TAO TE CHING - O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 23
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 23
Falar pouco é o natural
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
Convicção insuficiente leva à não-convicção
Falar pouco é o natural
O Taoísmo - como qualquer outra prática mística -, inevitavelmente, expõe a pessoa a uma série de experiências místicas.
De uma forma geral, o comportamento do Taoísmo diante desses fenômenos ou dessas experiências que são adquiridos através a meditação, do ritual ou de qualquer outra prática, é o de colocar essas experiências de maneira menos significativa possível. Isto não significa intencionalmente reprimir ou evitar, apenas não ficar alimentando ou especulando sobre esses fenômenos.
Todas as experiências interiores - e é por isso que são interiores -, não têm necessidade de serem colocadas exteriormente, de serem exteriorizadas.
Quando essas experiências interiores são colocadas constantemente para fora, podem levar a pessoa a uma grande perda de energia e também podem conduzir a consciência da pessoa para um caminho que está fora da realização espiritual.
Por isso, o Taoísmo não incentiva o cultivo do fenômeno.
Isto não quer dizer que na prática espiritual do Taoísmo não aconteçam fenômenos. Apenas que esses fenômenos devem ser encarados como nada e não encarados como algo muito especial.
É muito comum se encontrar em outras religiões os testemunhos daquilo que as pessoas passam a ver, a sentir, a ouvir e tais fenômenos são entendidos como ‘prova de fé’, etc. O que realmente acontece é que tais procedimentos podem levar as pessoas a uma posição muito radical e muitas vezes até à histeria. Ou pode-se criar o orgulho e a vaidade - coisas que nada ajudam.
Basicamente, o Taoísmo vê que a Iluminação do Espírito não é necessariamente vinculada aos fenômenos sobrenaturais.
Uma pessoa iluminada é uma pessoa que tem uma lucidez interior, que tem uma consciência lúcida e que não necessariamente se manifesta na vida cotidiana em forma de fenômenos paranormais ou sobrenaturais.
Por outro lado, uma pessoa que tenha a capacidade de provocar fenômenos extra-sensoriais ou paranormais não significa que seja iluminada.
De uma forma geral, uma pessoa que esteja a toda hora demonstrando fenômenos extra-sensoriais ou paranormais ou sobrenaturais, normalmente, tem a consciência muito limitada, seu grau de iluminação é muito limitado pela vaidade, pelo orgulho, pelo auto-encantamento. Esse tipo de pessoa costuma externar coisas que viu, que ouviu, etc. Estas são exatamente aquelas pedras que tentamos remover do caminho da realização espiritual.
Desse modo, o Taoísmo não enfatiza os fenômenos: não foge deles mas não procura alimentá-los.
Pergunta: Isso tem alguma coisa a ver com o Hexagrama Obscurecimento da Luz?
Resposta de Cherng: Certo. Procuramos colocar a iluminação interiormente e não ficar exteriorizando. Uma pessoa que venha praticando a meditação há bastante tempo, naturalmente será levada à premonição. Na verdade, esse é um dos níveis rasteiros que se pode atingir com a meditação. Pode-se ir a níveis bem mais profundos, pode-se ver coisas acontecendo a distância, pode-se prever coisas que ainda vão acontecer, pode-se ver cenas... Tudo isso pode acontecer como conseqüência da meditação. Nosso cérebro é muito complexo, tem inúmeros departamentos que normalmente não utilizamos.
Através da meditação, quando a pessoa relaxa profundamente, inúmeros pequenos canais de energia se desbloqueiam e deles flui energia e essa energia pode acionar uma série de capacidades.
Essa abertura de energia pode acontecer no campo dos fenômenos como em outros campos. Também pode acontecer que a pessoa passa a ser muito ‘afiada’, sempre tendo uma palavra pronta na ponta da língua, sempre conseguindo enxergar com muita lucidez e conseguindo deduzir coisas com muita precisão. É aquele tipo de pessoa que ‘não perdoa nada’ e não deixa nada passar e vai interpretando tudo, todos os gestos e movimentos e ações das outras pessoas e assim consegue demonstrar uma análise e uma observação bastante aguçadas e afiadas.
Por isso, Lao Tse em outro Capítulo do Tao Te Ching, diz ‘cegando-se o corte e desatando-se os nós’ - os nós são bloqueios interiores. O fio da lâmina é cortante, portanto, quando uma pessoa é ‘afiada’, ela é cortante. Quando uma pessoa tem uma consciência muito polida, ela corta como uma faca afiada, apenas que em nível mais sutil.
O Hexagrama mencionado do I Ching, Obscurecimento da Luz, diz que quando existe um excesso de luz, essa luz fere. Quando há muitos raios solares, a terra torna-se estéril. Quando uma pessoa tem uma consciência muito afiada, ela tem uma consciência que corta, portanto ela pode se tornar nociva para si mesma e para os outros. Nociva para si mesma porque essa pessoa vai sempre continuar afiando sua faca. Se mantivermos uma faca sempre polida e afiada, chega um momento em que não teremos mais uma faca porque todo o metal será consumido pelo polimento demasiado.
Igualmente, se toda a energia e toda a consciência que conseguirmos através da meditação não forem discretamente preservadas, serão gastas como o fio da faca.
Em relação às outras pessoas, essa faca afiada pode cortar e lesar. Se uma pessoa tem observações muito afiadas, suas palavras e suas deduções poderão machucar e prejudicar as outras pessoas. Os outros, provavelmente, não estarão prontos para receberem essa ‘cirurgia’ sem anestesia, sem o devido preparo.
Nesse caso, a pessoa muito ‘afiada’ precisa ser despertada por si mesma ou tentar ser menos afiada, tentar ajudar os outros sem feri-los. Isso é o que Lao Tse diz em relação às pessoas que chegaram a um nível muito afiado.
É preciso sermos menos exibicionistas, falarmos menos. Nem sempre aquilo que está em nossa mente deve ser falado. Também nem sempre aquilo que é verdade para nós, deverá ser dito. Isso não é para nos tornar hipócritas ou falsos mas sim para sermos mais cautelosos com a nossa mente, com a nossa palavra, com o nosso gesto.
Cada gesto nosso gera uma causa que gera um efeito, tanto em nós mesmos como em outras pessoas. Cada palavra nossa é uma causa que gera um efeito.
Não falar em excesso, não fazer coisas em excesso: maior cutela em relação aos nossos gestos. Não é um sentimento punitivo nem sentimento de culpa: ‘não faço e não digo porque não quero nem fazer nem dizer coisas erradas’. Não, não é com esse sentimento.
Devemos ter um sentimento, sim, de afetividade com as pessoas. Essa afetividade pode ser vista de forma mais intensa nos relacionamentos afetivos. No relacionamento social amplo, isso é mais ameno.
Quando uma pessoa está apaixonada por outra, ela tenta não desagradar o outro. A afetividade traz o cuidado em relação à outra pessoa. Esse sentimento de afetividade deve ser global, universal.
Quando uma pessoa estende seu sentimento de afeto a todas as outras pessoas, ela aprende a ser um pouco mais cautelosa, não falando em excesso, tendo mais cuidado com as palavras e com os gestos.
Isso não é para sermos egoístas - pelo contrário, é para sermos menos egoístas.
Existem horas em que precisamos ser determinados, precisos. Existem horas em que precisamos ser mais resguardados. Não com o sentimento de auto-proteção para não nos expor - porque isso seria um sentimento egoísta.
O Taoísmo trabalha essencialmente com a consciência universal e não com a consciência egoísta. Todo o tempo estamos trabalhando com a consciência. o ar que respiramos vem das outras pessoas e a elas retorna. A energia de nosso corpo vem de outros corpos e a eles retornam. Energeticamente, somos todos uma só pessoa com a mesma energia e o mesmo ar.
Dessa maneira, nós vivemos na consciência universal e não na consciência egóica.
Quando uma pessoa se resguarda de dizer coisas que iriam ferir ou prejudicar outras pessoas, ela não está sendo egoísta. Embora que, por mais lúcidos que iluminados que possamos ser, ainda não somos plenamente iluminados.
Até que ponto a verdade é verdade?
Toda a verdade é relativa. Mais ainda a verdade pessoal. Então, cultivar dentro de nós o sentimento de afeto é fundamental. Isso faz parte de nosso processo de conscientização. É um processo de consciência universal e não de consciência egóica.
Lao Tse nos diz que temos três Tesouros: o primeiro se chama Afetividade; o segundo se chama Sinceridade; e o terceiro se chama Humildade.
O Taoísmo cultiva a sabedoria da água: um pouco de água jogada dentro do mar faz parte do oceano, ou seja, deixa de ser uma consciência egóica - um copo de água - para ser uma consciência universal - a água do mar. A água do mar é a água de todas as águas - e a água desce sempre para baixo.
Nesse sentido, hierarquicamente, dentro do Taoísmo, o discípulo chama o Mestre de Mestre Pai - demonstrando seu respeito - e o Mestre chama seu discípulo de Irmão, demonstrando que o discípulo encontra-se no mesmo nível do mestre.
Isso é humildade, é sabedoria da razão. E não é teoria. É prática. Toda a filosofia do Taoísmo só faz sentido a partir do momento em que ela se mostra prática. Somente a prática faz o sentido da teoria. Por isso, o Taoísmo se chama Taoísmo. Tao é o Caminho. O Caminho só tem sentido quando nele caminhamos. Não adianta construir uma grande estrada se ninguém anda nela... assim, logo a estrada desaparece.
A palavra Tao do Taoísmo significa Caminho. Caminho só é caminho se alguém nele caminha. A filosofia só é filosofia quando alguém a vive - senão seriam meras especulações, meras palavras.
Por isso, logo no início deste Capítulo, Lao Tse nos diz que ‘Falar pouco é o natural “. Ele não diz que falar pouco é bom nem diz que falar muito é ruim. Ele apenas diz que falar pouco é o natural. O natural é o que é bom e o não-natural é o que não é bom
O que é natural?
Natural é aquilo que está de acordo com a lei do céu e da terra e dos homens. É aquilo que está de acordo com o grande destino cósmico. É acordar quando o sol aparece e repousar quando a noite desce - acordar junto com o dia e repousar junto com a noite. Iluminar no momento da iluminação e obscurecer no momento do obscurecimento. É falar no momento das palavras e silenciar no momento das não-palavras. Isso é que se chama de ‘natural’ e ‘falar pouco é o natural’.
Em seguida, Ele diz:
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
Tudo o que é em excesso, se consome rapidamente. Um vento muito forte não dura muito tempo. dura um tempo e desaparece. Um vento mais brando, mais ameno, pode soprar durante um dia inteiro.
Igualmente, na vida humana, o trabalho constante não pode ser o fogo de palha que depois pode deixar a pessoa frustrada. O burro de carga não anda rápido mas pode andar dias seguidos carregando peso. O corcel corre rápido mas não carrega o peso que o burro carrega. O caminho espiritual está mais para o burro do que para o corcel.
Existe um ditado que diz mais ou menos assim: Quem tem força de vontade, tem força constante; quem não tem força de vontade, está constantemente tendo vontade.
Existem aquelas pessoas que estão sempre mudando de caminho, buscando coisas novas a serem feitas e que não levam a cabo por um longo tempo, imediatamente mudando para outras coisas.
A verdadeira força de vontade é saber ir caminhando constantemente. Obviamente, existem, na vida, coisas que são feitas durante um longo tempo e que, de repente, já não fazem mais sentido. No entanto, é bom que façamos as coisas pelo menos cumprindo-as por etapas.
Se persistirmos em algo - mesmo que nos seja difícil - fará com que conquistemos nossa persistência psicológica, a nossa concentração e se colherão alguns frutos da vida. No mínimo, estaremos ganhando um treinamento para a superação das dificuldades de levar as coisas até o final. Posteriormente, essa persistência se mostrará útil em outras situações.
Por isso, o Taoísmo vê assim as coisas: “Um redemoinho não dura uma manhã/ uma rajada de chuva não dura um dia”. Isso é uma maneira metafórica de falar. Sabemos que uma rajada de chuva pode durar uma semana, um mês, um ano, dez anos - como aconteceu com Noé. Mas, um dia, dentro de um infinito tempo da humanidade.... não passa de um pequeno pontinho dentro do tempo.
A visão do Taoísmo é exatamente a de abrir nossa consciência para essa infinitude: não limitar nossa visão, procurar abrir nossa consciência para o infinito futuro e para o infinito passado. Dessa maneira, nós poderemos respirar mais longamente e mais profundamente, poderemos sentir mais a vida - não como uma coisa pressionante mas como uma coisa mais aberta. Isso torna a vida mais alegre, mais fluida, mais constante.
O Taoísmo é uma Tradição espiritual/religiosa e mística de característica alegre. Não se encontra um Taoísta arrasado e infeliz. Se estamos encarnados, temos que viver a vida de forma rica, alegre, cheia de vitalidade e quando estivermos desencarnados e passarmos para o outro lado, vamos viver o outro lado de maneira rica, alegre, cheia de vitalidade. Enquanto estamos vivendo na Terra não pensamos que a vida do outro lado é melhor. E não precisamos entrar nas profundezas do sofrimento para sabermos o que é o sofrimento. Precisamos sim, é sabermos nos colocar na atmosfera da felicidade para desfrutarmos essa felicidade e desenvolvermos uma força positiva para estendermos a mão para quem precisa ser puxado para cima.
Se temos um amigo arrasado e nos sentimos arrasados junto com ele por empatia, não o estamos ajudando muito. Na verdade, precisamos é usar de nossa alegria para puxarmos nosso amigo para fora de sua situação desagradável.
Devemos aprender a fazer as coisas moderadamente, com um sentimento leve, suave e positivo, e fluir como a água do mar.
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Nesses versos, Lao Tse nos coloca na ‘real’. O homem sempre quer produzir grandes fenômenos. Não existe fenômeno maior do que uma grande tempestade.
A arte moderna trabalha - não sei o termo exato - com a expressão dos fenômenos. Quando essas expressões são fortes, expressivas, provocantes, o artista consegue um grande prestígio. As criações são chocantes, como se fossem uma tempestade.
Não há expressão mais forte do que uma tempestade. Uma tempestade nunca é igual à outra. A arte, não. A arte - por mais expressiva que seja - sempre traz a sua sombra. As pessoas tentam criar algo que não se parece com nada. Antigamente, arte significa pincel e tintas. Hoje são acrílicos, metais, colagens, instalações... a arte não parece arte. Um joga cocô de cavalo na parede e o outro faz um caldeirão de chocolate fervente. Tudo isso parece ser uma expressão para cortar o cordão umbilical que, na verdade, é incortável.
Não existe obra de arte mais intensa que a própria natureza. Não existe expressão tão expressiva quanto a de uma tempestade. E quem produz a tempestade? O céu e a terra.
Se o céu e a terra duram muito mais do que nós, vivem muito mais do que nós, e suas expressões não duram uma manhã ou um dia, imagine o que o ser humano poderia produzir da mesma maneira...
O que dura é aquilo que é constante, que é contínuo.
A chuva fininha dura bem mais tempo do que a rajada de chuva.
Por último, o que realmente dura?
O Vazio do Absoluto.
Até o universo, enquanto performance, é passageiro. Só que um passageiro constante. Mesmo assim, a expressão dessa constância - como a fotografia - não dura. O próprio universo é contínuo, infinito.
A única coisa que verdadeiramente dura para sempre é o Zero do Absoluto e o Um do universo. Tudo depois são simplesmente efeitos ou fenômenos produzidos pelo céu e pela terra ou pelo próprio universo - que, por mais expressivo que seja, não dura para sempre.
Dessa maneira, podemos compreender: por que nos desgastar tanto? Fenômenos sociais, familiares, financeiros, políticos - ou o que for. Nada dura para sempre.
Basicamente, o Taoísmo trabalha com dois pontos:
- Essencialmente, se pudermos viver o Absoluto, não estaremos presos a nenhum fenômeno e por conseguinte, teremos todos os fenômenos dentro de nós acontecendo naturalmente. Temos o dia, a noite, a chuva, o fogo, a água, o vento, a família, o trabalho, o dinheiro, a fama, o prestígio - tudo o que for necessário, naturalmente.
Quem tem a consciência do Zero, tem a consciência que abraça todas as consciências e abraça todas as pessoas. Isso é uma vitória, uma felicidade. E a felicidade, desse modo, é a felicidade de todas as pessoas. A nossa realização é a realização de todas as pessoas.
- Se não conseguirmos viver o Vazio, o Absoluto, de forma transparente, pelo menos devemos tentar viver a vida de forma mais harmoniosa, mais equilibrada e para isso, devemos tentar evitar as coisas em excesso, não levar as coisas aos extremos. Também é preciso não nos anular porque senão estaríamos caindo na outra extremidade do excesso: excesso de Vazio, ausência das coisas, excesso de possuir coisas.
Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Voltando ao que falávamos, o caminho só tem sentido se se andar nele. Portanto, segue-se o Caminho naturalmente e realiza-se através do Caminho. Uma vida espiritual só existe se incorporarmos sua filosofia na nossa vida cotidiana.
Quem busca realizar o Tao em si mesmo encontrará o Tao. Então, tornar-se-á o Tao.
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Se o Caminho é a causa, a Virtude é o efeito. Se uma pessoa tem um fundamento espiritual dentro de si, todas as suas atitudes, seus gestos e sua vida girarão em torno desse eixo.
Todos nós temos uma potencialidade com uma característica própria e temos que viver bem essa forma de ser pessoal.
Quando a pessoa tem o seu eixo equilibrado, todo o resto ao redor funciona.
Virtude é viver de acordo com o Tao.
O que é viver de acordo com o Tao?
É seguir e realizar através de seu próprio Caminho - que é o Caminho da Consciência, o Caminho da Naturalidade, o Caminho da Iluminação Interior.
Não conseguindo...,
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
O que é a perda?
É o excesso de palavras, excesso de movimento, fazer o que não precisa, fazer o que não deve ser feito, falar o que não é necessário, falar o que é prejudicial, ser afiado demais, ter muitas preocupações, ter muitos pensamentos, ter o ego forte demais. Tudo isso é perda.
O ego é aquele que tira o nosso espírito e transforma nosso espírito em pensamentos, conceitos e preconceitos. Ego é aquilo que tira nossa energia primordial e a transforma numa energia pesada.
As pessoas nascem com plenitude de energia. Ao crescerem, chega um momento em que começam a desgastar essa energia, dando espaço para as neuroses, obsessões e manias.
Devemos ficar cada vez mais fortes quanto mais velhos formos. Mais fortes, mais saudáveis e mais inteligentes.
É preciso que aprendamos a nos resguardar.
O Taoísmo essencialmente trabalha com a Consciência. Comer bem, dormir bem, trabalhar bem, tudo isso é saudável. Os excessos tanto para mais quanto para menos, não são saudáveis.
Convicção insuficiente leva à não-convicção
Existem pessoas que têm o Caminho e a Virtude. Existem pessoas que não têm nem Caminho nem Virtude e existem pessoas que não têm absolutamente nada, que não têm qualquer convicção, não sabem de nada.
Essa frase parece querer falar daquelas pessoas que nasceram sem querer, vivem por viver e morrem sem saber.
Dessa forma, o trabalho do Taoísmo é na Consciência para incorporar todo esse Caminho dentro de nossa vida cotidiana.
Temos que saber viver o Tao nas pequenas coisas; não adiante querermos viver o Taoísmo isolado da vida cotidiana. Assim, podemos transformar a loucura cotidiana em vida normal sem precisar fazer da pratica espiritual uma terapia. Caminho espiritual não é terapia.
Existem pessoas que encaram a meditação como uma terapia. A meditação não é uma terapia. A prática espiritual é bom senso. A terapia alivia as tensões... Depois de aliviar as tensões, temos que ter o bom senso de mudarmos a nossa rotina cotidiana.
Mestre Maa sempre diz: O Tao dá a vida para quem quer viver e dá a morte para quem quer morrer.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 23
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 de dezembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 23
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Capítulo 23
Falar pouco é o natural
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
Convicção insuficiente leva à não-convicção
Falar pouco é o natural
O Taoísmo - como qualquer outra prática mística -, inevitavelmente, expõe a pessoa a uma série de experiências místicas.
De uma forma geral, o comportamento do Taoísmo diante desses fenômenos ou dessas experiências que são adquiridos através a meditação, do ritual ou de qualquer outra prática, é o de colocar essas experiências de maneira menos significativa possível. Isto não significa intencionalmente reprimir ou evitar, apenas não ficar alimentando ou especulando sobre esses fenômenos.
Todas as experiências interiores - e é por isso que são interiores -, não têm necessidade de serem colocadas exteriormente, de serem exteriorizadas.
Quando essas experiências interiores são colocadas constantemente para fora, podem levar a pessoa a uma grande perda de energia e também podem conduzir a consciência da pessoa para um caminho que está fora da realização espiritual.
Por isso, o Taoísmo não incentiva o cultivo do fenômeno.
Isto não quer dizer que na prática espiritual do Taoísmo não aconteçam fenômenos. Apenas que esses fenômenos devem ser encarados como nada e não encarados como algo muito especial.
É muito comum se encontrar em outras religiões os testemunhos daquilo que as pessoas passam a ver, a sentir, a ouvir e tais fenômenos são entendidos como ‘prova de fé’, etc. O que realmente acontece é que tais procedimentos podem levar as pessoas a uma posição muito radical e muitas vezes até à histeria. Ou pode-se criar o orgulho e a vaidade - coisas que nada ajudam.
Basicamente, o Taoísmo vê que a Iluminação do Espírito não é necessariamente vinculada aos fenômenos sobrenaturais.
Uma pessoa iluminada é uma pessoa que tem uma lucidez interior, que tem uma consciência lúcida e que não necessariamente se manifesta na vida cotidiana em forma de fenômenos paranormais ou sobrenaturais.
Por outro lado, uma pessoa que tenha a capacidade de provocar fenômenos extra-sensoriais ou paranormais não significa que seja iluminada.
De uma forma geral, uma pessoa que esteja a toda hora demonstrando fenômenos extra-sensoriais ou paranormais ou sobrenaturais, normalmente, tem a consciência muito limitada, seu grau de iluminação é muito limitado pela vaidade, pelo orgulho, pelo auto-encantamento. Esse tipo de pessoa costuma externar coisas que viu, que ouviu, etc. Estas são exatamente aquelas pedras que tentamos remover do caminho da realização espiritual.
Desse modo, o Taoísmo não enfatiza os fenômenos: não foge deles mas não procura alimentá-los.
Pergunta: Isso tem alguma coisa a ver com o Hexagrama Obscurecimento da Luz?
Resposta de Cherng: Certo. Procuramos colocar a iluminação interiormente e não ficar exteriorizando. Uma pessoa que venha praticando a meditação há bastante tempo, naturalmente será levada à premonição. Na verdade, esse é um dos níveis rasteiros que se pode atingir com a meditação. Pode-se ir a níveis bem mais profundos, pode-se ver coisas acontecendo a distância, pode-se prever coisas que ainda vão acontecer, pode-se ver cenas... Tudo isso pode acontecer como conseqüência da meditação. Nosso cérebro é muito complexo, tem inúmeros departamentos que normalmente não utilizamos.
Através da meditação, quando a pessoa relaxa profundamente, inúmeros pequenos canais de energia se desbloqueiam e deles flui energia e essa energia pode acionar uma série de capacidades.
Essa abertura de energia pode acontecer no campo dos fenômenos como em outros campos. Também pode acontecer que a pessoa passa a ser muito ‘afiada’, sempre tendo uma palavra pronta na ponta da língua, sempre conseguindo enxergar com muita lucidez e conseguindo deduzir coisas com muita precisão. É aquele tipo de pessoa que ‘não perdoa nada’ e não deixa nada passar e vai interpretando tudo, todos os gestos e movimentos e ações das outras pessoas e assim consegue demonstrar uma análise e uma observação bastante aguçadas e afiadas.
Por isso, Lao Tse em outro Capítulo do Tao Te Ching, diz ‘cegando-se o corte e desatando-se os nós’ - os nós são bloqueios interiores. O fio da lâmina é cortante, portanto, quando uma pessoa é ‘afiada’, ela é cortante. Quando uma pessoa tem uma consciência muito polida, ela corta como uma faca afiada, apenas que em nível mais sutil.
O Hexagrama mencionado do I Ching, Obscurecimento da Luz, diz que quando existe um excesso de luz, essa luz fere. Quando há muitos raios solares, a terra torna-se estéril. Quando uma pessoa tem uma consciência muito afiada, ela tem uma consciência que corta, portanto ela pode se tornar nociva para si mesma e para os outros. Nociva para si mesma porque essa pessoa vai sempre continuar afiando sua faca. Se mantivermos uma faca sempre polida e afiada, chega um momento em que não teremos mais uma faca porque todo o metal será consumido pelo polimento demasiado.
Igualmente, se toda a energia e toda a consciência que conseguirmos através da meditação não forem discretamente preservadas, serão gastas como o fio da faca.
Em relação às outras pessoas, essa faca afiada pode cortar e lesar. Se uma pessoa tem observações muito afiadas, suas palavras e suas deduções poderão machucar e prejudicar as outras pessoas. Os outros, provavelmente, não estarão prontos para receberem essa ‘cirurgia’ sem anestesia, sem o devido preparo.
Nesse caso, a pessoa muito ‘afiada’ precisa ser despertada por si mesma ou tentar ser menos afiada, tentar ajudar os outros sem feri-los. Isso é o que Lao Tse diz em relação às pessoas que chegaram a um nível muito afiado.
É preciso sermos menos exibicionistas, falarmos menos. Nem sempre aquilo que está em nossa mente deve ser falado. Também nem sempre aquilo que é verdade para nós, deverá ser dito. Isso não é para nos tornar hipócritas ou falsos mas sim para sermos mais cautelosos com a nossa mente, com a nossa palavra, com o nosso gesto.
Cada gesto nosso gera uma causa que gera um efeito, tanto em nós mesmos como em outras pessoas. Cada palavra nossa é uma causa que gera um efeito.
Não falar em excesso, não fazer coisas em excesso: maior cutela em relação aos nossos gestos. Não é um sentimento punitivo nem sentimento de culpa: ‘não faço e não digo porque não quero nem fazer nem dizer coisas erradas’. Não, não é com esse sentimento.
Devemos ter um sentimento, sim, de afetividade com as pessoas. Essa afetividade pode ser vista de forma mais intensa nos relacionamentos afetivos. No relacionamento social amplo, isso é mais ameno.
Quando uma pessoa está apaixonada por outra, ela tenta não desagradar o outro. A afetividade traz o cuidado em relação à outra pessoa. Esse sentimento de afetividade deve ser global, universal.
Quando uma pessoa estende seu sentimento de afeto a todas as outras pessoas, ela aprende a ser um pouco mais cautelosa, não falando em excesso, tendo mais cuidado com as palavras e com os gestos.
Isso não é para sermos egoístas - pelo contrário, é para sermos menos egoístas.
Existem horas em que precisamos ser determinados, precisos. Existem horas em que precisamos ser mais resguardados. Não com o sentimento de auto-proteção para não nos expor - porque isso seria um sentimento egoísta.
O Taoísmo trabalha essencialmente com a consciência universal e não com a consciência egoísta. Todo o tempo estamos trabalhando com a consciência. o ar que respiramos vem das outras pessoas e a elas retorna. A energia de nosso corpo vem de outros corpos e a eles retornam. Energeticamente, somos todos uma só pessoa com a mesma energia e o mesmo ar.
Dessa maneira, nós vivemos na consciência universal e não na consciência egóica.
Quando uma pessoa se resguarda de dizer coisas que iriam ferir ou prejudicar outras pessoas, ela não está sendo egoísta. Embora que, por mais lúcidos que iluminados que possamos ser, ainda não somos plenamente iluminados.
Até que ponto a verdade é verdade?
Toda a verdade é relativa. Mais ainda a verdade pessoal. Então, cultivar dentro de nós o sentimento de afeto é fundamental. Isso faz parte de nosso processo de conscientização. É um processo de consciência universal e não de consciência egóica.
Lao Tse nos diz que temos três Tesouros: o primeiro se chama Afetividade; o segundo se chama Sinceridade; e o terceiro se chama Humildade.
O Taoísmo cultiva a sabedoria da água: um pouco de água jogada dentro do mar faz parte do oceano, ou seja, deixa de ser uma consciência egóica - um copo de água - para ser uma consciência universal - a água do mar. A água do mar é a água de todas as águas - e a água desce sempre para baixo.
Nesse sentido, hierarquicamente, dentro do Taoísmo, o discípulo chama o Mestre de Mestre Pai - demonstrando seu respeito - e o Mestre chama seu discípulo de Irmão, demonstrando que o discípulo encontra-se no mesmo nível do mestre.
Isso é humildade, é sabedoria da razão. E não é teoria. É prática. Toda a filosofia do Taoísmo só faz sentido a partir do momento em que ela se mostra prática. Somente a prática faz o sentido da teoria. Por isso, o Taoísmo se chama Taoísmo. Tao é o Caminho. O Caminho só tem sentido quando nele caminhamos. Não adianta construir uma grande estrada se ninguém anda nela... assim, logo a estrada desaparece.
A palavra Tao do Taoísmo significa Caminho. Caminho só é caminho se alguém nele caminha. A filosofia só é filosofia quando alguém a vive - senão seriam meras especulações, meras palavras.
Por isso, logo no início deste Capítulo, Lao Tse nos diz que ‘Falar pouco é o natural “. Ele não diz que falar pouco é bom nem diz que falar muito é ruim. Ele apenas diz que falar pouco é o natural. O natural é o que é bom e o não-natural é o que não é bom
O que é natural?
Natural é aquilo que está de acordo com a lei do céu e da terra e dos homens. É aquilo que está de acordo com o grande destino cósmico. É acordar quando o sol aparece e repousar quando a noite desce - acordar junto com o dia e repousar junto com a noite. Iluminar no momento da iluminação e obscurecer no momento do obscurecimento. É falar no momento das palavras e silenciar no momento das não-palavras. Isso é que se chama de ‘natural’ e ‘falar pouco é o natural’.
Em seguida, Ele diz:
Um redemoinho não dura uma manhã
Uma rajada de chuva não dura um dia
Tudo o que é em excesso, se consome rapidamente. Um vento muito forte não dura muito tempo. dura um tempo e desaparece. Um vento mais brando, mais ameno, pode soprar durante um dia inteiro.
Igualmente, na vida humana, o trabalho constante não pode ser o fogo de palha que depois pode deixar a pessoa frustrada. O burro de carga não anda rápido mas pode andar dias seguidos carregando peso. O corcel corre rápido mas não carrega o peso que o burro carrega. O caminho espiritual está mais para o burro do que para o corcel.
Existe um ditado que diz mais ou menos assim: Quem tem força de vontade, tem força constante; quem não tem força de vontade, está constantemente tendo vontade.
Existem aquelas pessoas que estão sempre mudando de caminho, buscando coisas novas a serem feitas e que não levam a cabo por um longo tempo, imediatamente mudando para outras coisas.
A verdadeira força de vontade é saber ir caminhando constantemente. Obviamente, existem, na vida, coisas que são feitas durante um longo tempo e que, de repente, já não fazem mais sentido. No entanto, é bom que façamos as coisas pelo menos cumprindo-as por etapas.
Se persistirmos em algo - mesmo que nos seja difícil - fará com que conquistemos nossa persistência psicológica, a nossa concentração e se colherão alguns frutos da vida. No mínimo, estaremos ganhando um treinamento para a superação das dificuldades de levar as coisas até o final. Posteriormente, essa persistência se mostrará útil em outras situações.
Por isso, o Taoísmo vê assim as coisas: “Um redemoinho não dura uma manhã/ uma rajada de chuva não dura um dia”. Isso é uma maneira metafórica de falar. Sabemos que uma rajada de chuva pode durar uma semana, um mês, um ano, dez anos - como aconteceu com Noé. Mas, um dia, dentro de um infinito tempo da humanidade.... não passa de um pequeno pontinho dentro do tempo.
A visão do Taoísmo é exatamente a de abrir nossa consciência para essa infinitude: não limitar nossa visão, procurar abrir nossa consciência para o infinito futuro e para o infinito passado. Dessa maneira, nós poderemos respirar mais longamente e mais profundamente, poderemos sentir mais a vida - não como uma coisa pressionante mas como uma coisa mais aberta. Isso torna a vida mais alegre, mais fluida, mais constante.
O Taoísmo é uma Tradição espiritual/religiosa e mística de característica alegre. Não se encontra um Taoísta arrasado e infeliz. Se estamos encarnados, temos que viver a vida de forma rica, alegre, cheia de vitalidade e quando estivermos desencarnados e passarmos para o outro lado, vamos viver o outro lado de maneira rica, alegre, cheia de vitalidade. Enquanto estamos vivendo na Terra não pensamos que a vida do outro lado é melhor. E não precisamos entrar nas profundezas do sofrimento para sabermos o que é o sofrimento. Precisamos sim, é sabermos nos colocar na atmosfera da felicidade para desfrutarmos essa felicidade e desenvolvermos uma força positiva para estendermos a mão para quem precisa ser puxado para cima.
Se temos um amigo arrasado e nos sentimos arrasados junto com ele por empatia, não o estamos ajudando muito. Na verdade, precisamos é usar de nossa alegria para puxarmos nosso amigo para fora de sua situação desagradável.
Devemos aprender a fazer as coisas moderadamente, com um sentimento leve, suave e positivo, e fluir como a água do mar.
De onde provêm essas coisas?
Do Céu e da Terra
Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Nesses versos, Lao Tse nos coloca na ‘real’. O homem sempre quer produzir grandes fenômenos. Não existe fenômeno maior do que uma grande tempestade.
A arte moderna trabalha - não sei o termo exato - com a expressão dos fenômenos. Quando essas expressões são fortes, expressivas, provocantes, o artista consegue um grande prestígio. As criações são chocantes, como se fossem uma tempestade.
Não há expressão mais forte do que uma tempestade. Uma tempestade nunca é igual à outra. A arte, não. A arte - por mais expressiva que seja - sempre traz a sua sombra. As pessoas tentam criar algo que não se parece com nada. Antigamente, arte significa pincel e tintas. Hoje são acrílicos, metais, colagens, instalações... a arte não parece arte. Um joga cocô de cavalo na parede e o outro faz um caldeirão de chocolate fervente. Tudo isso parece ser uma expressão para cortar o cordão umbilical que, na verdade, é incortável.
Não existe obra de arte mais intensa que a própria natureza. Não existe expressão tão expressiva quanto a de uma tempestade. E quem produz a tempestade? O céu e a terra.
Se o céu e a terra duram muito mais do que nós, vivem muito mais do que nós, e suas expressões não duram uma manhã ou um dia, imagine o que o ser humano poderia produzir da mesma maneira...
O que dura é aquilo que é constante, que é contínuo.
A chuva fininha dura bem mais tempo do que a rajada de chuva.
Por último, o que realmente dura?
O Vazio do Absoluto.
Até o universo, enquanto performance, é passageiro. Só que um passageiro constante. Mesmo assim, a expressão dessa constância - como a fotografia - não dura. O próprio universo é contínuo, infinito.
A única coisa que verdadeiramente dura para sempre é o Zero do Absoluto e o Um do universo. Tudo depois são simplesmente efeitos ou fenômenos produzidos pelo céu e pela terra ou pelo próprio universo - que, por mais expressivo que seja, não dura para sempre.
Dessa maneira, podemos compreender: por que nos desgastar tanto? Fenômenos sociais, familiares, financeiros, políticos - ou o que for. Nada dura para sempre.
Basicamente, o Taoísmo trabalha com dois pontos:
- Essencialmente, se pudermos viver o Absoluto, não estaremos presos a nenhum fenômeno e por conseguinte, teremos todos os fenômenos dentro de nós acontecendo naturalmente. Temos o dia, a noite, a chuva, o fogo, a água, o vento, a família, o trabalho, o dinheiro, a fama, o prestígio - tudo o que for necessário, naturalmente.
Quem tem a consciência do Zero, tem a consciência que abraça todas as consciências e abraça todas as pessoas. Isso é uma vitória, uma felicidade. E a felicidade, desse modo, é a felicidade de todas as pessoas. A nossa realização é a realização de todas as pessoas.
- Se não conseguirmos viver o Vazio, o Absoluto, de forma transparente, pelo menos devemos tentar viver a vida de forma mais harmoniosa, mais equilibrada e para isso, devemos tentar evitar as coisas em excesso, não levar as coisas aos extremos. Também é preciso não nos anular porque senão estaríamos caindo na outra extremidade do excesso: excesso de Vazio, ausência das coisas, excesso de possuir coisas.
Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Voltando ao que falávamos, o caminho só tem sentido se se andar nele. Portanto, segue-se o Caminho naturalmente e realiza-se através do Caminho. Uma vida espiritual só existe se incorporarmos sua filosofia na nossa vida cotidiana.
Quem busca realizar o Tao em si mesmo encontrará o Tao. Então, tornar-se-á o Tao.
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Se o Caminho é a causa, a Virtude é o efeito. Se uma pessoa tem um fundamento espiritual dentro de si, todas as suas atitudes, seus gestos e sua vida girarão em torno desse eixo.
Todos nós temos uma potencialidade com uma característica própria e temos que viver bem essa forma de ser pessoal.
Quando a pessoa tem o seu eixo equilibrado, todo o resto ao redor funciona.
Virtude é viver de acordo com o Tao.
O que é viver de acordo com o Tao?
É seguir e realizar através de seu próprio Caminho - que é o Caminho da Consciência, o Caminho da Naturalidade, o Caminho da Iluminação Interior.
Não conseguindo...,
Quem se iguala à perda, perde o Caminho
O que é a perda?
É o excesso de palavras, excesso de movimento, fazer o que não precisa, fazer o que não deve ser feito, falar o que não é necessário, falar o que é prejudicial, ser afiado demais, ter muitas preocupações, ter muitos pensamentos, ter o ego forte demais. Tudo isso é perda.
O ego é aquele que tira o nosso espírito e transforma nosso espírito em pensamentos, conceitos e preconceitos. Ego é aquilo que tira nossa energia primordial e a transforma numa energia pesada.
As pessoas nascem com plenitude de energia. Ao crescerem, chega um momento em que começam a desgastar essa energia, dando espaço para as neuroses, obsessões e manias.
Devemos ficar cada vez mais fortes quanto mais velhos formos. Mais fortes, mais saudáveis e mais inteligentes.
É preciso que aprendamos a nos resguardar.
O Taoísmo essencialmente trabalha com a Consciência. Comer bem, dormir bem, trabalhar bem, tudo isso é saudável. Os excessos tanto para mais quanto para menos, não são saudáveis.
Convicção insuficiente leva à não-convicção
Existem pessoas que têm o Caminho e a Virtude. Existem pessoas que não têm nem Caminho nem Virtude e existem pessoas que não têm absolutamente nada, que não têm qualquer convicção, não sabem de nada.
Essa frase parece querer falar daquelas pessoas que nasceram sem querer, vivem por viver e morrem sem saber.
Dessa forma, o trabalho do Taoísmo é na Consciência para incorporar todo esse Caminho dentro de nossa vida cotidiana.
Temos que saber viver o Tao nas pequenas coisas; não adiante querermos viver o Taoísmo isolado da vida cotidiana. Assim, podemos transformar a loucura cotidiana em vida normal sem precisar fazer da pratica espiritual uma terapia. Caminho espiritual não é terapia.
Existem pessoas que encaram a meditação como uma terapia. A meditação não é uma terapia. A prática espiritual é bom senso. A terapia alivia as tensões... Depois de aliviar as tensões, temos que ter o bom senso de mudarmos a nossa rotina cotidiana.
Mestre Maa sempre diz: O Tao dá a vida para quem quer viver e dá a morte para quem quer morrer.
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FOTO: SÍTIO DAS ESTRELAS, Janine Milward
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 23
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em 13 de dezembro de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching