se condensarão e formarão outra estrela com seus planetas girando em torno de si e, quem sabe, gerando vida... Assim, elementos leves e elementos pesados se fundem alquimicamente fazendo e refazendo, criando e re-criando, numa re-encarnação quase eterna, a natureza, os seres, nós.

Somos, então, poeira de estrelas. Em nossos ossos, nossas veias, nossa carne, todo nosso corpo, estão re-encarnados os elementos químicos provenientes de estrelas que viveram antes de nós e que morreram e ao morrerem, nos proporcionaram a vida tal como a vivemos e conhecemos.

Sendo poeira de estrelas, temos em nosso corpo e consequentemente em nossa mente, guardados toda a herança deixada pelas estrelas nossas antecedentes, como uma árvore genealógica da galáxia, do universo em que vivemos. Assim, existe dentro de nós e em nós o passado, o presente e o futuro, tudo dentro de nossa vida, numa mesma simultaneidade do universo.

Assim é o nosso corpo dentro do tempo e do espaço em que existimos. No entanto, sendo poeira de estrelas, podemos voltar a ser uma estrela?

-  O que dentro de nós certamente pertence à totalidade desse universo, que com ele junto nasceu, que anteriormente a ele já existia e quando ele morrer, não morrerá e junto com a semente que restou do universo que findou, explodirá em um novo universo?

-  O espírito do Tao.

O Espírito do Tao que gera o Tudo dentro do Nada e que cria o Todo... esse espírito vive em cada tempo e espaço do universo que conhecemos. Esse espírito vive na Terra, no Sol, na Lua, na Galáxia, nas outras estrelas, nas outras Galáxias, em mim, em você.

A consciência expandida significa a assunção do Espírito do Tao através do Caminho da Iluminação, inicialmente, e posteriormente através do Caminho da Imortalidade ou Liberação.


Trilhar esses caminhos significa trabalhar o corpo - herança da re-encarnação das estrelas do universo - para nele conter não apenas uma parte do Todo do Universo mas também o Tudo e o Nada gerados pelo Tao através do Espírito.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward

Foto: Galáxia Antennae


http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2006/46/image/a/format/web_print/

O céu é constante, a terra é duradoura

Foto de Caminhos Espirituais.

O céu é constante, a terra é duradoura

Janine Milward

O céu é o tempo e a terra é o espaço. O tempo existe todo o tempo, o espaço vai se formando e desformando a partir do tempo. A verdade é que tempo e espaço se cruzam e entrecruzam todo o tempo e todo o espaço. Porém, quando o espaço termina de acontecer, permanece o tempo.

No entanto, tudo aquilo que restou do espaço duradouro e do tempo constante, em algum momento, novamente fusionados numa semente cósmica, explodem juntos dando vida a um novo universo de tempo e espaço.

No I Ching, o tempo constante é simbolizado pela linha Yang e contínua; e o espaço duradouro é simbolizado pela linha Yin e vazada, nos trazendo, dessa maneira, a noção da constância do tempo e da duração do espaço. O espaço, em sua múltipla maneira de se apresentar, é a matéria e a anti-matéria que, ao assumirem e re-assumirem sua eterna mutação, vão adentrando o tempo, que já existe anteriormente e posteriormente - por ser constante.

Ambos apenas existem e se existem dentro da constância e da duração é porque apenas criam, criam todo o universo, toda a natureza, todos os seres... mas não criam para si... apenas criam. E porque apenas existem e criam são constantes e duradouros.

Em seu Capítulo 51 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude , Lao Tse nos diz, novamente confirmando o fato de que céu e terra, o Caminho e a Virtude, criam mas não criam para si... apenas criam:
O Caminho gera, a Virtude cria
Fazem crescer, fazem nutrir
Fazem completar, fazem concluir
Fazem o sustento e fazem a cobertura
Geram, porém não se apossam
Agem, porém não retêm
Cultivam, porém não controlam
Isto chama-se Misteriosa Virtude.

O Caminho gera, a Virtude cria.... O Tao gera, o Te cria.... O tempo corresponde ao Tao - por ser constante. O espaço corresponde à Virtude - por ser duradouro, por se metamorfosear eternamente. O céu corresponde, então ao tempo e ao Tao. A terra corresponde, então, ao espaço (a matéria e a anti-matéria) e à Virtude.

Assim sendo, o que faz todo o universo ser gerado e criado é a fusão do Tao e do Te, do Caminho e da Virtude, do céu e da terra, do tempo e do espaço. E tudo pode assim existir simplesmente porque o Tao da Criação assim é, por natureza.... Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 25:
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza.

Orientando-se por sua própria natureza, o Tao gera e a Virtude cria - é a Misteriosa Virtude, o Mistério dos Mistérios. Apenas podemos compreender a partir da geração e da criação.... para além disso, encontra-se o Tao da natureza.
Penso que, na realidade, céu e terra expressam o Wei Wu Wei, a ação-dentro-da-não-ação, ou seja, a ação agida sem-intenção, apenas dentro da naturalidade do Tao - é a Misteriosa Virtude, o Mistério dos Mistérios.

O Tao da natureza é impessoal - por isso nada gera e cria para si mesmo, apenas cria. Gera por gerar e cria por criar e exatamente por nada gerar nem criar para si mesmo, é constante e duradouro, assim como o céu e a terra.

O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
A segunda estrofe, no entanto, nos recoloca no lugar do homem, da criação, daquilo que foi gerado e criado e que, a partir da expansão de sua mente e da iluminação de sua consciência, consegue compreender todas estas questões e a elas retornar - é a Criação quem re-cria o Criador.

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência
- Assim nos diz Lao Tse em seu Capítulo 40.

A existência é o Mundo da Manifestação e a não-existência é o Mundo da Não-Manifestação. O homem é aquele que, através da expansão infinita de sua mente e da iluminação de sua consciência, pode transitar entre esses dois mundos, conscientizando-se enquanto Caminhante e trilhando seus Caminhos da Iluminação e da Imortalidade - tornando-se de homem a Homem Sagrado.

E é sobre isso que Lao Tse nos fala na segunda estrofe do Capítulo 7:
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
e o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo

Lao Tse diz também ao homem que ele, sendo parte da geração e da criação, pode também ser o co-regente do Tao da Criação da natureza.... Como? Através de sua Sagração.

O que é a Sagração do Homem? Lao Tse nos diz para nos assemelharmos ao tempo e ao espaço, ao céu e à terra, ao Tao e ao Te, ao Caminho e à Virtude, à constância e à duração.

A consciência iluminada é aquela que faz o homem aprender a "deixar seu corpo para trás"... ou seja, sendo o corpo matéria e sendo matéria a correspondência da duração (por estar sendo sempre transformada e estabelecida dentro de alguma forma), a busca do Homem Sagrado é ser constante como o tempo fusionado à duração do espaço. Ou seja, a busca do Homem Sagrado é posicionar-se no Portal entre os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação. Neste lugar, pode o Homem Sagrado criar e apenas criar e não criar para si e por isso pode manter-se constante e duradouro, exercendo a Misteriosa Virtude.

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas