Tradução e Interpretação do Capítulo 29
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1995
Capítulo 29
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular.
Quem o manipula, se destrói
Quem o retém, se perde
Pois as coisas:
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência.
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Possuir é dominar. Para se possuir o mundo e dominá-lo, é preciso manipulá-lo. Ao invés de permitir ao mundo em ser como ele é realmente, a nossa tentativa é de intervir e fazer com que o mundo aja conforme a nossa vontade. Isso é possuir, dominar e manipular o mundo.
e age para isso - tomando as atitudes para que isso, a dominação, possa acontecer.
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
Por que é impossível? Porque o mundo - que dentro do Taoísmo é chamado de Céu e Terra - é aquele que nos dá a ordem das coisas.
De onde tiramos a noção do tempo e do espaço? Através do céu e da terra. Através do movimento dos astros, através da mudança das estações, através da claridade e da obscuridade; com tudo isso obtemos a consciência do tempo e do espaço onde vivemos. O nascimento, a vida e a morte foram a nossa consciência do mundo, elaboram a nossa consciência da existência.
E, ao mesmo tempo, fazemos parte dessa grande alegoria chamada o Mundo. E vivemos entre o Céu e a Terra. Vivemos entre o espaço e a limitação. Vivemos entre o ilimitado - representado metafisicamente pelo céu -, e o limitado - a terra.
Dessa maneira, podemos ver no I Ching o conceito e a trilogia do Céu, do Homem e da Terra, formando os 3 elementos do universo - a Trilogia do I Ching.
Ao mesmo tempo, fazemos parte do universo e aí adquirimos a noção e o sentido de nossa vida, de nossa existência - através das leis e do mecanismo do universo. E por isso precisamos respeitá-los porque qualquer tentativa de alterar a Lei do universo, a ordem da natureza, seria um processo de tentar tirar a ordem de nossa vida.
O céu e a terra formam a Lei que proporciona a ordem de todas as coisas. A tentativa de possuir, de alterar ou interferir nessa Lei é como se fosse uma pessoa com pouquíssima força e que ousasse enfrentar a grande roda do destino, a grande roda do universo, que é impossível de ser alterada.
Chuang Tse, em um dos seus contos, usa esse simbolismo através do louva-deus, que era um bichinho valente e destemido que derrotava todos os outros insetos. Um dia, percebeu que na estrada passava todos os dias uma carroça com uma roda grande e pesada que deixava profundas marcas no chão. Ou louva-deus pensou consigo mesmo: Quem é essa grande roda que se atreve a deixar essas grandes marcas no chão! Eu, que sou o mais poderoso desse território, vou impedir a passagem dessa roda de agora em diante!
Em vão, todos os outros bichinhos lhe aconselharam a não fazer isto. Mas o louva-deus estava irredutível: Eu vou fazer arar essa roda!
E assim, o louva-deus se colocou no meio da estrada e lá ficou esperando pela grande roda que passou.... e, ao passar, esmagou o pobre insetinho...
O louva-deus desapareceu na história e nunca mais foi lembrado a não ser por Chuan Tse que o ressuscitou para ilustrar mais um de seus contos.
Essa grande roda formada pelo movimento da energia e da circulação do Céu e da Terra, é o movimento da totalidade. E, portanto, não há como u m pequeno membro dessa grande totalidade - que, na verdade, está dentro dessa roda - querer impedir o seu movimento.
Nós fazemos parte dessa grande roda e ao mesmo tempo recebemos sua Lei.
Dessa maneira, não existe como nós possamos alterar ou impedir o prosseguimento dessa roda porque simplesmente fazemos parte dela. O que precisamos fazer é nos conscientizar de nossa existência dentro dessa grande roda.
Por isso, Lao Tse diz:
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
Em seguida, Ele diz:
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular.
Quem o manipula, se destrói
Quem o retém, se perde
Em outros Capítulos, já abordamos o assunto de que o universo não tem princípio nem fim. É uma infinitude em constante transformação.
A cada instante de nossa vida, estamos em transformação: nossas células, nossos pensamentos, nossas emoções. Toda nossa existência está em constante transformação ou transfiguração. Não apenas nós como todo o universo.
E aquele que pretende reter, o seja, que pretende realizar a tentativa de preservar uma imagem, um momento de sua vida, acaba por ver que essa tentativa é inútil. É uma tentativa ilusória. Mesmo que pensemos que estamos firmemente vivendo esse exato momento, na verdade já não estamos mais. Tudo fica ilusoriamente fixado num instante, mas na realidade, já fomos mais adiante. E a tentativa de nos agarrar a algo que já passou apenas faz com que percamos nosso presente, aquilo que está acontecendo em cada instante.
Reter é um apego. É preciso sabermos romper o apego em relação a quatro coisas:
À fama à riqueza à nobreza ao poder
Com o poder, se manipula - ou assim se supõe. Aquele que acha que tem o poder de manipular as coisas, na verdade acaba sendo manipulado pela vida, sem que perceba.
A nobreza, o prestígio - é um estado ilusório de ser. Nobre é considerado aquele que se coloca acima dos outros... Todos vivemos e, no final, todos morremos da mesma maneira e nada levamos conosco!
Também a fama e a riqueza não as levamos conosco após a morte. Nascemos nus e morremos nus. Quando viemos ao mundo, tomamos emprestado do mundo nosso corpo; e ao deixarmos o mundo, a ele devolvemos nosso corpo.
Por isso, Lao Tse diz que o taoísta tem que quebrar essa barreira, esse apego ao poder, à nobreza, à riqueza e à fama.
A tentativa de possuir os prestígios do mundo revela os desejos que vão consumindo nosso Espírito e nosso Sopro, fazendo com que percamos nossa Consciência pura e transparente, fazendo com a vida se perca.
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência.
Lao Tse também nos diz para eliminarmos o excesso, a opulência e a complacência..
Como viver sem tudo isso?
Simplesmente viver com a mente da naturalidade. Encarar os fatos da vida com naturalidade.
Não podemos impedir as ações dos outros em relação a nós, ações tanto agradáveis quanto desagradáveis. A tudo - o melhor e o pior - devemos encarar com naturalidade, como coisas comuns. Não valorizar a melhor coisa nem repudiar a coisa terrível. As coisas são apenas coisas, e assim não devemos ser aprisionados pelas coisas supostamente maravilhosas ou terríveis.
São apenas palavras, gestos ou acontecimentos.
Não estou dizendo que tudo isto seja fácil, estou dizendo que é isso o que Lao Tse está nos ensinando...
Pergunta: Em relação à naturalidade: um vulcão explodindo faz parte da naturalidade. Não pode o mesmo acontecer com o homem?
Resposta de Cherng: Às vezes o Taoísmo não é muito fácil de ser compreendido devido aos vários níveis de possibilidades de interpretação.
Se a pessoa realmente possui a quietude e a tranqüilidade interiores e uma plena consciência, a capacidade dessa consciência de observar as expressões de emoção, do corpo e dos gestos faz-se de uma maneira natural, sem repressão ou incentivos, deixando tudo fluir de uma maneira natural.
Dentro dessa naturalidade, qualquer reação forte pode ser entendida como a naturalidade de um vulcão que atingiu seu momento de explosão. Tudo isso deve acontecer sem julgamento.
Com a Consciência - com o atingimento da naturalidade -, somos capazes de adotar atitudes mais fortes (porque assim também vemos nas divindades que são consciências transparentes e simplesmente refletem aquilo que lhes aparece na frente).
No entanto, sem a Consciência, e existindo a explosão, não se está agindo com a naturalidade e sim como o total envolvimento com a própria ação - com julgamento.
O auto-controle, acompanhado do trabalho espiritual, nos ajuda a elaborar um novo comportamento mais balanceado até que possamos atingir a plena consciência e a naturalidade (dessa forma, podendo prescindir do auto-controle).
Pois as coisas:
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
A vivência do Tao tem que ser flexível: trabalha-se por um lado com a consciência e por outro lado, com a naturalidade.
Esse conceito pode ser expresso em nosso cotidiano, através dos nossos pequenos hábitos e atos, como o vegetarianismo, por exemplo.
O Taoísta compreende que não pode sacrificar a vida em função de seu prazer, por isso ele abdica de comer carne.
A consciência do Taoísta faz com que ele compreenda que determinados hábitos alimentares não fazem bem à sua saúde física nem à sua saúde espiritual.
Mas, se acontecerem momentos em que o Taoísta se sinta levado a não ser rígido em relação ao vegetarianismo ou em relação a qualquer outro fato, ele deve enfrentar tais momentos de uma maneira natural, sem conflitos interiores, sem remorsos.
Mestre Maa nos diz para não ficarmos preocupados antes de entrarmos numa situação e para não ficarmos remoendo uma situação depois de termos saído dela.
Dentro de cada situação, se faz o possível para melhor atuá-la. Ele nos diz para administrarmos a nossa vida da melhor maneira.
Isso torna a vida ao mesmo tempo simples e ao mesmo tempo difícil de ser vivida.
O Taoísmo não trabalha com regras ou medidas rígidas. O Taoísmo tem uma série de princípios para serem primeiramente compreendidos e conscientizados e então, realizados.
Pode-se entrar e sair das regras sem ser-se preso por elas.
Existe um texto Taoísta que diz:
Entrar e sair do mundo sem se manchar
O homem da atualidade vive já viciado em muitas coisas e portanto é difícil viver o ‘entrar e sair do mundo sem se manchar’. Viver a vida Taoísta pode ser difícil porque já não somos tão simples quanto eram os homens da antiguidade; vivemos uma vida muito complicada.
Mas, se pudermos nos conscientizar dessa síntese, aí sim, poderemos entrar e sair do mundo sem nos manchar.
Também esse conceito não deve ser usado como desculpa. Isso seria um falso Taoísmo, acobertando uma indisciplina e uma consciência falsa.
Esses são conceitos básicos a serem pensados sobre a complexidade e a simplicidade da vida Taoísta.
...............
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 29
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1995
Capítulo 29
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular.
Quem o manipula, se destrói
Quem o retém, se perde
Pois as coisas:
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência.
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Possuir é dominar. Para se possuir o mundo e dominá-lo, é preciso manipulá-lo. Ao invés de permitir ao mundo em ser como ele é realmente, a nossa tentativa é de intervir e fazer com que o mundo aja conforme a nossa vontade. Isso é possuir, dominar e manipular o mundo.
e age para isso - tomando as atitudes para que isso, a dominação, possa acontecer.
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
Por que é impossível? Porque o mundo - que dentro do Taoísmo é chamado de Céu e Terra - é aquele que nos dá a ordem das coisas.
De onde tiramos a noção do tempo e do espaço? Através do céu e da terra. Através do movimento dos astros, através da mudança das estações, através da claridade e da obscuridade; com tudo isso obtemos a consciência do tempo e do espaço onde vivemos. O nascimento, a vida e a morte foram a nossa consciência do mundo, elaboram a nossa consciência da existência.
E, ao mesmo tempo, fazemos parte dessa grande alegoria chamada o Mundo. E vivemos entre o Céu e a Terra. Vivemos entre o espaço e a limitação. Vivemos entre o ilimitado - representado metafisicamente pelo céu -, e o limitado - a terra.
Dessa maneira, podemos ver no I Ching o conceito e a trilogia do Céu, do Homem e da Terra, formando os 3 elementos do universo - a Trilogia do I Ching.
Ao mesmo tempo, fazemos parte do universo e aí adquirimos a noção e o sentido de nossa vida, de nossa existência - através das leis e do mecanismo do universo. E por isso precisamos respeitá-los porque qualquer tentativa de alterar a Lei do universo, a ordem da natureza, seria um processo de tentar tirar a ordem de nossa vida.
O céu e a terra formam a Lei que proporciona a ordem de todas as coisas. A tentativa de possuir, de alterar ou interferir nessa Lei é como se fosse uma pessoa com pouquíssima força e que ousasse enfrentar a grande roda do destino, a grande roda do universo, que é impossível de ser alterada.
Chuang Tse, em um dos seus contos, usa esse simbolismo através do louva-deus, que era um bichinho valente e destemido que derrotava todos os outros insetos. Um dia, percebeu que na estrada passava todos os dias uma carroça com uma roda grande e pesada que deixava profundas marcas no chão. Ou louva-deus pensou consigo mesmo: Quem é essa grande roda que se atreve a deixar essas grandes marcas no chão! Eu, que sou o mais poderoso desse território, vou impedir a passagem dessa roda de agora em diante!
Em vão, todos os outros bichinhos lhe aconselharam a não fazer isto. Mas o louva-deus estava irredutível: Eu vou fazer arar essa roda!
E assim, o louva-deus se colocou no meio da estrada e lá ficou esperando pela grande roda que passou.... e, ao passar, esmagou o pobre insetinho...
O louva-deus desapareceu na história e nunca mais foi lembrado a não ser por Chuan Tse que o ressuscitou para ilustrar mais um de seus contos.
Essa grande roda formada pelo movimento da energia e da circulação do Céu e da Terra, é o movimento da totalidade. E, portanto, não há como u m pequeno membro dessa grande totalidade - que, na verdade, está dentro dessa roda - querer impedir o seu movimento.
Nós fazemos parte dessa grande roda e ao mesmo tempo recebemos sua Lei.
Dessa maneira, não existe como nós possamos alterar ou impedir o prosseguimento dessa roda porque simplesmente fazemos parte dela. O que precisamos fazer é nos conscientizar de nossa existência dentro dessa grande roda.
Por isso, Lao Tse diz:
Quem deseja possuir o mundo e age para isso
Vejo a impossibilidade de consegui-lo
Em seguida, Ele diz:
O mundo é um recipiente espiritual
Que não se pode manipular.
Quem o manipula, se destrói
Quem o retém, se perde
Em outros Capítulos, já abordamos o assunto de que o universo não tem princípio nem fim. É uma infinitude em constante transformação.
A cada instante de nossa vida, estamos em transformação: nossas células, nossos pensamentos, nossas emoções. Toda nossa existência está em constante transformação ou transfiguração. Não apenas nós como todo o universo.
E aquele que pretende reter, o seja, que pretende realizar a tentativa de preservar uma imagem, um momento de sua vida, acaba por ver que essa tentativa é inútil. É uma tentativa ilusória. Mesmo que pensemos que estamos firmemente vivendo esse exato momento, na verdade já não estamos mais. Tudo fica ilusoriamente fixado num instante, mas na realidade, já fomos mais adiante. E a tentativa de nos agarrar a algo que já passou apenas faz com que percamos nosso presente, aquilo que está acontecendo em cada instante.
Reter é um apego. É preciso sabermos romper o apego em relação a quatro coisas:
À fama à riqueza à nobreza ao poder
Com o poder, se manipula - ou assim se supõe. Aquele que acha que tem o poder de manipular as coisas, na verdade acaba sendo manipulado pela vida, sem que perceba.
A nobreza, o prestígio - é um estado ilusório de ser. Nobre é considerado aquele que se coloca acima dos outros... Todos vivemos e, no final, todos morremos da mesma maneira e nada levamos conosco!
Também a fama e a riqueza não as levamos conosco após a morte. Nascemos nus e morremos nus. Quando viemos ao mundo, tomamos emprestado do mundo nosso corpo; e ao deixarmos o mundo, a ele devolvemos nosso corpo.
Por isso, Lao Tse diz que o taoísta tem que quebrar essa barreira, esse apego ao poder, à nobreza, à riqueza e à fama.
A tentativa de possuir os prestígios do mundo revela os desejos que vão consumindo nosso Espírito e nosso Sopro, fazendo com que percamos nossa Consciência pura e transparente, fazendo com a vida se perca.
Por isso, o Homem Sagrado
Elimina o excesso
Elimina a opulência
Elimina a complacência.
Lao Tse também nos diz para eliminarmos o excesso, a opulência e a complacência..
Como viver sem tudo isso?
Simplesmente viver com a mente da naturalidade. Encarar os fatos da vida com naturalidade.
Não podemos impedir as ações dos outros em relação a nós, ações tanto agradáveis quanto desagradáveis. A tudo - o melhor e o pior - devemos encarar com naturalidade, como coisas comuns. Não valorizar a melhor coisa nem repudiar a coisa terrível. As coisas são apenas coisas, e assim não devemos ser aprisionados pelas coisas supostamente maravilhosas ou terríveis.
São apenas palavras, gestos ou acontecimentos.
Não estou dizendo que tudo isto seja fácil, estou dizendo que é isso o que Lao Tse está nos ensinando...
Pergunta: Em relação à naturalidade: um vulcão explodindo faz parte da naturalidade. Não pode o mesmo acontecer com o homem?
Resposta de Cherng: Às vezes o Taoísmo não é muito fácil de ser compreendido devido aos vários níveis de possibilidades de interpretação.
Se a pessoa realmente possui a quietude e a tranqüilidade interiores e uma plena consciência, a capacidade dessa consciência de observar as expressões de emoção, do corpo e dos gestos faz-se de uma maneira natural, sem repressão ou incentivos, deixando tudo fluir de uma maneira natural.
Dentro dessa naturalidade, qualquer reação forte pode ser entendida como a naturalidade de um vulcão que atingiu seu momento de explosão. Tudo isso deve acontecer sem julgamento.
Com a Consciência - com o atingimento da naturalidade -, somos capazes de adotar atitudes mais fortes (porque assim também vemos nas divindades que são consciências transparentes e simplesmente refletem aquilo que lhes aparece na frente).
No entanto, sem a Consciência, e existindo a explosão, não se está agindo com a naturalidade e sim como o total envolvimento com a própria ação - com julgamento.
O auto-controle, acompanhado do trabalho espiritual, nos ajuda a elaborar um novo comportamento mais balanceado até que possamos atingir a plena consciência e a naturalidade (dessa forma, podendo prescindir do auto-controle).
Pois as coisas:
Caminham ou acompanham
Sopram quente ou sopram frio
São rígidas ou flexíveis
Ligam-se ou rompem-se
A vivência do Tao tem que ser flexível: trabalha-se por um lado com a consciência e por outro lado, com a naturalidade.
Esse conceito pode ser expresso em nosso cotidiano, através dos nossos pequenos hábitos e atos, como o vegetarianismo, por exemplo.
O Taoísta compreende que não pode sacrificar a vida em função de seu prazer, por isso ele abdica de comer carne.
A consciência do Taoísta faz com que ele compreenda que determinados hábitos alimentares não fazem bem à sua saúde física nem à sua saúde espiritual.
Mas, se acontecerem momentos em que o Taoísta se sinta levado a não ser rígido em relação ao vegetarianismo ou em relação a qualquer outro fato, ele deve enfrentar tais momentos de uma maneira natural, sem conflitos interiores, sem remorsos.
Mestre Maa nos diz para não ficarmos preocupados antes de entrarmos numa situação e para não ficarmos remoendo uma situação depois de termos saído dela.
Dentro de cada situação, se faz o possível para melhor atuá-la. Ele nos diz para administrarmos a nossa vida da melhor maneira.
Isso torna a vida ao mesmo tempo simples e ao mesmo tempo difícil de ser vivida.
O Taoísmo não trabalha com regras ou medidas rígidas. O Taoísmo tem uma série de princípios para serem primeiramente compreendidos e conscientizados e então, realizados.
Pode-se entrar e sair das regras sem ser-se preso por elas.
Existe um texto Taoísta que diz:
Entrar e sair do mundo sem se manchar
O homem da atualidade vive já viciado em muitas coisas e portanto é difícil viver o ‘entrar e sair do mundo sem se manchar’. Viver a vida Taoísta pode ser difícil porque já não somos tão simples quanto eram os homens da antiguidade; vivemos uma vida muito complicada.
Mas, se pudermos nos conscientizar dessa síntese, aí sim, poderemos entrar e sair do mundo sem nos manchar.
Também esse conceito não deve ser usado como desculpa. Isso seria um falso Taoísmo, acobertando uma indisciplina e uma consciência falsa.
Esses são conceitos básicos a serem pensados sobre a complexidade e a simplicidade da vida Taoísta.
...............
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 29
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching