TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 11
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em agosto de 1994
Capítulo 11
Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade
.................................................
Mestre Maa nos diz que toda prática espiritual tem que ter
- um propósito
- um meio de realizar este propósito
- um método para se saber sair das emergências
- e um resultado
Uma prática espiritual feita sem um propósito não levará ninguém a lugar algum.
O Budismo diz que todo ser humano pode chegar à Iluminação. O Taoísmo diz que todos podem alcançar a Imortalidade. O Cristianismo diz que todos podem chegar à Santificação. No entanto, se não se demonstrar um meio para tais realizações, não existirão a santificação, a iluminação e a imortalidade. O sentido só existe a partir do momento em que o objetivo é alcançado.
A primeira etapa na pratica do Taoísmo é a de se tomar consciência sobre a própria realidade e, nesse momento, até que ponto é possível se chegar. Partindo sempre da realidade desse momento e abrindo para frente.
Qual é o propósito da prática do Tao?
- Primeiramente, compreender o que é o Tao
- Em segundo lugar, uma vez o Tao tenha sido compreendido, tentar aprender com o Tao
- Em terceiro lugar, se tornar o próprio Tao
O que é o Tao?
O Tao é o Absoluto, Ele é a raiz de todas as coisas. Ele está na manifestação de todas as coisas. Ele é o gerador de todas as coisas e é propriamente todas as coisas. Isso é o que chamamos de Céu Anterior e Céu Posterior juntos. É o Wu Chi associado ao Tai Chi.
Na linguagem do I Ching, a pessoa que tenta compreender o que é o Tao, primeiramente procura entender que o Tao é o Absoluto. Nesse Absoluto estão incluídos o visível e o invisível, o manifestado e o não-manifestado, a forma e o vazio; o passado, o presente e o futuro no mesmo ponto. Tudo o que se possa imaginar e tudo o que não se possa imaginar são uma coisa só.
Uma vez compreendendo isto, se entra na segunda etapa: aprender com o Tao. Tentar assimilar, viver, ser os ensinamentos do Tao. Tentar ser íntegro, indivisível. Tentar viver o lado racional e o lado não-racional ao mesmo tempo. Tentar viver a forma e a não-forma ao mesmo tempo. Tentar escutar a palavra e o silêncio ao mesmo tempo.
Isso aprendido, entra-se na terceira etapa: viver o Tao. Deslizar pela vida através do próprio vazio e da forma. Deslizar pela vida através da manifestação e da não-manifestação ao mesmo tempo. viver junto com o Tao quando o universo demonstrar expansão, entrar em recolhimento se o universo estiver em recolhimento.
Finalmente, quando se está totalmente integrado com o Tao, a pessoa se torna o próprio Tao. Nessa hora, sua Consciência está em toda a parte e sua Energia está ligada a todas as energias. E Energia e a Consciência não mais estão separadas.
Como fazer isso? Essa realização acontece através do processo da união do Yin e do Yang que existem dentro de nós.
A Consciência é Yang, o Sopro é Yin. Unindo a Consciência ao Sopro, entra-se o processo de integração. A integração se faz através da prática da meditação.
Na meditação, chega-se ao ponto quando a Consciência e o Sopro se tornam a mesma coisa. Da expansão da consciência individual para a consciência coletiva. Da consciência coletiva pessoal para a consciência cósmica. Acontece também o inverso: é preciso que aja uma conexão der energia pessoal com a energia do universo.
Finalmente, o Tao foi alcançado... ou não foi?
Ainda não se chegou ao Tao. Apenas se alcançou a parte manifestada do Tao, que é o Tai Chi. Nossa Consciência está em toda a parte do universo e cada partícula de Energia é nossa própria Energia. Mas ainda não se chegou ao Tao, ao Absoluto. O que se alcançou foi a onipotência, a Unidade. Mas é preciso ir mais além, além da consciência, além da vida que permitiu a criação da Consciência e a criação da Energia. Aquela condição prévia que permitiu o universo existir. Uma espécie de Vazio. Vazio não como ausência das coisas mas sim como a condição prévia que permite a criação e a existência de todas as coisas.
É preciso estar dentro desse Vazio para que tudo possa acontecer. Esse Vazio é o que alguns mestres taoístas chamam de Coração do Céu e da Terra. O coração simboliza o órgão que impulsiona a vida. Sem o coração, o homem não vive. O Coração do Céu e da Terra impulsiona todas s coisas para que o céu e a terra sejam vivos. Em outro Capítulo, Capítulo 10, Lao Tse nos diz que o Tao não tem intenção de criar. Ele cria mas sem querer possuir o que cria, Ele faz as coisas acontecerem sem querer que essas coisas Lhe pertençam.
É simplesmente um estado de Consciência que permite todas as coisas existirem, sem precisar possuir nada, sem ego, sem julgamento ou intenção.
O Vazio do Absoluto é exatamente do que se trata esse Capítulo 11.
Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
Antigamente na China, a roda era feita de madeira. Cada roda tinha trinta raios que ligavam um arco no centro a um arco maior externo formando a roda. O centro da roda interna ficava vazio para ali poder se encaixar o eixo. Para que o eixo fosse encaixado, a roda da carroça tinha que ter esse vazio. Sem esse vazio, a roda não existiria.
Também se não existisse o vazio por entre os raios da roda, ela se tornaria muito pesada.
Podemos perceber, então, que existe um vazio no centro da roda, por entre os raios da roda e fora da roda. E é principalmente o vazio do centro que permite a roda girar. É desse vazio do centro que toda a roda e toda a carroça podem se movimentar.
Lao Tse nos alerta que, se não houver o vazio do centro, não há como fazer a roda girar. Sem o vazio entre os raios, não há como tornar a roda mais leve e se não houver o vazio fora da roda, a roda nem precisa existir.
Igualmente, em linguagem simbólica, se não existir o vazio interior em cada um de nós, não há como fazer rodar toda a Consciência e toda a nossa Energia. Esse vazio do centro simboliza uma quietude, um não-julgamento interior que permite tudo girar em torno de nós, naturalmente. O vazio dos raios simboliza a leveza que devemos oferecer à nossa vida material, nossa vida física, nossa energia vital e a todos os pensamentos para serem manifestados de uma maneira mais sutil, mais leve. Por último, se não tivermos um espaço fora de nós para nos abrigar, nada pode acontecer ou existir.
Tudo é o mesmo vazio. Esse vazio sempre existiu mesmo antes de existir a roda. Esse vazio continua existindo mesmo que a roda não esteja rodando. O vazio continuará existindo mesmo que um dia não existam mais rodas e as rodas não sejam mais necessárias. O vazio permanece.
Esse vazio é o que chamamos de Autêntica Terra: é onde podemos encontrar a realização da fusão da vida com a consciência nessa roda. A consciência simbolizada pelos raios e a vida simbolizada por esses círculos que seguram os raios. Assim, se a Consciência não for segurada, sustentada pela Energia, ela se esvazia. Sem Energia vital, não pode haver pensamento, não se executa o pensamento.
Na prática do Taoísmo, esse Vazio interior é realizado através da meditação. Em chinês, a palavra Meditação é dividida em duas: _______________ e ______________. ___________ significa quietude, silêncio. ________________ significa sentado. Sentado em silêncio, silenciosamente sentado, sentado no silêncio. Sentar-se na quietude, entrar na quietude, colocar a quietude dentro de nós.
(Nota da Transcritora: em sendo a transcrição realizada à distância e através a escuta de fita cassete gravada, as duas palavras em chinês não foram compreendidas).
A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
E argila não tem forma e pode tomar qualquer forma. Mesmo que se crie uma forma na argila, ainda assim ela permanece com o vazio dentro de si. E por isso, se torna útil. Se o vaso não tiver um vazio, não será um vaso. O sino ecoa por causa de seu vazio.
Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Se construirmos uma casa sem portas nem janelas, não teremos uma casa. Nosso corpo é uma casa. O corpo é a residência da alma, a residência do espírito. Nosso corpo é feito de diversas portas e janelas: nossa audição, nossa visão, nosso olfato, nossa respiração, nosso paladar, nosso tato, nossos pensamentos e nossa reflexão.
Nosso corpo serve como proteção de nossa alma. Uma pessoa sem corpo físico tem que flutuar no mundo astral e é muito frágil.
Quando moramos num corpo físico, temos a residência como limitação do morador. Também nossa alma fica temporariamente limitada. Ao mesmo tempo, o corpo faz com que alma não fique sujeita a impactos externos violentos. Precisamos então saber trabalhar o equilíbrio entre a residência e a não-residência. Precisamos ter portas para sair quando tivermos que sair e para voltar quando tivermos que voltar. Usar a casa quando tivermos que usá-la e deixar a casa quando assim for necessário. Abrir as janelas para podermos - sem sair dentro de nós - encher-nos com algo que está fora de nós.
É preciso haver uma abertura no interior para podermos enxergar as verdades. Uma abertura em nossa alma para podermos ouvir as verdades. Uma abertura que possa proporcionar o vazio interior.
O silêncio interior é fundamental. Esse silêncio é o silêncio da roda. É o silêncio e é o vazio das janelas e portas da casa. É o vazio do recipiente que o torna útil.
Sem o silêncio, nos tornaremos um recipiente inútil. Uma roda que não gira, uma casa de onde não se entra nem se sai. Seremos, então, prisioneiros da nossa vida.
Por isso, Ele diz:
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade
Todo o trabalho de Lao Tse é extremamente sintético porém extremamente profundo. Ching significa síntese, mutação, mutável e imutável e transmutação. A síntese representa a natureza do Tao Te Ching. O Tao Te Ching é um texto extremamente sintético onde não aparece um nome humano sequer, não tem nenhuma palavra referente a tempo ou lugar ou pessoa. Foi escrito com apenas cinco mil ideogramas e se juntarmos todos os textos, teremos apenas vinte páginas. É um texto sintético mas é através da síntese que nos ligamos com todas as coisas. Por isso, o Tao Te Ching, apesar de ter sido escrito há cerca de três mil anos atrás, na China, no outro lado do mundo, pode ser pensado e aplicado em todos os países, em todas as civilizações. Só a síntese pode fazer isso.
O simples não tem qualquer característica - diferente do acessório que é temporal e localizado. O simples é uma linguagem pura e o Caminho do Tao tem que começar pela linguagem pura sem se deter na barreira da cultura, do temperamento e da personalidade. Através do simples se dispara para a universalização. Através da universalização, se encaminha para a infinitude e para o Absoluto. Dessa maneira, pode-se viver com naturalidade, leveza, abrangência e quietude.
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PHOTO BY JANINE - SÍTIO DAS ESTRELAS
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 11
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em agosto de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
LAO TSE, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 11
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em agosto de 1994
Capítulo 11
Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade
.................................................
Mestre Maa nos diz que toda prática espiritual tem que ter
- um propósito
- um meio de realizar este propósito
- um método para se saber sair das emergências
- e um resultado
Uma prática espiritual feita sem um propósito não levará ninguém a lugar algum.
O Budismo diz que todo ser humano pode chegar à Iluminação. O Taoísmo diz que todos podem alcançar a Imortalidade. O Cristianismo diz que todos podem chegar à Santificação. No entanto, se não se demonstrar um meio para tais realizações, não existirão a santificação, a iluminação e a imortalidade. O sentido só existe a partir do momento em que o objetivo é alcançado.
A primeira etapa na pratica do Taoísmo é a de se tomar consciência sobre a própria realidade e, nesse momento, até que ponto é possível se chegar. Partindo sempre da realidade desse momento e abrindo para frente.
Qual é o propósito da prática do Tao?
- Primeiramente, compreender o que é o Tao
- Em segundo lugar, uma vez o Tao tenha sido compreendido, tentar aprender com o Tao
- Em terceiro lugar, se tornar o próprio Tao
O que é o Tao?
O Tao é o Absoluto, Ele é a raiz de todas as coisas. Ele está na manifestação de todas as coisas. Ele é o gerador de todas as coisas e é propriamente todas as coisas. Isso é o que chamamos de Céu Anterior e Céu Posterior juntos. É o Wu Chi associado ao Tai Chi.
Na linguagem do I Ching, a pessoa que tenta compreender o que é o Tao, primeiramente procura entender que o Tao é o Absoluto. Nesse Absoluto estão incluídos o visível e o invisível, o manifestado e o não-manifestado, a forma e o vazio; o passado, o presente e o futuro no mesmo ponto. Tudo o que se possa imaginar e tudo o que não se possa imaginar são uma coisa só.
Uma vez compreendendo isto, se entra na segunda etapa: aprender com o Tao. Tentar assimilar, viver, ser os ensinamentos do Tao. Tentar ser íntegro, indivisível. Tentar viver o lado racional e o lado não-racional ao mesmo tempo. Tentar viver a forma e a não-forma ao mesmo tempo. Tentar escutar a palavra e o silêncio ao mesmo tempo.
Isso aprendido, entra-se na terceira etapa: viver o Tao. Deslizar pela vida através do próprio vazio e da forma. Deslizar pela vida através da manifestação e da não-manifestação ao mesmo tempo. viver junto com o Tao quando o universo demonstrar expansão, entrar em recolhimento se o universo estiver em recolhimento.
Finalmente, quando se está totalmente integrado com o Tao, a pessoa se torna o próprio Tao. Nessa hora, sua Consciência está em toda a parte e sua Energia está ligada a todas as energias. E Energia e a Consciência não mais estão separadas.
Como fazer isso? Essa realização acontece através do processo da união do Yin e do Yang que existem dentro de nós.
A Consciência é Yang, o Sopro é Yin. Unindo a Consciência ao Sopro, entra-se o processo de integração. A integração se faz através da prática da meditação.
Na meditação, chega-se ao ponto quando a Consciência e o Sopro se tornam a mesma coisa. Da expansão da consciência individual para a consciência coletiva. Da consciência coletiva pessoal para a consciência cósmica. Acontece também o inverso: é preciso que aja uma conexão der energia pessoal com a energia do universo.
Finalmente, o Tao foi alcançado... ou não foi?
Ainda não se chegou ao Tao. Apenas se alcançou a parte manifestada do Tao, que é o Tai Chi. Nossa Consciência está em toda a parte do universo e cada partícula de Energia é nossa própria Energia. Mas ainda não se chegou ao Tao, ao Absoluto. O que se alcançou foi a onipotência, a Unidade. Mas é preciso ir mais além, além da consciência, além da vida que permitiu a criação da Consciência e a criação da Energia. Aquela condição prévia que permitiu o universo existir. Uma espécie de Vazio. Vazio não como ausência das coisas mas sim como a condição prévia que permite a criação e a existência de todas as coisas.
É preciso estar dentro desse Vazio para que tudo possa acontecer. Esse Vazio é o que alguns mestres taoístas chamam de Coração do Céu e da Terra. O coração simboliza o órgão que impulsiona a vida. Sem o coração, o homem não vive. O Coração do Céu e da Terra impulsiona todas s coisas para que o céu e a terra sejam vivos. Em outro Capítulo, Capítulo 10, Lao Tse nos diz que o Tao não tem intenção de criar. Ele cria mas sem querer possuir o que cria, Ele faz as coisas acontecerem sem querer que essas coisas Lhe pertençam.
É simplesmente um estado de Consciência que permite todas as coisas existirem, sem precisar possuir nada, sem ego, sem julgamento ou intenção.
O Vazio do Absoluto é exatamente do que se trata esse Capítulo 11.
Trinta raios convergem ao Vazio do centro da roda
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo
Antigamente na China, a roda era feita de madeira. Cada roda tinha trinta raios que ligavam um arco no centro a um arco maior externo formando a roda. O centro da roda interna ficava vazio para ali poder se encaixar o eixo. Para que o eixo fosse encaixado, a roda da carroça tinha que ter esse vazio. Sem esse vazio, a roda não existiria.
Também se não existisse o vazio por entre os raios da roda, ela se tornaria muito pesada.
Podemos perceber, então, que existe um vazio no centro da roda, por entre os raios da roda e fora da roda. E é principalmente o vazio do centro que permite a roda girar. É desse vazio do centro que toda a roda e toda a carroça podem se movimentar.
Lao Tse nos alerta que, se não houver o vazio do centro, não há como fazer a roda girar. Sem o vazio entre os raios, não há como tornar a roda mais leve e se não houver o vazio fora da roda, a roda nem precisa existir.
Igualmente, em linguagem simbólica, se não existir o vazio interior em cada um de nós, não há como fazer rodar toda a Consciência e toda a nossa Energia. Esse vazio do centro simboliza uma quietude, um não-julgamento interior que permite tudo girar em torno de nós, naturalmente. O vazio dos raios simboliza a leveza que devemos oferecer à nossa vida material, nossa vida física, nossa energia vital e a todos os pensamentos para serem manifestados de uma maneira mais sutil, mais leve. Por último, se não tivermos um espaço fora de nós para nos abrigar, nada pode acontecer ou existir.
Tudo é o mesmo vazio. Esse vazio sempre existiu mesmo antes de existir a roda. Esse vazio continua existindo mesmo que a roda não esteja rodando. O vazio continuará existindo mesmo que um dia não existam mais rodas e as rodas não sejam mais necessárias. O vazio permanece.
Esse vazio é o que chamamos de Autêntica Terra: é onde podemos encontrar a realização da fusão da vida com a consciência nessa roda. A consciência simbolizada pelos raios e a vida simbolizada por esses círculos que seguram os raios. Assim, se a Consciência não for segurada, sustentada pela Energia, ela se esvazia. Sem Energia vital, não pode haver pensamento, não se executa o pensamento.
Na prática do Taoísmo, esse Vazio interior é realizado através da meditação. Em chinês, a palavra Meditação é dividida em duas: _______________ e ______________. ___________ significa quietude, silêncio. ________________ significa sentado. Sentado em silêncio, silenciosamente sentado, sentado no silêncio. Sentar-se na quietude, entrar na quietude, colocar a quietude dentro de nós.
(Nota da Transcritora: em sendo a transcrição realizada à distância e através a escuta de fita cassete gravada, as duas palavras em chinês não foram compreendidas).
A argila é trabalhada em forma de vasos
Através da não-existência
Existe a utilidade do objeto
E argila não tem forma e pode tomar qualquer forma. Mesmo que se crie uma forma na argila, ainda assim ela permanece com o vazio dentro de si. E por isso, se torna útil. Se o vaso não tiver um vazio, não será um vaso. O sino ecoa por causa de seu vazio.
Portas e janelas são abertas na construção da casa
Através da não-existência
Existe a utilidade da casa
Se construirmos uma casa sem portas nem janelas, não teremos uma casa. Nosso corpo é uma casa. O corpo é a residência da alma, a residência do espírito. Nosso corpo é feito de diversas portas e janelas: nossa audição, nossa visão, nosso olfato, nossa respiração, nosso paladar, nosso tato, nossos pensamentos e nossa reflexão.
Nosso corpo serve como proteção de nossa alma. Uma pessoa sem corpo físico tem que flutuar no mundo astral e é muito frágil.
Quando moramos num corpo físico, temos a residência como limitação do morador. Também nossa alma fica temporariamente limitada. Ao mesmo tempo, o corpo faz com que alma não fique sujeita a impactos externos violentos. Precisamos então saber trabalhar o equilíbrio entre a residência e a não-residência. Precisamos ter portas para sair quando tivermos que sair e para voltar quando tivermos que voltar. Usar a casa quando tivermos que usá-la e deixar a casa quando assim for necessário. Abrir as janelas para podermos - sem sair dentro de nós - encher-nos com algo que está fora de nós.
É preciso haver uma abertura no interior para podermos enxergar as verdades. Uma abertura em nossa alma para podermos ouvir as verdades. Uma abertura que possa proporcionar o vazio interior.
O silêncio interior é fundamental. Esse silêncio é o silêncio da roda. É o silêncio e é o vazio das janelas e portas da casa. É o vazio do recipiente que o torna útil.
Sem o silêncio, nos tornaremos um recipiente inútil. Uma roda que não gira, uma casa de onde não se entra nem se sai. Seremos, então, prisioneiros da nossa vida.
Por isso, Ele diz:
Assim, da existência vem o valor
E da não-existência, a utilidade
Todo o trabalho de Lao Tse é extremamente sintético porém extremamente profundo. Ching significa síntese, mutação, mutável e imutável e transmutação. A síntese representa a natureza do Tao Te Ching. O Tao Te Ching é um texto extremamente sintético onde não aparece um nome humano sequer, não tem nenhuma palavra referente a tempo ou lugar ou pessoa. Foi escrito com apenas cinco mil ideogramas e se juntarmos todos os textos, teremos apenas vinte páginas. É um texto sintético mas é através da síntese que nos ligamos com todas as coisas. Por isso, o Tao Te Ching, apesar de ter sido escrito há cerca de três mil anos atrás, na China, no outro lado do mundo, pode ser pensado e aplicado em todos os países, em todas as civilizações. Só a síntese pode fazer isso.
O simples não tem qualquer característica - diferente do acessório que é temporal e localizado. O simples é uma linguagem pura e o Caminho do Tao tem que começar pela linguagem pura sem se deter na barreira da cultura, do temperamento e da personalidade. Através do simples se dispara para a universalização. Através da universalização, se encaminha para a infinitude e para o Absoluto. Dessa maneira, pode-se viver com naturalidade, leveza, abrangência e quietude.
................................................
PHOTO BY JANINE - SÍTIO DAS ESTRELAS
TAO TE CHING
O LIVRO DO CAMINHO E DA VIRTUDE
Lao Tse, o Mestre do Tao
Tradução e Interpretação do Capítulo 11
do Tao Te Ching, de Lao Tse,
por WU JYH CHERNG
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil,
Rio de Janeiro, em agosto de 1994
Transcrição e Síntese de Janine Milward
A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português,
e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil
Nesta mesma Editora, encontra-se
a realização da publicação das interpretações de Wu Jyh Cherng
acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching