O
Mestre e seus Discípulos
Janine Milward
O Mestre é
como um grande rio que caminha para o mar, o Tao da Criação, carregando consigo
seus discípulos, os outros pequenos rios (os Caminhantes mestres), os riachos
(os Caminhantes pequenos mestres), os regatos (os Caminhantes iniciados), os
olhos d’água (os Caminhantes iniciantes)...
O Caminho da
Espiritualidade começa assim como um pequeno olho d’água que surge naturalmente
– assim como o Tao – em qualquer lugar, no vale ou na montanha. Esse pequeno
olho d’água vai avolumando seu líquido transparente, cristalino, formando quase
como um pequeno lago, escondido pelas plantinhas e pelo capim molhado. Então,
porque o volume de águas ainda crianças cresce, passa a escorrer, andar, correr
alegremente, buscando sempre as brechas mais profundas entre a terra agradecida
por sua passagem, por seu desfilar carregando vida.
Correndo,
correndo, sempre buscando por lugares mais baixos, essas crianças-águas vão se
empurrando, enrolando, marolando, montanha abaixo, saciando nos morros verdes a
sede do gado que pasta, buscando os vales, enveredando pelas matas, encantando
pedras e criando peixes.
Ao longo de
seu caminho, o regato vai encontrando seus outros amigos, outras águas já
adolescendo, crescendo, avolumando, espelhando em seus pingos as nuvens
corredeiras dos céus que lhes cobrem por todos os lugares por onde vão
passando, desfilando, já cantantes e cada vez mais alegres e agradecidas pela
vida que vão esparramando em suas margens, criando margens... é agora um
riacho.
Chega o
momento em que essas águas-adolescentes tornam-se maduras, crescidas e recebem
sua maioridade através o nome de rio.
O rio é
sempre o encantamento de todos os seres, é a certeza da continuidade da vida, é
a compreensão mais clara e límpida e transparente do ciclo da própria vida:
águas que descem dos céus expulsas pelas chuvas, que criam olhos d’água, que
formam lagos que derramam e correm pelas terras encontrando-se com suas outra
águas amigas e vão se tornando um rio, vida de rio que cria a vida.
O rio
continua seu caminho em seu desfilar mais garboso, mais sério, mais
amadurecido. Vai também encontrando seus amigos-rios de águas alforriadas que
se juntam; cada vez mais avolumando, encorpando, crescendo, amealhando vida
para mais e mais vida fazer acontecer.
Finalmente,
o volumoso rio encontra seu rio-mestre chamado de mar, aquele que sempre o
atraiu, desde que nasceu como vida manifestada em pequeno olho d’água,
esquecido em algum lugar, quase oculto, porém sempre vivo.
O mar, o
mestre das águas, chama para si todos os rios que já chamaram para si todas as
outras águas que lhes eram vizinhas.... Ali, sob e sobre o mestre das águas - o
mar, - os rios descansam, se misturam, se despersonalizam, perdem seus nomes,
perdem a cor de suas águas, perdem seu volume, perdem suas ondinhas corredeiras
que outrora correram cantantes por todas as pedras, superando todos os
obstáculos – vida que sempre traz vida.
Na imensidão
do conjunto de todas as águas - o mar - tudo se torna sempre da cor do céu, ora
azul, ora plúmbeo, ora cor de nada nem de ninguém, cor de dia, cor de noite,
cor do mar. O mar é o espelho do céu.
No mar, os
rios encontram outros seres, outras vidas, continuam a ser vida que cria vida.
Até que um
dia, aquela águinha ... que um dia foi rio, que um dia foi riacho, que um dia
foi regato, que um dia foi um olho d’água.... sobe para o céu, assim como se
fosse uma sutil fumaça, para tornar-se a fumaça das nuvens sutis que haverão de
correr pelos céus, brincando sempre com a terra, prometendo um dia voltar, em
um pingo de chuva, lágrima do céu, vida que sempre renova a vida.
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O Caminho da
Espiritualidade começa assim como um pequeno olho d’água que surge naturalmente
– assim como o Tao – em qualquer lugar, no vale ou na montanha.
Ao formar um
pequeno lago, o Caminhante passa a ter a consciência sobre si mesmo, em sua
Missão de Encarnação na Terra – porque agora já pode espelhar o céu!
O pequeno
lago sempre vai encontrar uma brecha por onde suas águas sempre crescentes vão
começar a realizar seu Caminho.
Quando o
regato encontra seus amigos – sua família espiritual, sua Linhagem, a
Guruampara – torna-se um riacho.
Sempre
correndo através os campos, o riacho vai cada vez mais encontrando-se com sua
família espiritual, seus amigos, tornando-se mais e mais encorpado até que é
alforriado, já plenamente amadurecido em suas águas, como rio.
O Mestre é
como um grande e volumoso rio que corre recolhendo todas as águas vicinais que
se lhe aproximam, que buscam por essa absoluta fusão.
O grande
rio, no entanto, o Mestre, também continua percorrendo seu próprio Caminho
carregando consigo todos os seus discípulos – olhos d’água, regatos, riachos,
outros pequenos rios.....
Entre esses outros pequenos rios
e mesmo entre os riachos e simples regatos e até mesmo entre os olhos d’água
também existem mestres caminhando seus Caminhos da Espiritualidade. Podemos
então chamá-los de pequenos mestres ou mestres. No entanto, Mestre é o grande e
volumoso rio, prestes a desembocar na imensidão do mar e lá se fusionar
plenamente...
O Mestre é
aquele que demonstra em si mesmo o ciclo da vida através da vida que nos é dada
e sempre devolvida através das águas. Fundamentalmente, o Mestre nos mostra que
durante sua vida, ele atrai para si todas as outras águas dispersas no
Caminho.... e ao final de sua vida, fusiona-se plenamente com o mar, com o Tao
da Criação, com o Mestre da Criação, em total desapego de sua identidade
individual, voltando a fazer parte do tudo, do todo e do nada do Vazio – ao
retornar aos céus sem mesmo poder ser visto pelos outros seres, em forma de
fumaça sem cor, sem forma, sem nada.
Apenas um
Vazio. O Caminho é o Vazio. O Caminho é
o Tao.
Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Foto: Sítio das Estrelas, Janine