TAO TE CHING - O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 34
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 34
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 34
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Os dez mil seres dEle dependem para viver
E Ele não os rechaça
Conclui a obra sem mostrar a Sua existência
É o manto que cobre os dez mil seres, sem agir como senhor,
Podendo ser chamado de pequeno
Os dez mil seres voltam para Ele, sem que aja como senhor,
Podendo ser chamado de grande.
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Os dez mil seres dEle dependem para viver
E Ele não os rechaça
Conclui a obra sem mostrar a Sua existência
É o manto que cobre os dez mil seres, sem agir como senhor,
Podendo ser chamado de pequeno
Os dez mil seres voltam para Ele, sem que aja como senhor,
Podendo ser chamado de grande.
Assim, o Homem Sagrado nunca age como grande
Por isso pode atingir sua grandeza.
Por isso pode atingir sua grandeza.
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Esse Capítulo fala do Grande e do Pequeno. Da ambição e da simplicidade.
Sobre esse assunto, quem fala é outro grande pensador, Chuang Tzu. Em seus inúmeros contos, ele fala da incompreensão do pequeno perante o grande e da incompatibilidade do grande perante o pequeno.
Uma das histórias de Chuang Tzu fala de uma tartaruga que vive em um gigantesco oceano. Um dia, a tartaruga saiu do mar para se tornar peregrina na terra. Encontrou um poço d’água e dentro dele viu um sapo, alegre e dançante, pererecando.
A tartaruga perguntou quem ele era e o sapo respondeu:
A tartaruga perguntou quem ele era e o sapo respondeu:
“Eu sou o sapo feliz, que pula dali para lá, de lá para cá; fico o tempo todo olhando para o céu redondo. Quando sinto fome, como, quando me canso, não faço nada: meu mundo é maravilhoso! E quem é você? De onde vem?”
“Eu sou a tartaruga e venho do oceano.”
“E como é o oceano?” - perguntou o sapo, curioso.
“O oceano é sempre o mesmo, não diminui nem aumenta e contém em si toda a vida.”
O sapo não gostou do que ouvir e retrucou:
“Isso é uma grande mentira, não pode existir um lugar assim” - e não quis mais conversa com a tartaruga.
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Nesse conto, Chuang Tzu fala da incompreensão e da incompatibilidade das coisas e seres. Ele não chega a falar na moral da história. Ele simplesmente termina a história.
Esse simples término vem gerando grandes polêmicas entre seus leitores e estudiosos. Alguns defendem a tartaruga e outros defendem o sapo.
Estes últimos argumentam: “De que vale o grande? O grande é tão grande que é incapaz de se submeter a um poço. A vida pode ser simples e feliz, como a que vive o sapo, sem sofrimentos nem frustrações”.
Os primeiros, aqueles que defendem a tartaruga, dizem: “É impossível para o sapo compreender a grandiosidade do universo, como o oceano. Para se compreender a grandiosidade, é preciso ser grande”.
Por outro lado, aparentemente, Chuang Tzu defende ambos os lados porque expõe os fatos sem colocar a “moral” da história, no final. Através da colocação paradoxal, ele nos leva a uma compreensão que está além da discussão do grande e do pequeno.
Porque....
Sob o ponto de vista do grande, o grande está correto.
E
Sob o ponto de vista do pequeno, o pequeno está correto.
Sob o ponto de vista do grande, o grande está correto.
E
Sob o ponto de vista do pequeno, o pequeno está correto.
Na realidade, para a tartaruga, não existe a questão do certo ou do errado. Assim como para o sapo.
Se estivermos nos deparando com essas duas realidades - uma é tão real quanto a outra -, nesse momento não podemos julgar. E, através desse não-julgamento, nós entramos numa terceira dimensão onde simplesmente se compreende que não se pode nem decifrar nem interpretar essas duas realidades. Portanto, devemos ir além da questão do grande e do pequeno.
E é a isso que Lao Tse chama de O Grande; portanto, é minúsculo.
Para entrar nessa viagem, é preciso que compreendamos além da palavra e além do puro racionalismo.
Quando a compreensão vai além do grande e do pequeno, essa compreensão é grande. Essa compreensão alcança algo que pode ser chamado de grande. Portanto, esse algo grande, é minúsculo, não é grande, não tem volume.
Lao Tse nos fala da força de vontade; e, sobretudo, da grande visão que é, ao mesmo tempo, grande e minúscula.
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
O Grande Caminho é o termo antítese para o Pequeno Caminho.
O Grande Caminho é um caminho vasto, amplo, aberto. O pequeno caminho é um caminho estreito, mais específico.
Na China, é comum que as expressões de arte e de literatura sejam consideradas caminhos chamados de pequenos caminhos.
O Grande Caminho é um caminho que transcende uma expressão ou outra expressão. É um caminho que não se limita a uma expressão específica. Não é através da arte, da literatura, da música, ou do que for. Por isso, Ele é vasto. É um Caminho puro, que não tem uma forma definida. Esse algo que não tem forma definida é como se fosse o Vazio. E nEle cabem todos os pequenos caminhos.
Na realidade, todos os pequenos caminhos de desenvolvimento e de realização espiritual - através da Poesia, dos escritos, da música, da meditação, do pensamento, da filosofia, não importa qual - todos os pequenos caminhos estão abraçados e dentro do Grande Caminho, como um Grande Vazio, um grande espaço.
Por isso, Ele diz:
O Grande Caminho é vasto
Entretanto, nEle cabem todos os pequenos caminhos:
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Se a música for o caminho da esquerda e a arte, o da direita - digamos -, então o Grande Caminho pode ser encontrado através da música ou da arte.
Aí está a sutileza do pensamento de Lao Tse. Se a arte é uma arte do pequeno caminho, e é arte que serve como caminho para o Grande Caminho, então ela deixa de ser Arete do pequeno caminho para se tornar arte do Grande Caminho.
Se a música é apenas música do pequeno caminho da realização da própria música - é apenas música do pequeno caminho. Quando a música é apenas música e é um veículo que realiza o Grande Caminho, então a música é o Grande Caminho.
Lao Tse diz que todos os caminhos, todas as formas de realização espiritual, são pequenos caminhos. E seguindo o pequeno caminho, usando uma ou outra forma, compreendendo a forma apenas dentro da compreensão do pequeno caminho, tudo resta como pequeno caminho.
Quando a compreensão não se limita pela forma, passa a trilhar o Grande Caminho.
Ao usarmos a linguagem e sermos limitados por ela, esse caminho passa a ser o pequeno caminho.
Grande é a intenção, o espírito da coisa.
Se tivermos um violino e o tocamos e nossa expressão artística está limitada ao conceito do violino, à teoria do violino, estaremos seguindo o caminho do violino, ou o pequeno caminho.
A partir do momento em que o violino é apenas um violino mas nossa caminhada rompe a barreira do instrumento e o instrumento nos serve para que sigamos nosso caminho, então esse é o Grande Caminho - porque o violino não será o bastante por si e para si e sim como instrumento de realização de um caminho.
Por isso, Ele diz:
O Grande Caminho é vasto
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Pode ser encontrado na esquerda e na direita
Podemos também entender que o lado esquerdo é o intuitivo e o direito, o racional. Na verdade, ao seguirmos o Grande Caminho, a linguagem, o estudo, tudo pode ser mais racional ou mais intuitivo, porém se estivermos além da linguagem e apenas utilizando a linguagem, estaremos sempre trilhando o Grande Caminho.
É com essa analogia de compreensão que os mestres taoístas dizem: “Saber utilizar as cosias do mundo - sem ser utilizados por elas - assim agindo podemos entrar e sair do mundo sem nos mancharmos”.
Dessa maneira, tudo o que existe são ferramentas para o nosso trabalho. Todas as linguagens são instrumentos do Tao. E o Tao não pode ser limitado pelo instrumento. No caminho espiritual, todas as técnicas são ferramentas, portanto, não podemos ser limitados pelas ferramentas. É preciso que saibamos usar as ferramentas no momento apropriado, de uma maneira apropriada, na situação apropriada.
Os dez mil seres dEle dependem para viver
E Ele não os rechaça
E Ele não os rechaça
Essa frase é muito importante e pode ser entendida de duas maneiras:
Primeiramente, Ele diz que o Grande Caminho é vasto e nEle cabem todos os seres e Ele não repudia ninguém.
Lao Tse fala do Tao como algo que abraça todos os seres, porque simplesmente, tudo está dentro do Tao e todas as coisas são partes do Tao, são manifestações do Tao. Portanto, o Absoluto não tem como renunciar à sua própria manifestação que inclui a nós e a todos os seres e a todas as coisas do universo.
Por isso, Ele diz:
Os dez mil seres dEle dependem para viver
Se não tivermos esse Grande Caminho que nos abraça, se não tivermos esse Vazio que nos permite existir dentro dEle, então, não temos como viver.
Numa linguagem mais simples, levando para um lado mais psicológico, se não tivermos um Grande Caminho fóra de nós, que nos permita caminhar, que nos envolve e nos permite viver, naturalmente estaremos sufocados.
Na vida cotidiana, precisamos abrir espaço, permitir a existência do espaço em nossa vida, metaforicamente falando.
O espaço não é o outro que nos concede, é nos que nos permitimos em tê-lo.
Mestre Maa nos diz que nas práticas místicas taoístas, em níveis mais elevados, os grandes mestres ascensionados conseguem completar sua transmutação fisicamente, espiritualmente, energeticamente. Os maiores mestres ascensionados são aqueles que ascensionam sem deixar quaisquer resíduos na Terra.
Na linguagem simbólica, a consciência que governa a nossa vida é o rei, nosso corpo é o reino e as células são as pessoas, o povo. Todos nós temos uma consciência que comanda todas as células, órgãos, ossos, músculos e tudo forma um grande reino com o Estado, os ministros, o povo e seu governante supremo, que é a consciência, o espírito.
Esse espírito que se transforma e que se unifica ao Grande Caminho, naturalmente não rechaça nem exclui seu povo e seu território. Continua transmutando a si próprio, junto com seu território, com seu povo.
A Iluminação se dá no espírito, na energia, no corpo físico que transmuta.
Essa transmutação é tão completa que, no momento da ascensão, no momento em que se alcança o estado esplendoroso de ser, o espírito não deixa o corpo físico morto na Terra - não deixa resíduos.
Por isso, Ele diz:
Os dez mil seres dEle dependem para viver
Os dez mil seres dEle dependem para viver
Nosso corpo todo depende da consciência para viver. Se a consciência é o próprio Tao, então o Tao não irá renunciar a nenhuma parte do nosso ser e transmutará tudo e levará tudo numa grandiosa ascensão.
Tudo no universo tem o sentido do Tao, que é o sentido da imortalidade, portanto, nada no universo está excluído.
O Tao não exclui o homem mas o homem pode se excluir do Tao (achando que isto não pode ser viável). Mesmo homem que se considera desligado do Absoluto, do Sagrado, ele ainda está dentro do Absoluto - mesmo que não saiba disso..... Mesmo que não consiga sentir isso e não viva como se estivesse - apesar de estar.
Lao Tse nos diz que, se não estamos limitados pelo corpo, não precisamos jogá-lo fora e sim precisamos transmutá-lo a ponto de ascensão junto com o espírito.
Conclui a obra sem mostrar a Sua existência
Inúmeras vezes, o Taoísmo diz que o Homem Sagrado conclui sua obra sem mostrar-se, sem aparecer.
O que é Homem Sagrado?
O Homem Sagrado é aquele que vive na condição do Grande Caminho, é o ser que busca o Grande Caminho, é o ser que se realiza através do Grande Caminho... e, finalmente, Ele se torna o próprio Caminho.
Ao se tornar o próprio Caminho, Ele pode exercer seus trabalhos e suas atividades, com a mesma qualidade do Grande Caminho. Por isso, Ele é o Homem Sagrado, Aquele que alcançou sua Sagração.
O que é a Sagração?
Sagração é se tornar o próprio Caminho.
“O Grande Caminho conclui a obra” - a obra da vida, o nascimento, a criação, a transformação de todas as coisas.
Conclui a obra sem mostrar a Sua existência
O Grande Caminho não pode ser visto. A natureza, a primavera, o verão, o outono, o inverno, as dez mil coisas que nascem e se transformam, toda a beleza e harmonia que existe no universo, a ordem, o tempo, o espaço..., tudo está em perfeita sintonia... mas nada se vê.... porque o Grande Caminho abraço tudo, realiza tudo e não demonstra sua presença.
É o manto que cobre os dez mil seres, sem agir como senhor
O Grande Caminho dá assistência sem ser paternal. O Tao permite a vida nEle existir e faz com que todos os seres sejam protegidos mas Ele não se torna o senhor do seres. Ele não é dono do mundo, não é dono do universo. Ele apenas cobre o universo, como um manto, simplesmente.
Da mesma maneira, o taoísta que busca a realização através do Tao, tenta se inspirar nisso, aprendendo a fazer na vida o oferecimento do manto a quem precisar, sem agir como senhor, nem como senhor do manto.
Podendo ser chamado de pequeno - significando o agir com simplicidade e com humildade.
Os dez mil seres voltam para Ele, sem que aja como senhor,
Podendo ser chamado de grande.
Podendo ser chamado de grande.
O Tao, ao mesmo tempo em que protege todos os seres sem se apossar deles, é humilde e simples como algo minúsculo. E por ser tão minúsculo e simples e nada possuir..., todos os seres, no entanto, dEle dependem e estão voltados para Ele: o Tao é grande.
No início deste Capítulo, Lao Tse fala da grandiosidade do Tao e diz que Ele é minúsculo. Ele fala dessa aparente contradição entre o grande e o pequeno.
O verdadeiro Grande transcende a questão do grande e do pequeno. Portanto, o Tao é pequeno e é grande, ao mesmo tempo. nEle não há tamanho, nEle não há forma, nEle não há linguagem que o possa descrever. NEle não há um caminho que possa ser identificado especificamente com Ele. Assim, todos os caminhos estão entro dEle, todas as linguagens estão dentro dEle, todas as formas estão dentro dEle.
O homem que está de acordo com o Tao, pode atuar em todas as linguagens e em todas as formas ou em qualquer uma das linguagens ou em qualquer uma das formas, sem ser prisioneiro da linguagem ou da forma.
Essa é a idealização, a visão que Lao Tse tem para nos mostrar sobre a vivência através do Grande Caminho.
O Taoísmo nos ensina a viver a vida com magnitude, com uma visão ampla, com um sentimento grandioso; portanto, nos ensina a viver de uma maneira muito simples, natural e humilde. Nos ensina a viver de forma pequena e não-grande.... para assim não sermos prisioneiros nem do grande nem do pequeno.
Assim, o Homem Sagrado nunca age como grande (grande como antítese do pequeno)
Por isso pode atingir sua grandeza.
Por isso pode atingir sua grandeza.
Não nos esqueçamos que o Grande está no Wu Chi (o céu anterior) e não no Tai Chi (o céu posterior) do Yin e do Yang.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 34
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 14 de março de 1995
Rio de Janeiro, em 14 de março de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
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Tradução e Interpretação em Aula Gravada
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 14 de março de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward
Por WU JYH CHERNG
Na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 14 de março de 1995
Transcrição e Síntese de Janine Milward