O Pequeno Caminho e o Grande Caminho



O Pequeno Caminho e o Grande Caminho

Janine Milward

O Pequeno Caminho existe dentro de tudo aquilo que podemos nomear enquanto Criação e sobre o qual temos linguagem para podermos nos expressar. É o Caminho contido ainda dentro do Céu Posterior. O Pequeno Caminho realiza um ciclo total, com princípio, meio e fim. É um Caminho estruturado na duração, nos ciclos em eterna mutação.

O Grande Caminho pressupõe seu trilhar no Céu Posterior, sim, porém sempre tendo em mente seu adentrar o Céu Anterior, onde não existe qualquer possibilidade de alcance de linguagem que possamos usar para nos expressar. O Grande Caminho não tem princípio, não tem meio e não tem fim - porque pode ser compreendido como o próprio Tao. É um Caminho estruturado na constância.

Lao Tse nos alerta, em seu Capítulo 53 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, em termos de nossas escolhas para realizarmos nossa Caminhada:
Torne-me naturalmente firme e possuidor do saber
Percorrendo o Grande Caminho
Temendo apenas o desperdício
O Grande Caminho é bastante tranqüilo
Mas os homens gostam bastante de trilhas

Existe O Caminho e o Caminhante elege seu Caminho de acordo com o nível que sua mente, sua consciência, acredita como o Seu Caminho. No entanto, é fundamental que o Caminhante se conscientize que tanto o Pequeno Caminho quanto o Grande Caminho pressupõem um longo tempo para ser trilhado, realmente, e isso não acontece numa só encarnação...

São necessárias muitas e muitas encarnações para que o Caminhante possa alcançar a conclusão de seu Caminho da Iluminação e mais outras tantas e tantas encarnações para que o Caminhante possa alcançar a conclusão de seu Caminho da Imortalidade.... E essas conclusões de Caminhos podem acontecer em níveis diferenciados, certamente, de acordo com a essência do Caminhante e sua escolha de Caminho. Ou seja, existem as Alquimias que tratam do nível inferior, do nível mediano e do nível superior.

E, como já vimos anteriormente, esses diferentes níveis de Alquimia vão tratar de maneira também diferenciada as questões voltadas para como o Caminhante realiza seu Caminho da Iluminação e seu Caminho da Imortalidade - ou seja, a que extensão é expansionada e alquimizada sua Mente a ser Infinitizada e Iluminada e a que extensão é alquimizado e processado seu Caldeirão de maneira a trazer para si Vida Infinitizada e Iluminada.... E é certo que todas estas questões envolvem o como o Caminhante realiza a fusão do Espírito com o Sopro Primordial - a chamada Fixação -, as Rodas de Moinho, o processamento do Elixir da Vida, o surgimento do Feto Sagrado e seu amadurecimento, o Corpo Solar e saída do corpo físico anterior para fazê-lo adentrar o Corpo Solar....

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 64:
Uma longa jornada começa debaixo dos pés.
Ou, em outra versão:
Uma longa jornada inicia-se no primeiro passo.

O Caminho encontra-se ‘debaixo dos pés’, apenas necessitando de sua conscientização. A conscientização, então, leva o Caminhante a iniciar o ‘primeiro passo’.

No momento em que O Caminho é conscientizado, é preciso, então, que o Caminhante compreenda que “O Grande Caminho é bem tranqüilo.... Mas os homens gostam bastante de trilhas” - assim como nos faz lembrar Lao Tse, o Mestre do Tao.

Ou seja, podem acontecer derivações no Caminho (principalmente no Grande Caminho, fazendo com que o Caminhante deslize desse Caminho para se instalar no Pequeno Caminho...)

Lao Tse nos alerta, ao continuar seu Capítulo 53, sobre esta questão ao descrever situações cabíveis dentro do Pequeno Caminho ou nas derivações entre as escolhas de Caminho:
Governo com excesso de degraus
Campo com excesso de erva daninha
Armazém com excesso de vazios
Vestir bordados coloridos
Carregar espada afiada
Satisfazer-se comendo e bebendo
Possuir moedas e bens em excesso
Isto chama-se roubo e auto-encantamento
Roubo e auto-encantamento negam o Caminho

Por tudo isso, podemos pensar que o Caminhante pode decidir-se por trilhar o Pequeno Caminho e situar-se em sua prática espiritual e em seu sentar-se no silêncio e trazer para si seus conhecimentos, etc., apenas dentro de seus parâmetros de aceitação sobre os mesmos dentro dessa sua encarnação atual tão somente.... ou podemos pensar que o Caminhante pode decidir-se para, desde já (ou mesmo ao longo de seu trilhar seu Caminho) queira voltar-se para trabalhar sua atuação enquanto Homem Sagrado, em alguma encarnação futura, vivenciando o Wu Wei, ou seja, a não-ação, isto é, vivenciando seu Caminho da maneira como o Tao e o Te, o Caminho e a Virtude vão sendo pelo Caminhante compreendidas e atuadas.

A Alquimia do Tao não tem medidas - exatamente por pertencer, em seu Grande Caminho, ao Céu Anterior. Quer dizer, o Caminhante pode colocar seus limites, suas medidas, de acordo com sua consciência. Porém, o Tao, o Caminho, não tem limites, não tem medidas.

Wu Jyh Cherng, no entanto, em sua aula de interpretação sobre o Capítulo 2 do Tao Te Ching que trata, em sua primeira estrofe, sobre as polaridades que encontramos ao longo da vida, nos passa o ensinamento que recebeu de seu Mestre Maa:
“Mestre Maa nos diz que é melhor darmos um voto maior, um voto grande, para abrirmos nossas possibilidades de chegar onde queremos - mesmo que não consigamos. Se colocarmos um limite pequeno, ao alcançarmos a plenitude de nossa realização pessoal, não passaremos daquele pequeno passo que foi o nosso voto.
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Primeiramente, para nos iniciarmos na prática, passo a passo, temos que tentar anular as polarizações. Eu e o outro, nós, os melhores; eles, os piores; os bonitos, os feios. Devemos evitar polarizações. O tempo inteiro estamos polarizando, separando.

Lao Tse nos diz em seus ensinamentos que o primeiro passo para tentarmos buscar o Caminho - que é longo e nunca se sabe quanto tempo leva para se alcançar a Plenitude do Ser - é buscar anular as polaridades e fazer... fazendo.

Uma vez alcançada a Plenitude, o tempo não é mais importante. Quem alcança a Plenitude, anula o tempo. Quem não alcança a Plenitude, sempre será prisioneiro do tempo e do espaço.”

Lao Tse, em seu Capítulo 4, nos afirma:
O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo, como a raiz dos dez mil seres
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
Não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward
Imagens: Moinho de Meditação, no Sítio das Estrelas
Trecho extraído do meu livro
O CAMINHANTE CAMINHANDO SEU CAMINHO